Os Costas, o Expresso e a polémica SMS

Costas

Foto@LUSA/Público

O caso Antonio Costa VS João Vieira Pereira, na senda de outros clássicos como José Sócrates VS Mário Crespo, Miguel Relvas VS Maria José Oliveira e, numa vertente mais hardcore, Zeca Mendonça VS Paulo Spranger, é um caso que parece ilustrar a desorientação e o nervosismo de alguém que, apesar da conjuntura e da impopularidade do actual governo, não consegue descolar nas sondagens. Costa arrisca-se a ser o líder socialista que ficará na história como o primeiro da era da “pasokização” e ainda consegue perder tempo com guerras que apenas alargam o leque de argumentos disponíveis para a direita o atacar. Como se o passado socrático não fosse já suficiente.

Reza a história que foi este artigo que levou António Costa a enviar um SMS a João Vieira Pereira onde se podia ler:

Saberá que, em tempos, o jornalismo foi uma profissão de gente séria, informada, que informava, culta, que comentava. Hoje, a coberto da confusão entre liberdade de opinar e a imunidade de insultar, essa profissão respeitável é degradada por desqualificados, incapazes de terem uma opinião e discutirem as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhes estão reservadas. Quem se julga para se arrogar a legitimidade de julgar o carácter de quem nem conhece? Como não vale a pena processá-lo, envio-lhe este SMS para que não tenha a ilusão que lhe admito julgamentos de carácter, nem tenha dúvidas sobre o que penso a seu respeito. António Costa

Ninguém pode negar o direito ao homem de se defender e refutar um artigo com o qual não concorda. Mas esta reacção foi no mínimo exagerada. Se António Costa quer ser primeiro-ministro, tem que treinar melhor o estômago. À beira de artigos que já se escreveram na imprensa nacional sobre José Sócrates ou Pedro Passos Coelho, um artigo como o de Vieira Pereira mais não é do que um beliscão. Se Costa não aguenta com duas pedras e um cocktail molotov, então mais valia ter ficado na CM de Lisboa, até porque a artilharia pesada ainda está para chegar.

Mas, afinal de contas, o que é que de tão grave está escrito naquele artigo que dê forma a acusações como a de João Vieira Pereira “recorrer ao insulto reles e cobarde” ou de “julgar o carácter” de António Costa? Mais do que a dificuldade em compreender o motivo, surpreende-me a imprudência do líder socialista de se colocar nesta posição que não precisa nem o favorece. E se muitos defendem o silêncio do chefe de Vieira Pereira e irmão do líder do PS, por motivos para alguns óbvios, relembremos as palavras do Ricardo Costa, ainda o irmão não era sequer líder do PS:

O Expresso já teve um desafio maior pela frente, quando Francisco Balsemão foi para o governo e depois para primeiro-ministro. O jornal passou com distinção na prova. Foi impiedoso, às vezes demais, e fê-lo com estilo e com estrondo. Não gosto de falar em nome da redacção onde trabalho, mas conhecendo os meus colegas, sei que não lhes passa pela cabeça fazer alguma coisa diferente. Presumo que estejas preparado para isso. Eu estou. Ou melhor, vou estando (…) Sei que ele (o pai) ia ficar aflito ao ver-nos chocar. Mas não ia esperar outra coisa de nós

Ora aqui está a oportunidade para Ricardo Costa soltar o jornalista que existe em si. Se, como afirma, Balsemão não foi poupado nos tempos em que exerceu funções governativas, apesar do jornal ser seu, tomar uma posição era o mínimo que se exigia do director do Expresso quando o líder do PS se referiu ao seu subdirector como um “desqualificado” que degrada a profissão de jornalista.  Uma posição impiedosa, com estilo e estrondo. É que, até ao momento, nem Ricardo Costa, nem o Expresso, ninguém. Não que Vieira Pereira seja uma vítima indefesa que precise de ser defendida, mas seria coerente dar substância às palavras de Costa, o jornalista, quando este se refere a Costa, o político, afirmando “saber que o Expresso te vai cair em cima de quando em vez e que tu vais tentar cair em cima do Expresso“. Costa, o político, não tentou: caiu mesmo. Já Costa, o jornalista, bem como a restante estrutura do Expresso, não só não caíram como se remeteram a um silêncio que tem tanto de cobarde como de cúmplice.

Comments

  1. É bonito para ir entretendo o “pagode” !!!

  2. Ninguém quer saber. Dado o número de leitores cada vez mais reduzido da imprensa suspeito que cada vez menos pessoas quererão saber. O que abstenção diz sobre os partidos a falta de circulação diz sobre os jornais.

    Parece que algumas franjas têm esperança que o pasmo político as catapulte…

  3. O Costa está de tal modo entalado, encravado, encalacrado, que já não rebenta pelas costuras, estoira pelos sms. Sem a fumaça da quadratura, estatela-se no círculo. O PS anda há quarenta anos a gabar-se que sabe fazer omeletes sem ovos e agora que o povo está à porta com fome é que mandaram o Costa para a cozinha. Se o país precisa de facto de uma alternativa de esquerda, e precisa como de pão para a boca e há 40 anos já era tarde, então não se procure feiticeiros e aprendizes, exija-se um médico. O resto são mexericos e conversa para boi dormir.

  4. Boa! Finalmente alguém que coloca os factos ocorridos na perspectiva correcta. Por isso é que eu, leitor do Expresso desde os primeiros números, deixei de o comprar desde que RC se tornou director. Imaginava que um dia isto pudesse acontecer e aconteceu mesmo (ainda se lembram do célebre “O FMI já não vem”?). Enfim um jornal de referência transformado num pasquim.

  5. maria celeste ramos says:

    Ainda hã jornais ou pasquins Ainda hã Jornalistas ou pessoas que escrevem sem autocrítica mas com orgulho no OA que usam ?? E nada encontram no país de que valha a pena comentar com dignidade ?’ Assim como este governo descobre há 5 anos o que destruir o que encontram os jornalistas para jornalar ?’ a AUSÊNCIA DE AUALDADE É TOTAL AUSÊNCIA POR CONTÃGIO DA FALTA DE QUALIDADE GLOBAL ?? COMO O MEU TECLADO NOVO – ANDA SEMPRE A ENCRAVAR SÕ COM MAIÚSCULAS – E FOI CÁRO – NADA PRESTA ??nem o tempo para ir â praia e aguentar as ruas porcas de todo o tipo de sujidade ?’ porcaria de país – resta o Governo Sombra que ainda têm graça porque ató o dono da graça hermano ordinarou tanto que chega aqui o mau cheiro resta futebol ?’

  6. Concordo. Só não apoio a ideia de cobardia. O silencio foi a melhor resposta a tão abstruso sms. E na próxima come com a nova critica desde que oportuna.

Trackbacks

  1. […] e dois dos seus primeiros casos, implicando os dois candidatos do regime, chegam-nos via SMS: António Costa zangou-se com um artigo de João Vieira Pereira e mandou-lhe um SMS, perante o silên…. Paulo Portas tomou a difícil decisão de apresentar a sua demissão irrevogável e enviou um SMS […]

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