O “sistema” em defesa de André Ventura: o caso de Miguel Relvas

Disse Miguel Relvas, a propósito da integração da extrema-direita num governo PSD:

A verdade é que  há um grande preconceito por parte da comunicação social e do país em relação ao discurso do CH e à imagem do CH.

Mas Relvas não partilha desse preconceito. Aliás, não lhe repugnaria ver o CH integrado num governo PSD. Se dúvidas restassem sobre a capacidade da elite capitalista em acolher a extrema-direita nos seus braços, Relvas foi claro e transparente a esse respeito. Coisa que Montenegro, entre uma dissimulação e outra, não conseguiu ainda ser, apesar de ser evidente, o caminho que pretende seguir.

P.S: Se André Ventura é tão “antissistema” como afirma ser, estou certo que rapidamente se afastará deste endorsement. Ou expõe ainda mais a sua hipocrisia e a falsidade da sua narrativa.

Rui Rio prestou um péssimo serviço ao regime democrático português

Rui Rio prestou um péssimo serviço ao regime democrático português, ao não ter tido a vontade, a coragem e a determinação de se demarcar categoricamente de André Ventura e do discurso desonesto, manipulador e de ódio da extrema-direita. Para quem tanto gosta de aludir à Alemanha, e elogiar o seu sistema político, Rio deveria estar mais atento ao exemplo de Angela Merkel, que sempre defendeu o cordão sanitário em torno da AfD, mesmo quando isso significou entregar o poder ao Die Linke, o homólogo alemão do BE, na Turíngia.

Rio falhou quando se enterrou em ambiguidades para se esquivar a dizer aos portugueses se conta ou não com a extrema-direita, deixando a porta aberta a entendimentos. Falhou ao ser incapaz de enumerar as características extremistas do Chega, que são inúmeras e evidentes, situação que vem reforçar a ideia de que a porta está e estará aberta a entendimentos. Falhou quando se deixou enredar na teia de Ventura, permitindo-lhe marcar o passo do debate, fazendo o seu jogo e respondendo às suas perguntas. Falhou quando gastou tempo precioso, que nestes debates é escasso, para responder a vacuidades como a questão da prisão perpétua. Quem não consegue debater com Ventura sem ser capturado por ele não tem condições para liderar o país. Vice-primeiro-ministro de António Costa é o máximo que poderá aspirar. E mesmo assim…

Paulo Portas mentiu

Na sua homilia de Domingo à noite, Paulo Portas mentiu. É mentira que o cordão sanitário que mantém a AfD fora do sistema político alemão se aplique também ao Die Linke. O Die Link tem coligações regionais e locais com SPD e Verdes. E foi Merkel quem vetou a tentativa de acordo que incluía o seu partido e a AfD, na Turingia, permitindo ao Die Linke governar, com o SPD e Verdes como parceiros minoritários. Não foi só a equivalência absurda entre Lula e Bolsonaro. Lula tem as suas falhas mas não é comparável a Bolsonaro e tem tanto de extremista como o Irrevogável. Porém, no caso alemão, Paulo Portas mentiu. E fê-lo deliberadamente, porque Portas pode ter muitos defeitos, mas ser ignorante não é um deles.