Dicas para uma acção à esquerda

Quando a realidade muda, a esquerda também tem de mudar.

É o que está a acontecer em Portugal, e no Mundo,portanto, é o que deve acontecer também entre nós.
São vários os níveis de intervenção que deveremos tentar alterar.
Tratam-se de novos parâmetros de vida.
Mas antes ,quero dizer,a propósito do que vou desenvolver, que    na Europa foram os partidos progressistas,que com algumas democracias cristãs,  criaram o Estado Social tal como o temos hoje , a partir de 1945,até como forma de pacificação social. Desde  essa data ,até 2006, 21% dos governos europeus foram de esquerda,e foram os que o  ajudaram a construir.
Por outro lado,as políticas do PAC,que hoje se discutem , também são diferentes quando são levadas a cabo  por governos  de direita,que pretendem destruir o Estado social ,  ou por governos progressistas .
Nestes  está sempre em jogo o Estado Providencia,naqueles é o  contrário.
Passo a enunciar os níveis de intervenção que me parecem urgentes mudar .
1º-ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS-nível global
A guerra do Iraque,com a sua visão unilateralista/Bush ,e  a recente  crise financeira,puseram a nu as carências dos Estados individualistas , na época global.
Agora, temos de saber desenvolver uma outra linguagem  ,para administrar o Bem Comum , o que exige  uma acção coordenada  multilateral ,mas menos  hierarquizada.
A  concepção  tradicional das soberanias individuais,que somadas,faziam a sociedade internacional,onde alguns faziam vencer as suas teses,  tem de ser  ultrapassada,por uma interacção em que não haja nem ganhadores ,nem perdedores, antes, todos ganhem
Para isso, tem de se pensar  num mundo de forças que cooperem entre si–A conferencia de Coopenhaga foi um mau exemplo-numa governança global ,que não admite uma hierarquia.
As instituições de âmbito internacional global,  e as regionais,como as Comunitárias, têm de ser reformuladas,democratizadas,para irem ao encontro das novas necessidades dos cidadãos,abandonando as formas clássicas de cooperação intergovernamental, a que estavam habituadas,e que lhes deram razão de ser .
Em vez de se começar  a fazer novas Constituições-Tratados, melhor é  avançar em acordos  de regulação institucionais,que podem   exigir cumprimentos  de processos de  transparência.
Os Parlamentos que representam  mais os Povos,  que as Comissões,e os Secretariados (Gerais) tem de ser reforçados,e deve -se lutar por isso, ano permitindo que continuem secundarizados.Por isto a  Comunidade Europeia está abater no fundo, por deficit  democrático.
2º IMPEDIR QUE AS DEMOCRACIAS SEJAM CADA VEZ MENOS DEMOCRÁTICAS.
As Democracias não se têm auto vigiado.Têm inimigos internos e externos,os narco traficantes, os  fundamentalismos  religiosos, os terrorismos globais
Isto constata- se internamente , com a criação de corpos que não são eleitos,são nomeados, ou cooptados entre si, muitas vezes em contra-ciclo do poderes instituídos, eleitos, e até com mandatos de duração  superiores  a eles.Tribunais Supremos, Comissões,Secretariados Gerais, Bancos Centrais ,etc  estão neste patamar.
Também se  verifica com a tolerancia para com  forças antidemocráticas,que pregam racismos, superioridades rácicas,etc
É dever das esquerdas limitar estes comportamentos
3º-SOCIEDADE CIVIL
O discurso da  falta de confiança nos políticos,  foi gerido na perspectiva ideológica  de  “quanto menos política ,melhor!”,”quanto menos  Estado ,melhor!”,ideia que, evidentemente,só favorece o neo liberalismo, a direita.
Foi até anunciado  o fim das ideologias,e o fim da história ,para facilitar o avanço dessa forma de explorar os homens,quando as ideologias é que nos ajudam a compreender o espaço e o tempo em que vivemos.
Olhemos para os gastos públicos-sociais para compreender duas  questões:
-O aumento da esperança de vida, não estava previsto  nas contas das Previdências, pois os cálculos eram para cerca de 8 anos depois da reforma.Agora, essa esperança de vida ,aumentou para o dobro,o que é bom, mas o dinheiro dos cofres,não!Isto   pode explicar também uma das  razões   do aumento da idade das reformas .
Por outro lado ,as políticas sociais são caras, os economistas chineses chamam-lhes , ” sonhos de crianças”,enquanto os ingressos caíram substancialmente,com  a crise que afecta o emprego, e a baixa da produção,mas os  governos de esquerda querem mante-las .
Por isso  o Estado Social tem de ser repensado.
Pensar em diminuir o leque salarial e igualmente, nas reformas,sendo que não podem ser as mais baixas as prejudicadas,com impostos, desvalorizações várias,em particular  quando  pensamos nas pensões mínimas.
Sobretudo ,neste caso tem de se pensar em  três grupos sociais   fragilizados: as crianças,as mulheres,  e os idosos.
Entretanto, o Estado deve pensar  no futuro, mais em moldes preventivos,antecipando os problemas sociais, do que em formas correctivas dos problemas que vão surgindo.
A sociedade civil tem de pensar noutras formas de consumo, abandonar a visão consumista reinante , que a leva a pedir  empréstimos sobre empréstimos, para sustentar esses desejos, e passar a ter  um olhar mais respeitador sobre a Natureza.
4º-QUESTÃO ECONÓMICO -FINANCEIRA
Há dois anos o problema eram os bancos.O Estado ajudou-os.
Hoje,o problema são os Estados, que os bancos antes  ajudados, atacam.
Ou seja ,os bancos querem mandar nos Governos e nos cidadãos.As respostas têm sido frouxas.
Tem de haver respostas firmes,e articuladas, obrigando os bancos a mudar de sistema,e premiando as boas práticas,que encorajem desenvolvimento  económico-social sustentado,bom para todos,porque  ganham os povos, ganham os Estados  e ganham os bancos.
Pelo caminho, não podemos esquecer a taxa Tobin,que deve ser posta em pratica nas transacções internacionais.
O esquema é possível de levar a cabo de forma simples, pelo sistema bancário “Swift”, que já usamos quando enviamos dinheiro para o estrangeiro.O que é preciso é vontade política!
Temos de ter agências de  regulação que sejam controladas,quiçá mesmo emanações de todos  os Governos  europeus ,ou seja, no nosso caso, agências criadas na Comunidade Europeia, ao serviço do euro,e não do dólar.
Como se vê, trata se  de deixar de  pensar a “crise” de forma deprimida,pelo contrário, passando a vê-la como um modo  de encontrarmos novas formas  de criar riqueza,produção, e  bem estar,e diminuir a carga horária semanal de trabalho,  dos  trabalhadores,como ja se fez em França não há muito tempo.
5º-POPULISMOS
Ficou -nos da tradição literária o hábito do  “escárneo e maldizer”.Este hábito literário, passou à político e tem sido uma” peça  mortal”utilizado sobretudo, pelos populistas- que fazem perguntas interessantes,mas dão respostas erradas- para rebaixar,sujar,afundar, personalidades da nossa vida pública ,numa estratégia de “ódio”, e de intransigência, que pretende a exterminação absoluta da pessoa que elegeram como alvo.
Estas praticas interessam sobretudo, aos anti democráticos, e  a certa direita ,mas muita gente,  dita de esquerda, enfileira nelas,muitas vezes por ser uma forma fácil de dar nas vistas,outras por despeito,ou ambição política.
Uma cultura democrática usa  jogo limpo,não joga  na destruição da dignidade de uma pessoa,particularmente quando se ataca através dela o regime democrático.
É o momento de a  esquerda, e todos os  democratas, terem outra abordagem  relativamente aos adversários, nunca na base do insulto,falta de respeito,ou de insinuações , contra a dignidade das pessoas.
Aqui também se constrói ,ou destrói, Cidadania, porque a política deve ter grandeza ,e tais atitudes desqualificam-na paulatinamente.
Basta de ouvir dizer:”menos política!menos ideologia!menos Estado!”
Nós do que  precisamos agora , é de mais política, mais Estado,mais ideologia,e mais Cidadania!
Muito mais!
Antonio Serzedelo

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