É Larry David que vemos quando vemos “Tudo pode dar certo” (título que não faz jus ao original ‘Whatever works’). É o autor e actor de Curb your Enthusiasm e argumentista de Seinfeld que nos surge, ao fim de uns minutos, a olhar para nós e a conversar, de forma unidireccional, connosco. Em concreto não é uma conversa. É ele que nos interpela, incluindo àqueles que comem pipocas de boca aberta. É a voz dele. Mas, na verdade, quem ali está é Woody Allen. É o realizador e argumentista do filme que é o nosso verdadeiro interlocutor.
É Larry David que surge mas é Allen que fala connosco. O estilo, os tiques, a postura, os gestos são de David. O discurso, as palavras e as histórias da película são do realizador de “Manhattan”. E ainda bem que Allen preferiu não protagonizar a fita, deixando ao comediante radical a tarefa de desempenhar um homem complexado, paranóico e com tendências suicidas. Um homem que “quase ganhou o Nobel da Física” e que ganha a vida a ensinar crianças a jogar xadrez mas a quem trata mal. Muito mal. Um homem sarcástico, que canta os parabéns a você enquanto lava as mãos e sofre de pesadelos.
De regresso a Nova Iorque, após alguns filmes noutros cidades, Allen apresenta-se em grande forma. Se aqui falamos do seu mais icónico filme é porque nos recordamos de “Manhattan” quando vemos “Whatever works”. Tal como no primeiro, este ultimo tem na cidade um protagonista. Não de forma tão clara e evidente mas a cidade está lá e não é apenas cenário.
“Tudo pode dar certo” não está ao nível do extraordinário “Match Point” e, claro, fica ainda atrás de “Manhattan”, “Annie Hall” ou “Annie e as suas irmãs”, mas que é um excelente Allen, lá isso é. E isto já não é pouco.
fui ver a um cinema onde não se comem pipocas… na sala éramos apenas 5 “afundados” nas cadeiras … aquele olhar e conversar para o nosso lado até que apetecia também responder
Tenho que ir ver ! Fui ver um homem singular, mas na próxima não foge.
eu fiz ao contrário porque tinha chegado atrasada… este filme era 15m mais tarde
Então foste ao Londres…
sim ao Londres onde “as pipocas” são umas deliciosas tartes de frutos silvestres que se comem no fim do filme 🙂
que sorte a vossa, que têm cinemas na cidade e fora dos centros comerciais