O Labirinto de Costa

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Olho para a sondagem de hoje da Católica para o JN/DN/Antena 1/RTP e recordo-me dos primeiros dias de António Costa na liderança do PS.

O Secretário-Geral do PS, António Costa, tinha tudo para estar a um passo de ser o próximo Primeiro-ministro. Reparem: a classe média praticamente desaparecida em parte incerta. Os jovens viviam entre a certeza do desemprego cá e a esperança de qualquer coisa lá fora. Os professores estavam revoltados. Os médicos descontentes. Os funcionários públicos (essa enorme massa eleitoral) furiosos. Os trabalhadores frustrados. As empresas no fio da navalha. Depois temos os velhos problemas e os problemas velhos: BPN, BPP, privatizações, parcerias público-privadas, justiça, listas de espera nos hospitais, etc, etc, etc. Uma tempestade perfeita.

Entretanto veio a detenção de José Sócrates. E antes dele a “tralha socrática” dentro do partido e Mário Soares a falar em barda. Depois as eleições na Grécia. Uns cartazes espalhados pelo país com uma menina em pose religiosa, ao mais puro estilo de seita brasileira. E a demora em largar o lugar de presidente da Câmara de Lisboa. E as pressões internas para falar à comunicação social sobre tudo e um par de botas. O labirinto crescia em proporções dantescas.

António Costa tinha um conjunto de vantagens interessantes: boa imagem, boa imprensa e boa gestão do silêncio. Por isso, em Outubro de 2014, a mesma sondagem apontava para valores de maioria absoluta (45%). O que aconteceu entretanto?

O país está melhor? Está. O desemprego baixou, a economia parece estar a melhorar, o consumo das famílias a crescer (é um bom indicador de confiança económica), o sector imobiliário a mexer, o sector automóvel a vender, a banca novamente a emprestar, o Portugal 2020 a dar esperança. Chega para o que está a acontecer a António Costa? Não. Porque os portugueses continuam receosos, os níveis de desemprego continuam a ser elevados, a retoma ainda é muito ligeira e, sobretudo, a “malta” continua desconfiada.

O problema de António Costa são as circunstâncias políticas: Sócrates, o partido, a esquerda, o centro, o discurso e um desastre comunicacional mais recente. Vamos por partes.

O caso José Sócrates faz mossa. Naquela velha lógica do “preso por ter cão e preso por não ter cão”. Para uns foi pouco solidário. Para outros foi solidário em demasia. Olhar para as “caras” que rodeiam Costa e ver tantos homens fortemente ligados ao governo de Sócrates assusta o eleitorado. Sim, nada de meias palavras: hoje ser/estar na política, aos olhos do povo, não é currículo, é cadastro e se a isso juntarmos ter estado em governos como o de Sócrates, significa “cadastro transitado em julgado”. Pode até ser uma enorme injustiça mas é a realidade, é assim que os eleitores e o povo das redes sociais (já são mais de 4 milhões de portugueses a opinar sobre tudo e todos) olha para a “coisa”. Ao mesmo tempo, uma parte importante do eleitorado base do PS considera que o caso Sócrates não passa de uma vingança da magistratura, de alguma imprensa e certos grupos de pressão contra ele e, por isso mesmo, estão desiludidos com o actual Secretário-Geral. Consideram que António Costa deveria ir em peregrinação todas semanas a Évora…

O partido. O PS estava convencido que já era governo, que as eleições estavam no papo. Às primeiras sondagens menos positivas começaram as vozes (que são mais que as nozes) a exigir acção. Queriam Costa todos os dias a falar. Queriam Costa a bater forte e feio. Queriam isto e queriam aquilo. Excesso de ansiedade, doses cavalares de excitação. Como costume, em todos os aparelhos partidários, confundem os seus estados de alma com os do eleitorado. Alguma esquerda queria mais. Queria uma ampla coligação agregando descontentes do Bloco e se possível o PCP. O velho sonho da “frente de esquerda”. Já o centro queria o do costume: serenidade, segurança, realismo. O oposto do desejado pelas tropas. Sobretudo, não queria mais do mesmo das últimas décadas. É aqui que surge o primeiro grande erro de Costa. A hesitação.

Olhando para a estratégia de comunicação, visível naqueles cartazes espalhados pelo país (onde se confundiu qualidade de produção com desastre de mensagem…aquela menina ao estilo seita evangélica brasileira não lembra nem ao careca!!!), é clara a hesitação. António Costa começou por “encomendar” o programa a um “grupo de sábios” executando uma velha tática de comunicação política gasta de tão velha. Os eleitores estão fartos de sábios, especialistas, sumidades académicas e outras experiências laboratoriais que, alegremente, colocaram a nossa economia e finanças neste rico estado. O discurso começou a endurecer aos dias pares e a ser justificativo aos dias ímpares. É meio caminho andado para criar urticária ao eleitorado do centro. E a TAP? Costa não percebeu o filme. A greve dos pilotos foi a gota de água para os portugueses. Nesse dia ficou marcada para sempre no consciente e inconsciente dos portugueses. Deixou de ser “a nossa companhia de bandeira” e passou a ser “um problema nossa que temos de passar para outros”. É como a CP e a CARRIS. Até podemos defender que devem ser empresas públicas mas com tantas greves e tantos prejuízos, estamos fartos e mais vale privatizar. Não vale a pena, somos como somos e temos um desporto favorito: empurrar com a barriga. O discurso de Costa sobre a TAP até pode agradar a meia dúzia de líricos mas assusta a maioria dos eleitores. Independentemente de ter ou não ter a razão do seu lado.

Costa aparenta estar meio perdido no seu labirinto. Olhando para os valores desta sondagem e transpondo para linguagem de futebol, Costa perdeu a vantagem que tinha e já não depende apenas de si. Será que é homem para um “golpe de asa”?

Comments

  1. Aventanias says:

    Já andas a trollar o Costa ?

  2. Excelente análise. Continuando nas metáforas futebolísticas, o PS arrisca-se a ser candidato a vários títulos e a perdê-los a todos nas últimas jornadas. Também as presidenciais se arriscam a ser um golo de baliza aberta desperdiçado, se a (falta de) estratégia continuar. É de um amadorismo gritante e surpreendente num partido de poder e num líder supostamente experiente. E quem se arrisca a perder mais é o país.

  3. é tão idiota este “artigo” que só serve pra rir.

    Não, o país não está melhor. Está muitissimo pior.

  4. a única conclusão da sondagem é que é mais uma sondagem a confirmar que o país está ingovernável. A mim o que me agrada é a subida do BE e do PCP… mas ainda vão subir mais. O PC pode chegar aos 15%.

  5. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    O problema do PS é de indefinição, pois o “Socialismo” só existe no nome. Já mudaram a cor que os caracterizava e não mudando o nome, mudaram claramente a agulha da orientação política.
    O PS actual tornou-se um partido indeciso de direita, regulando-se por valores de direita e colocando na gaveta os princípios doutrinários da verdadeira social democracia. E a pouca inteligência dos seus líderes como Soares, Sócrates e Costa é não terem ainda percebido nem aproveitado o facto da extrema direita ter tomado conta do PSD (o CDS sempre foi um partido de fascistas reciclados), não tendo nem engenho nem arte para pegar e chamar a si a Social-Democracia que os laranjas mandaram às malvas.
    Perderam por completo o seu espaço político e deixaram um vazio que o Bloco de Esquerda tenta, sem sucesso, ocupar.
    O problema do PS é não perceber que a coisa que poderia distinguir a Europa desta lama onde nos querem integrar, é exactamente o conceito social da Democracia.
    O PS, manifestamente mudou-se de armas e bagagens, completamente travestido de rosa e de princípios doutrinários capitalistas, para o fosso da direita.
    Por mim, boa viagem…

  6. Fernando Antunes says:

    O PS é tão responsável pelo estado a que isto chegou como o PSD. O vazio da alternância política dos últimos 40 anos dá nisto. É totalmente irrelevante uma sondagem com o PS umas décimas à frente ou atrás.

    É completamente irrelevante quem vai à frente nas sondagens, do mesmo modo que será irrelevante para os Portugueses ganhar este ou aquele as eleições se o país nos dois casos manter-se-à em serventia aos interesses superiores de Bruxelas ou Berlim. Portanto, who cares?

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      I care and you care as well, for sure.
      Mas a sua análise é perfeitamente correcta e compreendo (para além de partilhar) o seu desencanto.

  7. Rui Silva says:

    O António Costa entrou numa espiral recessiva. Quantas mais intenções de voto perde , mais promessas irrealistas faz. Quanto mais propostas irrealistas faz mais intenções de voto perde.
    Só quem não quer, é que acredita que este lote de promessas pertence ao grupo:
    “…não podemos cumprir porque isto está muto pior do que pensávamos…”

    cumps

    Rui Silva

  8. Texto de apoio a Passos Coelho disfarçado de análise. O problema do PS é a indefinição, mas a indefinição programática à esquerda. Problema agravado com aquele programa neoliberal apaineleirado produzido pelos “economistas”. Propor mais um desfalque no Estado Social (TSU) e equiparar os despedimentos individuais aos colectivos foi um suicídio. E é isso que verdadeiramente preocupa o “eleitorado do centro” e não a TAP ou CP onde aliás já não há uma greve a sério há mais de 3 anos. Outra coisa que o opinador esconde é este facto: com estes resultados a direita jamais governará. O PS e a esquerda são esmagadoramente maioritários. Se o PS cair no erro do bloco central o futuro será a sua pasokização.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Nem pense que o PS alguma vez se aliará à esquerda, Vai andar qual barco desgovernado ao sabor das ondas e a prostituir-se à direita e à esquerda, pretendendo dar ares de “democrata” e “equlibrado” quando, no fundo, é exactamente igual ao PSD. Os quarenta anos que estão para trás, ensinaram-nos duas coisas: que há um conjunto de dois partidos (diria dois e meio, com o apêndice fascista reciclado) que destruiram o País e que montaram a história daquele fantasma comunista que come criancinhas vivas ao pequeno almoço e que dá injecções atrás da orelha dos velhos.
      E esta declaração, repetida desde o tempo de Salazar, foi retomada por estes “democratas” e brandida exactamente da mesma forma.
      Quando associo o termo Socialista a estes rosinhas de hoje, até me arrepio.

    • Não António Alves, não é nem de apoio nem contra quem quer que seja. É apenas uma análise, a minha. Aliás, que até coincide, pelo menos num ponto, com as suas críticas (o programa, por exemplo). E não, não escondo que a esquerda é maioritária, por um simples motivo: é daquelas coisas que está tão à vista que nem vale a pena analisar, é “facto”. Como o é, e também não referi, o de que ninguém está perto da maioria absoluta. Já agora, olhando para os números, até acho que o PCP vai ter mais do que a sondagem diz, como acho que o BE vai ter bem menos e os outros partidos bem mais. Mas isso já não são “factos”, são “palpites” meus.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Essa de colocar o actual PS à esquerda, é mais um mito que muito boa gente não pretende negar, pese a demonstração baseada em 40 anos de verdadeiro sacanço e política comum com os seus amores de direita e extrema direita (não me esqueço do apêndice fascista reciclado).
        É pena, porque o pior dos cegos é mesmo o que não quer ver.

    • Se o PS perder por 1 voto, o Cavaco vai dar a vitória à coligação… Portanto, se perder, perde e pronto… Está perdido! E ainda bem 😉

  9. o PS vai perder assim como perdeu o PSOE em espanha, não pela melhoria do País que está em coma latente,,, mas pela traição ao socialismo em Portugal… irá ficar Pasok 2….. RIPE!!

  10. Edgar says:

    Sob a capa de esquerda o PS não consegue esconder o seu apoio à política de direita… e a capa é cada vez mais fina e transparente.

  11. 1- Afinal o que propõe A Costa como negociação com as instituições europeias? “uma via entre o radicalismo grego (ui, que radicalismo!!) e a hipocrisia das ditas instituições?

    Que “via” estreita é essa? A do Hollande?

    2- Às afirmações de Passos Coelho na AR sobre o não, não motivei a emigrar, não, não subi impostos, não, não subi o IVA, etc de mais nãos, o que diz A. Costa?

    O PM é “um negacionista da realidade”.

    E prontos, Seguro está de volta e escusavam ter perdido tanto tempo com as primárias.

    Não mudes o discurso, não!
    Continua com outra espécie de “aluno bem comportado”, continua!

    Perdes votos de todos os lados.

  12. Bom, uma sondagem da Católica que é uma universidade de direita, para a RTP, ou seja, paga pelo governo com dinheiros públicos é logo à partida um modelo de isenção. Deve ser da espécie daquelas sondagens das últimas eleições que davam sempre empate técnico e que se revelaram tão certeiras não foi? Depois, tenho de perguntar ao comentador se ainda é o patrão do Passos que lhe paga para escrever estas merdas ou se agora faz de borla porque passou a acreditar nas próprias mentiras?

    • Rui Silva says:

      Caro DS,

      Não posso deixar de lhe dar razão , daí ser um apoiante da privatização da RTP, que facilmente se torna num braço de propaganda de quem está no poder ás custas do contribuinte.

      cumps

      Rui SIlva

  13. Oh meu caro Rui, a isenção da RTP depende da cultura democrática do governo que estiver em funções, lá por este governo não saber o que é a democracia nem que levasse com ela nas ventas isso não justifica a privatização. Mas eu percebo bem esse tipo de comentários provocadores porque o meu caro Rui sabe bem que em sendo privatizada a RTP passa a alinhar com o discurso único dos grupos de media privados. Deixe-me dar-lhe uma pista, não é um discurso de esquerda. Enquanto for publica eu posso dizer que a RTP está a bem ou mal gerida e votar de acordo com essa avaliação nas eleições que irão legitimar o governo que tutela a RTP. Depois de privada eu tenho de levar com bosta toda que me quiserem impingir sempre que ligar o televisor e não tenho modo de punir quem dirige órgãos de comunicação social como braços de propaganda privados que promovem uma agenda privada sob a capa protectora mas falso jornalismo.

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