Partir as pernas à Lusa

José Manuel Diogo

A agência Lusa tem mais de 600 clientes espalhados por todo o país e por quatro continentes. É uma empresa exportadora. Tem ao seu serviço 300 jornalistas em Portugal e no mundo inteiro. Produz quase 500 notícias diárias, das quais muitas são complementadas em áudio e vídeo. É a única agência de notícias global, mundial, universal, em língua portuguesa (o Brasil não tem). É também a maior produtora de conteúdos em língua portuguesa. A nossa Hollywood, jornalisticamente falando.
Custou aos portugueses em 2012 menos de 15 milhões de euros, o que é, mais ou menos, o preço de três quilómetros de auto-estrada sem pontes ou viadutos. Esta verba que o Estado, o acionista principal da Lusa, injeta na empresa destina-se, não a pagar prejuízos (a empresa dá lucro há cinco anos consecutivos), mas sim a fazer com que as notícias produzidas estejam disponíveis a preços acessíveis aos seus clientes. A esmagadora maioria são pequenos órgãos de comunicação social portugueses, espalhados pelo interior e pelas ilhas, pelas comunidades portuguesas no estrangeiro (há outros 10 milhões que vivem fora de Portugal) e pelos países de língua oficial portuguesa. Ao todo, cerca de 260 milhões de falantes.
Nas tarefas do ajustamento Vítor Gaspar propõe-se cortar quase três milhões de euros ao orçamento e, quase inevitavelmente, levar ao desemprego mais 50 pessoas. Na sua maioria jornalistas.
Do orçamento global da agência, mais de metade corresponde a custos com pessoal, cerca de 11 milhões de euros. Um indicador de que qualquer corte que seja feito não é destinado a melhorar a gestão porque, essa, já é magra. Vai incidir diretamente nas pessoas. E nas notícias.
Aritmeticamente, em regra três simples, é só fazer as contas: o corte anunciado significa a perda de 136 notícias por dia. São por mês 4.110 histórias a menos sobre Portugal e os portugueses. E, por ano, quase menos 50 mil. Ficaremos todos mais pobres.
O atual presidente do conselho de Administração da agência Lusa, curiosamente de nome Afonso Camões (o fundador da Nacionalidade; e o nosso poeta maior, primeiro vulto cultural da lusofonia) invoca os quase 25 anos de serviço público que a Lusa tem dado ao mundo português e diz que “não faria sentido quebrar as pernas a quem tem feito um bom caminho”
Winston Churchill um dia, no Parlamento, em plena II Grande Guerra, quando confrontado com a vontade da oposição em fazer cortes na cultura e nas artes, disse: “Se é para fazer isso, não sei porque estamos em guerra”.
Venha o Gaspar e escolha.

Fonte

Comments

  1. ana cristina says:

    os americanos andam a pagar a hollywood deles?
    é que 3 km de autoestrada para aqui, 3 km para ali, eu não consigo pagar mais….

    • José AC says:

      De facto nota-se pouco conhecimento… Os EUA pagam e promovem a Hollywood deles, daí o inglês ser hoje uma língua mundialmente falada, fortemente pela economia motora norte-americana mas muito e com grande dividendos pelas indústrias culturais, do cinema à música.
      A Lusa faz milagres pela presença de Portugalç e do universo lusófono, dada a sua capacidade de penetração internacional. Só quem viveu fora pode reconhecer e perceber, mas uma coisa se deve entender, porque é que outros como os espanhóis da Efe estão a apostar no mercado da lusofonia?
      AC

      • ana cristina says:

        apesar do meu conhecimento limitado, eu não ponho em causa os méritos da Lusa. sou capaz de perceber a importância da Lusa. eu não tenho é capacidade para pagar mais impostos para as inúmeras instituições, organizações, programas e boas ideias que vivem dos meus impostos.
        mais uma achega: vivi 10 anos fora e não foi por aí que percebi a importância da Lusa.

  2. Tiro ao Alvo says:

    Diz que a Lusa, “custou aos portugueses em 2012 menos de 15 milhões de euros (…) Esta verba que o Estado, o acionista principal da Lusa, injeta na empresa destina-se, não a pagar prejuízos (a empresa dá lucro há cinco anos consecutivos), mas sim a fazer com que as notícias produzidas estejam disponíveis a preços acessíveis aos seus clientes”.
    Não entendo: dá lucro e o Estado tem que meter lá, por ano, cerca de 15 milhões de euros? Dá lucro a quem?
    Esta notícia está correcta…

  3. maria celeste ramos says:

    Como nasci no tempo de salazer lembro bem o Indez e o lápis azul – corta – este governo tem muito que aprender ainda mas lá anda na senda da putice mas não consegue acertar nas finaças a não ser para os Duarte Limas e amigos das PPP e acessores recém-nascidos recém nomeados há dias – ai mas aprendeu a gritar hoje na AR – e Louçã a rir que se farta – só que quando acabar o seu reinado vai para lá o Seguro ?? que plano inclinado começado por cavaco vou mas é ver o TOUR

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  1. […] realidade que não está alheia ao facto de andarem para aí a querem partir as pernas a uma agência de notícias que, com as dificuldades que são conhecidas, faz um trabalho muito […]

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