uma política externa digna de um regime totalitário não é suficiente. Netanyahu e os seus extermistas querem acabar com a separação dos poderes. E estão a consegui-lo.
Entretanto, no Kremlin de Telavive
O plano para suprimir a separação de poderes e submeter a justiça à vontade de Netanyahu e dos extremistas religiosos e neofascistas que integram o seu governo segue imparável. Já não lhes chega ser uma autocracia no plano externo. A democracia é para abater. Estão cada vez mais parecidos com os seus vizinhos (e agora amigos) sauditas.
Fundamentalismo religioso do bem
Israel está a ficar tão Gilead que as handmaids já andam na rua. Mas não se preocupem que é fundamentalismo religioso do bem. E a separação de poderes está overrated.
Portugal não é a Hungria
Sinto a minha inteligência insultada, verdadeiramente insultada, sempre que me tentam vender a narrativa da imprensa nacional no bolso de Costa, ou dependente das suas ordens, ou condicionada na sua actividade pelos humores do Partido Socialista. Bem sei que o poder, aqui como em qualquer lado, tem algum ascendente sobre algumas redacções, e Portugal não é excepção, mas basta olhar para quem manda nos jornais, rádios e televisões, analisar para que lado do espectro pende a maioria dos cronistas, perceber o fosso que existe, nas TVs, entre a quantidade de comentadores afectos aos partidos de esquerda e aos partidos de direita (com os casos gritantes de CDS e PCP, o primeiro por ter uma presença largamente superior à sua representatividade, o segundo por praticamente não existir, apesar de ser a quarta força no Parlamento e a terceira ao nível autárquico), entre outros aspectos – cuja enumeração exaustiva não pretendo fazer, por não ser disso que se trata esta pequena posta – para perceber o que realmente se passa neste país.
Ovos
“Como é que uma sociedade (…) pode conferir tamanhos poderes a alguém que não foi escrutinado democraticamente?”. Não, esta frase não foi proferida por algum anónimo analfabeto político. Ou, pelo menos, não anónimo. O seu autor é Passos Coelho, 1º ministro de um país europeu do século XXI.
O juízo é torpe e canalha por tantas razões que seria fastidioso percorrê-las todas. A democracia tem em si, entre outros, como pilares centrais, as ideias de que a lei obriga igualmente todos os cidadãos e que a soberania reside no povo. Existem, como se sabe, diversas perspectivas sobre a sua realização, diversos modos de conceber como a vontade do povo se traduz em mandatos e qual a sua natureza, mas nenhuma delas dispensa aqueles dois pontos fundadores. Decorrendo deles se encontrou um equilíbrio na separação de poderes, estabelecida num momento em que a comunidade concorda consensualmente em estabelecer o seu contrato fundamental. Os mecanismos representativos respondem à complexidade das sociedades modernas. Como é óbvio, nem todas as entidades detentoras de poder de estado são eleitas. O próprio governo só o é indirectamente. Tal como o Tribunal Constitucional, cuja legitimação assenta em eleição por maioria qualificada na Assembleia da República, a que todos chamam “casa da democracia” e, no caso presente, por uma maioria do bloco central e da direita. O seu papel, consensualmente aceite é, precisamente, velar pelo respeito, a todos os níveis, da Lei fundamental, fonte de todas as leis.
Passos Coelho ignora tudo isto e é apenas um pateta ignorante? Não nos iludamos. O ovo da serpente choca à nossa vista porque os idiotas pensam que é um ovo de galinha.
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