O Expresso permite ‘facção’

C’était comme un nouveau monde, inconnu, inouï, difforme, reptile, fourmillant, fantastique.
Victor Hugo

Bon, ce n’est pas bien grave. Paix à son âme.
Michel Onfray (sobre Michel Serres)

They responded in five seconds. They did their jobs — with courage, grace, tenacity, humility. Eighteen years later, do yours!
Jon Stewart

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Efectivamente, sabe-se há uns anos (2010: 103) que o Acordo Ortográfico de 1990 transformou facção com maiúscula inicial numa homógrafa perfeita de Fação, em Sintra.

Foto: Francisco Miguel Valada

Também se sabe que essa transformação não se aplica à ortografia do português do Brasil, justamente devido ao “critério fonético (ou da pronúncia)“, criado para garantir a tal “unidade essencial da língua portuguesa“. De facto, no Brasil, mantém-se a facção e, além dela, mantêm-se o aspecto, a concepção, as confecções, etc., etc. Ou seja, o discurso de Fação, bem conhecido dos leitores do Aventar, não é adoptado no Brasil, precisamente devido à base IV do AO90.

No Expresso, a facção mantém-se (neste caso, mantêm-se as facções), se o autor for brasileiro:

Se for português e se escrever em português europeu, o autor está impedido de grafar tamanhas monstruosidades

a não ser que [Read more…]

Uma besta quadrada chamada Donald Trump

A história da capa do 11 de Setembro na revista Time

Capa da revista TIME, com fotografia de Lyle Owerko em 11 de Setembro de 2001

Capa da revista TIME, com fotografia de Lyle Owerko, de 11 de Setembro de 2001

O fotógrafo Lyle Owerko conta relata como é que a sua foto acabou na capa da TIME em 2001.

11.09.2001 – o dia que marcou o mundo para sempre.

11.09.2001

Esta foto mostra uma criança a caminhar, hoje, num parque em Winnetka, nos Estados Unidos da América, entre algumas das três mil bandeiras colocadas em memória das vidas perdidas nos ataques de 11 de Setembro de 2001.

Foi precisamente há 14 anos. O primeiro avião embatia, às 8h46, hora de Nova Iorque, contra a Torre Norte do World Trade Center. Este foi o primeiro dos quatro atentados levados a cabo nesse dia. Os outros foram contra a Torre Sul do WTC de Nova Iorque, às 9h03, um outro contra o Pentágono, às 9h37 e por fim um, às 10h03, em Shanksville, na Pensilvânia.

Em 77 minutos morreram 2996 pessoas, tendo ficado feridas 6291 pessoas, oriundas das mais diversas nacionalidades e credos. Este foi um ataque coordenado pela organização terrorista Al-Qaeda, liderada por Osama bin Laden.

A partir deste dia nada mais foi igual no mundo. Foram muitas as mudanças. O terrorismo passou a ser um dos alvos mais importantes dos EUA e da grande maioria dos países desenvolvidos do mundo ocidental. As nossas vidas também mudaram. Passamos todos a ser muito mais vigiados e controlados por muito que até às vezes não pareça. Passamos a viver debaixo de um enorme ” Big Brother “,  já narrado por George Orwell no seu livro, publicado em 1949, intitulado Nineteen Eighty-Four.

Os Estados Unidos responderam aos ataques do 11 de Setembro com o lançamento de uma guerra ao terrorismo, invadiram o Afeganistão para derrubar os Taliban, que abrigavam os terroristas da al-Qaeda. O mundo reforçou a sua legislação anti-terrorismo e ampliaram os poderes para uma aplicação mais rápida e efectiva da lei.

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Zeitgeist 1: The Movie

No dia do 14º aniversário do mal explicado ataque às Torres Gémeas, o documentário que esmiuçou o atentado e não só. Não se trata da verdade absoluta, mas traz consigo um conjunto de verdades que nos deveriam incomodar a todos. Conspiração?

 

WARNING:

Vladimir Putin ameaça recontar a história do 11 de Setembro. Novo Incidente do Golfo de Tonkin à vista?

40 anos de neoliberalismo, de Pinochet aos nossos dias

A data de 11 de Setembro de 1973 está para o neoliberalismo como a de 7 de Novembro de 1917 para o leninismo. Curiosamente os leninistas (seja lá o que isso for) comemoram a sua, mas a maioria dos neoliberais é discreta, entretendo-se neste dia com um crime bem menor.

O assalto ao poder democrático chileno perpetuado perpetrado por Pinochet/Kissinger seria mais um golpe de estado no quintal norte-americano não tivesse o general optado por um novo modelo económico, o dos discípulos de Milton Friedman. O Chile seria o laboratório para as experiências de capitalismo em estado de pura selvajaria, o tubo de ensaio de Thatcher e Reagan, hoje em estado de avançada aplicação em Portugal.

O mesmo Chile que via ali terminada a experiência de um primeiro grande governo de unidade popular, uma coligação de todas as esquerdas que, pesem os erros e hesitações, demonstrava já os seus frutos, naturalmente boicotados pela CIA e pelos privilegiados chilenos em estado de aflição.

Quarenta anos depois, e se Allende está longe, Mujica e o governo do Uruguai estão bem próximos. Para derrotar os herdeiros ideológicos de Pinochet (se dúvidas tiverem vejam como o guru Alberto Gonçalves nem sequer disfarça muito) não conheço outro caminho.

la ultima foto de Allende

Os onze da fatalidade

11 de Setembro de 1973. Eu estava em Munique pela terceira vez, sem poder resistir a ver de novo certas pinturas de certo museu. Nesse dia vi, desfilando pela rua, um grupo de gente morena exibindo cartazes, em alemão. Vestiam de negro e alguns choravam. Por ter ouvido alguns falando espanhol, abeirei-me e quis saber o que se passava: eram chilenos e contaram-me da morte de Allende, do golpe militar brutalíssimo de Pinochet. Golpe ajudado pelos Estados Unidos da América a pretexto de que estava iminente um regime pró-soviético a partir de Santiago. Por essas, e por muitas outras, é que os americanos são odiados na América do Sul. E não só, mas adiante.

(Por esse tempo, em Portugal, a ditadura continuava a encher prisões e a reprimir o povo de todas as maneiras, agitando o papão do comunismo. Tal como o rapaz da história popular, tanto gritou a esse lobo que, quando ele de facto nos apareceu em força, em 1974/75, o povo levou algum tempo a acreditar. Digamos mesmo que só acreditou quando o PCP, sempre triunfalista e sempre com o pé a fugir para o estalinismo, sem vocação nenhuma para a democracia, começou a fazer tratantadas gravíssimas. Depois foi o que sabe: o povo unido, muito centro esquerda e muito senhor do seu nariz, acabou por aplicar o irremediável xarope de marmeleiro). Por uma noite cálida, dias antes, em Paris, nos jardins do Palais Royal, um poeta exilado há vários anos perguntou-me como ia o regime. Respondi-lhe que estava a caír de podre. Adiantou-me: “É também o que penso. Mas olhe que vai caír nas mãos de uns políticos que enfiarão o país num banho de lama. E depois, será o banho de sangue”. Quando penso na lama em que Portugal está mergulhado, sinto um medo quase físico de que o poeta possa ter sido profeta. [Read more…]

A última fotografia de Salvador Allende

la ultima foto de Allende

Horacio Villalobos, Chile, 11 de Setembro de 1973. Explicação e desmistificação aqui.

Hoje há bandarilhas – Canadá

11 de Setembro de 1973

Estava em Munique pela segunda vez para voltar a ver a fabulosa pinacoteca. Por um lado, a paixão pela pintura. Por outro, o assombro magoado com que olho para as pedras vivas do nazismo, de todas as brutalidades e crimes hediondos, sejam de direita ou de esquerda. E foi ali, numa taberna de Munique, que Hitler fez as primeiras reuniõs do que viria a ser a legião dos exterminadores. Para alem do genocídio, a grande roubalheira. As paredes do museu bem o demonstram. Ao saír, deparo com um desfile de homens e mulheres morenos, sombrios, alguns chorando, que empunhavam cartazes em alemão, língua que não entendo. Aproximo-me. Oiço que falam espanhol entre si. Pergunto: que pasa? Responde-me um rapaz: mataran a Allende, estan matando como locos, es un golpe fascista de Pinochet.

11 de Setembro de 2001

Tomava o pequeno almoço, em Toronto, olhando pela tv as notícias da manhã. Subitamente, o noticiário é interrompido para, por palavras e imagens, darem a saber que um ataque terrorista estava a atingir as Torres Gémeas em New York. Horrorizada, pensei: estão lá a Susy e o Manny (jovem casal meu amigo). New York aqui tão perto, de repente tão longe. Seguiu-se um dia inteiro de sofrimento e mágoa. Os estados maiores do Estados Unidos da América e do poder islâmico não são flor que se cheire mas, meu Deus, porque têm sempre de ser os mais pequenos e desmunidos a pagar? [Read more…]

O 11 de setembro que mudou o mundo

Friedman e Pinochet

No dia 11 de setembro de 1973 um golpe militar chefiado por A. Pinochet derrubou o governo do Chile presidido por Salvador Allende, eleito socialista que governava recuperando a unidade dos primeiros governos de Frente Popular. Foi para a esquerda um acontecimento que fecundou na altura discussões eternas sobre via eleitoral e via revolucionária, já para não falar da denúncia da mãozinha do Kissinger, sua CIA e governo dos States. A nostalgia ainda hoje é essa.

Para o Portugal que poucos meses depois iniciou um Processo em Curso que a bem dizer nunca foi Revolucionário, o massacre da esquerda chilena (30 000 mortos, segundo a Amnistia Internacional, fora campos de concentração e tortura) pairava nas constantes ameaças de pinochetazo, abortadas num 11 de março precoce e desaparecidas com um 25 de novembro versão português suave.

Isto mudou o mundo?

aparentemente não, o mundo não é o Chile. O aparentemente serve para a versão politiqueira que os media e algumas ciências de ocasião vão fazendo.  Mas mudou, e muito.

Em 1958 a Pontificia Universidad Católica de Chile tinha estabelecido um acordo com a Universidade de Chicago através do qual vários dos seus alunos foram aprender com Milton Friedman aquilo que hoje chamamos de neo-liberalismo. Augusto Pinochet abriu-lhes a porta para governarem, assumindo o que ficou conhecido pela experiência dos Garotos de Chicago, feliz tradução na Wikipédia para Chicago Boys.

Sob uma repressão brutal e 20% de desempregados a mais torcionária das ditaduras sul-americana do fim do século passado, construiu isto: [Read more…]

11 de setembro, qual dos dois?

Sim, há dois: o de 1973 que marca a primeira catástrofe neo-liberal construída sobre o assassinato de 30 000 chilenos, e o de 2001 que agora parece ter o monopólio da data.

Dos Once de Septiembre en una vida explora ideas y sentimientos de ex presos políticos y exiliados chilenos de la dictadura de Pinochet que ahora viven en San Francisco, California. Ellos analizan las tragedias del 11 de septiembre de 1973 en Chile y del 11 de Septiembre del 2001 en Estados Unidos y la intervención del gobierno estadounidense en ambos hechos.

O bater das asas da borboleta

“O bater de asas de uma borboleta em Pequim pode gerar um tufão no outro lado do mundo”. Mais palavra, menos palavra, esta é uma das premissas da Teoria do Caos, a qual estipula que fenómenos dinâmicos não padronizados podem gerar efeitos muito aumentados, não previsíveis e não expectáveis.

Aplicada a fenómenos da física e da matemática, a teoria do caos pode igualmente ser interpretada no plano das relações humanas. Utilizando ainda linguagem para-científica, a uma causa sucede uma consequência, a qual pode ser causa de outra consequência e assim sucessivamente. A questão, o seu busílis, está na previsibilidade da consequência, e  aqui, no campo das relações humanas, a ciência deixa de o ser pela absoluta irrepetibilidade das condições da experiência, logo da consequência.

Não é avisado desprezar que podemos estar a viver tempos, em termos de civilização humana, de aparente novo paradigma, ou até mesmo, e apenas o tempo futuro o dirá, de mudança de matriz civilizacional. No estado actual das coisas, entre centenas de sinais contraditórios, as religiões reganharam uma força há poucas décadas insuspeita – um exemplo de sinal contraditório é que, se em alguns lugares do mundo é mais fácil, hoje, um indivíduo assumir-se como ateu (negar a existência de Deus), noutros a mesma assumpção tornou-se muito mais perigosa e geradora de condenação à  morte.

Um grupúsculo fundamentalista cristão, sedeado numa ignorada aldeola americana, pretende queimar o Corão no próximo dia 11 de Setembro. [Read more…]

Do vulcão europeu ao 11 de Setembro nos EUA

O vulcão Islandês que provocou o caos aéreo durante alguns dias, sobretudo  na Europa, veio mostrar, tal como o 11 de Setembro nos EUA, as fragilidades da mundialização em que vivemos.
Há alguns pontos comuns nos dois eventos que vale a pena realçar.
Por um lado, ambos tiveram  baixos custos de produção, o vulcão nao custou nada, os atentados foram feitos com alguns milhares de dólares. Ambos puseram os espaços aéreos das respectivas zonas onde aconteceram, durante alguns dias, interditos, com enormes prejuizos para as economias, particularmente   das transportadoras aéreas e passageiros.
Ambos tiveram a capacidade de mostrar as fragilidades do mundo em que vivemos, desorganizando a deslocação de pessoas, bens e mercadorias, provocando grandes perdas às companhias transportadoras e enormes transtornos a cerca de 7 milhões de pessoas deslocadas.
No caso dos EUA, segundo a OCDE, os  prejuizos directos e indirectos para a economia americana foram da ordem dos 22,347 mil milhões de euros.
Um estudo recente do banco HSBC estima em 150 milhões de euros os custos para as 5 maiores companhais aéreas durante os primeiros dias de paragem. Falta analisar o resto.
O frete aéreo só representa 5 % dos fretes a nivel mundial, mas em contrapartida, representa 40% do tráfico mundial de mercadorias, segundo o Prof. Daniel Mirza, estudioso do Centro de Estudos Prospectivos e Informação Mundiais.
Entretanto, houve quem ganhasse com a desgraça “alheia”; as empresas de transportes, os comboios, os TGV´s, que tiveram a sua hora de glória pela rapidez que alcançam, as autoestradas, os túneis, como o da Mancha, que tiveram os seus maiores picos  de fluxos durante estes dias, com tudo a passar por eles. Por outro lado, algumas regiões ganharam turisticamente, porque, se não se pode ir para o Norte passar férias, vai-se para o Sul à última hora.
Porém, as questões já levantadas pelo 11 de Setembro e agora renovadas pelas cinzas do vulcão Islandês  têm sido abafadas por duas vontades convergentes, a dos paises emergentes e a volúpia do lucro a todo o custo. A esperança do lucro sobreleva sobre os perigos do terrorismo ou de uma catástrofe mundial e só uma nova consciência social poderá pôr termo à situação.
Há uma incógnita no meio disto.
Até que ponto os impactos psicológicos das e nas  pessoas podem alterar a situação,ou seja, até onde, em nome da mundialização e do lucro, elas estão dispostas a correr riscos pessoais?

A Década das Redes Sociais:

Este texto foi (ou vai ser) publicado no semanário Primeira Mão e foi escrito no passado dia 29 de Dezembro. Porém, ao ver ontem o programa Eixo do Mal da SIC Notícias, cuja escolha foi idêntica, decidi partilhar com o Aventar esta minha opinião de facto mais relevante da década finda. E já agora: qual foi, para vocês, o facto mais relevante?

Quando se olha para trás e se pensa em tudo o que passou de 2000 até 2009 podemos sempre procurar fazer uma escolha, subjectiva, daquilo que foi mais relevante. O 11 de Setembro e o terrorismo Islâmico, a eleição de Obama, a campanha pelo ambiente e nesta a forte componente mediática de Al Gore, a China e as restantes potências emergentes (Índia, Brasil, etc.), o Iraque, o Euro e o alargamento da União Europeia, a crise internacional dos últimos anos, entre tantos outros factos relevantes.

A ter de escolher um e apenas um, não posso deixar de sublinhar a força adquirida por um dos mais relevantes fenómenos da Era Digital: as Redes Sociais. Basta pensar num dado impressionante: o número de utilizadores das redes sociais na internet é de tal grandeza que, se todos habitassem no mesmo país, este seria o 3º mais populoso do planeta. O Myspace, o Facebook, o hi5, a blogosfera, o Orkut, o YouTube, o Twitter, o Flickr, o Second Life ou o Linkedln, fazem parte do quotidiano de milhões e milhões de pessoas, instituições e empresas. No caso português, somos o 3º país europeu com maior penetração das redes sociais (fonte: Comscore).

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Happy New Year, Feliz Ano Novo, 2010!

O ano está a terminar. Um ano e uma década que ficam para trás. Para mim foi um ano cheio e uma década activa.

Nasceu o Aventar e com ele regressei aos blogues colectivos, conheci outras pessoas e aprofundei a amizade com um dos seus mentores. Ao mesmo tempo, congelei o meu doutoramento e disse “adeus”, por uns tempos, ao jornalismo. Profissionalmente foi um ano intenso, inacreditavelmente enérgico. Um ano com três eleições, imensas inaugurações e outras tantas iniciativas de todo o género. O país, a Europa e o Mundo, sobretudo estes dois últimos, viveram uma das piores crises económicas da história e a pior para a minha geração. Quer dizer, Portugal em crise? Bem, nesta década foi sempre assim, de mal a pior. A minha região continua a bater recordes negativos para desespero de todos. O Douro continua a ser a excepção, crescendo a todos os níveis: económicos, turísticos e culturais. O Douro e o F.C. Porto, o grande vencedor da década (Taça UEFA, Champions League, Ligas, Taças de Portugal, Supertaças, Campeão do Mundo de Clubes, etc.). Nesta década nasceu a minha filha e neste ano começou, a sério, a sua vida escolar. Em termos musicais foi a década dos Sigur Rós; em termos culturais destaco o renascer do movimento cultural portuense cujo expoente máximo é, sem dúvida, a Miguel Bombarda e toda a zona envolvente. [Read more…]