Números

Fotografia: Rita Chantre/Global Imagens

8 108 200 000. Oito mil cento e oito milhões e duzentos mil.

É quanto o Governo, depois de aprovado o Orçamento de Estado, vai entregar ao sector privado da saúde, vindo do orçamento do Serviço Nacional de Saúde.

O que é preciso é ter saúde

Não conheço bem Fernando Araújo, nem sei o que poderá acrescentar politicamente. E confesso que a terminologia de CEO, num serviço público, me faz alguma confusão.

No entanto, do pouco que conheço das ideias do antigo Secretário de Estado-Adjunto da Saúde, se conseguir, como pretende, alargar o SNS ao serviço da saúde oral (e se alargasse essa sua ideia à psicologia, ganharia mais pontos) e contratar mais profissionais (se fosse em exclusividade – facultativa, como alguns partidos propõem -, tanto melhor), já dará alguns passos para que a rota lamacenta por onde os sucessivos governos PS/PSD/CDS conduziram o serviço público de saúde (e para onde as novas forças radicais de direita, o CH e a IL, as querem levar à força) seja transviado.

Mas, com a denominação de CEO, temo que se abram, ainda mais, as portas aos privados, entregando, como já acontece, quase metade do Orçamento de Estado destinado à saúde ao negócio da saúde privada. Se Manuel Pizarro não oferece garantias neste parâmetro, a bem que as ofereça Fernando Araújo, que terá, diz-se, autonomia na gestão.

Esperemos que não se confirme a destruição do SNS e que Fernando Araújo consiga distanciar-se dos lobbies que assolam, hoje, o Estado português, do qual as forças neo-liberais são capatazes. Desconfio que não conseguirá, mas dar-lhe-ei o benefício da dúvida.

Fernando Araújo. Fotografia: Nelson Garrido.

A senhora e o cavador

 

Era uma vez uma senhora que geria uma propriedade agrícola. Certo dia, um dos dois cavadores morreu e, para poupar dinheiro, a senhora decidiu que era melhor não contratar mais ninguém. O outro cavador ainda se queixou, mas lá foi fazendo o trabalho dele e o do falecido.

A senhora, um dia, sempre preocupada em poupar dinheiro, resolveu que a enxada do cavador era muito cara e substituiu-a por um modelo mais em conta. O cavador ainda disse que isto assim ia ser difícil, menina, se ao menos arranjasse mais um cavador, qualquer dia a terra não ia render. [Read more…]

Passos Coelhização do PS?

Fonte: SIC Notícias

Depois de António Costa ter saído de uma reunião com a CIP a pedir desculpa aos patrões, qual amigo de quatro patas a aninhar-se junto ao dono, depois de fazer cocó no hall de entrada, eis que é agora Marta Temido, ministra da Saúde, a reagir às demissões no SNS, com, como dizer?… Alguma piada.

Disse assim, a ministra: “queixem-se menos, senhores doutores!”.

O fantasma de Pedro Passos Coelho deixou marcas tão profundas no país que, ao ver o seu partido de pau mole, decidiu infiltrar-se no PS. Realmente, há gente muito piegas[Read more…]

O privilégio da Psicologia

Mariana Seabra da Silva

Em Portugal, o acesso a serviços de Psicologia é pautado pela pertença a determinados grupos sócio-económicos, sendo, indubitavelmente, regido por um sistema social que beneficia pessoas com um estatuto sócio-económico mais elevado, excluindo e impossibilitando o mesmo a indivíduos que vivam em situações e condições de vida desfavoráveis.

O sistema público de acesso a estes serviços é composto apenas por mil psicólogos a nível nacional, o que parece ser um número reduzido quando se olha para os números de portugueses e portuguesas que consomem ansiolíticos e anti-depressivos, para as taxas de suicídios nos jovens, mulheres e forças de segurança, assim como para as taxas de violência doméstica e femicídio. Na prática, significa que pessoas com maior capacidade económica têm mais possibilidades de conseguir pagar consultas de Psicologia, ou serem acompanhadas em psicoterapia, por longos períodos de tempo. Por outro lado, indivíduos com menor capacidade económica, vêem-se, cada vez mais, colocados de parte no que respeita ao acesso a serviços de Psicologia, uma vez que as consultas tendem a rondar os quarenta ou cinquenta euros.

As filas de espera para consultas de Psicologia, a escassez de psicólogos e psicólogas no Serviço Nacional de Saúde, a falta de investimento em políticas públicas de saúde mental e prevenção das perturbações mentais são uma realidade bem viva que perpetua as diferenças sociais e económicas entre os indivíduos das diferentes classes sociais.

Como é que se quebra um sistema tão estruturado que mantém este ciclo diferenciador entre as pessoas? Nos dias de hoje, a Psicologia é um privilégio de poucos. Privilégio daqueles que têm um quinhão para investir na sua saúde e bem-estar. No entanto, a maioria fica à sua mercê, a tentar gerir os problemas diários, sem qualquer apoio ou suporte psicológico. A Psicologia deveria ser um direito à nascença, para todos e todas, sem excepção.

Assim, é fundamental a contratação de mais psicólogos para o SNS, não só nos cuidados de saúde primária, como nos cuidados continuados e paliativos, bem como nas organizações sociais de cariz comunitário, a criação de equipas multidisciplinares em instituições escolares e o desenvolvimento de um programa nacional de promoção de bem-estar e saúde mental.

Imagem retirada do site https://www.sns.gov.pt/

Conversas vadias 18

Mais uma edição das “Conversas vadias”, desta feita à volta de: pandemia, especialistas, Lisboa, juventude, autoridade, cerca sanitária, Serviço Nacional de Saúde, enfermeiros, carreiras, administração pública, remunerações, Fernando Medina, auditoria, manifestação das forças de segurança, China. Para, no final, os vadios fazerem as suas recomendações.

E quem foram os vadiolas? Foram Carlos Araújo Alves, Orlando Sousa, António de Almeida, José Mário Teixeira e João Mendes. Acrescendo a colaboração técnica de Francisco Miguel Valada. E a ausência especial de António Fernando Nabais (sim, é complicado).

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Quando o mentiroso é ideológico

«No dia das mentiras, no esquerda.net foi lançado um artigo fiel à identidade do Bloco. O texto é de Bruno Maia, médico neurologista. Também é ativista, claro está. O que podemos ler neste texto é mais uma mentira e uma tentativa de colar os liberais a regimes ditatoriais.»

No preâmbulo do seu último artigo aventaresco, o meu colega Francisco Figueiredo decidiu ir pelo caminho da lama. Tendo o Francisco, como bom liberal que é, uns Stan Smith brancos calçados, desaconselharia o caminho lamacento, envolto em pó e poeira, pelo qual os liberais tanto gostam de caminhar. Desaconselho, por duas razões:

1 – O liberal Francisco Figueiredo não entendeu o texto que leu;

2 – Ao não o entender, mesmo assim, sentiu-se tocado pelas “mentiras de sempre sobre liberais”, cito, e, por tal, enfureceu-se escrevendo um rol de disparates ideologicamente mentirosos.

Vamos a factos. No seu artigo, lançado no primeiro dia de Abril, Bruno Maia, médico neurologista, intitulado “A ideologia liberal é antiga”, faz uma analogia entre o que hoje defendem os neo-liberais para a saúde (e basta consultar programas dos partidos para o aferir) e o que defendia e praticava o Estado Novo. O que defende, então, o Iniciativa Liberal para a saúde? Queremos mais liberdade para decidir onde queremos ser tratados.”: é o mote do partido para a sua defesa do reforço dos privados e o enfraquecimento do Serviço Nacional de Saúde; diga-se, é essa a proposta do IL: reforçar o capital, aumentar os custos e deixar morrer, aos poucos o SNS, mantendo-o magro e em serviços mínimos (sim, os Mr. Burns da política dir-vos-ão que não, que o objectivo será manter um SNS de serviços mínimos que garanta aos pobres o seu acesso e, por outro lado, dar mais autonomia aos privados – aqui, dir-vos-ão que o objectivo é que mais gente tenha acesso ao privado). Dado o mote, o partido discorre meia dúzia de medidas que acha necessárias para alavancar a saúde que defendem. Passo a enunciar um par delas: [Read more…]

Toda a Crise é uma Oportunidade

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As reivindicações dos enfermeiros são justas?

Esta é a pergunta cuja resposta interessa verdadeiramente conhecer. O problema, no entanto, está no muito ruído que é gerado à volta das greves.

António Costa considerou que a greve dos enfermeiros é “ilegal” e “selvagem”. O primeiro-ministro tem direito à sua opinião, embora o segundo adjectivo seja demasiado sensacionalista para que possa ser usado de modo leviano. Sendo licenciado em Direito, estará obrigado também a usar com parcimónia um termo como “ilegal”.

Os políticos, quando estão no poder têm, sobre greves, o mesmo discurso redondo: não está em causa o direito à greve, mas ou é injusta (mesmo selvagem) ou as reivindicações não poderão ser satisfeitas, porque o défice iria ser agravado, ou não é a altura ideal para se fazer greve. Os mesmos políticos, na oposição, são a favor das justas reivindicações dos trabalhadores e fazem de conta que não são igualmente culpados da destruição do sistema.

A Comunicação Social, nestas alturas, prefere o óbvio e entrevista os utentes que estão a ser prejudicados pela greve, como se houvesse greves sem incómodos. Há, com frequência, histórias de alguém que se tinha levantado de madrugada para ter uma consulta por que esperava há meses. Curiosamente, a Comunicação Social perde muito menos tempo a investigar os milhares de casos de pessoas que precisam de madrugar nos Centros de Saúde ou de consultas que só têm lugar muito tempo depois de serem marcadas. [Read more…]

António Arnaut: in memoriam

Sobre as qualidades pessoais de António Arnaut muitos têm falado, mesmo aqueles que, no fundo, no fundo, não apreciavam o político, gostando ou não do homem, se é que é possível distinguir aquilo que somos daquilo que fazemos ou que fizemos. [Read more…]

Serviço Nacional de Saúde nos cuidados intermédios

Paulo Simões, cirurgião geral, apresentou a sua tese de doutoramento Evolução das Lógicas Institucionais no Campo da Saúde em PortugalTrata-se de mais um contributo que servirá para continuar a confirmar (note-se: continuar a confirmar) os malefícios provocados pelo predomínio do empresarialês aliado à erosão organizada dos serviços públicos por parte de um bloco político que se apropriou do Estado para o esvaziar em proveito de interesses privados cuja sede de lucro é incompatível com o interesse do público.

Não é possível, portanto, duvidar da competência da empresa de demolições PS-PSD-CDS, gente que festejou, mais ou menos explicitamente, a troika. A Geringonça, no máximo, permitirá adiar ou disfarçar esta e outras realidades que correspondem a retrocessos civilizacionais em direcção a uma sociedade em que livres são apenas os mercados, mas não as pessoas, ou seja, o mexilhão. O PS, mal se apanhe com maioria absoluta ou com aliados mais queridos, aumentará a potência e a velocidade do camartelo, sempre e ainda com o apoio das instituições mundiais e europeias que clamam por “reformas estruturais”, o eufemismo que se refere à necessidade de ajudar os privados e as multinacionais a pagar menos e de reduzir o Estado social a quase nada.

Duarte Marques, o cúmplice acusador

Por uma vez, concordo com Duarte Marques, especialmente porque, sem se aperceber (Duarte Marques nunca desilude), o pobre está a fazer, em parte, uma autocrítica: o Serviço Nacional de Saúde está a piorar progressivamente devido às políticas deste governo, que se limita a prosseguir o trabalho iniciado por José Sócrates e continuadas entusiasticamente por um Passos Coelho que se orgulhou de ir além da troika.

Duarte Marques integra um centrão que, graças a uma escoliose política, está, há anos, inclinado para uma direita que se apoderou do Estado para o esvaziar, entregando-o a amigos do privado e privando os cidadãos de serviços mínimos de qualidade, na Saúde ou na Educação. No seu último texto para o Expresso, atribui a falta de condições dos hospitais (de que PSD e CDS são co-responsáveis) à reposição de salários, esquecendo, convenientemente, os muitos desvarios em que participaram vários amigos e aparentes adversários que têm dividido o bolo público em benefício de poucos.

Leia-se, entretanto, o texto de Mariana Mortágua, a propósito deste mesmo tema, mesmo sabendo que, segundo Duarte Marques, o Bloco de Esquerda tenha contribuído para a ocultação do que se está a passar no SNS, confirmando-se a incompetência do BE, tendo em conta que os problemas estão  a ser abundantemente divulgados (mas, lá está!, Duarte Marques nunca desilude). Ao surpreendente deputado, por ser cúmplice de tudo o que se está a passar, recomenda-se o mesmo tratamento que um certo médico prescreveu a um paciente.

A polémica com as urgências

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Pedro Parracho

Vamos então abordar o caso das urgências e a discussão que tem existido sobre os problemas ocorridos.
É prática corrente, responsabilizar o ministro. Esta situação é recorrente, porque é mais fácil para os partidos da oposição responsabilizar sempre o governo, em qualquer época, leiam-se os títulos dos jornais nos invernos de 2007 a 2011, é assim pelo facto de se considerar o ministro “patrão” dos hospitais. Por isso o caminho da discussão é sempre o mesmo: se algo não funciona é porque “faltam meios”.

Nunca é porque houve falhas de gestão, mau trabalho dos funcionários, falta de empenho ou simples incompetência. Aparentemente o ministro até tem de saber se as escalas de férias e folgas dos médicos estão bem feitas, e se estiverem mal feitas, apenas lhe cabe… contratar mais médicos.
É importante que os utentes se sintam como accionistas do SNS e que exijam profissionalismo e empenho nos profissionais de saúde, sempre que presenciarmos exemplos de má gestão, má prática, falta de bom senso, falta de empenho ou incompetência, devemos denunciar os mesmos, de forma, às mesmas não ocorrerem no futuro.

Faltas

Há dias fui fazer uma TAC no Hospital da Universidade de Coimbra. A hora do meu exame foi alterada por telefone e antecipada mais de uma hora pois estavam a faltar doentes que tinham marcação para essa tarde.

Este facto, aparentemente irrelevante, esconde, na maioria dos casos, um dos dramas para que nos está a atirar este governo sádico: muitas pessoas não têm dinheiro para beneficiar de assistência médica, nem pública nem, muito menos, privada. Muitos doentes faltam a exames, a consultas, a tratamentos, por não terem dinheiro para deslocações nem para as taxas moderadoras. Depois, nem para medicamentos.

Como dizia alguém, em conversa, numa farmácia, “eu para a taxa para entrar na urgência ainda tenho dinheiro; mas não sei se tenho que chegue para, se fizer algum exame, pagar à saída”.

Há dias, numa das suas discursatas, o 1º ministro, descaradamente, ufanava-se de ter salvo o Serviço Nacional de Saúde. Não sei o que mais me revolta: se estas palavras se o facto de saber que há quem acredite e defenda isto

A mercantilização da medicina e a gestão economicista da Saúde

transformam os hospitais em linhas de montagem de fazer doentes para a morte. Mal chegam e lhes são retiradas as roupas, os doentes (e não disse clientes) «começam a perder a sua identidade; passados uns dias, mergulham num corpo passivo». Nos EUA, como em Portugal. Ora leiam.

Comemoração mediática

Comemorando os 35 anos do Serviço Nacional de Saúde, a RTP2 não encontrou melhor destaque que fazer uma extensa entrevista ao seu maior inimigo, Artur Osório Araújo, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada. A banha da cobra foi vendida sem vergonha nem a mais pequena sombra de rigor ou decência. Ficamos a saber o que vem aí para abocanhar os restos do BES Saúde e ferrar o dente na jugular do SNS. Mais tarde, a RTP tentou disfarçar o golpe e, assim, José Manuel Silva teve direito a duas ou três perguntas “a despachar”a que, felizmente e como era de esperar, respondeu rigorosa e certeiramente. Preparem-se, que isto agora é a sério. (Nem falo aqui nas discretas e envergonhadas comemorações governamentais; só faltou pedirem desculpa aos donos por ainda não terem feito o serviço de destruição completo).

“O que tem valido ao SNS é a mãe, a Constituição”

Um balanço dos 35 anos do SNS por António Arnaut.

O lapso

Fernando Leal da Costa
Porque são os mais pobres e os mais fracos que têm de vir ao Serviço Nacional de Saúde“, disse Fernando Leal da Costa, secretário de estado adjunto do MS, deixando clara a sua perspectiva sobre o que deve ser o SNS. O cardeal Cerejeira não diria melhor.

Melhor negócio, só o das armas

cortes sns

O ministro da Médis diz que a greve dos médicos é política (como se não o fossem todas) e corporativa. Ora em defesa da sua corporação, a da medicina enquanto negócio, os números são evidentes.

Trocar o direito à saúde pelos lucros fáceis da burguesia encostada ao estado foi a política deste governo. Melhor negócio só o das armas, como afirmou a primeira escolha de Passos Coelho para o ministério da Saúde. Não falamos só de canalhas, mas de canalhas homicidas. Tal como os da indústria de armamento.

Fonte: estudo de Eugénio Rosa (em pdf).

A nossa doença é um luxo

 

Se há coisa que me desperta curiosidade é saber se aqueles que acham que o país está melhor passaram recentemente por algum hospital público. Ando, há pelo menos duas décadas, a acompanhar a doença crónica de quem me é muito próximo. São pelo menos 20 anos de consultas, exames, operações cirúrgicas e internamentos num hospital público. E durante este período nunca vi uma degradação tão evidente da qualidade do serviço prestado por esse hospital em concreto, um dos maiores do país, como a que se vive hoje.
Muitos dos médicos mais experientes e qualificados, entre eles muitos chefes de serviço, debandaram para o privado. E não foram só os cortes nas remunerações a pesar na decisão, foi também a atitude de desprezo e de falta de consideração por parte de quem manda, a não valorização de qualquer esforço para prestar um melhor serviço público. Ficaram médicos jovens, acredito que muito qualificados, mas inexperientes, numa área em que a tarimba faz toda a diferença. No recibo de vencimento de um destes médicos não se espantem se virem um salário líquido de pouco mais de mil euros por um horário de 40 horas semanais.
A experiência das pessoas que conheço é a de que os tempos de espera por consultas e exames aumentaram. Os exames que requerem anestesia continuam a ser um problema. Na sala de espera ouvi, há dias, uma conversa entre médico e paciente elucidativa a este respeito. Se o doente quisesse anestesia para realizar certo exame, esperaria à volta de três meses, sem anestesia poderia fazê-lo no dia seguinte. O doente hesitou mas acabou por abdicar da anestesia.
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A um cardiologista

cardiologista
No decorrer da minha segunda gravidez foram-me detectadas arritmias cardíacas, algo que eu suspeitava ter, já que sempre senti que o meu coração batia de forma descompassada, ora mais rapidamente, ora mais lentamente, mas nunca ao mesmo ritmo.
Tenho um ritmo cardíaco só meu, único e especial.

Encaminhada para o Serviço de Cardiologia do meu hospital de referência, o Santo António – Centro Hospitalar do Porto, fui atendida pelo Dr. Pinheiro Vieira, que passou a ser o meu cardiologista. [Read more…]

Não basta aos idosos serem velhos

Em artigo anterior fiz a defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), frente à Exploração Capitalista da Saúde. Esta reflexão, contudo, não é tanto em relação ao SNS que existe, mas ao que o SNS poderia vir a ser, se houvesse vontade política. Ao que o SNS poderia vir a ser se houvesse uma vontade séria de eliminar os seus defeitos, as suas imperfeições e as suas carências, no sentido de o programar para um profundo desenvolvimento, indispensável à saúde de um povo.

Hoje, o conhecimento e a experiência médica são muito grandes. A investigação científica atingiu uma dimensão incalculável e a sua aplicação prática trouxe avanços inimagináveis na assistência aos doentes. Existem muitíssimos profissionais idóneos, com excelente formação técnica e humana e com grande vontade de colaborar nesse promissor futuro que seria um SNS de alto nível. Assim como existem instituições vocacionadas para a defesa dos profissionais, dos doentes e do correcto exercício da medicina, com uma consciência mais viva da nobreza da sua missão. Tudo indica, infelizmente, que este valioso património profissional, científico, social e humano será desprezado e destruído pelos poderes governativos vigentes. [Read more…]

SNS 2013

Na linha de montagem do hospital público espero que o tempo, a indiferença e a desumanidade passem, espero com filosofia, com dúvida, com esperança, tentando ver para além do medo nos olhos dos aflitos que esperam comigo. No hospital público cheira mal, está demasiado calor, demasiado desespero, demasiada solidão, demasiada morte para cada um no final da linha de montagem, demasiado sistema informático, demasiados graus de prioridades relativas, e insuficientes médicos, enfermeiras, compaixão, capacidade humana. No hospital público europeu que parece um de campanha em África mas com computadores, cheira aos miasmas do Inferno, há mulheres aterrorizadas que gemem na língua dos crentes “ai Jesus acode-me”, “Pai, onde Estás?”, e o segurança dorme sentado numa cadeira de rodas.

Thatcher, a puta de ferro,

queria acabar com o SNS. Deixou filhos por estes lados.

Politics - Thatcher wedding day - 1951

Da série ai aguenta, aguenta (13)

Governo vai cortar mil camas nos hospitais do SNS. Num país em que há doentes internados em macas.

Agressão social

Idosa ferida em assalto escondeu agressão para não pagar 108 euros no hospital.

É do SNS? fecha já antes que abra

Autarcas de Serpa e Montemor-o-Novo estranham proposta de fecho de urgências que não existem.

Pátria homicida

Idosa morre à espera que dois hospitais decidam quem a deve tratar

A ser verdadeira esta notícia, não há dúvida de que vivemos num país acima das nossas possibilidades, porque não há possibilidade de sobreviver num país em que os mais frágeis morrem em nome do pagamento de dívidas criadas por gente sem escrúpulos e pagas por outros com os mesmos escrúpulos.

A História que o marcelismo me vendeu na Escola Primária falava-me de heróis que tinham morrido em nome da Pátria ou de Deus, mas, na altura, eu era um alvo fácil da propaganda.

Hoje, vejo poucos heróis e fico-me por carrascos e vítimas. A mulher de 79 anos que morreu em Chaves é vítima de um homicídio e o culpado é um país incapaz de se equilibrar entre interior e litoral, entre ricos e pobres, entre deve e haver.

Matámos uma mulher de 79 anos. É o que fazemos aos idosos lá do interior.

Assuntos de mercearia

Lembro-me bem de um merceeiro, que, por razões que nunca consegui estabelecer, volta e meia embirrava e dava-lha para conferir primeiro o dinheiro que o cliente levava consigo, e só depois aviar o pedido: –  “Mostra lá dinheiro, rapaz!”, ordenava de dentro do balcão. A chamada grande distribuição acabou por lhe roubar a clientela: ali não só se vendia mais barato, como também só se pedia o dinheiro no final, na caixa.

O merceeiro de serviço no ministério da Saúde decidiu aumentar brutalmente as taxas ditas “moderadoras”, adiantando uma atenuante, nunca devidamente quantificada: mais gente será abrangida pelas isenções. O aumento entra em vigor a 1 de Janeiro; mas, conforme se pode ler de uma informação prestada pelo ministério, o diploma que “estabelece os critérios de verificação da condição de insuficiência económica dos utentes para efeitos de isenção de taxas moderadoras” só foi publicado a 27 deste mês, e ”o formulário online ainda não se encontra disponível no Portal da Saúde”. O formulário é que, depois de preenchido por algum técnico superior de entendimento e confirmado pelas chamadas entidades competentes, a bem da nação, entenda-se, será sujeito a aprovação “de quem de direito”, também a bem da nação. Ou seja: a 1 de Janeiro toda a minha gente mostra o dinheirinho à entrada dos estabelecimentos do SNS, ou então não há consulta para ninguém. A sorte deste merceeiro é que ele gere uma mercearia não sujeita às leis da concorrência, e se der prejuízo os clientes é que pagam – não ele, que tem uma reforma dourada à espera, no grupo Mello ou no grupo BES, os grandes beneficiários do ataque cerrado ao Serviço Nacional de Saúde.

Carlos de Sá

Também na saúde o mercado funciona, e viva o empreendedorismo

Tenho de dar a mão à palmatória: qual Serviço Nacional de Saúde, o sistema de seguros de saúde é muito melhor, mais barato (dada a generosidade das seguradoras, essas grandes entidades filantrópicas) e eficaz. Aos que o criticam lançando atoardas sobre as pessoas que não conseguem pagar um seguro de saúde, deixo o exemplo de James Varone, desempregado, com uma hérnia a precisar de tratamento urgente, e sem seguro para isso. Demonstrando as vantagens da iniciativa privada e do empreendedorismo, James Varone dirigiu-se a um banco com uma folha onde escreveu: “isto é um assalto, dêem-me um dólar“, e o problema ficou resolvido com a chegada da polícia,  a sua detenção e envio para uma cadeia, onde os cuidados de saúde são poucos mais gratuitos.

Infelizmente um dólar é apenas um dolár, foi condenado por um pequeno delito e não passará tempo suficiente na choça para o tratamento prolongado de que necessita. Pois que para a próxima seja mais ambicioso, e peça mil dólares, já deve chegar.