O chamado Espada e os chamados professores

jcd

No dia da greve de professores, abri o Público com aquela náusea de quem antecipa um daqueles intermináveis e intelectualmente gordurosos artigos de José Manuel Fernandes herdeiro, na sua raiva acéfala aos professores e ao ensino público, do anterior director deste jornal. O número desse dia era minúsculo (mais pequeno que o Diário de Coimbra…) e, página a página, lá fui sentindo o alívio de quem não tem de aturar o desaforo habitual. Só havia o jornalismo medíocre do costume, ponteado por algumas raras luzes de razão e decência.

De súbito, João Carlos Espada (JCE), de quem Miguel Esteves Cardoso diz, com razão, “ser o mais servil, bem intencionado e burro dos campeões portugueses do liberalismo” ( só tenho dúvidas quanto ao “bem intencionado)! Em texto encimado pela foto em que tenta fazer pose de grande pensador, olhando o infinito, o Espada lá desbobina o seu habitual, confuso e pouco fundado arrazoado. Li tudo. Céu, como custou! Mas li.

E o que se encontra lá? Sinopse deste filme: o seu amigo ministro tem razão em tudo e todos os males se devem a uns seres extraterrestres chamados “lideres sindicais” que, oriundos de uma coisa sinistra chamada “ensino público” – onde o génio do Espada nunca foi reconhecido –, não tendo, pelos vistos, nada a ver com os professores (se calhar o Espada pensa que nem eleitos foram e, se o foram, não vale, porque só os eleitos do Senhor e os certificados por JCE são dignos ), manipulam a seu bel-prazer a nação, o sistema solar e, quiçá, o Universo em geral.

Note-se que o plumitivo só refere os da “chamada Fenprof”, que considera perigosos comunistas. Este “chamada” é um recurso retórico que permite ao autor – pensa ele – diminuir, obnubilar, exorcizar mesmo, uma realidade que, para ele, não devia ter estatuto ontológico. São, sem dúvida, seres do Demo, por oposição às celestiais entidades com que JCE convive e mentalmente cria em associação com o Espírito Santo.

Surpreendentemente, não é citado o pobre do Karl Popper, maltratado pelo Espada em tantas ocasiões e tantas vezes posto ao seu involuntário serviço. Nem sequer é citada uma daquelas conversas que supostamente terá tido com o filósofo, citação que substitui, para os que têm poucos escrúpulos, a referência ao que o mestre verdadeiramente escreveu.

Agora eu deveria discutir argumentos. Mas o Espada não me deixa nada de substantivo. No estilo a que nos habituou quando, nos seus tempos de maoista-estalinista fervoroso (como o Crato…), fazia favores à direita escrevendo aqueles impagáveis textos sobre a “impureza reformista” do PCP, JCE navega nos seus ódios habituais, na má informação – quando não na mentira descarada – nas suas sugestões alucinadas. Logo, não vale a pena argumentar em defesa de evidências que no muro de dogmas do convicto Espada e seus congéneres fariam inútil ricochete.

Assim, só me resta retirar-me citando, tem paciência Zé Carlos, o amado Karl Popper: “Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos”. Como o Espada.

Comments

  1. António Pedro Pereira says:

    JG:
    Ao contrário de si, eu acho o Espada um tipo muito interessante… e também muito útil.
    Pena é que não haja muitos mais Espadas.
    É que as ideias da aventesma são tão mirabiolantes, tão estratosféricas, que ninguém as leva a sério.
    Prefiro os Espadas a outros muito mais perigosos e muito mais dissimulados.
    Viva o Espada… Pim!

  2. José António says:

    Quem tem medo dos professores?
    .. pois..

    Pelos vistos, todos.
    Quando a classe se une;
    quando a inércia se sacode;
    quando a doentia tendência que os professores têm para cumprirem tudo, aceitarem tudo sem um queixume – se transforma na revolta de quem já não aguenta mais;
    quando os professores tomam consciência do poder que detêm – e o exercem, o país treme.

    Tremem os políticos ao verem escapar-se-lhes debaixo das garras dominadoras a classe que (justificadamente, diga-se..) acreditavam mais submissa, a mais sensível à chantagem emocional. Os direitos dos jovens, pois claro!
    Tremem os pais ao verem ameaçados .. basicamente, os seus organizadinhos planos de férias, pois que outra coisa?

    Hipócritas, uns e outros.
    Não os comovem as crianças com fome, a única refeição diária retirada das escolas, a ASAE que há anos se pôs a medir batatas e encerrou ou inviabilizou as boas cantinas escolares, agora reféns da normalizada fast food de empresas duvidosas.
    Não os comovem as escolas fechadas, as crianças deslocadas, as escolas-fábrica em que cada aluno não é sequer um número, o interior do país desertificado, as longas viagens de e para casa, o tempo com a família, inexistente.
    Não os comovem os livros deitados fora, que deixaram de servir porque sim: o novo programa de matemática para quê se o outro dava mostras de funcionar, o (des)acordo ortográfico para benefício de quem..
    Não os comovem os professores massacrados que lhes aturam os filhos todo o dia, : «Já não sei o que fazer dele, dela.., em casa é a mesma coisa.. »,
    Não os comovem os alunos que querem aprender e não podem, a indisciplina na sala de aula e os professores esgotados, deprimidos, muitas vezes doentes, os professores que desabam a chorar no meio da aula, a tensão, as pulsações que disparam e como é que se pode ensinar assim?
    Não os comovem os professores hostilizados publicamente por ministras, escritores, comentadores, opinadores – e já lá vão anos de enxovalhamento!
    Não os comovem as políticas aberrantes do ministério da Educação, as constantes alterações aos curricula, aos programas, as disciplinas de uma hora semanal a fingir que existem e os professores que se adaptam aos caprichos todos, formações atrás de formações, obrigatórias todas, pagas do próprio bolso algumas;
    Não os comovem as condições de trabalho e de saúde de quem lhes zela pelos filhos, as horas insanas passadas na escola, as tarefas sem sentido e as outras, o tempo e a disposição que depois faltam para tudo o resto que fazem em casa, preparar aulas, orientar trabalhos, corrigir testes, as noites que não dormem e amanhã aguenta-te que não são papéis que tens à frente, mas sim pessoas!
    Não os comovem vidas inteiras de andar ‘com a casa às costas’, 10, 20, 30 anos contratados (dantes chamavam-se ‘provisórios’), de Trás-Os-Montes ao Algarve e é se queres ter emprego, SEMPRE assim foi até conseguirem um lugar no quadro de efectivos numa escola – e agora aos 40, 50, à beira de vínculo nenhum! – as regras que mudam, a reforma que se alonja, a carreira de há muito congelada, os sucessivos cortes no salário, os impostos uns atrás dos outros e depois ……
    cara alegre que tens a responsabilidade de ensinar, formar, educar os nossos jovens, futuro deste país ou de outro para onde imigrem, será mais certo.

    E eu digo, professora que fui, professora que serei sempre e já não vos aturo: VÃO-SE FODER com as vossas preocupações da treta, a vossa chantagem e as vossas ameaças, os vossos apelos aviltantes. E não, não peço desculpa pela linguagem, que outra não há que dê a medida da raiva.

    Quem é que vocês, políticos, associações de pais, pensam que são?
    Vocês, que destroem tudo o que de bom se tinha conseguido neste país? Que promovem o regresso à miséria, ao cinzentismo, à ignorância? Que se estão borrifando para os alunos e as famílias, a qualidade do ensino nas nossas escolas públicas? Que tiram ao estado para darem aos privados? Que acabam com apoios onde eles eram vitais, aos alunos mais pobres, aos alunos com deficiências? Que despedem psicólogos e professores do ensino especial? Que, em exames, recusaram tempo extra aos alunos que a ele tinham direito? Que não fazem nada para promover a educação, os vossos podres serviços públicos reféns do vosso oportunismo, da vossa falta de valores, do vosso cinismo?
    Vocês, que atacam os professores mas lhes confiam os vossos filhos? Que não os educam em casa, mas esperam que eles o façam na escola? Que agora defendem a “mobilidade especial” quando antes defendiam a estabilidade, se queixavam de que as crianças mudavam de professores todos os anos? Que não percebem que um professor maltratado é um profissional menos disponível para os alunos que tem à frente? Que a luta dos professores é a luta pelos vossos filhos, pela qualidade da sua educação, pelas oportunidades do seu futuro?

    E vocês, opinadores ‘de bancada’ que continuam a achar que os professores trabalham pouco e ganham muito, por que se queixam agora desta greve (três meses de férias, é?!), quando nunca antes se queixaram das condições miseráveis em que vocês próprios sempre viveram?
    Por que não se queixam dos dinheiros mal-gastos destes políticos?
    Por que não se queixam de um serviço público de televisão que vos embrutece e vos torna prisioneiros de quem vos engana todos os dias, vos impede de terem pensamento próprio?
    Por que não se queixam da razia deste governo sobre os funcionários públicos, dos serviços que vão funcionar muito pior, das horas de espera que vão aumentar, nos hospitais, nos centros de saúde, nos correios e nas repartições todas, a ‘má-cara’ de quem, maltratado, vos vai atender com pouca paciência e muito cansaço?
    A vocês, que pelos vistos não sabem o que é uma greve, nunca vos vi defenderem os professores do vosso país. Vi-vos aplaudirem uma ministra que vos ‘ganhou’, ‘perdendo-os’. Vi-vos porem-se contra eles, ao lado dos filhos que vocês não souberam nem se preocuparam em educar. Vi-vos irem às escolas apenas para insultarem ou ameaçarem os que nela todos os dias ‘dão o litro’ para que os vossos filhos sejam melhores que vocês, tenham as condições de vida que vocês não puderam ter.

    Os professores não estão de férias, como vocês, que tudo julgam saber, gostam de apregoar.
    Os Professores estão em greve. Finalmente!
    Os Professores levaram anos a aguentar pauladas. Anos e anos a serem, eles, prejudicados.
    Agora fazem greve, dizem BASTA!
    Vocês, deviam fazer o mesmo, assim a educação que a escola pública vos proporcionou vos tenha garantido sentido crítico, pensamento autónomo e DIGNIDADE.
    Helena Almeida

  3. Luís says:

    A propósito dos intocáveis e maioritariamente desonestos “fazedores de opinião”!

    Fiquei a saber hoje, pelo Expresso on-line, porque razão o gordo “escritor” que se governa bem a dar palpites como treinador de bancada sobre os professores, e porque “não chia nem mia” sobre os constantes escândalos da banca no geral e do BES em particular!

    Eis o corta e cose do Expresso:
    “Pergunta: “Teve uma polémica recente com o José Diogo Quintela, que o acusou de não criticar o BES por Ricardo Salgado ser sogro da sua filha. Disse que ele se estava a promover às suas custas, num tom que pareceu francamente irritado. Estava?
    Miguel Sousa Tavares: Estava. Porque é uma coisa tão canalha. O Ricardo Salgado é sogro da minha filha e avô de netos meus. Além disso, somos amigos há muitos anos porque eu fui casado com uma prima direita dele. Nunca o critiquei e nunca o elogiei, porque acho que não se fala da família em público.”

    Desta resposta também se conclui que o gordo “escritor” não tem professores na família porque então não falaria dos professores em público!


  4. Essa escumalha que veio dos MRPPs e da UDP para o PSD é outra espingarda, no que toca a gostar de Estaline, primeiro se se investigar a sério, vê-se que não é o tal assassino que querem que ele tivesse sido, e segundo nem todos os que gostam dele são execráveis como o ditador do crato.