Bento XVI

benedict

Afastei-me gradualmente da Igreja Católica e do próprio cristianismo no início do pontificado de João Paulo II, apesar de ser um confesso admirador do homem, afinal o nome Karol Wojtyla não pode ser dissociado do fim do império vermelho a Leste.

Além de ter perdido a fé, algumas tomadas de posição na Igreja Católica, com o dedo do então Cardeal responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, figura que nunca me inspirou qualquer simpatia, contribuíram decisivamente para aumentar o fosso que me separa da ICAR. Curiosamente estive em Roma poucos dias após a sua eleição pelo colégio dos cardeais, pude então constatar que não era o único, mesmo entre fervorosos católicos, existia grande admiração pelo recém falecido Papa e grande cepticismo sobre Bento XVI.

Mas Bento XVI há que reconhecer, conhece bem o tempo em que vive, nunca perdeu a noção da realidade, assumiu responsabilidades da instituição que dirige em assuntos até aqui tabu, estabeleceu pontes de diálogo com outras confissões religiosas e agora num gesto surpreendente, anuncia a resignação, marcando uma clara ruptura com o antecessor, que terminou em agonizante calvário o seu pontificado. Com esta decisão, Ratzinger não apenas entra na História, afinal desde 1415 que um Papa não renunciava, como condicionará os sucessores que não deixarão de ser escrutinados quanto às suas capacidades e comparados com a lucidez de Bento XVI quando for o caso. A meu ver, superou todas as expectativas, granjeou respeito e demonstrando colocar os interesses da Instituição que dirige acima dos seus, ao contrário de tanta gente por esse mundo fora nos mais diversos cargos, sabe escolher a hora da retirada quando sente diminuição das suas capacidades para exercer o cargo.

Comments

  1. Maquiavel says:

    O Papa Bento 16 foi igual ao Cardeal Ratzinger, ultra-conservador, ultra-ortodoxo, conhece bem o tempo em que vive e tudo tentou para o fazer voltar atrás, pelo menos a antes do Concílio Vaticano II.
    Agora abdicou por motivos de saúde e é um exemplo, e condicionará os sucessores? Porque carga de água? Em 2000 anos de ICAR só dois Papas abdicaram, e foi a pedido de Concílios. O que näo faltaram foram Papas doentes e/ou senis. Faz parte do cargo sofrer, näo faz? Se näo tivesse abdicado como João Paulo 2, aí sim seria um exemplo de resignaçäo (aqui sim, se usa este verbo) face à idade e doença. Assim, Ratzinger só prova que nunca deveria ter sido eleito Papa, enquanto foi só sapatinhos Prada e bolsas Chanel, tudo bem, agora que toca de fazer o que prega (resignar-se face à adversidade e continuar com a mesma vida), adeuzinho. Ui que belo exemplo… de falta de coragem!

    Enfim… ainda se fosse para eleger novo João 23… mas infelizmente não acredito que tal seja possível.

  2. Konigvs says:

    Pronto, já cá veio alguém expressar a ideia que eu cá vinha deixar!! É que de facto é muito discutível vir agora toda a gente falar em coragem simplesmente porque um tipo que pautou a sua sempre por um ultra conservadorismo – que disse essa coisa científica que o preservativo só servia para aumentar a SIDA – vir agora armar-se em revolucionário e demitir-se de um cargo que todos os outros levaram até ao fim.
    O Cristo que vendem na bíblia – mesmo sendo deus – não aguentou o sofrimento e o seu calvário até ao fim? Não são os papas os representantes de Pedro e de Cristo? Não defende a igreja o sofrimento e a penitência?
    O que ficará para a história deste Ratzinger é tão simplesmente um tipo fraco, cobarde, que perante as dificuldades preferiu a via mais fácil.

    • Maquiavel says:

      Mais: näo foi o Cardeal Ratzinger que chagou diariamente a tola do JP2 para que näo abdicasse, recitando que “a cruz do Vigário de Deus é para levar até ao fim”, e reduzindo-o a um vegetal com Parkinson, para gáudio dos seus opositores?
      “Faz o que eu digo…” ora aí está o verdadeiro lema de Ratzinger!

      • Konigvs says:

        Enfim… os média terão agora mais um tema durante meses para chafurdar além da crise. Ontem, deveriam ser uns dez canais a falar do Ratzinger, e eu é que não tenho os pornográficos, na volta, até esses estariam a passar filmes com a mesma temática com bispos, padres, freiras e coisa e tal. Haja paciência.

  3. Nuno Castelo-Branco says:

    António, não sendo pessoa para religiões e obediências a dogmas, não posso deixar de concordar com aquilo que aqui dizes. O Papa não me surpreendeu com esta atitude, pois quem o conheça através daquilo que escreveu – e não estou a referir-me aos textos da doutrina da Igreja -, depressa se aperceberá encontrar-se diante de uma das poucas cabeças do Ocidente. Este homem não é um malabarista das palavras, sabe do que fala. A sua visão histórica da Europa é admirável, uma análise praticmente sem mácula. Resigna num ano que lhe poderia ter oferecido uma certa dose de popularidade que sem dúvida beneficiará os eu sucessor. Não é preciso ser um génio para reconhecermos que algo de novo surgiu, desde as severas críticas a um certo capitalismo da especulação, até àquela sucinta frase que tudo sintetiza e que até à data ninguém se atrevera a pronunciar.
    – Os inimigos da Igreja estão no seu próprio seio”.
    Referia-se a certos casos bastante mediatizados e a que urge dar o devido remédio.

    * Quanto à já tardia liquidação do império de leste, não vejo porque razão JP II deva ser mal visto por isso. Teria sido excelente se a coisa tivesse rebentado logo após a morte do Khan Estaline, quase 40 anos antes. Imaginemos como seria hoje a Europa…

    • Maquiavel says:

      Que casos bastante mediatizados? Os da pedofilia que ele tentou encobrir? Os da Banca Ambrosina que ele tentou negar? Os sapatinhos de marca que ele usa enquanto diz aos “pobrezinhos” que têm de seguir a vida de Cristo?
      Realmente ele também näo me surpreendeu: hipócrita até ao fim…
      Que algo de novo surgiu com Bento16? Já JP2 falara dos excessos do capitalismo, nem aí ele inova.

      Quanto à Europa, se “a coisa” tivesse rebentado 40 anos antes… pelo que se vê depois de “a coisa” ter rebentado, a Europa estaria já em 1975 a viver o que vive agora… e por agora outra coisa teria já rebentado há muito!

      • Nuno Castelo-Branco says:

        O Maquiavel apenas vê o que lhe convém. Pois bem, foi ele quem dentro do Vaticano falou precisamente dos casos da pedofilia. Se está esquecido disso, informe-se, p.f.
        Quanto aos sapatinhos, pfffff… grande coisa. Comaparados com os 14 polícias de Mário Saoeres são coisa pouca.

        Pois, continuo a lamentar – o facto de a “coisa” não ter rebentado logo a feliz passagem de Estaline para a outra dimensão. Quanto ao estado da Europa, não lance foguetes. Espere mais um pouco, não tema, pois as coisas recompor-se-ão. Talvez até com a ajuda da Rússia. Não tente é dizer aquilo que gostaria de ver a leste aos checos, polacos, ucranianos, romenos, etc, etc. Eles não apreciarão. Já tentou pensar no que podria ter sido a Europa sem a guerra fria?

        • Maquiavel says:

          E o NCB lê e percebe o que lhe convém. E ignora o que näo lhe convém, mas isso näo é de hoje. Continue nesse seu mundo de fantasia onde o Bento 16 é que denunciou a pedofilia nas hostes católicas. Isto há com cada um…

          O que eu näo quero ver a Leste nem a Oeste é a situaçäo actual, onde a democracia é foi pelo cano, ainda näo achindrou?
          Quem ainda näo tentou perceber o que é realmente a Europa sem Guerra Fria é você. A Europa sem Guerra Fria é o que se vive desde há quase 25 anos. Quanto aos polacos, os estaleiros de Gdansk, onde começou o fim do regime, foram fechados logo em 1997 (“é a falta de rentabilidade, estúpido!”); os romenos… estäo em todo o lado menos na Roménia; os ucranianos têm um PIB/capita menor que o de Cuba. Quer mais? Enquanto isso a China vai comprando a Europa a preço de saldo. É isto que você quer? Pois eu näo.

          • Nuno Castelo-Branco says:

            Fantasia? Pois é a realidade, perfeitamente ditada pelo fracasso de uma experiência nefasta e sem préstimo algum. Do que estava à espera após 70 anos daquilo? Que a Ucrânia ou a Bielorússia fossem simulacros da Holanda, da Suécia ou até, pasme, de Portugal? Claro que seria impossível. Porque caíram os regimes de forma tão abrupta, quase como se de um flato se tratasse? Nem a tropa saiu à rua, nem as massas saíram ao ataque do palácio de Inverno -a liás, nem sequer em 1918 o fizeram! -, nem se verificou uma catástrofe natural que vitimasse aquele tipo de estrutura política. Nada disso se passou, a coisa caiu de podre, tão decadente ela estava.

            Gdansk/Danzig. Os estaleiros fecharam? Olhe que hoje em dia estão abertos, em plena laboração e produzem uma enorme diversidade de navios e se é bem certo ter decaído o número de trabalhadores existente durante o período comunista – percebe-se porquê, a modernização de equipamentos não ficou à espera – , naquele local continua a existir vida económica http://en.wikipedia.org/wiki/Gdańsk_Shipyard. http://www.gdanskshipyard.pl/en.html. Nem precisa de procurar muito, está a um clic na net.
            Quanto à China, pelos vistos a capitosa doutrina adoptou o pior dos dois mundos e quem tomou o poder em 1949, bem depressa se adaptou a um modelo que detestamos há muito tempo. O que fazer então? Precisamente aquilo a que uma boa parte dos “bons pensadores” não quer: competir com os emergentes segundo um padrão mínimo de decência que do nosso lado, infelizmente apenas poderá corresponder a barreiras alfandegárias, quotas de importação, à manipulação da moeda e controlo dos fluxos de gente. Perderemos algo? Deixaremos de poder comprar muitos artigos por uma tuta e meia? Decerto, mas isso significará um claro sinal a quem explora, a quem paga pessimamente, a quem adopta o trabalho forçado como coisa perfeitamente normal e consentânea com o “interesse do povo”.

            Voltando ao leste, como queria o Maquiavel que se mantivesse o império? Através de uma permanência dos blindados russos na Alemanha, Checoslováqui e Hungria? Com cada vez mais polícias, espionites, tentativas frustradas de fugas, ruína económica, tratamento da população como se fosse diminuída mental? Não. Assumo plenamente a minha preferência pela negregada democracia “brguesa”, pois apesar de todas as pechas é infinitamente superior se a compararmos com qualquer outro sistema gizado por lunáticos auto-iluminados não se sabe bem como.

            Bento XVI. Pois sim, diga o que bem entender, o anticlericalismo serve para isso mesmo e pouco adiantará paraa verdade dos factos. Onde é que me viu escrever algo dizendo que foi o actual Papa quem denunciou a pedofilia? Ele agiu em relação ao problema, demitiu uma quantidade de bispos, instalou averiguações, enfim, saiu a público dizendo o que pensava acerca do assunto. Claro que isso foi extremamente inconveniente para os mais exaltados deste mundo, pois prefeririam a manutenção da capa que muita coisa ocultava. Mas não foi assim, é tarde demais para lamentar a ousadia do Cardeal Ratzinger. Oxalá a gente do Estado português tivesse feito o mesmo em vez fazer de conta nada se passar e chegar ao ponto de receber gente sob suspeita, com forte trovoada de palmas.

          • Maquiavel says:

            A mim bastava que a Ucrânia e quejandos fossem um simulacro económico de Portugal, como era o Império Russo em 1918, ou a Europa de Leste em 1939 (à excepçäo da democrática Checoslováquia). Ao fim de 25 anos e muitos biliões de euros em ajuda näo têm desculpa nenhuma. Os únicos à tona de água säo os países limítrofes da Alemanha, e porque esta investiu em força, näo por obra e graça dos empresários ou governos locais, e o resto é conversa.
            Ah, mas para si a culpa é sempre “dos outros antes”, e nisso você é igual aos comunistas, que curioso.

            Quanto ao Papa, enquanto as Igrejas forem comandadas por gente de pensamento medieval continuarei o meu “anticlericalismo”, näo tenha dúvidas. Quando aparecer outro João 23 outro galo cantará. Recomendo-lhe que em vez de ler as análises (muito marxistas, por sinal) de Bento 16 vá ouvir o Discurso à Lua de João 23, está até no youtube. Ou os discursos de JP1, um homem verdadeiramente do seu tempo (e neste momento, décadas à frente da ICAR).

          • Nuno Castelo-Branco says:

            Maquiavel, estou totalmente de acordo consigo no que respeita à sua sucinta análise dos 25 anos da presença de Portugal na “CEE”. Penso exactamente o mesmo e o desastre não tem propriamente a ver com a forma do actual regime, mas sim com o tipo de gente que dele se apoderou. Más opções, uma nova oligarquia que depressa descalçou as chancas, julgando melhor promover-se com aparências, marcas e sobretudo, com uma inacreditável fome de extorsão e de amelhamento de bens alheios. Gostem ou não gostem os membros da nossa nomenklatura de ler ou ouvir isto, foi precisamente o que aconteceu. Como estamos de acordo, nada mais direi, a não ser o não podermos apontar as culpas à democracia – entendida esta como representativa e burgesa, com certeza -, erro extraordinariamente perigoso. Apesar de toda a corrupção, inenarrável inépcia e má fé dos seus titulares, podemos falar. É o que nos resta.

            Não compreendi bem o seu primeiro parágrafo, quando se refere ao “simulacro económico de Portugal, como era o Império Russo em 1918, ou a Europa de Leste em 1939 .” Teriamos de analisar caso a caso, desde a poderosa indústria checa. herdeira da Áustria-Hungria, até à Roménia “celeiro da Europa” e importante centro cultural balcânico, por exemplo.

            Em 1918, o Império Russo tinha sido esmagado militarmente, enfrentando todo o poderio austro-germânico na frente leste. Aliás, é surpreendente a forma como após cada um dos desaires ocorridos, a Rússia logo recuperava na campanha seguinte. As armas eram excelentes, embora em pouca quantidade. A rede logística estava numa fase de expansão quando em 1914 rebentou a guerra e isso ditou a sorte das campanhas. A lealdade da Rússia à Entente foi sob todos os pontos de vista admirável, embora o mesmo não possamos dizer acerca da atitude francesa e britãnica em 1917-18, na incontida ânsia de garantirem a carne para canhão enviada de leste.
            Os exércitos czaristas salvaram a França de uma derrota certa no Marne – 1914, ofensiva de Rennenkampf na Prússia Oriental – e o mesmo voltaria a acontecer no momento de Verdun, quando Brussilov pela segunda vez conseguiu quebrar a frente austro-húngara. Os governos de Nicolau II sabiam que a Rússia apenas estaria em condições de enfrentar os alemães por volta de 1916. O inacreditável desenvolvimento industrial, os magníficos produtos militares saídos da empresa Putilov, o desenvolvimento dos caminhos de ferro, prenunciavam o acordar do gigante que contudo estava muito atrasado nas necessárias reformas sociais, quero dizer, na área da política – a Duma e as suas quezílias não ajudava -, sendo evidente um caminho constitucional que era inevitável. Mais ainda, urgia proceder à reforma agrária que Alexandre II iniciara e que a gente possidente de Moscovo e S. Petersburgo rejeitara, vendo ofendidos os seus privilégios. O regime estava em clara evolução, o país via as suas forças armadas a rapidamente recuperarem dos efeitos de Tsushima – a categoria do equipamento naval era digna de admiração e o próprio Kaiser sabia-o melhor que ninguém – e simultaneamente, a Rússia viu-se amarrada a uma aliança aparentemente contra-natura com a França. É certo ser um disparate recorrermos aos “ses” da história, mas o sacrifício russo na frente leste, ditou a derrota final dos Impérios Centrais. Disso não tenho qualquer dúvida.
            Claro que existem uns tantos teóricos da conspiração, garantindo que certos centros do capitalismo da city novaiorquina terão tudo apostado na queda do regime, aproveitando para apoiar directamente – isto é verdade, uma embaraçosa verdade – os seguidores dos bolchevistas, entre os quais Trotsky era a estrela. Conhecem-se os nomes dos sponsors e os círculos em que se movimentou nos EUA. Os alemães fizeram o mesmo, enviando Lenine num comboio selado Alemanha fora, como se de uma mala cheia de bacilos se tratasse. Obtiveram o que queriam, Lenine capitulu e fez recuar as fronteiras do antigo Iimpério ao mapa que grosso modo corresponde ao da Rússia de 2013.
            Não será arriscado alguém dizer que os acontecimentos de 1917-1925, terão atrasado a predominância russa na Europa por algumas décadas. Se a isto acrescentarmos o que se passou a partir de 23 de Agosto de 1939, os factos estão à vista de todos.

            Também concordo consigo quanto à sua visão daquilo que há muito é – com o interregno da ocupação soviética – a Mitteleuropa pró-alemã. Bismarck dizia que quem controlasse Praga, detinha o poder efectivo sobre toda a Europa central. Era verdade e na altura a Áustria não era o Estado diminuto que hoje nos surge nos mapas, sendo um incómodo peão com quem Berlim era forçada a contar como um quase igual. A verdade é que o desaparecimento da A-H pressupôs a passagem daquele vasto espaço estratégico para um até agora alternado domínio alemão ou russo. Assim aconteceu ao longo da década de 30 e 40, existindo ainda a tendência para o esquecimento quanto ao facto de quase toda a Europa de leste se ter batido ao lado da Alemanha: Roménia, Bulgária, Eslováquia, Hungria, Croácia, o Protectorado da Boémia-Morávia integrado no Reich. A partir de 1948, a Checoslováquia já era o elo militar mais forte com que os russos contavam na Europa central e é conhecido o plano de ataque do Pacto de Varsóvia em caso de guerra com a NATO, cabendo aos checos um papel absolutamente vital nas operações. Não duvido da capacidade e engenho militar dos responsáveis castrenses russos.
            Hoje a Alemanha domina efectivamente a “Chéquia”, a Eslováquia, colhe fortes simpatias nos Países Bálticos, na Holanda (!), na Finlândia sua aliada de 1941-44, na Suécia, na Croácia e na Hungría e mesmo a Áustria não se esquiva à óbvia dependência que os números da economia demonstram. A Alemanha tem umas forças armadas modestas, desfez-se de uma grande parte da sua arma blindada, enviando-a para equipar o exército polaco, talvez na certeza de ter criado mais um Estado cliente e amigo. Há coisas na política que são de difícil discernimento, mas a Europa de hoje é muito diversa daquela que conhecemos há 30 anos. É sem dúvida bastante mais tranquilizadora, pois ninguém imagina uma guerra com a grande potência que ditava a lei no Pacto de Varsóvia. Sinceramente vejo a Rússia como o inevitável aliado que mais cedo ou mais tarde teremos a leste e isto por razões que a geografia e a segurança ditam. Esperemos que os EUA acabem por entender os factos e é precisamente nesta articulação entre o eurocentrismo – evitando-se Haushofer e as suas previsões continentalistas – e o atlantismo que muito interessa a Portugal, que poderá ser encontrado o ponto de equilíbrio que dissolva velhas realidades que as também velhas fronteiras deixaram de ter razão de ser.

            Voltando ao Papa, uma vez mais lhe digo que não sou pessoa de igrejas – desconheço totalmente a liturgia, embora respeito os factos que a tradição impôs como indelével marca na nossa identidade – ou facilmente influenciável pelo misticismo. No entanto, gosto de ler um bom texto e tenho a capacidade mínima para me aperceber de uma mente multifacetada e espantosamente culta ao ponto da erudição. Era este o caso de Bento XVI. Ele não foi aquilo que muitos pensaram ou quiseram que fosse e aí está o maior problema.

      • Os sapatos Prada foram oferecidos. Assim como outras coisas.
        Ao velho papa mostram-lhe alguns sapatos que foram oferecidos, ele experimenta-os, sente-se bem com eles, calça-os. Qual o mal disto? provavelmente, muito provavelmente nem ele nem ninguém perto dele é capaz de distinguir a marca Prada das sapatarias da esquina. Podem saber muito da história da europa, mas duvido que leiam revistas de moda.

  4. Só uma questão para o caro Maquiavel, uma vez que deduzo da sua afirmação “,,,Quem ainda näo tentou perceber o que é realmente a Europa sem Guerra Fria é você. A Europa sem Guerra Fria é o que se vive desde há quase 25 anos…” preferia ver sacrificados milhões de seres humanos a Leste, subjugados à pérfida ideologia, para assegurar o bem estar a Ocidente?
    É que a ser assim, estamos conversados…

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