Permita-me que o trate assim. A mim trate-me por Adão Cruz. Aliás, não sou professor, sou assistente graduado em chefe de serviço hospitalar. Mas isso pouco interessa.
Em primeiro lugar as suas melhoras e os meus agradecimentos pelas suas elogiosas considerações.
O estímulo, a imagem, a emoção, o sentimento, a consciência, a reflexão e a decisão são elos da mesma cadeia fenomenológica, mas são diferentes e não podem ser misturados aleatoriamente dentro de um texto ou de uma conversa.
A magia da vida tem a simplicidade do pensamento de uma criança. Não a compliquemos. Entendamos essa simplicidade, dentro dos complexos fenómenos que a envolvem. Para isso é indispensável a razão, o nosso bem supremo e a mais segura fonte do nosso conhecimento.
O facto de a ciência nos proporcionar um profundo conhecimento dos mecanismos fisiológicos do paladar, isso não nos impede de saborear um bom prato e sentir a satisfação “psicológica” de uma agradável refeição.
O facto de a ciência nos permitir um profundo conhecimento sobre a fisiologia da função respiratória não nos impede de respirar, e não altera em nada a homeostática função da respiração, orgânica e “psicológica” no nosso organismo.
A lógica científica permite-nos, já hoje, um grande avanço na interpretação neurobiológica da área afectiva, e apresenta-nos um caminho francamente prometedor no desvendar progressivo da neurobiologia dos sentimentos. Não é pelo facto de os sentimentos serem a resultante de inúmeras comunicações interneuronais, e de complexas interacções das nossas células cerebrais, que vamos deixar de os vivenciar humanamente e em toda a sua plenitude.
Daqui para diante é, como eu costumo dizer, pôr o carro à frente dos bois. Através de portas como as presunções, as convicções e as crenças, entrar no campo da irracionalidade. Nesse campo eu não entro, por natureza e por respeito à minha razão.
Serviço público, caro Adão!
Ainda bem, amigo Luis.