Duas palavras a Saramago

    

(Peço desculpa de estar a meter, tantas vezes, a família ao barulho. Se os digníssimos responsáveis pelo Aventar discordarem, agradeço que me digam e acatarei todas as indicações. Desta vez é um pequenino poema de minha irmã, a escritora e poeta Eva Cruz).   

(adao cruz)

                                   Duas palavras a Saramago   

    

Levantado do chão   

como só os Homens de sonho se erguem  

não há vida que te deite nem morte que te leve.   

A lucidez esparsa em luz nas páginas dos teus livros   

de mão dada com a terna dureza do teu carácter    

há-de curar os olhos da cegueira   

e abrir as palavras do teu Evangelho   

às correntes límpidas dos rios   

 que regam a terra de sabedoria.

Ler como ser

    (adao cruz – o eco) 

(Em tempo de livros parece-me útil este texto de Marcos Cruz)

Ler como ser

Penso se um dos trunfos da escrita não será o facto de que quem lê está envolvido na leitura e, dentro da dinâmica própria em que a leitura se processa, não tem tempo para reflectir sobre o que vem a seguir. Refiro-me, concretamente, a estes textos que escrevo. À medida que os vou escrevendo, cada uma das palavras impressas me ecoa na cabeça e, como qualquer eco, traz uma aparência indefinida, dividida ou multiplicada, não sei, mas em que são perceptíveis várias derivações, relações profícuas, como quando se atira uma pedra a um rio e os círculos nascem uns dos outros, trementes, nunca parados, mas suficientemente nítidos para os podermos cristalizar na memória e, depois, se for caso disso, fazermos uso deles. Mais ou menos assim é, aliás, a vida: nunca pára, não dá para apanharmos verdadeiramente nada a não ser essas impressões e, depois, se for caso disso, fazermos uso delas. Será a vida um eco? Não sei. Mas também não era por aí que eu ia. [Read more…]

Ler:

Que Sócrates não submeta onde Salazar recuou.

Saramago à procura de Deus

Não concordo absolutamente nada com a nota do Vaticano acerca da morte e da obra de Saramago, reduzindo os seus livros a um amontoado de axiomas marxistas-leninistas, de costas voltadas para o Homem e a sua Cruz.  Sendo o que menos importa na vida e obra de Saramago a verdade é que o escritor em dado passo da sua vida colocou em causa o caminho “Marxista-Leninista” do partido de que era e continou a ser militante, sendo o primeiro subscritor de  uma proposta para ser discutida num dos congressos do PCP.

Se há um fio condutor na obra de Saramago e a torna singular é, exactamente, a angústia de procurar que a Humanidade seja mais que a vulgaridade da vida terrena, com o seu cortejo de vaidades, mentiras, ódios e “ter” em vez do “ser”. Se em quase todas as obras essa procura é evidente, e fá-lo nos livros que afronta Deus no sentido de O questionar, de O colocar perante a evidência da obra imperfeira de quem se pretende perfeito, então o “Ensaio sobre cegueira” é uma prova insofismável.

Sabe-se que foi este livro que empurrou Saramago definitivamente para o Nobel. E que encontramos nós nesta obra, tão transcendente, para merecer ser traduzida em tantas línguas e ter chegado a uma grande produção de Hollywood? Todo um povo encontra-se de um momento para o outro cego, sem explicação possível, uma “cegueira branca” que não assusta e não angustia. Só uma mulher foge a esse destino trágico! Porquê a excepção? Porquê uma mulher? Vamos, descobrir ao longo da leitura, que esta mulher é mais que uma simples pessoa é um “SER”capaz de se “dar” aos outros, capaz de os “guiar”, de os manter no limbo da esperança, mostrar-lhes  que o que perderam ( o material, o físico) nada é comparado com o que cada “ser” é capaz de descobrir dentro de si mesmo!

Hoje, no cemitério do Alto de S. João, quando a urna foi definitivamente tragada pelo fogo do crematório, mais do que nunca senti, que Saramago procurou toda a vida uma explicação, ou um final redentor para uma vida que lhe deu mais dúvidas do que certezas, e que não o preenchou, o que o levou à procura, escrevendo.

Uma grande obra literária tem sempre muitas leituras e aí reside grande parte da sua importância, mas que melhor homenagem se pode fazer a Saramago que entender esta sua angústia existencial , transcendental?

Andou o ateu Saramago, afinal, toda a vida à procura de Deus?

Uma perguntinha inocente…

…ou, talvez, duas.

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Deco não joga.

“- E o burro sou eu?  Hum, hum?”

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Pub.: A Crise Social em Braga

No próximo dia 21/6, Segunda – feira, às 10h 30min, a Associação Justiça para Todos (AJpT) será recebida em audiência pelo Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga.

Na audiência a AJpT apresentará ao Arcebispo de Braga as suas preocupações sobre a crise social  que o Distrito de Braga atravessa e dará conhecimento das iniciativas da AJpT com o objectivo de ajudar as pessoas que neste momento atravessam graves dificuldades, nomeadamente no combate à pobreza e à fome.

A delegação da AJpT será constituída por Franclim Ferreira e Carlos Borges, respectivamente Presidente e Vice – presidente da Direcção, e Emídio Guerreiro, Presidente da Assembleia Geral da AJpT.

http://www.justicaparatodos.pt/

Saramago devia ir para o Panteão

Mas não vai.
É bem feito. Quem é que o mandou ser comunista?

Saramago e o Estado Laico

Era o ano de 1992 e o governo de que Cavaco Silva era o primeiro, por interposto Subsecretário de Estado da Cultura Sousa Lara , cortou o Evangelho segundo Jesus Cristo da lista de livros concorrentes ao Prémio Literário Europeu. “A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os.” Mas nem Cavaco nem Sousa Lara estavam sozinhos.

Dezoito anos mais tarde, tudo mudou. Para não distrair o governo da difícil tarefa de disfarçar a crise financeira onde também caímos, o mesmo íntegro, intelectualmente honesto e nunca equivocado Cavaco Silva, promulga a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, atentando assim contra o feroz discurso homofóbico da Igreja Católica e ignorando o milenar património religioso dos portugueses. Escapou-me alguma coisa?

Declaração de interesses: não li o Evangelho de Saramago. De Saramago só conheço alguns capítulos de Viagem a Portugal

A China e a India e a miséria dos seus povos….

A China e a India conseguem aumentos do PIB a roçar os 10%, porque as suas economias assentam no lado da oferta, baixos salários, nenhuns ou baixíssimos apoios sociais, não têm consumo interno.Estão virados para a exportação para a rica Europa e Estados Unidos. Acontece que estes dois deixaram de ser ricos, não compram, a China, A India e outros países com a taxa do PIB a crescer a dois dígitos vão ter que desenvolver o mercado interno.O Brasil está no rol, nos últimos dez anos tirou 40 milhões de pessoas da pobreza.

Só os mercados internos da China e da India, se e com capacidade de compra eram suficientes para dar um piparote na crise mundial, e arrastar as economias não só dos países desenvolvidos mas tambem de muitos países em desenvolvimento.Acontece que isso tambem levanta problemas. Desde logo uma corrida às matérias primas e consequente aumento de preço, lá se vão as jeanes a cinco euros…

Depois povos com as necessidades essenciais resolvidas começam a pensar em coisas perigosas como sejam a cultura e o conhecimento e isso leva a problemas sociais e políticos…

A Europa e os Estados Unidos têm que travar de vez a “bolha financeira” que não corresponde à economia, isto é, não representa a riqueza criada e deixar de vez de acreditar piamente, naquela máxima: “dá o teu dinheiro aos bancos que eles sabem melhor do que ninguem onde aplicá-lo” porque como se vê é falso!

Podemos e devemos queixar-nos mas a verdade é que fomos nós, pessoas, que achamos possível ganhar cada vez mais, que os bancos nos davam cada vez mais dinheiro na remuneração dos nossos depósitos, que andamos a comprar sapatilhas a um euro,(assente na exploração do dumping social) como se tudo isto fosse natural e sustentável.

Não é!

Solidariedade Ferroviária – Relembrando

“Como é do vosso conhecimento, faleceu o nosso colega Fernando José Rico de Matos, colhido por um comboio, em Riachos, quando tentava ajudar dois idosos em situação de risco.

Um grupo de colegas tomou a iniciativa de lançar um apelo de angariação de fundos que, para além dos apoios que a empresa já concede neste caso, reforcem a ajuda à família (viúva e dois filhos menores), pedindo-nos a difusão do mesmo.

Os interessados em colaborar podem depositar a sua contribuição na conta N.º0639.018387.700, em nome da viúva, Maria Antónia Pita Cruz Matos, com o NIB:

003506390001838770071

na Caixa Geral de Depósitos de Ponte de Sôr.”

Fonte: fidedigna.

Caldeirada de Merda à Carlos Santos

Destesta alguém? Quer impressionar idiotas? Convide-os para jantar e sirva-lhes uma Caldeirada de Merda à Carlos Santos. Mas atenção, com este prato só impressiona os convidados se estes tiverem um QI baixíssimo.

RECEITA

– Primeiro fale de si, apresente-se como sendo uma espécie de vítima arrependida que, no fundo, fundo, até é um gajo porreiro. Convidados com QI baixíssimo apreciam muito este ingrediente.

– Acrescente imediatamente um punhado de inimigos. Estes devem ser requentados e, de preferência, estarem-se a gagar para o cozinheiro. É um ingrediente aromático, funciona bem se não nos enganarmos na escolha e no QI dos convidados.

– Não deixe levantar fervura e junte um balde cheio de links (encontram-se facilmente no mercado) para tudo o que mexa. Exagere à vontade pois é conveniente que o sabor fique forte.

– Misture coisas que não tenham relação possível -pode sempre argumentar que um homem e uma galinha são a mesma coisa porque ambos têm unhas- e junte-lhes alhos e bugalhos. Remexa bem, mas também pode deixar agarrar ao fundo do tacho. Há quem prefira este sabor.

– Escandalize-se com vigor e atire meia dúzia de nomes para a fogueira. Bata bem.

– Pegue num bom molho de idiotices, descasque-as e junte-as umas atrás das outras. Ponha-as na panela e deixe ferver.

– Tempere tudo com a primeira merda que lhe venha à cabeça. Prove. Em faltando tempero, use qualquer outra merda que lhe venha à cabeça, junte-lhe também o resto das merdas que lhe venham à cabeça e mexa tudo. Tape o tacho. [Read more…]

Saramago, Cavaco e os rodapés da história

O Presidente da República Cavaco Silva não vai estar presente nas cerimónias fúnebres de José Saramago.

Ainda bem. Também não faz falta.

Seja como for, evita aliar à hipócrita mensagem que enviou a hipocrisia da sua presença. Tanta desfaçatez junta seria insuportável. Todos sabemos o que Cavaco pensa de Saramago e o que lhe fez enquanto Primeiro-Ministro.

Para além disso, Cavaco sabe melhor do que ninguém avaliar a dimensão das personagens e admito que não se sinta bem a homenagear alguém da grandeza de Saramago.

Cavaco Silva sabe bem que daqui a 100 anos, quando se fizer a História de Portugal deste período, Saramago será… Saramago, comparável apenas a um Pessoa ou um Camões, enquanto que ele, Cavaco, não passará de um obscuro governante de finais do século XX e inícios do século XXI.

Onde um volume não chegará para lembrar Saramago, um simples rodapé será demasiado para contar quem foi Cavaco.

Presidente da República ausente no funeral de Saramago – Natural!

Há dois dias, ao associar-me à homenagem a Saramago do companheiro de blogue Pedro Correia, denunciei a hipocrisia de certas figuras do centro e de direita, a enfunar simulados desgostos pela morte de José Saramago. Tinha, pouco antes, assistido na SIC a declarações cínicas de uns quantos, incluindo um padre, a elogiar a obra e o escritor. Senti – aliás, qualquer espectador atento sentiria – haver falsidade nos rostos e nas palavras daquela gente.

O Jornal “i” anuncia, agora, que o Presidente da República não comparecerá ao funeral de José Saramago. Considero coerente e correcto. Na qualidade de PR, limitou-se a palavras circunstanciais: “O País perde uma referência cultural”; entendeu, e bem, distanciar-se para posição consistente com a deliberação anunciada pelo Subsecretário de Estado da Cultura, o amanuense Sousa Lara, de um Governo por si liderado em 1992 – tal deliberação impediu, como se sabe, a candidatura do escritor ao Prémio Europeu de Literatura, com o “Evangelho segundo Jesus Cristo”.

As divergências políticas e religiosas, em especial, não se extinguem com a morte de uma das partes. Ao PR é reconhecido o direito de exercer a prerrogativa da objecção de consciência. E fá-lo com dignidade demolidora para as palavras insensatas do Conselheiro de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, ao considerar que Cavaco não estará presente fisicamente, mas em espírito sim – isto, sim, exala cinismo por todos os orifícios!

O cidadão José Saramago, com quem tive o prazer de privar, partirá naturalmente com a presença daqueles que, em vida, o admiraram como homem. Mas a obra legada jamais o deixará partir definitivamente. O escritor será figura perene da História da Literatura Portuguesa. Goste-se ou não.