A criança e a sua mente cultutal

Alexandre o Grande

Para a Gracinha Pimentel Lemos, antiga discente, hoje amiga pessoal 

Conhecido é que o autor do presente texto não tem sentimentos de fé. Conhecido é, também, que foi educado dentro das ideias ocidentais que, por acaso histórico, são cristãs. Ideias que são partilhadas, não apenas pelos cristãos romanos, arménios, ortodoxos gregos ou russos, libaneses, maronitas ou de outros países orientais, em paz e convívio com os muçulmanos, essa grande maioria com quem o Ocidente comunga a mesma Bíblia.

Bíblia designada pelos Muçulmanos El ? al ? Corão, texto ditado, por desconhecimento da escrita, pelo Patriarca Maomé a sua filha Fátima. Entre os cristãos romanos, anglicanos e presbiterianos, a Bíblia usada foi sendo escrita pelos reis da Palestiniana, por mulheres corajosas que lutaram pela sua liberdade, como Judite, e por sacerdotes ou reis que sabiam da História Palestiniana e ditaram as suas leis.

Quem quer que tenha sido o(s) autor(es) destes textos, como o Livro Êxodo, atribuído a Moisés ou, da mesma Bíblia, o denominado Génesis, dito ser uma verdade revelada pela divindade a Abraham, escrito pela sua filha Séfora. Digo, fosse quem fosse o autor dos textos, uma verdade é certa, as crianças devem aprender os princípios, leis, ideias, orações, rituais e pensamentos de interacção social, a partir de textos como os mencionados, aos quais devem-se, ainda, acrescentar as Carta de Paulo de Tarso que lhe foram ditadas pelo irmão de Jesus, Tiago o Menor.

Formas de entender e interpretar a realidade por mim designadas, em diversos trabalhos, por mente cultural, conceito organizado após análise de mais de trezentas crianças do mundo inteiro, especialmente na Galiza, Portugal, Picunche da Cordilheira dos Andes na América Latina, Escócia, Inglaterra, França e, hoje em dia, na Holanda. Povos que fazem das suas crianças devotos de dogmas, incutidos nas suas ideias para os orientar através dos afazeres da vida e da interacção social, das hierarquias e de relação entre classes sociais, como foi definido por Karl Marx, devoto luterano (casado com uma mulher profundamente católica), que Bento XVI, Joseph Ratzinger, louva no seu livro de Abril de 2007 em italiano, de Outubro de 2007 em Português, editado por A Esfera dos Livros, Lisboa.

A mente cultural é esse conceito que guarda as ideias da interacção não apenas na vida social, mas também na denominada vida no mais além, como no respeito pelos adultos e pelos colegas e amigos de escola ou brincadeiras. Conceito que todo o educador e analista da infância deve conhecer, para ser capaz de entender medo, arrebato, subordinação, obediência, livre arbítrio e outras actividades e pensamentos que nos acompanham até à morte, queiramos acreditar ou não.

Eu diria aos Educadores da Infância que ou se sabe bem a catequese ou é impossível educar, como o tenho referido a médicos, psicanalistas e docentes de vários graus de ensino, para serem capazes de saber orientar.

Ninguém, por este facto, está obrigado a ter sentimentos de fé, mas aqueles que os têm devem-se abster de os “pregar”, respeitando assim a procura insaciável dessa pequena, muita vazia por um tempo, mente cultural.

Não é porque eu o diga: são quarenta anos de experiência entre crianças e os “seus” adultos, que me têm mostrado que, apesar do abandono de crenças na idade adulta, o comportamento continua a ser pactuado em paz, serenidade e solidariedade, que os cristãos denominam caridade, feio nome para quem deve conviver com outros: parece esmola, enquanto solidariedade é a mente cultural em actividade com respeito pelos outros.

Para educar, é preciso conhecer as bases da cultura que é a religião, e a religião orienta a cultura, na base do conceito que dá título a este texto.

Raúl Iturra

ISCTE-IUL /CEAS/Amnistia Internacional

 lautaro@netcabo.pt

Parede, Cascais, 8 de Setembro, 2011.

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