Quão fáceis somos de enganar?

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Num país onde a maioria dos responsáveis políticos ilude e mente aos seus concidadãos, descobrir que existe mais uma senhora versada nas artes do oculto – seja lá o que isso for – não me choca nem surpreende, até porque o que não falta por aí são embustes com búzios e cartas e “professores” com nome de guerreiros africanos e hábitos ocidentais. Tal como tantos dos nossos políticos, vender ilusões e fabricar realidades absurdas é coisa que lhes assiste e que, infelizmente, vem também a ser legal.

O que me choca é que esta senhora, de seu nome Maria Helena, tenha tempo de antena na SIC para – espero que estejam bem sentados – usar a sua varinha de condão. De resto uma estreia total na televisão: até ali, Maria Helena só tinha autorização para usar os seus poderes mágicos em Hogwarts mas dizem as teorias da conspiração que o professor Dumbledore poderá ter metido uma cunha ao Balsemão no último encontro Bilderberg.

E enquanto agita a sua varinha num recipiente com água, a senhora dona Maria Helena questiona uma ouvinte, a quem se encontra a curar uma maleita por telefone e em directo na TV, se sente a energia negativa a sair do seu interior. “Assim assim” responde a paciente, intrigada com o que se estará ali a passar. “Concentre-se, tem que ter fé em Nossa Senhora” retorquiu a curandeira, acrescentando, segundos depois e em jeito de diagnóstico final, “Pronto minha querida. Continue com fé, porque a minha querida está, a minha querida está liberta daquele mal espiritual que tinha, ’tá bem minha querida? Acredite em Deus porque Deus faz milagres“. E assim se curam pessoas no século XXI: uma estação de televisão que pactua com o embuste, uma vendedora de banha de cobra, uma varinha de condão, um telefone e as preciosas ajudas da fé, de Nossa Senhora e de Deus. Até a IURD começa a sentir concorrência. Os fanáticos brasileiros vendem indulgências, Maria Helena faz cura por telefone com a sua varinha de condão.

Depois ficamos muito admirados quando nos apercebemos que somos iludidos e enganados diariamente por indivíduos com recursos milionários, contactos ao mais alto nível, imunidade perante a justiça, claques desmioladas ao seu dispor e esquadrões em blogues e jornais dispostos a vender a sua integridade por euros e a perspectiva de um dia virem a ser secretários de Estado. Se esta senhora aparece na SIC com uma varinha de condão na mão, diz que cura coisas, tem audiência e ainda vende livros, acho que estamos conversados sobre o quão fácil este jogo é para os profissionais. Não admira que qualquer metáfora abjecta seja facilmente absorvida pela carneirada.

 

Comments

  1. Fraquinho. Havia um que reparava computador com poder da oração e mais uns Euros, é claro…

  2. Rui Silva says:

    Não subestimem o efeito “Placebo”.
    A “paciente” não tinha nada mas pensava que tinha.
    A “Doutora” aplicou-lhe uma “tratamento” que não consistia em nada.
    A “paciente” ficou bem.
    Está tudo bem.

    cumps

    Rui Silva

  3. Reblogged this on O Retiro do Sossego.

  4. NIKO says:

    É este povinho que vota nos vigaristas ,nos aldrabões, nos chulos dos dinheiros dos contribuintes . pobre pais que tais filhos tens.

  5. xana lopes says:

    Bem explicado por Rui Silva acima. Se a “doença” é psicológica a cura é “visual”. Não subestimar o poder da sugestão.

    • Abel says:

      A questão não tem nada a ver com a “cura” mas com a presença daquela figura num canal de televisão. Para aqueles que não levam essas “curas” a sério podem começar a tomá-las como possíveis; para as restantes (a maioria que assiste a esses programas) assumem-nas como dado assente. A dita figura vai ganhando a vida a enganar os outros e a sic garante mais alguma audiência. Um nojo.

Trackbacks

  1. […] Depois do sucesso da varinha de condão repleta de poderes mágicos que cura “assim assim&#822…, eis que me deparei com esta sequência de embustes astrológicos compilados pelo humorista Hugo Sousa. Urinei-me com particular descontrole quando a taróloga Bárbara Corte Real anteviu uma relação amorosa na vida da filha de 4 anos de um telespectador (estava tentado a chamar-lhe otário mas quero acreditar que o homem estava numa de gozo). A fraude é tal que as próprias vigaristas ficam por vezes sem resposta perante as reacções às suas vigarices. No Canal Q, Joana Marques e Daniel Leitão reduziram a outra interveniente neste vídeo, Michelle Fannon, ao absoluto ridículo. Gozar estas vendedoras de banha de cobra devia ser desporto nacional. […]

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