Um minititanic

Foi o Adão quem me falou do Minititanic, e até mo mostrou, em certa tarde soalheira. Um barquito pequeno, arruinado, ancorado na margem do Douro. Um barco de quatro ou cinco metros com um nome imenso, apesar do (falso) prefixo. Se continua ali, encostado à margem, como se ainda tivesse futuro, é porque o dono, um velho pescador, não o abandona. Todos os dias à volta dele, a limpar-lhe as cagadelas das gaivotas, a consertar uma tábua, a fazer-lhe um remendo inútil, como todos os remendos que ainda se possam fazer naquela carcaça, e a amá-lo, a amá-lo como não sabemos se terá amado alguém de carne e osso, porque no barco despejou tudo o que foi, tudo o que fez, tudo o que dele ficará no mundo. O homem dirá ainda, a quem ainda o escutar, que um dia destes faz-se ao mar outra vez, que o barco ainda aguenta, que estão os dois rijos. E ouvirá risadas de resposta, ou só um assentimento amável, para quê contrariar um pobre homem? [Read more…]

Apresentação

Lançamento dos livros de Adão Cruz e de Eva Cruz (texto de Augusta Clara)

(Fotografias de Elisabete Silveira)

(da esquerda para a direita Carla Romualdo, Augusta Clara, Adão Cruz, Susana Fernando e Marcos Cruz) [Read more…]

Canções antigas

adão cruz

Na recordação das canções antigas veste-se meu coração das verdes folhas do desejo e entoa na fragrância dos campos a melodia dos olhos pendurados na profundidade do céu.

Na sombra da figueira diz-me adeus o sol em acenos de azul e violeta por entre os ramos e os sons de uma flauta de lábios doces que por ali poisou entre sonhos infinitos do lusco-fusco.

As primeiras chuvas do verão humedecem como lágrimas as palavras ditas e não ditas no silêncio dos caminhos perfumados de terra e folhas molhadas.

E nada se reconhece na lembrança muda das tardes que para sempre morreram mas os passos ecoam em silêncio por entre os pés das oliveiras onde outrora floriram mil risos de criança.

Que fez de mim este crepúsculo azul como flecha espetada no vento ferindo de morte toda a vida de meu sonho-menino?

Onde está a pedra que se fez montanha o regato que se fez rio a tripla chama infinita da vida luz e verdade que se apagou na alma nua quando sagradas selvas e misteriosas crenças de punhal à cinta quiseram que fosse santa?

Meu coração peregrino de seu perdido tesouro entre o sol e as desgarradas nuvens de infinitos céus ainda hoje se arrasta entre a razão e o abismo em pálido reflexo de ouro para ser criança na hora de partir.

Serviço Público no Aventar

Serviço Público é, num blogue, informar as pessoas sobre assuntos que lhes facilitem a vida, assuntos úteis que preparam melhores decisões, que dão uma visão das coisas e do mundo, mais realistas e mais verdadeiras.

Felizmente que essa preocupação foi das primeiras que nos levou a esta aventura. Por isso convidamos pessoas que sabíamos ter coisas boas escritas e que encontrariam aqui uma forma de lhes dar a única utilidade que têm. Serem lidas.

O Carlos Loures, que é um poço de conhecimento e de experiência vivida, com uma vida cheia de actividades em prol da sociedade, com perigo da própria vida e mal estar da sua família (esteve preso antes do 25 de Abril, por razões políticas) deu-me uma luta do catano antes de aceitar juntar-se aos Aventadores ( os meus amigos comuns diziam para eu desistir). Está aí! Como eu, há milhares de pessoas que leêm histórias e conhecem factos e nomes que de outra forma não conheceriam.

Não vou referir aqui mais aventadores com textos de grande nível, até porque seria uma tarefa inglória e injusta, há sempre alguem que fica esquecido.

Mas tudo isto, tem como objectivo dar o meu humilde testemunho da nobreza de um grande homem, com quem muitas vezes tenho tido desavenças ideológicas, que não conheço pessoalmente, mas que admiro muito. O Adão Cruz, tem hoje um texto de grande nobreza que poucos médicos teriam a coragem de dar à estampa, mas que não poucos já mo confirmaram em surdina.

Depois do tráfico de armamento e da droga o mais rentável negócio é o da saúde! Como é que a saúde das pessoas se transforma no terceiro negócio mais rentável? Porque é que este negócio não é liderado pelos Estados? Como se erradicam doenças que não dão lucro, porque são poucos os doentes ou porque são pobres ?

No principio da minha vida profissional estive no Gabinete de Estudos Económicos de um banco, onde analisava empresas e risco  de crédito, entre as quais empresas ligadas aos medicamentos. Ora, nos relatórios, era frequente os resultados bons ou maus serem justificados porque, por exemplo, o inverno tinha sido pouco rigoroso e não tinha havido nem gripes nem pneumonias!

Só falta cantar umas missas para o pessoal estar todos os dias entre a vida e a morte  não vá a rentabilidade baixar…

No Ministério da Saúde, eu e mais alguem demo-mos ao trabalho de comparar as várias marcas comerciais de um determinado “principio activo”. Esse meu amigo tomava o medicamento mais caro que custava se bem me lembro , na altura, 14 contos e o mais barato, com a mesma dosagem, custava entre cinco e seis contos!

Adivinhem lá qual é que se vendia?

OS PRISIONEIROS

Mais um conto, verdadeiro, da Guiné.

OS PRISIONEIROS

No tempo de sem janelas e sem vistas para o mar, eu dormia a madrugada dessa noite igual a tantas outras. Igual…não seria. Dois gritos lancinantes atravessaram a noite degolando o silêncio. Como ecos do inferno. Os ataques não explodem assim! Nenhum homem grita do fundo do tempo! Nenhum animal selvagem ruge tão perto!
Virei-me para dentro do medo e verguei-o à razão. A razão das sobras do medo.
Passos na picada. Voz de sentinela apunhalando o escuro.
– Sr. doutor, sr. doutor.
Dei um salto da cama levando de rosto a rede mosquiteira. Não dei com a luz, mas o raiar da madrugada permitiu que eu visse a silhueta do soldado.
– Algum problema?
– Um prisioneiro.
– Prisioneiro? Que prisioneiro?
– O sr. doutor não sabe?
Entre a minúscula enfermaria e a pista térrea de aviação havia um bloco de cimento com meia dúzia de metros por outra meia. Uma porta, duas sentinelas, outra porta. Esta última era uma barragem de tábuas pregadas e entrelaçadas, com uma frincha no meio por onde enfiavam restos de comida. Dentro do ventre de cimento, disseram que eu iria encontrar quatro pessoas, três homens e uma mulher. Da garganta de uma delas haviam rebentado os gritos que arrepiaram os soldados. Maior este medo do que o medo das balas. Soava a algo do outro mundo, a almas penadas.
Tínhamos chegado ao mato há poucos dias. Os soldados sabiam de quatro prisioneiros deixados pela companhia anterior. Mas não sabiam o que continha aquela enxovia. Que seres havia para lá daquela porta. Entrei. Ia desmaiando. Devo ter inalado o cheiro mais nauseabundo que algum dia a minha imaginação concebeu. Misto de excrementos putrefactos, de fetidez condensada e de gangrenosas decomposições liquefeitas em suores, lágrimas e merda. Nem um buraco. Nem uma nesga de luz.
Arrastámos para o pequeno átrio o corpo que gritava. Um monte de trampa invadido de convulsões epilépticas. A boca espumava sangue. As carnes eram de pedra.
Já o sol enchia a entrada. Mandei retirar os prisioneiros daquele túmulo de cimento e deitei-os sobre a terra seca. Abri os olhos. Em toda a minha vida nunca vi tal coisa. Na explosão da luz, todos aqueles pares de olhos se injectaram de sangue como se houvessem rebentado. Uma violenta conjuntivite, reacção imediata a uma luz que não viam há muitos meses. Não é fácil descrever este quadro mesmo a anos de distância. Ainda sinto o espírito retorcido como pano de limpar o chão. Perguntava-me eu, ao olhar aqueles corpos dilacerados, o que teria acontecido. Um deles tinha um pedaço de lábio fendido cicatrizado por segunda intenção, a par de inúmeros golpes na face e no pescoço. Outro tinha parte da orelha colada à cara e um sobrolho caído. Outro era apenas um velho. Os cabelos cresceram e formavam uma pasta de alcatrão agarrada à cabeça. Restos de trapos colavam-se aos corpos. Um deles parecia uma mulher. Era uma mulher. A não ser que lhe tivessem cortado o pénis. Pela vagina escorria pus esverdeado e chamava-se Maria. Provavelmente era virgem, apesar de tantos soldados terem violado a sua podridão.
Atravessei num vómito a parada e fui falar ao capitão. Ele não assumia a responsabilidade da libertação. Assumi-a eu como médico.

Foram tratados e alimentados. O epiléptico, que era o mais novo, fugiu. Atravessou a pista galgou o arame farpado, e desapareceu na selva. A sentinela ainda engatilhou uma rajada que não chegou a disparar. Outro foi integrado. Quando vim embora cultivava arroz e algum medo pela minha ausência. O velho, recuperadas as forças, gastou-as a cortar a garganta com os vidros de uma garrafa. Poupados os vasos do pescoço, vi que valia a pena pedir uma evacuação “Y”, ou seja, emergente. Duas semanas depois o helicóptero trouxe-o de regresso, curado. A Maria foi cuidadosamente tratada durante meses, de todas as infecções físicas e psíquicas. Teve um filho nascido do amor de um soldado. Quando a deixei, não consegui ver o que havia por detrás do mar de lágrimas dos seus olhos. Penso que era vida.

                          (manel cruz)

(manel cruz)

POEMAS DO SER E NÃO SER

Delicadamente

ela abriu a blusa e levantou os olhos decidida.

Era uma mulher de guerra combatida

daquelas cuja face conta a história.

Mansamente

baixou a medo as alças do soutien

inclinou a cabeça

e fechou os olhos à espera da minha mão.

Depois comemos pão de centeio molhado num gole de azeite

bebemos um capitoso vinho

e fomos à procura de uma paisagem com cegonhas.

 

                         (adão cruz)

(adão cruz)

ETICA E EDUCAÇÃO (12)

ETICA E EDUCAÇÃO (12)
Considerações sobre Ética e Educação para além da Escola

A democracia é o regime político fundado na soberania popular e no respeito integral dos direitos humanos e abrange, como toda a gente sabe, quer a democracia política quer a democracia social. A educação, dentro da democracia, é entendida, basicamente, como a formação do ser humano no sentido de desenvolver, conscientemente, conhecimentos, juízos e opções de vida numa sociedade de seres iguais perante a lei. A democracia autêntica, baseada no respeito pela dignidade e pelos direitos humanos procura encontrar um modelo político e uma prática política que possibilitem a combinação da ética, dos ideais e valores democráticos, na procura de uma governação realista e honesta. Por vezes só é possível realizar uma parte desses ideais e desses valores, outras vezes nem isso é possível, dada a realidade dura e desumana das poderosas forças antagónicas e destruidoras.
A escola é um lugar de construção da cidadania. Formar para a cidadania implica formar para a responsabilidade e para a participação na vida activa da comunidade. Uma formação para a cidadania, num regime democrático autêntico, tem de incutir o sentimento de que os regimes de liberdade são incomparavelmente superiores aos regimes despóticos, exigindo, contudo, grandes doses de dever cívico para combater os riscos de abuso. Os valores e as atitudes, em democracia, requerem profunda divulgação e ampla aceitação, e não podem ser impostos autoritariamente ou de forma dogmática. Por isso a escola não pode ter uma acção neutra. O acto educativo transmite sempre, de forma explícita ou implícita, uma opção, induzindo valores em cada momento de comunicação, em cada acto de transmissão de conhecimentos, valores orientados por princípios que conduzem à aprendizagem de um mundo de pessoas e não de autómatos. Em resumo, o acto educativo propõe-se a conquista dos corações e das mentes, abrindo o caminho da consciência, formada de sentimentos e de razão, tornando a educação para a cidadania uma questão interdisciplinar por excelência.

                      (manel cruz)

(manel cruz)

ETICA E EDUCAÇÃO (11)

ETICA E EDUCAÇÃO (11)
Considerações sobre Ética e Educação para além da Escola

Todo o processo de aprendizagem vai interagir com a sociedade logo a partir do começo, pelo que a sociedade e a vida constituem, a par da escola e depois da escola, a terceira grande etapa. O ensino e a aprendizagem não se dão, e muito menos hoje, só nos âmbitos académicos. Aprende-se e ensina-se dentro e fora destes, mas sobretudo dentro da própria vida nos cenários do quotidiano.
Hoje, mais do que nunca, a ética encontra-se ligada a um apelo político e social perante clamorosas situações de injustiça, desigualdade e impunidade, adquirindo uma relevância social sem precedentes, como base de uma redefinição nos modelos das relações humanas. A postura ética da escola da vida obriga a incorporar todos estes anseios sociais e políticos, com vista a uma redobrada atenção à realidade, sem o que, toda a prática educativa se torna estéril. A postura ética universal obriga a condenar a exploração do ser humano, a falsificação e a mentira, o espezinhamento dos fracos e indefesos, a discriminação de raças, sexos, etnias, religiões, culturas e classes, a falsa moral, a injustiça, a corrupção a qualquer nível, o fatalismo ideológico e imobilizante.
Não nos podemos assumir como sujeitos de educação, de procura, de decisão, de transformação, de roturas e de opções, se não nos assumirmos, tal como disse atrás, como sujeitos éticos-sociais. Por isso eu entendi abordar a problemática da ética e da educação nas várias vertentes da vida, sobretudo naquelas mais gritantes. Todavia, aquilo que digo e manifesto é o meu ponto de vista, e o erro não é ter um ponto de vista, mas absolutizá-lo de modo a que outros o não tenham.
A cidadania, consciência de direitos, deveres e exercício da democracia deve tornar-se o eixo de toda a educação, nomeadamente da educação escolar, de modo a que o potencial de conhecimentos, práticas e valores que a envolvem integrem o homem numa plena e saudável participação comunitária. A ética e a educação trabalham a par no processo de auto-realização e auto-determinação do ser humano e na construção de uma sociedade saudável, mais dinâmica, mais verdadeira e eficaz, mais exigente nas suas nobres expressões, configuradas na verdade, na justiça e na beleza. Se o Homem não tem consciência de quem é, se não conhece a sua estatura e o seu lugar na vida globalizante dos dias de hoje, dificilmente poderá criar dentro de si o sentido da autonomia como requisito essencial da contemporaneidade. (Continua)

                        (manel cruz)

(manel cruz)

BI-QUADRA DO DIA

Borrar a cara com merda
Era o menos que faria
Qualquer cidadão honesto
No meio da porcaria.

São tão porcos estes gajos
Tão corruptos e ladrões
Que até a alma cheira mal
Feita de merda e cifrões.

ETICA E EDUCAÇÃO (9)

ETICA E EDUCAÇÃO (9)
Considerações sobre Ética e Educação escolar
Com a liberdade, a virtude e o bem como bagagem indispensável, está pronto um filho para sair da família e iniciar a sua grande viagem da vida, começando pela escola. A escola continua a ser a única instituição cuja função oficial e exclusiva é a educação. Há uma relação dialéctica entre a escola, a ética e educação. Há uma ética da educação e uma educação da ética. Por outro lado há uma grande afinidade entre ensinar, educar e aprender. Ensinar e aprender é por demais sabido que constituem as duas faces de uma mesma moeda. O formando também é sujeito de produção do saber. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Embora diferentes, quem forma também se forma, ao formar, e quem é formado, também forma, ao formar-se. Ambas as faces constituem um todo, de tal maneira que uma nunca acontece sem a outra. O estatuto ético da relação educativa, enquanto relação interpessoal marcada por uma intenção e por um projecto, obriga, antes de tudo, ao respeito mútuo, numa profunda partilha de testemunhos, sonhos e vontades. O respeito devido àquele que ensina, que se presume bem preparado do ponto de vista intelectual, emocional e comunicacional, que dá testemunho de uma experiência e de um saber, que explica e que interpela, que abre caminho a verdades desejadas, tem de ter como base indispensável a motivação e a disponibilidade de quem aprende, a disponibilidade e o interesse para se deixar ensinar, a disponibilidade para acolher e valorizar a presença daquele que ensina. O respeito pelos educandos, infelizmente inexistente na incompetência e fraca formação de alguns educadores desmotivados e pouco evoluídos, deve ser considerado um direito de quem aprende, e o reconhecimento deste direito é o primeiro dever de um professor.

                         (manel cruz)

(manel cruz)

ELEIÇÕES DE CAPOEIRA

ELEIÇÕES DE CAPOEIRA

O ridículo destas eleições domésticas sem ideias, projectos, sonhos e utopias enoja-me.
Este emaranhado de mentes obsoletas, desertificadas, desenraizadas de tudo cria em mim um tédio avassalador.
Esta indigência mental atrofia-me.
Esta capoeira, alheia á abrangência dos problemas do mundo, arranha-me o espírito.

Da infernal religião do mercado, dos rituais dos sacerdotes do poder, espalhados por todos os cultos reverenciais do dinheiro, em congressos de ética onde é notório o défice de moralidade, ou em cimeiras de repartição do que ainda resta do terceiro mundo, nada se diz.
Da perversão dos conceitos, inversão e anulação de valores, nada se fala.
Da descarada hipocrisia, nesta floresta de enganos e desvios, em que as grandes nações vendem a morte dos filhos da humanidade, nada se julga.
Da invenção e criação de organizações ditas humanitárias para lavar o rosto e as mãos das manchas de sangue, nada se comenta.
Da despudorada ingerência externa no coração dos povos soberanos ninguém quer saber.
Da submissão e prostituição da própria ciência perante os apetites do poder, ninguém se importa.
Do tenebroso domínio do poder económico sobre o poder político, do ameaçador “pensamento único” que tenta criar um homem desprovido de razão, vontade e emoções, ninguém fala.
Da arte e da cultura, consideradas supérfluas e perigosas ninguém se lembra.
Da ética e da dignidade, valores supremos do homem, ninguém se vale.

Aleluia, aleluia! Bem-aventurada a proliferação de falsos profetas que proclamam a morte das ideologias.
Aleluia, Aleluia! Bem-aventurados os homens com etiquetas de preço e comportamentos negociáveis.

NÃO CONHEÇO O AUTOR

Há um primeiro-ministro que mente,
Mente de corpo e alma, completa/mente.
E mente de maneira tão pungente
Que a gente acha que ele, mente sincera/mente,
Mas que mente, sobretudo, impune/mente…
Indecente/mente.
E mente tão nacional/mente,
Que acha que mentindo história afora,
Nos vai enganar eterna/mente.

QUADRA DO DIA

Tu que no céu estás vivo
Vês muito melhor que nós
Como pode quem é Deus
Deixar as almas tão sós.

COMENTÁRIO A "FALANDO DE DEMOCRACIA" DE CARLOS LOURES

Eu não penso que o povo, português ou outro, seja constituído por débeis mentais. Mas como diz o Carlos Loures, que o povo tem a cabeça feita lá isso tem. E que é muito difícil desfazê-la, lá isso é, se não for praticamente impossível, dentro da máquina infernal de fazer cabeças que toda esta política é, de mão dada com tudo o que é obscurantismo, político, social e religioso. Nenhum poder está minimamente interessado em abrir os olhos dos seus apoiantes. Não me venham dizer que a maioria do povo age dentro da liberdade mental, do pensamento e da razão que só o conhecimento e a cultura permitem. Ninguém tem culpa de ser ignorante, mas a ignorância não pode ser projecto de nada, nem serve de medida a democracia alguma. Na nosso tão folclórico pluralismo, infelizmente, um voto não é mais do que uma reza, uma romaria, ou um palpite clubístico como outro qualquer. Democracia é, de facto, o poder do povo. Só por ironia ou por escárneo se pode chamar poder do povo a esta patranha eleitoral. A forma de como deve ser o povo a governar, não é facilmente entendível pelo próprio povo ou por quem quer que seja que ainda não conseguiu ultrapassar a fronteira para além da qual o homem se mede em termos de razão, dignidade e justiça. Mas não é muito difícil de adivinhar, não por iluminados, presunçosos e cabotinos deste palco da vida, mas por outra parte do povo, séria, digna e sabedora, que, por sorte, ou por exercício de razão, teve acesso à mínima clarividência necessária.

ASSOCIAÇÃO ATEÍSTA PORTUGUESA

ASSOCIAÇÃO ATEISTA PORTUGUESA

Objectivos:
A Associação Ateísta Portuguesa propõe-se e constituem seus objectivos:

Fazer conhecer o ateísmo como mundividência ética, filosófica e socialmente válida;
A representação dos legítimos interesses dos ateus, agnósticos e outras pessoas sem religião no exercício da cidadania democrática;
A promoção e a defesa da laicidade do Estado e da igualdade de todos os cidadãos independentemente da sua crença ou ausência de crença no sobrenatural;
A despreconceitualização do ateísmo na legislação e nos órgãos de comunicação social;
Responder às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.

Manifesto
Na sequência da legalização da Associação Ateísta Portuguesa, os outorgantes da respectiva escritura saúdam todos os livres-pensadores: ateus, agnósticos e cépticos, que dispensam qualquer deus para viverem e promoverem os valores da liberdade, do humanismo, da tolerância, da solidariedade e da paz.

Os ateus e ateias que integram a Associação Ateísta Portuguesa, ou a vierem a integrar, aceitam os princípios enunciados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e respeitam a Constituição da República Portuguesa.

O objectivo da «Associação Ateísta Portuguesa» é mostrar o mérito do ateísmo enquanto premissa de uma filosofia ética e enquanto mundividência válida. Porque o ser humano é capaz de uma existência ética plena sem especular acerca do sobrenatural, e porque todas as evidências indicam que nenhum deus é real.

A Associação Ateísta Portuguesa defende também os interesses comuns a todos os que escolhem viver sem religião, defendendo o direito a essa escolha e a laicidade do Estado, e combatendo a discriminação e os preconceitos pessoais e sociais que possam desencorajar quem quiser libertar-se da religião que a sua tradição lhe impôs.

A criação da Associação Ateísta Portuguesa coincide com uma generalizada ofensiva clerical a que Portugal não ficou imune. Apesar de o ateísmo não se definir pela mera oposição à religião e ao dogmatismo, em nome da liberdade, da igualdade e da defesa dos direitos individuais a «Associação Ateísta Portuguesa» denuncia o proselitismo agressivo e a chantagem clerical sobre as sociedades democráticas. O direito de não ter religião, ou de ser contra, é igual ao direito inalienável de crer, deixar de crer ou mudar de crença, sem medos, perseguições ou constrangimentos.

O ateísmo é uma opção filosófica de quem se assume responsável pelos seus actos e pela sua forma de viver, de quem dá valor à sua vida e à dos outros, de quem cultiva a razão e confia no método científico para construir modelos da realidade, e de quem não remete as questões do bem e do mal para seres hipotéticos nem para a esperança de uma existência após a morte.

A Associação Ateísta Portuguesa representa todos os que optem por esta forma de viver e defende a sua liberdade de o fazer.

ASSOCIAÇÃO ATEÍSTA PORTUGUESA

Exmo. Senhor
Dr. Fernando Horácio Moreira Pereira de Melo
Presidente da Câmara Municipal
presidencia@cmvalongo.net
Avenida 5 de Outubro
4440-503 Valongo

Senhor Presidente da Câmara
A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) tomou conhecimento de que a Câmara Municipal de Valongo, na sequência das obras de reabilitação, efectuadas na jardim da Praça 1º de Maio, na cidade de Erme-sinde, pretende erigir uma estátua da senhora de Fátima naquele espaço público, situação que, a verifi-car-se, configura um atentado contra o princípio constitucional, que consagra a separação Estado/ Igre-jas, ao mesmo tempo que discrimina e ofende agnósticos, ateus e crentes de outras religiões.
A alienação de um espaço público, de forma permanente e definitiva, por iniciativa dos representantes da autarquia, para promover uma determinada religião, neste caso através de uma estátua pia, para a qual já está construído o respectivo pedestal, além de ser claramente lesivo da ética republicana e de violar a laicidade do Estado, não vem prestigiar o poder autárquico nem a isenção eleitoral, comprome-tendo a laicidade a que devia sentir-se obrigado .
Não colherá, tão pouco, o argumento de, eventualmente, se tratar de uma iniciativa votada democrati-camente pelos órgãos autárquicos do concelho do Valongo, já que as decisões a nível municipal não podem violar os princípios constitucionais nem o mais elementar bom senso.
Assim, a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) solicita ao Sr. presidente da Câmara que se digne informar esta associação se a informação é verdadeira e, em caso afirmativo, pronunciar-se sobre este assunto, a fim de poder actuar em conformidade, caso se concretize o atentado contra a laicidade do Estado.
Aguardando a resposta de V. Ex.ª, com a possível brevidade, apresento-lhe os meus cumprimentos.

Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 11 de Setembro de 2009
Carlos Esperança
(Presidente da Direcção) TM – 917322645

QUADRA DO DIA

Ao ensinar tantas coisas
Nomeadamente a roubar
Se o sprito santo falasse
Onde ia a igreja parar.

ETICA E EDUCAÇÃO (7)

ETICA E EDUCAÇÃO (7)
Binómio Ética-Educação
A ordem ética inicia-se no núcleo familiar. Na educação familiar nasce o primeiro alento e reside o primeiro impulso ético para a conquista da vida. O juízo ético, baseado em emoções, sentimentos e raciocínios produzidos pelo cérebro, não pode ser considerado independente da história evolutiva deste órgão dentro da nossa espécie. Biliões de neurónios, seiscentos milhões de conexões por milímetro cúbico de cérebro que se multiplicam constantemente e configuram as estruturas funcionais do cérebro, constituem a base fisiológica das formações psíquicas condicionantes das aprendizagens, nomeadamente da aprendizagem ética. Dado que o crescimento de sinapses neuronais é quase ilimitado na infância, anulando-se por volta dos sete oito anos, e dado que em adultos vivemos as conexões formadas na infância, já podemos avaliar a importância da construção dos princípios éticos desde que nascemos. Esta educação visa estabelecer os alicerces fundamentais para a edificação do carácter, da responsabilidade dos actos, da consciência e do desenvolvimento das faculdades críticas. É fundamental os pais serem capazes de ajudar os filhos a aprender a valorizar, a criticar e a pôr em prática as suas capacidades de discernimento, como espectadores, ouvintes ou leitores, tentando evitar o caminho fácil da passividade, da ausência de espírito crítico e da permeabilização à exploração mental. Os pais têm de ver nos filhos uma semente de educação para a liberdade. Tenho muita dificuldade em lidar com normas morais, pelo seu relativismo e por causa das suas, por vezes perversas, contingências. Dentro do multiculturalismo e mesmo dentro da nossa cultura, há comportamentos que parecem moralmente justificados, quando nada têm de ético ou moral se olhados de um ponto de vista racional. Todos nós estamos cheios de ver a enorme falsidade e hipocrisia de que se faz o tecido de tantas instituições tidas como sacrários da moral. Daí eu pensar que a virtude é a capacidade permanente de fazer bem feito o trabalho da liberdade, e o bem é aquilo que essa virtude elege livremente no seio deste trabalho. (Continua)

                                ( manel cruz)

( manel cruz)

POEMAS ESTORICÔNTICOS

Meu amigo Dostoievsky

Meu amigo Dostoievsky nada temos a ver aparentemente um com o outro a não ser o nosso encontro pelos meus dezoito anos. Apetece-me chorar ao recordar as noites em que à luz de um foco olho de boi debaixo dos lençóis – para que minha mãe não visse – eu invadia os teus livros numa das maiores e mais deliciosas aventuras da minha vida. Ainda hoje me são familiares o rosto de Sónia e a figura de Raskolnikov luz mítica e mística dos que têm coisas em comum orientando-se na direcção do símbolo e do mundo sem forma. Da mesma forma que te marcaram Balzac Schiller Victor Hugo e Goethe tu imprimiste em mim a sensação que te fez desmaiar perante a beleza de Seniavina na casa dos Wielgorsky e eu não sou homossexual meu caro Dostoievsky. Perante a beleza eu não sei ao certo onde pára o sexo se no esperma de Úrano derramado no mar se na poesia da Morte em Veneza. Não é a realidade física que interessa ao simbólico mas o significado do sexo na imaginação. A dualidade do ser funde-se na tensão interna de quem ama e a união sexual não é mais do que o apaziguamento da tensão interior. Nunca te concebi humano sobretudo depois dessa manhã de rosto de pedra e gelo em que viveste o mais trágico minuto da tua vida. Um vento glacial varreu-me a fronte ao ouvir o teu nome na chamada para a morte: -Akcharumov! -Shaposhnikov! -Dostoievsky! Hoje depois de ter amado tanto aceito a tua epilepsia como o estigma mais marcante da pureza da condição humana e passei a considerar-te meu irmão para o resto da vida. Por isso me senti prisioneiro quando entrei na fortaleza de S. Pedro e S. Paulo por isso chorei na Praça Semenovsky onde viveste uma vida inteira em dois minutos de morte. Era como se fosse eu o condenado! Também chorei quando reencontraste Suslova apenas pelo que sofreste ao ver que o amor não se repete. A noite e o vazio estão na origem cosmológica do mundo e o amor é uma criança que cresce… e deixa de ser criança. Amor e morte quando descobertos acordam e fogem. Para escrever bem é preciso sofrer disseste um dia ao jovem Merejkovsky quando a vida confundia as chamas do teu inferno com relâmpagos de visionário. Sofrer pode ser apenas sorrir… frente a toda a utopia palpável não paranóica nem delirante. Foi a mim que o disseste meu caro amigo foi a mim que o disseste na tarde cinzenta da tua morte na hora da hemorragia que te vitimou. Até hoje ainda não te agradeci. Perdoa não ter acompanhado o teu féretro mas nessa altura eu não existia… ou será que te acompanho ainda hoje neste pesado caminho do fim?

AINDA O CAPITALISMO

AINDA O CAPITALISMO

Amigo Luís Moreira. A humanidade evolui em tudo, à medida que o tempo avança. É o evoluir permanente do conhecimento. Hoje, dentro das sociedades ditas civilizadas, ninguém se desloca de carro de bois nem ninguém permanece alheio e indiferente ao que o rodeia. A influência exercida pelo crescimento, que não é o mesmo que desenvolvimento, mexe com tudo e muda constantemente as pessoas e as sociedades. Para melhor? Nem sempre.
A ciência deu um salto enorme e continua a desenvolver-se. O pensamento e as funções da sua estrutura neuronal avançaram de forma impressionante. É lógico e fácil aceitar que hoje haja muita gente a viver com mais paz e democracia, entendendo-se por democracia a sua irmã bastarda, com sistemas sociais de apoio que nunca existiram. Mas as desigualdades, mesmo nesta parte privilegiada da humanidade são escandalosas. Tudo isto, o bom e o mau, decorre não apenas do sistema em si mas da evolução natural de uma sociedade algo bem intencionada e algo perversa, em que o ser humano está inserido. Mas a muita gente a que se refere, está longe de ser a parte substancial da humanidade. A maior parte da humanidade está longe da paz, da democracia, da solidariedade e da justiça. Mas pior do que isso, está talvez em retrocesso. A maior parte da humanidade, numa época de grande crescimento e de inimagináveis transformações, está cada dia mais longe do desenvolvimento, isto é, da paz colectiva, da democracia universal, da saúde do planeta, da educação do Homem, do sustento da humanidade global, da solidariedade e da justiça. Assistimos hoje, proporcionalmente e contextualmente, a desequilíbrios e tremendas injustiças, a requintes de crueldade e desprezo pelos outros, talvez bem maiores do que há séculos atrás. E tudo isto, a meu ver, pela sede demencial de domínio e pela voracidade nunca vista dos agentes de criação de uma tão contestável quanto concentrada riqueza, sem qualquer espírito de benfeitoria ou solidariedade humana. O capitalismo é mau por natureza, aberrante na teoria e perverso na sua prática. Sempre beneficiará os ricos e condenará os pobres, por mais voltas que a gente dê. Lembro-me sempre das palavras da empregada doméstica, sem qualquer recurso, sobre-explorada por uma patroa cruel e desumana: – se não fosse ela eu nem sopa tinha para dar aos meus filhos.
O amigo Luís Moreira refere os profundos desequilíbrios e a incapacidade do sistema capitalista para criar igualdade de oportunidades. Mas isto, acrescento eu, é impossível de debelar dentro deste sistema. Este desequilíbrio e este desnível indelével constituem o metabolito essencial à sua sobrevivência. Por isso eu lhe chamo de anquilosado e cristalizado. Pode-se argumentar que o sistema capitalista há-de um dia chegar à eliminação dos desequilíbrios gritantes e à igualdade de oportunidades. Se em tal não se acreditar, é terrível, em termos de esperança e confiança no futuro. Trata-se, com efeito, de uma doença crónica, a qual, sem hipótese de cura, se vai aguentando com tratamentos paliativos ainda que modernizados pela evolução da ciência social e humana. Se, eventualmente, se acreditar, então o resultado, muito improvável, chamar-se-ia pura e simplesmente de socialismo. Mas o socialismo é uma filosofia de vida, uma filosofia de vida colectiva dentro do mais elevado grau de felicidade possível, uma estratégia política de moralização da humanidade, uma tentativa de elevação da dignidade ao cimo dos valores humanos. A antítese de qualquer filosofia capitalista.
Para chegar ao socialismo não há prazos nem linhas rectas nem caminhos milagrosos, embora alguns possam ser previamente pensados e traçados. Eventualmente serão muitos os trilhos do pensamento que até ele um dia nos levarão, apesar da inegável actualidade de Marx que esta deplorável crise, espécie de abcesso purulento, uma das chamadas “bolhas” do sistema, veio demonstrar.
O sistema capitalista tende a curar os seus excessos e delírios através de crises. Quando um dos seus abcessos rebenta, há um terramoto, a riqueza é destruída, as pessoas são dispensadas e despedidas sem contemplações, as instalações de produção são encerradas numa espiral descendente de contracção. A segurança é nula. Os desesperados, os desempregados e todos os desafortunados que do sistema dependem aceitam tudo até que o fim da crise reponha novamente a falácia e o sistema caminhe para a bolha seguinte, repetindo o ciclo, por etapas cada vez mais refinadas de uma grotesca exploração do homem pelo homem.

Amigo Luís Moreira, também o considero um interlocutor de grande sensibilidade e seriedade. Obrigado por me dar troco.
Um abraço do amigo Adão

ETICA E EDUCAÇÃO (6)

ETICA E EDUCAÇÃO (6)
Considerações sobre Ética

Existe uma ética objectiva, inscrita no nosso código genético, válida só por si, existe uma ética baseada na história da vida e das sociedades humanas ou existem ambas, fundidas e inseparáveis?
Se juntarmos tudo o que está escrito sobre ética encheremos um camião. Portanto, vamos deixar-nos de complicadas iguarias, satisfazendo-nos com a nossa comida mais caseira. O sentido mais antigo da ética residia no conceito de morada ou lugar onde se habita, um lugar exterior ao Homem, conceito que, muito mais tarde, se transformou em morada do Homem no interior da sua cumplicidade, o lugar do Homem dentro de si mesmo. A ética compreende a disposição do Homem na vida, interfere com o seu carácter, os seus costumes, a sua moral, ao fim e ao cabo com o seu modo e a sua forma de vida. O Homem faz-se por si e pelos outros. A ética é a autenticidade deste fazer-se.
Há uns anos atrás, um doente meu, homem já idoso, daqueles para quem a cultura não é um empilhamento de conhecimentos mas a capacidade de entender os fenómenos que nos rodeiam, ensinou-me, por palavras simples, que o Homem para ser Homem tem de ser gente. Pressupunha que o ser gente resultaria da construção de alguma coisa assente em vários pilares:
O primeiro pilar seria constituído pelo pensamento e pela sua inseparável companheira, a razão. A ética é uma consequência da razão. Podemos dizer que as plataformas que permitem a elaboração de um pensamento ético são a liberdade e a responsabilidade. A capacidade do Homem de se auto-determinar e assumir a direcção da sua vida determina-o como homem livre e, por conseguinte, a caminho do sujeito ético. E um sujeito ético é, fundamentalmente, um sujeito que procura a verdade. O referente da liberdade humana é a procura da verdade, porque a verdade orienta a liberdade e encaminha-a para a sua plenitude. O pensamento é o suporte mais poderoso e a mais forte armadura do Homem, a mágica força da sua criatividade. Sem pensamento e sem razão a mente humana não passa de um céu brumoso, sem ponta de sol. Por isso o pensamento e a razão têm tantos inimigos!
O segundo princípio ou pilar fundamental decorre do primeiro e chama-se cultura. Não sei verdadeiramente o que é a cultura. E cada vez sei menos, neste pequeno país e neste pequeno planeta feito de inúmeros serventuários medíocres, de impante provincianismo, incriativos plagiadores de todos os lugares-comuns inseridos nas políticas de retrocesso. Sei, no entanto, que não é a cultura-espectáculo, a cultura enlatada de políticos e cabotinos, a massificação e homogeneização que só geram vícios consumistas, impedindo o homem de pensar, reflectir e encontrar, mas a cultura do dia-a-dia, a cultura estruturante da pessoa, a cultura do percurso, a cultura da ética dialógica que está na base da racionalidade crítica orientada para a procura do significado da realidade humana.
O terceiro princípio seria o respeito pelos outros. Todavia, o respeito pelos outros nunca existirá se não houver respeito por nós próprios. O respeito pelos outros é o espelho de nós próprios.
O quarto pilar desta edificação ética do Homem seria a justiça e a solidariedade. O primeiro passo da solidariedade estaria no entender da justiça social e no seu consciente reconhecimento como prioridade das prioridades. O segundo passo seria a consciência de que viver dos outros implica sempre viver com os outros e para os outros. Ao contrário daqueles que aceitam o individualismo como fatal decorrência da onda globalizante e o desculpabilizam e desnegativizam, eu penso que o Homem é um ser para o encontro, encontro consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com o transcendente, a quem abre a interioridade da sua consciência e da sua auto-posição. (Continua)

                        (manel cruz)

(manel cruz)

BI-QUADRA DO DIA

Criam cofres bem escondidos

A que chamam off shores

Não te deixes S. João

Embarcar em tais amores.

 

São ratos e ratazanas

Porcos e outros que tais

São tão sujos estes gajos

Mais porcos do que animais.