O regresso do rótulo ‘comunista’

Tenho assistido nos últimos tempos à utilização, por gente limitada e mal-intencionada, do rótulo ‘comunista’ para classificar quem discorde das ideias de que perfilham. É o estafado truque, a que, durante anos a fio, estive, ou melhor, estivemos submetidos no regime salazarista. 

Conveniente é esclarecer que o Estado Novo utilizava esse instrumento de forma consistente e, temos de reconhecer, inteligente. Ao agregar os opositores ao regime sob uma unicidade classificativa, comunista, atingia os objectivos de eficiência e eficácia pretendidos nos mecanismos de repressão aplicados.

Agora, como diria um meu amigo brasileiro, os “aprendizes de sapateiro” nem tão pouco são capazes de colocar um prego na sola. São fala-baratos desestruturados, auto-convencidos, sem tomar consciência de que a própria ignorância os expõe ao ridículo.

Tenho familiares e amigos comunistas, cujos ideais, embora discordando, respeito. Sucede até que, de determinada empresa industrial histórica, hoje transformada em armazém, fui afastado por um grupo de comunistas líderes da Comissão de Trabalhadores. O sucedido, por me recusar a filiar no PC, não provocou o meu desalinhamento pelos valores de justiça social e de esquerda, a que jamais renegarei. É na luta por valores socialmente justos, de que os socialistas e social-democratas portugueses são falsos defensores, que me empenharei até ao final da vida.

Portanto, nada me demove de pensamentos e doutrinas de sustentação dos meus ideais, sem ser comunista. E o meu posicionamento político não concede a terceiros o direito a críticas e epítetos gratuitos. Podem discordar e é tudo. Como, de resto, o faço em relação a comunistas com quem me relaciono, sempre em clima de diálogo e de mútua tolerância.

Portimão Arruinado


A pequena cidade de Portimão, possui pródigos recursos naturais, capazes de a transformar num apetecível local turístico. Infelizmente, a depredação grassa por toda a malha urbana e o respeito pelo património é nulo.

Ruas inteiras escalavradas por prédios ao abandono e em pré-demolição, um magnífico convento – S. Francisco – em ruínas, alumínios, betões, miseráveis contrucções “modernas” ao lado de belos edifícios de outros tempos, lataria em cada canto. Uma zona ribeirinha que podia ser equiparada a qualquer destino de luxo no Mediterrâneo, mas onde os pedregulhos, entulhos e areias abundam. Que tipo de Câmara Municipal é esta?

Salva-se a antiga fábrica de conservas – mais um sector produtivo que desaparece -, que hoje alberga um moderno Museu. Ao menos isso!

(continua)

Louise Bourgeois: A Senhora das Aranhas Gigantes

Robert Mapplethorpe, Louise Bourgeois, 1982

Só hoje soube da morte de Louise Bourgeois. O primeiro contacto que tive com a sua obra ocorreu por volta de 1990, em Zurique. Tratava-se de uma exposição de desenhos, muito simples, quase infantis. Levei muito tempo a digerir esses desenhos, talvez mais do que ela gostaria, se nos guiarmos por estas suas palavras: “Se a obra de arte não toca o espectador é porque falhei.”

A verdade é que me tocou e, mais tarde, quando conheci algumas das suas esculturas, tocou-me ainda mais profundamente. As aranhas, os falos, as mãos , os pés, os membros amputados ou a nascerem das próprias esculturas, as teias.

Faltou-lhe pouco mais do que um ano para completar um século de vida. A julgar pela obra que deixa, parece ter vivido mais.

Louise Bourgeois, Maman

Rosa Coutinho: "Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos"

Morreu o homem que escreveu uma das mais vergonhosas cartas -em papel timbrado da República Portuguesa- da história de Portugal. Nós, seus contemporâneos, não o julgámos devidamente e, neste paísinho, não sei se o futuro o fará.

Todos temos uma responsabilidade moral perante a História, até (ou sobretudo) nos momentos mais radicais e conturbados. Louvá-lo hoje, e branquear a mancha, mais não fará do que envergonhar-nos colectivamente, além de insultarmos as centenas de milhares de mortos brancos e negros, portugueses e angolanos, que resultaram do processo da guerra civil em Angola.

Adenda: O leitor António Duarte (ver comentários) alerta-me para a possibilidade de falsificação da carta e contrapõe este texto de Pacheco Pereira. Dado o clima que então se vivia, com as inerentes manobras de contra-informação, não me custa admitir que seja falsa. Rosa Coutinho interferiu decisivamente no processo independentista angolano e, ao ter escolhido e priveligiado o MPLA como interlocutor, tem, também, a sua quota parte de responsabilidade na guerra civil que se seguiu, concitando os ódios de brancos e negros afectos a outras tendências. Até por isso, admito a possibilidade de falsificação.

Já era tempo, aliás, de se saber mais sobre o processo de descolonização. Muitos dos seus autores foram dizendo, ao longo dos anos, ser ainda cedo para revelarem tudo o que sabiam, prometendo que um dia o fariam. A verdade é que tais revelações não chegam à luz do dia, pese a avançada idade de muitos deles. Penso que Portugal teria a ganhar com algumas revelações sobre um processo que foi, claramente, mal conduzido e fez demasiadas vítimas, durante décadas. A mim cumpre-me, nesta adenda, publicar o verso e o reverso desta questão, assumindo que não possuo provas num sentido ou noutro e que não pretendo de forma gratuita enxovalhar a memória de ninguém. Caso seja falsa a carta, penitencio-me por a ter publicado, não escamoteando que a mesma é pública e corre na net -e noutros meios- há muitos anos.

Mais uma mentira


A escola e os seus mestres, a universidade, bibliotecas, a formação cívica. Tudo isto consiste no primordial ponto de insistência dos convivas da perdulária Comissão Oficial do Centenário republicano. Coincidentemente, aqueles que reivindicam a fanada memória da abjecção costista – uma supersticiosa questão de espiritismo de mesa de pé de galo -, liquidam de uma penada, páginas e páginas de prolixa escrita intencional, fazendo mofa dos textos oficialistas tão mal propagandeados pela dita Comissão. Mentiras, ganância, negociatas com o privado, incompetência e sobretudo, uma falta de respeito por quem ensina, por quem paga esse ensino e sobretudo, pelo corpo discente condenado a definhar ou a submeter-se à qualitativamente muito discutível escola privada.

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o conteúdo do processo educativo

Acabado o comercial Dia Internacional da Criança,toca trabalhar

Já lá vão uns anos quando, num artigo que publiquei na Revista Educação, Sociedade e Culturas, Nº 1, 1994, defini o conceito «processo educativo». Porém, nessa data e nessa definição, ficou por referir uma ideia importante que, por hábito, não nos lembramos que faz parte do processo educativo. Essa ideia é a análise da catequese nos países, como Portugal, que usam a teoria cristã para orientar a sua vida. Ideia que denomino, noutros textos publicados pela Editora Afrontamento, como a lógica da História. A Catequese, baseada no livro de Karol Wojtila de 1992 e de Bento XV de 1919, extraída da Summa Theologica de Tomás de Aquino (1267 e 1273), que por sua vez recorreu aos textos muçulmanos de Averröes e à obra de Aristóteles, defende que o corpo e a alma são uma continuidade que pensa, sente e raciocina com toda a liberdade, inseridos na Lei Natural, tendo por limite a Lei Civil e/ou Penal. Antes de uma criança entender o que é a relação íntima a dois, já lho é ensinado, por Catequistas, Missionários, Padres, Freiras, Professores e no universo da Casa. Ensino Doméstico que o teólogo liberal e moralista da Igreja Presbiteriana da Escócia, Adam Smith, orientado pelos textos de Jean Calvin de 1535, considera, no seu trabalho de 1759, A teoria dos sentimentos morais, como o melhor sítio para aprender hábitos e sentimentos. [Read more…]

os cães de israel

Paula Rego, Mulher Cão

Paula Rego, Mulher Cão

Quando as coisas chegam à pirataria marítima pura e dura e burra mete alguma impressão que ainda surja uma horda de defensores do estado (neste caso é mais do governo, que o massacre nem colhe apoios internos) de Israel.

Pelas caixas de comentários do Aventar e em muitos blogs o fanatismo tenta tapar os olhos a quem vê, neste caso o mundo inteiro.

Uns são simples mossadistas (foi denunciada há muito tempo a sua rede de agentes de propaganda em todo o mundo, a vida está cara e custa a todos), alguns agem por convicção religiosa (convém não esquecer que o judaísmo é uma religião como as outras, a que qualquer um pode aderir), mas o mais estranho é o enternecedor carinho da direita para com esta gente.

Há várias teorias para o explicar, e também tenho uma, que não se aplicando a todos funciona bem para alguns.

Aquela direita fascistóide que não se quer assumir (a assumida vai mais pelas tradições nazis e está do outro lado, marchando sempre contra o que lhe cheire a judeu) além de apreciar as virtudes de um estado confessional e anti-democrático abusa da oportunidade de estar do lado do governo mais nazi do planeta mas que não seria nazi porque o seu povo até teria sido a vítima da Alemanha nazi.

Sendo certo que os judeus foram vítimas de um processo de extermínio ariano (mas proporcionalmente os ciganos sofreram bem mais, e os primeiros que Hitler aniquilou foram os comunistas alemães), se fossem coerentes salivavam de igual forma perante qualquer perseguição a ciganos, a comunistas, a homossexuais, ou a simples democratas.

Nunca achei o cão de Pavlov um animal inspirador, e este caso só me dá razão.

Presidênciais – Ovos no mesmo cesto?

Há quem diga que o povo português é muito intuitivo e sabichão e que será por isso que tem no governo um partido e na presidência o seu contrapeso. Um militante de outro partido.

A ver vamos, como diz o ceguinho, se é por ser prudente ou porque foi assim e ponto. É que o que aí vem é deveras engraçado e vai testar essa particularidade do bom povo. As sondagens indicam a quase maioria absoluta do PSD e, a ser assim, Cavaco não seria eleito, o que aconteceria pela primeira vez na política portuguesa, o Presidente em exercício não ser reeleito.

Há, aqui, uma janela de oportunidade para Manuel Alegre, o povo de esquerda todo à volta do poeta para contrabalançar o governo de Passos Coelho. E os vinte por cento que elegeram Sócrates e que agora lhe escapam para o PSD, vão votar Alegre, mesmo não sendo de esquerda? É que se não for assim Alegre não ganha, poderá ir a uma segunda volta, mas aí a situação será muito complicada. Ainda não haverá governo aquando das presidenciais, será muito dificil que o Presidente em exercício não seja reeleito, Alegre não obtem o pleno na esquerda, única forma de ganhar.

Mas se Cavaco ganhar os votos fogem ao PSD, atendendo à sabedoria do povo que não quer os ovos todos no mesmo cesto? Votam no PS exaurido, desgastado, sem soluções e a quem, nas sondagens, ameçam dar 26% dos votos?

Isto de porreiro não tem nada, pá!

A Telefónica cerca PT!

…à medida que sobe o preço oferecido pela Telefónica, de 5,7 mil milhões passaram para 6.5 mil milhões e a saída da posição accionista que tem na própria PT de 10%. A Telefónica não desiste dos 50% da Vivo na posse da PT, e a administração desta já reuniu hoje de urgência. Já se ouve dizer, pela administração, que o preço ainda não reflecte o valor estratégico, é preciso mais, o que juntando ao que Faria de Oliveira já afirmou publicamente, palpita-me que “o valor estratégico” é sinónimo de “mais massa”.

Como já disse  aqui, é só o vil metal que está em jogo, o resto é conversa fiada, faz-me lembrar a história dos “centros de decisão nacionais” quando se tratou das privatizações, compradas as empresas por ” tuta e meia” logo venderam os centros de decisão nacionais a quem deu mais (rima e é verdade!).

Nós, por cá, é que caímos uma e outra vez na conversa fiada de quem nos goza a seu belo prazer, o Estado agita a “golden share” como se a maioria accionista aceitar o preço , seja possível impedir a OPA. Vão fazer o mesmo que fizeram com a anterior OPA da Sonae, convencer e comprometerem-se a remunerar “principescamente” o accionista, para isso cá estamos nós a pagar as telecomunicações mais caras da Europa!

É só estratégia e patriotismo!