O medo

Servem as crises para o exercício do jogo do medo pisando todos os limites. Com um milhão de desempregados pode a legislação laboral regressar 50 anos atrás que ninguém se espanta, e pode mesmo afirmar-se que o objectivo de facilitar os despedimentos é criar emprego que ninguém se ri.

Mas em contrapartida eles também têm medo. Os pirómanos da economia afligem-se com as potenciais chamas nas ruas que construíram. O discurso de Passos Coelho de hoje mistura uma narrativa desse medo com um hilariante anúncio do fim da crise, que até a Drª. Leite já explicou não ter ponta por onde se lhe pegue.

Nas crises ganha quem tiver menos medo, nos momentos decisivos. Ainda é cedo para contar gasolina e agulhetas, e nem dependemos das nossas ruas, mas das avenidas europeias. É um jogo perigoso, sobretudo quando levado ao extremo, como é o caso. Verdade se diga que vaticinei a este governo uma curta duração, e também armado em tarólogo achei que acabava na rua. Dois meses depois não me parece que seja bem assim: pode acabar mais prosaicamente por via das divisões internas da própria coligação, porque começam a ter medo das ruas: ainda ninguém saiu de casa e já se chamam os bombeiros. Em Outubro conversamos.

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