Indústria farmacêutica vs. Saúde Pública

A cada ano que passa, dezenas de novos medicamentos chegam ao mercado. Mas quantos apresentam uma vantagem terapêutica real relativamente aos produtos anteriores e respondem a necessidades reais? Segundo a revista Prescrire, apenas 2% dos 1345 novos medicamentos lançados no mercado nos últimos 13 anos.
Gervaise Thirion/Eurojournalist
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Indústria framacêutica vs. Saúde Pública: conflito de interesses?”, eis o título do Relatório da Comissão de Assuntos Sociais, Saúde e Desenvolvimento sustentável, apresentado por ocasião da sessão de 2015 da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa por Liliane Maury Pasquier [membro do Partido Socialista Suiço] no passado dia 29 de Setembro em Estrasburgo. O tema, espinhoso, pelo menos a ver pelas reacções apaixonadas e frequentemente hostis que provoca, tem regularmente espaço nas parangonas e aberturas dos jornais – sob a aparência de ajustes de contas mediáticos (?).

Enquanto as polémicas se sucedem, cada vez mais vozes (médicos, farmacêuticos, doentes) se fazem ouvir para reclamar a ética e a transparência no que à saúde concerne. O Conselho da Europa cumpre o seu papel e está certo em apropriar-se do tema para promover em torno dele uma reflexão aprofundada, com vista a propor uma harmonização das práticas em toda a Europa.

Somas avultadas de fundos públicos estão em jogo e é imperativo preservar os diferentes sistemas públicos de saúde.
Mas o terreno está minado [Read more…]

A nossa doença é um luxo

 

Se há coisa que me desperta curiosidade é saber se aqueles que acham que o país está melhor passaram recentemente por algum hospital público. Ando, há pelo menos duas décadas, a acompanhar a doença crónica de quem me é muito próximo. São pelo menos 20 anos de consultas, exames, operações cirúrgicas e internamentos num hospital público. E durante este período nunca vi uma degradação tão evidente da qualidade do serviço prestado por esse hospital em concreto, um dos maiores do país, como a que se vive hoje.
Muitos dos médicos mais experientes e qualificados, entre eles muitos chefes de serviço, debandaram para o privado. E não foram só os cortes nas remunerações a pesar na decisão, foi também a atitude de desprezo e de falta de consideração por parte de quem manda, a não valorização de qualquer esforço para prestar um melhor serviço público. Ficaram médicos jovens, acredito que muito qualificados, mas inexperientes, numa área em que a tarimba faz toda a diferença. No recibo de vencimento de um destes médicos não se espantem se virem um salário líquido de pouco mais de mil euros por um horário de 40 horas semanais.
A experiência das pessoas que conheço é a de que os tempos de espera por consultas e exames aumentaram. Os exames que requerem anestesia continuam a ser um problema. Na sala de espera ouvi, há dias, uma conversa entre médico e paciente elucidativa a este respeito. Se o doente quisesse anestesia para realizar certo exame, esperaria à volta de três meses, sem anestesia poderia fazê-lo no dia seguinte. O doente hesitou mas acabou por abdicar da anestesia.
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Da série ai aguenta, aguenta (19)

Médicos denunciam que há administrações de hospitais a proibir prescrição de medicamentos para poupar

Da série ai aguenta, aguenta (7)

Hospitais falidos param cirurgias

Por fim, uma coisa absolutamente necessária. Nada será como antes!

Desperdício do medicamento

O trabalho “desperdício do medicamento no ambulatório em Portugal” revela que se desperdiça 21,7% da quantidade de medicamentos prescrita. Metade está associada à dimensão da embalagem e a outra metade à não adesão à terapêutica.

O custo global ligado ao desperdício é de 4,44 euros por medicamento, sendo que mais de 60% foram suportados pelo SNS. Em 2009 foram recolhidos no âmbito do Infarmed, cerca de 716 toneladas de embalagens de restos de medicamentos nas farmácias portuguesas o que equivale a 100 mil contentores. A realidade é muito superior porque a maioria da população pura e simplesmente deita para o lixo as embalagens a mais e não as entrega nas farmácias.

O redimensionamento das embalagens é a medida mais amigável para farmácias e indústria, não exigindo investimentos que cada farmácia teria que fazer e que monta a 150 mil euros, no caso da unidose. É um passo mas que não evita o custo da embalagem .

Até ao momento nenhuma farmácia aderiu à unidose, e o bastonário da OM diz que tudo isto é porque a ANF quer vender “medicamentos a granel”!

Somos todos enfermeiros, somos todos valencianos

O Ministério da Saúde só poupa no que não deve.
Quer poupar nos enfermeiros, a quem paga mal e porcamente (alguns recebem hoje em dia 800 euros). Aceita vagamente que em 2013 todos estejam a receber 1200 euros, quando é a própria Lei que obriga a que os licenciados que entram na Função Pública recebam um valor superior. Mais do que os vencimentos, impressiona a instabilidade de quem vê a sua carreira protelada no tempo num sector com tantas carências humanas.
Quer poupar, mais uma vez, nas Urgências nocturnas das populações do interior. Já morreu gente com estas «brincadeiras», mas o Ministério não quer saber que um universo de cerca de 15 mil pessoas fique sem atendimento durante a noite e tenha de se dirigir a Espanha.
O Ministério da Saúde poupa no que não deve, mas não poupa no que deve: nos desperdícios dos hospitais de gestão público-privada, nos apoios e benefícios às grandes empresas privadas na área da saúde, na política do medicamento – promoção dos genéricos, difusão da venda por unidose, obrigatoriedade da prescrição por denominação comum internacional, diminuição dos lucros pornográficos das Farmácias.
Todos sabemos por quê. Porque não interessa aos grandes grupos – os Grupos Mellos e quejandos, as Farmácias, a indústria farmacêutica. E neste caso, os enfermeiros e os valencianos são apenas «peanuts».

Sócrates e o polvo das farmácias

Vemos constantemente mexidas na lei dos medicamentos e das comparticipações, como ainda ontem se viu na conferência de imprensa da Ministra da Educação. Como sempre, o Estado vai poupar dinheiro mas os contribuintes, muitos deles desfavorecidos, vão gastar mais.
E continua sem haver uma verdadeira política de apoio aos genéricos. E a venda por unidose continua sem avançar. E a prescrição por denominação comum internacional continua sem avançar. Tudo porque não interessa. Ou às farmácias, ou à indústria farmacêutica.
Ontem, a Ministra da Saúde esqueceu-se de dizer que a margem de lucro das farmácias voltou a ser de 20%, quando antes era de 18%. Num momento de crise, percebe-se mal por que razão há um sector que é beneficiado desta forma em relação aos outros. Subida da margem de lucro nesta altura?
Uma medida tão pronográfica que até a Ministra da Saúde teve vergonha de a anunciar. Mas não há limites para a pornografia de que José Sócrates é capaz, nem mesmo por se ter sabido entretanto que o processo Face Oculta regista as ligações perigosas entre João Cordeiro e o primeiro-ministro.

Medicamentos inovadores – um problema económico?

Há uma guerra na Saúde. Por um lado os médicos que vêm a sua capacidade de prescrição reduzida por o Infarmed (entidade que no Ministério da Saúde aprova os medicamentos) demorar cerca de um ano a dar novas autorizações a medicamentos que são utilizados correntemente noutros países. Por outro lado o poder político que vê a factura do medicamento crescer desmesuradamente.

Claro que há muito medicamento novo que não é inovador, muitas vezes são combinações de principios activos já utilizados, e que são comercialmente reciclados .

Uma das formas mais interessantes para ajudar a resolver esta aparente contradição é levar a indústria farmacêutica a suportar parte dos custos, pois é parte interessada em demonstrar a capacidade do seu medicamento.

Outra forma, é as autoridades da Saúde perceberem que a despesa em medicamentos pode e deve ser vista como um investimento, se olhado na óptica do doente – a maioria destes medicamentos estão na área da oncologia – pelos sofrimentos que evitam, pelos tratamentos caros e menos eficazes que substituem, pelas camas ocupadas, pelos médicos e outro pessoal utilizados e que podem ser reduzidos com a introdução de medicamentos, realmente eficazes.

A introdução no mercado de um medicamento realmente inovador exige um enorme investimento por parte da indústria que tem, naturalmente, que reaver o dinheiro para poder continuar a investigação, mas não podemos matar a “galinha dos ovos de ouro”.

Há que encontra formas de prescrição, como a unidose, para evitar o desperdício de muitos milhões que são habituamente deitados para o lixo.

Nenhum de nós precisa de sair de casa para perceber isso!

Continuamos à espera da unidose, da prescrição por denominação comum e dos genéricos

Enquanto se vai entretendo a rever as comparticipações dos medicamentos, sempre para pior, o Governo vai esquecendo algo que realmente baixaria e muitíssimo a factura dos doentes e do próprio Estado: a venda dos medicamentos em unidose (depois de acauteladas todas as condições de segurança, o que não se prevê que seja um trabalho hercúleo), a obrigatoriedade da prescrição por denominação comum (o que permitira ao doente escolher o mais barato) e o verdadeiro incentivo aos genéricos.
Claro que isso não interessa à indústria farmacêutica nem às próprias farmácias. São grupos fortes – e todos sabemos que José Sócrates não tem estofo para lutar contra os grupos fortes. José Sócrates só tem coragem para se meter com os pequenos.

Serviço Público no Aventar

Serviço Público é, num blogue, informar as pessoas sobre assuntos que lhes facilitem a vida, assuntos úteis que preparam melhores decisões, que dão uma visão das coisas e do mundo, mais realistas e mais verdadeiras.

Felizmente que essa preocupação foi das primeiras que nos levou a esta aventura. Por isso convidamos pessoas que sabíamos ter coisas boas escritas e que encontrariam aqui uma forma de lhes dar a única utilidade que têm. Serem lidas.

O Carlos Loures, que é um poço de conhecimento e de experiência vivida, com uma vida cheia de actividades em prol da sociedade, com perigo da própria vida e mal estar da sua família (esteve preso antes do 25 de Abril, por razões políticas) deu-me uma luta do catano antes de aceitar juntar-se aos Aventadores ( os meus amigos comuns diziam para eu desistir). Está aí! Como eu, há milhares de pessoas que leêm histórias e conhecem factos e nomes que de outra forma não conheceriam.

Não vou referir aqui mais aventadores com textos de grande nível, até porque seria uma tarefa inglória e injusta, há sempre alguem que fica esquecido.

Mas tudo isto, tem como objectivo dar o meu humilde testemunho da nobreza de um grande homem, com quem muitas vezes tenho tido desavenças ideológicas, que não conheço pessoalmente, mas que admiro muito. O Adão Cruz, tem hoje um texto de grande nobreza que poucos médicos teriam a coragem de dar à estampa, mas que não poucos já mo confirmaram em surdina.

Depois do tráfico de armamento e da droga o mais rentável negócio é o da saúde! Como é que a saúde das pessoas se transforma no terceiro negócio mais rentável? Porque é que este negócio não é liderado pelos Estados? Como se erradicam doenças que não dão lucro, porque são poucos os doentes ou porque são pobres ?

No principio da minha vida profissional estive no Gabinete de Estudos Económicos de um banco, onde analisava empresas e risco  de crédito, entre as quais empresas ligadas aos medicamentos. Ora, nos relatórios, era frequente os resultados bons ou maus serem justificados porque, por exemplo, o inverno tinha sido pouco rigoroso e não tinha havido nem gripes nem pneumonias!

Só falta cantar umas missas para o pessoal estar todos os dias entre a vida e a morte  não vá a rentabilidade baixar…

No Ministério da Saúde, eu e mais alguem demo-mos ao trabalho de comparar as várias marcas comerciais de um determinado “principio activo”. Esse meu amigo tomava o medicamento mais caro que custava se bem me lembro , na altura, 14 contos e o mais barato, com a mesma dosagem, custava entre cinco e seis contos!

Adivinhem lá qual é que se vendia?

Revoltante

 

Antigamente era proibido fazer publicidade de medicamentos, fosse onde fosse. Apenas as revistas médicas podiam fazê-lo. Hoje já se ouve e já se vê na TV e nos jornais. Incrível e intolerável. Não há nenhum medicamento inócuo, e isto traduz uma verdadeira irresponsabilidade de quem o faz e um total desprezo pelo ser humano.

 

Como se não bastasse, agora, sempre que me encontro a trabalhar no computador, salta de lá, em alta voz, uma música e um gajo a fazer encómios ao Centrum, que é um polivitamínico. E as vitaminas não são medicamentos inofensivos, podendo trazer complicações. Mas, para além disso, trata-se de um absurdo e de um atentado à privacidade. A partir de hoje nunca mais prescreverei tal medicamento, e farei toda a publicidade negativa que me for possível.