Sustentabilidades

francisco_seixas_da_costa
António Alves

O embaixador Seixas da Costa, num postal publicado na sua página no Facebook, em jeito de dúvida/interrogação meramente retórica, levanta a questão da sustentabilidade da Rede Ferroviária que, como sabemos, sofreu uma drástica redução de 1974 até hoje. Ora, esta é a pergunta errada. A pergunta correcta seria: é sustentável uma sociedade/economia sem uma rede ferroviária eficiente?

No mesmo sentido em que o embaixador coloca a questão, podemos também perguntar se a Rede Rodoviária entretanto construída é sustentável. A resposta é não. As autoestradas a sul do Tejo, por exemplo, são todas insustentáveis e o estado paga anualmente mais de mil milhões de euros às concessionárias, as famosas PPP’s, para manter a rede aberta. Muito do nosso continuado, insustentável e impagável endividamento tem como causa a construção da “melhor rede de autoestradas da Europa”. A sociedade, porque as finanças e a economia já sabemos que não, é mais sustentável depois disso? Tudo indica que não. Além de financeiramente arrasada está maioritariamente dependente,  na sua mobilidade, do meio rodoviário, e do consequente consumo de combustíveis fósseis, com as implicações económicas (importações), de congestionamento viário nas áreas metropolitanas e ecológicas que isso implica. No entanto, ainda não ouvi ninguém pedir o encerramento de autoestradas como fizeram com ferrovias.

Outra coisa que o senhor embaixador devia interrogar-se é se algum rio é sustentável sem afluentes. A Linha do Tua, por exemplo, era um afluente da Linha do Douro. Lembra-se?

Comments

  1. João Paz says:

    Destruir a ferrovia, mesmo lentamente (no tempo do Cavaco foi de forma acelerada) é destruir o presente e comprometer de forma drástica o futuro do país. Mas a Alemanha (via CEE/UE) manda e os traidores (eufemisticamente designados bons alunos) obedecem. Quer PS quer PSD.

  2. Afonso Valverde says:

    Parabéns pelo texto. A questão foi bem re – situada.
    Se os políticos quiserem fazer as coisas certas para o país há saberes e meios para levar por diante de forma eficiente, as questões da mobilidade de pessoas e bens.
    Há muitas pessoas qualificadas em Portugal sobre a mobilidade eficiente e a planificação de cidades para se viver.
    Agora, as negociatas de oportunidade à mistura com um deslumbramento parolo atiram-nos para este nível de mediocridade em que vivemos.

  3. O Embaixador Seixas da Costa é um actor da vida pública que sempre apreciei…. como pessoa. E até partilhamos um encontro gastronómico há uns dois e meio num restaurante em Gouveia… em mesas separadas. Aprecio-lhe o gosto pela gastronomia (é um gosto partilhado), mas não comungo da sua relação umbilical com o PS apenas porque deixa tudo na mesma… e isso eu não quero!
    Eu percebo o “economiquez” dele…. só que o não o subscrevo, o que não impede a consideração que ele me merece.

  4. Maria says:

    O empregado da Mota Engil fez um bom trabalho.

  5. Manuel Rocha says:

    Boas
    É verdade que essa ave agoirenta de Boliqueime, foi o principal desenvolvedor dessa política retrógada.
    Mas já todos se esqueceram ou nunca ouviram falar. Foi o General Ramalho Eanes,que fez o 25 de Novembro para devolver o país aos Espírito Santos, Melos e outros “bons rapazes”, que quando foi Presidente da Republica dizia que se devia dar oportunidade aos empreendedores rodoviários, vulgo empresas de TIR, enquanto recomendava fechar ou minimizar os caminhos de ferro,
    Sol na eira e chuva no nabal não há. Esse “Sr” iniciou um processo para ajudar os amigos dos TIR.
    Quem for à Holanda, verifica que os caminhos de ferro cobrem todo o pais. Bons, rápidos, seguros e baratos. Porque será ?
    Claro que os defensores dos “empreendedores” defendidos pelo Ramalho Eanes e seguidores vão dizer que a Holanda é plana, etc e tal.
    Mas não se tratava de construir, apenas de não destruir, para dar dinheiro aos “privados ”
    Mas esse é o modelo adoptado pelos “liberaloides”.laranjas e quejandos.
    Nessa altura com os transportes, depois com a saúde e recentemente com o ensino. Essa gente é agradecida aos seus amigos e clientes políticos, mesmo à custa do seu país e povo.
    Há que lhes cortar caminho, mas ao mesmo tempo exigir a quem trabalha no Estado, disciplina e profissionalismo.
    Ainda me lembro quando os partidos da direita, ao geriram a “coisa publica,” faziam por abandalhar ou deixavam abandalhar os serviços de que eram responsáveis, para justificarem a escolha da via privada.

    Saudações

    M R

  6. db@db.pt says:

    Os “políticos” isto. Os “políticos” aquilo. Sempre os “políticos”. Sempre a “Europa”. Sempre os “outros”. Sempre o queixume. Não se esqueçam que desde 1974 vivemos numa democracia e que temos eleições desde 1976. Os políticos fazem na maioria das vezes aquilo que a população quer que se faça. A população portuguesa clamava nos anos 80 e 90 por mais e melhores infra-estruturas rodoviárias, foi o que tiveram. Se foi certo ou errado? A opção pelas auto-estradas terá os seus prós e os seus contras. Que tal parar de apontar o dedo ao “político” ‘a’ e ‘b’ e potenciar o que temos? É que auto-estradas têm em si potencialidades que os caminhos-de-ferro não têm. Caso tivéssemos apostado em manter a rede ferroviária tal como estava, olvidando as rodovias, estávamos agora embrutecidos a dizer que 40 anos depois de democracia ainda nem auto-estradas tínhamos. Tenham dó.

    • Nascimento says:

      Tem razão.Mas espalha-se quando diz que se “tivéssemos” apostado nas ferrovias…mas andou por onde nestes anos? Apostou- se nas ferrovias! Mas só. as que “interessaram” 😋!As “outras” foram “desligadas”….percebeu?E que tal mais uma “Autoestrada” pro Norte?E que tal mais uma Grande Superfície Comercial?E que tal mais uma Retundazinha?Ha mais de vinte anos escutei da boca de um “chefão” da C P ( na época do Anibal),o orgulho de ter mandado cerca de 2000 pra reforma antecipada 😁!Isto quando. estavam a modernizar a linha das Beiras.Depois “arranjou -se” maneira de destruir a CP criando a Refer😁!Destruindo os armazens de viveres, os Infantários,etc.E por aqui me fico….por agora no que toca às ” mobilidades”!Ta bem o @ qualquercousa😁?

      Ps.no que tocou ha destruição. da ferrovia o PS está na linha. da frente!Conheceran os últimos Dirigentes daCP???Ui….então “busca”…😁 e mais não. digo…

      • db@db.pt says:

        Caro Nascimento, fiquei curioso com o seu texto. Será que pode desenvolver a ideia das linhas que “interessam” e das que “não interessam”? Pareceu-me interessante.

        • Nascimento says:

          As do Sul 😁 por exemplo.Vale mais um de “mercadorias”,vulgo cimento ou areia por onde se pode “escoar”um vagão/zito …e etc e tal. Ou julga que aquilo foi entregue aos privados porque….?Pergunte ao Mota.10 vagões?11?Olha o “deserto”😋…claro que isto é tudo ” conversa” de café 😁….pois.Ai,ai,….tem pai que é cego…aliás ” gorduras” na C P ?Só os Infantários😁 porque no que toca aos chefes de divisão diretoras e diretores estão todos lá. O CDS tomou conta daquela merda. Tocou a vez ao Caldas😋.Agora vai tocar ao Rato.Depois a Lapa…eheheh😋

          • db@db.pt says:

            Caro Nascimento, isso é tudo verdade. Infelizmente, seja nas rodovias ou ferrovias, as negociatas são um problema que parece não ter fim. Não me parece é que seja um problema dos políticos, é mesmo generalizado e cultural.
            Voltando ao tema do desmantelamento da rede ferroviária, não acha que muitas linhas tinham mesmo que desaparecer? Veja-se Marvão com os seus 3 000 habitantes… ou Castelo de Vide com 8 000… Podia continuar por aqui fora a dar exemplos.

    • Acho que ninguém escreveu que devíamos apostar exclusivamente na ferrovia. Apenas dissemos que a aposta exclusiva da rodovia foi errada.

      • db@db.pt says:

        Tem razão António. Podíamos ter apostado na rodovia e ao mesmo tempo modernizar toda a linha ferroviária que existia em 1974. A rede. A infraestrutura. As locomotivas. As estações. Tudo. Teria sido ainda melhor se tivéssemos construído uns aeródromos em todas as capitais de distrito. Não esquecer o TGV. Tanta oportunidade perdida.

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