Touros mariposa

Andaram dois touros à solta pelos montes de Perre e Outeiro, concelho de Viana do Castelo. Um, segundo o dono, era muito perigoso e já tinha tentado fugir antes. O outro parece que apenas aproveitou a confusão gerada pela fuga do outro para juntar-se-lhe.

Eram dois touros com pouco menos de dois anos, tinham sido ambos vendidos a um talho da cidade e iam ser levados para abate. O perigoso, não sabemos se alguém lhe deu nome, soltou-se das cordas com que tentavam metê-lo no camião e fugiu pelos campos. O outro, o manso, foi atrás dele.

Não sei se um touro adivinha o seu destino e se no camião sentiu o cheiro da morte de outros touros antes dele. Mas segui a notícia com apreensão pela segurança da gente dessas freguesias e com o desejo que os touros nunca mais fossem avistados.

Lembrei-me de um desenho de Goya, o do “toro mariposa”, em que o bicho aparece com um enorme órgão sexual e umas exuberantes asas de borboleta, um touro que não sabe ou não quer saber que é touro, e aspira a amores sem freio e a voos erráticos. Mas não sabe, o touro tolo, que as asas farfalhudas escondem rostos que se riem dele.

Há pouco soube-se que os touros foram encontrados, suspeito que a tentar levantar voo, e serão conduzidos para abate.

Descansem Perre e Outeiro, acabaram-se os passeios pelo campo, acabaram-se os touros mariposa.

Comments

  1. Tens um erro na conjugação verbal e taurina: foram avistados, mas a veterinária quer levar-lhes umas vacas pela manhã.
    Ouvido na TSF

    • foi a mesma TSF que noticiou ao fim da tarde que tinham sido apanhados. Essa das vacas é jogo sujo, fico a torcer por que eles sejam gays

  2. palavrossavrvs says:

    Não são castrati. São cobridores e de boa cepa, rebeldes e intuitivos. Belos animais.

    Em parte, digo eu, foi talvez por essa bucólica notícia que muito me tocou o conto literário de Ramalho Ortigão, por mim lido hoje e hoje reproduzido. Na notícia, o idoso dono dos touros queria reformar-se do cuidado dos animais. Na literatura, ressurreição deste nosso fluxo de vida, o tio João da Serra, de setenta e nove anos, só ao fim de cinco meses ficou compreendedor das andanças cobridoras do moço enjeitado Pedro sobre a sua Margaridinha.

    Une-as, à história e à estória, o remate de um abate.

    João da Serra incumbiu o filho mais velho de surpreender e abater o homem que pela noite trepava ao quarto da moça.

    Um texto muito bem urdido, esse de Ramalhão Ortigalho.

  3. celesteramos.36@gmail.com, says:

    ESCREVEU CARLA ROMUALDO-Não sei se um touro adivinha o seu destino e se no camião sentiu o cheiro da morte de outros touros antes dele.
    Pois posso informá-la de que a 1ª vez que fui à Alemanha – creio que em 1970 – de carro, passei por região fora de centros urbanos e de repente ouvimos um choro terrível de que só nos apercebemos em “cima da situação” – uma fileira de bois gritava mas o que nunca tinha visto, é que choravam com lágrimas a correr pelo focinho abaixo – percebemos que íam a caminho do matadouro – aliás os animais são tão mais sábios do que os homens quanto ao que pressentem que lhes vai acontecer – até o meu gatinho é quanto a terramotos e trovões que se aproximam – e nasci na lezíria como os bois e bata olhar-lhes o corpo e como se movem e os olhos – aliás como o olhar que vi nas vacas do jura, em paz e que nem para mim olharam nem perto pois que olharam os vales dos alpes.
    E como nasci na região das tempestades e trovoadas valentes e relâmpagos e outras forças telúricas (Santarém) aprendem-se coisas que em lisboa nem se dá por elas – sim os animais são mais sensíveis do que os homens que são mais racionais do que intuitivos – e não lhes conto como os matam nos matadouros da Europa (que afinal os de Portugal são iguais) e de que vi programas na TV da maior desumanidade – E quando se vai ao talho comprar carne macia e com sangue – não sabem a que sofrimento são sujeitos os animais pendurados nos ganchos do matadouro antes de morrer para o sangue pingar e percorrer todo o seu corpo – a animalidade dos homens não tem limite – Devíamos ser vegetarianos mas eu ainda não sou pois que os vegetais porque a indústria química e indústria do “frio” e ainda os produtos agro-químicos, não falando nos transgénicos e aquacultura, envenenaram tudo o que comenos excepto os que têm a dita de ter horta – coisa que desapareceu das periferias urbanas para fazer mamarrachos de 11 andares em betão e betuminoso e transformarem-se em quintas do Mocho e Quintas da Fonte e serem locais de crime não apenas porque os que lá vivem sejam criminosos de nascença mas pelos espaços que são imorais e eu fui júri 12 anos do Instituto nacional de Habitação – e o que vi não é “habitação” (1999-2012) – mas apenas e essencialmente ghettos para os desalojados das barracas (programa PER – programa especial de realojamento) e só vi as maiores merdices desumanas onde vive grande parte da população portuguesa – Continente + Madeira + Açores – salvo raríssimas excepções mas todas implantadas nos locais de melhores solos agrícolas abandonados por causa da queria UE e o programa PAC (1986) politica agrícola comum – que é um CRIME de dois países europeus – Alemanha e frança para não falar em Castella – e mesmo que muita gente viagem muito pelo país de norte a sul não são todos que percebem o que está certo no lugar certo (ou errado) e porquê porque OLHARR as paisagens e achar belas ou feias não é VER e só para quem sabe as paisagens são textos legíveis diferentemente do arqtº ou pintor ou mesmo eng e tanto faz – e não conheço senão um ou dois técnicos da ONG de protecção do ambiente que saibam ordenamento – resta-me saber de quem tem a minha profissão apenas e, de outros, conheço apenas o eng Eugénio Sequeira eis presidente da LPN – liga de protecção da Natureza porque nem os ditos engºs do ambieny«te sabem nada de ordenamento de que falou e sabe o grande Ribeiro Telles – mas até estes saberes estão em alguma decadência porque — porque etc
    Portanto quanto aos animais – as vacas e bois – que vão para o matadouro sabem muito bem – até os cães sabem quando por eles passa alguém que não gosta de cães e ou fogem ou ladram ou podem mesmo morder ++ etc – são animais mas não são burros – os grandes burros são pessoas tipo politólogos que apareceram este mês em todas as TV e já foram ministros – e são opiniosos de todas as coisas e afinal nem, do mister deles sabiam quando governaram senão estaríamos todos bem com a sucessão de governações nas nada ficou de bom e por isso se agoniza – não apenas por culpa da CEE e directivas mas dos ministros de Portugal que não fazem um todo dos saberes necessários para que haja um país – são apenas empregados de luxo e que só se interessam em saltar para Bruxelas + etc – ter um ou 2 cursos universitários não é saber tudo de tudo pelo contrário – pode ser mais grave do que ser agricultor analfabeto

  4. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Quem escreveu fodasse é melhor passar a escrever FODA-se – com ífen

  5. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Não Carla Romualdo – os bois nas praças de touro são levados para fora da arena com os denominados cabrestos – mesmo que sejam “gays” – as hormonas não funcionam só nos homens (e mulheres)

  6. Konigvs says:

    Eu não percebo nada de touros e bois, mas quer-me parecer que a diferença entre os dois, é uns existirem para cobrirem as vacas e os outros serem uns eunucos mansos.
    Agora mesmo na TSF falavam em “bois”, e fica-me a dúvida é se os bois eunucos ficarão com ereções ao ver as vacas! Ereções imaginárias?
    Bois ou touros existem sempre vacas para os tentar levar para o matadouro!

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