Hoje há bandarilhas – Canadá

11 de Setembro de 1973

Estava em Munique pela segunda vez para voltar a ver a fabulosa pinacoteca. Por um lado, a paixão pela pintura. Por outro, o assombro magoado com que olho para as pedras vivas do nazismo, de todas as brutalidades e crimes hediondos, sejam de direita ou de esquerda. E foi ali, numa taberna de Munique, que Hitler fez as primeiras reuniõs do que viria a ser a legião dos exterminadores. Para alem do genocídio, a grande roubalheira. As paredes do museu bem o demonstram. Ao saír, deparo com um desfile de homens e mulheres morenos, sombrios, alguns chorando, que empunhavam cartazes em alemão, língua que não entendo. Aproximo-me. Oiço que falam espanhol entre si. Pergunto: que pasa? Responde-me um rapaz: mataran a Allende, estan matando como locos, es un golpe fascista de Pinochet.

11 de Setembro de 2001

Tomava o pequeno almoço, em Toronto, olhando pela tv as notícias da manhã. Subitamente, o noticiário é interrompido para, por palavras e imagens, darem a saber que um ataque terrorista estava a atingir as Torres Gémeas em New York. Horrorizada, pensei: estão lá a Susy e o Manny (jovem casal meu amigo). New York aqui tão perto, de repente tão longe. Seguiu-se um dia inteiro de sofrimento e mágoa. Os estados maiores do Estados Unidos da América e do poder islâmico não são flor que se cheire mas, meu Deus, porque têm sempre de ser os mais pequenos e desmunidos a pagar?

11 de Setembro de 2012

A Susy e o Manny fizeram as malas e vieram para o Canadá. Susy, canadiana, arrumou o diploma de jornalista numa gaveta, abriu uma pequena fábrica de bolos, não tem patrões, é livre, basta-se a si própria. Manny, espanhol de Segóvia nascido numa família que escapou aos horrores do franquismo emigrando para a América, engenheiro de informática com movimentada carreira, trabalha apagadamnte numa empresa, cuida do seu jardim, dá-se bem com os vizinhos com quem vai ver desporto. Susy e Manny, educam a pequena Marisol nos valores da liberdade, da independência, da recusa ao capitalismo selvagem e a todas as formas de opressão.

Eu vejo pela RTP, pela internet e pelos muitos amigos, o que se passa em Portugal: um primeiro ministro que faz três abjecções de uma só vez – com glacial postura anuncia aos trabalhadores reduzidos à pobreza que têm de ser eles a ajudar os ricos a serem mais ricos; acabada de ler a sentença de algoz, desanda para o Tivoli para, alegremente, cantar num concerto de celebração; finalmente, ao saber que o país inteiro se indignou, deixa no facebook uma carta lamechas, choramingas, a pedir colinho, ainda por cima mal escrita. Vem-me à memória o pai do primeiro ministro, na noite das últimas eleições, a dizer no tom fanático de um pastor de seita: “se os portugueses não votarem no meu fiho é porque esrão loucos”. Apetece-me hoje dizer-lhe: por estarem loucos é que votaram no seu filho, que logo soube rodear-se dum bando de imbecis e de malvados que deixam Portugal devastado. Tão imbecis e tão malvados que até permitem ao Mota Soares, autêntico Pateta do Walt Disney, brincar com as carências dos velhos e crianças; ao boçal Relvas bolçar, no Rio da Janeiro, que na RTP está tudo resolvido porque já tem uma administração capaz, isto é, sugere que arranjou este sarilho todo para afastar quem estava e meter lá um tipo da cerveja, tão completamente da cerveja que foi capaz de afirmar que Passos Coelho é o melhor primeiro ministro desde Sá Carneiro; ao mesmíssimo Relvas fazer um argumentário, escrito com os pés, que a pandilha governamental utilizará para responder às perguntas dos patifes dos jornalistas; e ao Portas, pega velha, fazer de conta que não sabe nada, não percebe nada, porque, coitadinho, tem de viajar pelo mundo todo à nossa custa, enquanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros anda ao deus-dará, como se pode avaliar por certas representações diplomáticas.

Tenho alguma razão para estar feliz neste 11 de Setembro? Apenas a vaga esperança de que os portugueses saiam da sua habitual inércia e acabem com esta pouca vergonha.

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    Não sei se os portugueses são inertes – mas vão à guerra quando os OBRIGAM – e enm percebo de que portugueses fala já que não são todos transgènicos ou geminados – vamos ver – já esteve mais longe rebentar

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