Miguel Abrantes? Bloggers da corda? Tudo amadores. Sejam bem-vindos à Trofa!

shmac

O concelho da Trofa celebra a sua maioridade a 19 de Novembro. Apesar da sua curta existência, é já um dos concelhos mais endividados do país, algo que decorre de 11 anos de gestão do PSD local, que até arranjou umas estradas e fez chegar saneamento a grande parte do concelho, mas que destruiu por completo a contas do jovem concelho, enquanto protagonizava episódios bizarros, de onde destaco as várias obras cujos concursos públicos foram abertos com a obra já concluída. Este caso até chegou a tribunal mas, como é habitual, não se passou nada. Quem nunca abriu um concurso público para uma obra que já estava feita, que atire a primeira pedra.

Chegados a 2009, o laranjistão trofense assistiu a algo que, para muitos, seria impensável. Nas Autárquicas desse ano, o PS destronava o poderoso Bernardino Vasconcelos e respectiva entourage, e chegava ao poder com as contas no vermelho. Mas, se é verdade que a situação financeira herdada por Joana Lima era literalmente catastrófica, não é menos verdade que a sua governação não deixou grandes saudades. Houve algum reequilíbrio de contas mas as únicas obras verdadeiramente impactantes só chegaram em cima das Autárquicas de 2013. Joana Lima pagou uma factura alta pela jogada eleitoralista, ao mesmo tempo que as autoridades começavam a apertar o cerco à autarca socialista, que acabaria por ser acusada pelo Ministério Público por um crime de participação económica em negócio e dois de abuso de poder. Tal como os vereadores do PSD que abriam concursos para obras concluídas, Joana Lima acabou absolvida.

Contudo, nas Autárquicas de 2013, o PS local foi arredado do poder por uma coligação entre o PSD e o CDS-PP. A estratégia vencedora apoiou-se, entre outros vectores, num elaborado esquema de manipulação da opinião pública, que começou com a criação de um jornal, o Correio da Trofa (CT), cuja morada fiscal era a mesma que a da empresa de comunicação contratada pela campanha de Sérgio Humberto. Vencidas as eleições, o CT mudou a sua sede para a casa que serviu de quartel-general à campanha da coligação PSD/CDS-PP, que de resto poderá muito bem ter sido a única morada que conheceu.

Nos meses que antecederam a eleição, o CT cumpriu a sua função de ajudar a coligação a chegar ao poder. Todos os cronistas eram (e continuam a ser) de direita, os conteúdos eram sempre muito simpáticos para PSD e CDS-PP, e lá iam derretendo os socialistas, chegando mesmo ao ponto de haver uma espécie de editorial anónimo, Os postais do Toninho, que, com raríssimas excepções, se dedicava em exclusivo a bater na autarca socialista, chegando mesmo a descer ao nível rasca de explorar a vida privada de Joana Lima. Valia tudo.

Com a coligação no poder e os socialistas desaparecidos em combate, o CT abrandou e dedicou-se apenas a promover o executivo de Sérgio Humberto. O Toninho desapareceu, o site foi fechado e o jornal, cujo preço de 0,20€ aparece hoje riscado, tornou-se gratuito até aos dias de hoje. Entretanto, algures em 2014, o CT foi adquirido por uma outra empresa, a Flexisílaba Publicações, propriedade do até então director e de um jornalista do CT. Meses depois, Sérgio Humberto assina um ajuste directo próximo dos 20 mil euros (+IVA) para que os novos proprietários do jornal que viu nascer e que tão bem o serviu organizassem um concurso de fotografia e desenvolvessem uma revista cujo paradeiro, até hoje, se mantém uma incógnita. Este valor insere-se num total de 90 mil euros (IVA incluído) que o executivo PSD/CDS-PP atribuiu a esta empresa e à antiga designer gráfica do CT, que foi também contratada para assumir funções no Cinetrofa, um festival de cinema que custou 60 mil euros à autarquia e que se revelou um autêntico flop. E estes são apenas os valores que se conhecem.

Mais recentemente, devido a algumas incongruências que me fizeram escavar mais fundo, descobri que o Correio da Trofa, hoje propriedade de um militante do PSD, se encontra numa situação irregular, motivo que me levou a escrever à ERC. O director do jornal, cujo nome continuou na ficha técnica após ter sido denunciada a irregularidade, exerce funções de assessor do PSD da Santo Tirso, concelho vizinho da Trofa, o que viola o Estatuto do Jornalista, tal como pode ser verificado no site da Comissão de Carteira Profissional de Jornalista. Contudo, após ter denunciado esta situação no blogue …e a Trofa é minha, alguém que criou uma conta com o mesmo email usado no Facebook pelo alegado director do Correio da Trofa, Miguel Ângelo Pinto, afirmando ser o próprio, referiu estar desvinculado do jornal há vários meses. A confirmar-se, significaria que o CT não só não tem director como usa, há vários meses, o nome de Miguel Ângelo Pinto de forma ilegal e sem o consentimento do próprio.

Apesar de tudo isto, a autarquia continua a fazer publicidade naquele jornal, usando o dinheiro dos impostos dos trofenses para alimentar uma máquina que nunca deixou de servir a coligação PSD/CDS-PP. Uma máquina cujos colaboradores, directa ou indirectamente, estão ligados aos partidos no poder, desde a jornalista que é dirigente da JSD ao fotógrafo do CDS-PP, passando pelo amigo pessoal do presidente que, apesar de espancar violentamente a língua portuguesa, foi contratado para escrever crónicas que juntam a bajulação mais primária ao insulto gratuito contra quem nesta terra ousa incomodar o poder. E tudo isto num concelho sob a batuta de um presidente de câmara que não se inibiu de insultar o outro jornal local, em plena Assembleia Municipal, tendo mesmo chegado a tentar censurar e a condicionar o seu trabalho numa apresentação pública em que tentou iludir os cidadãos com mais um conto para crianças sobre a vinda do metro, que nunca mais vem mas que a maioria dos políticos locais usa, frequentemente, como arma de arremesso. O caso seguiu para a ERC, que deu razão ao jornal O Notícias da Trofa e remeteu o caso para o Ministério Público.

No que a estas matérias diz respeito, as diferenças entre José Sócrates e Sérgio Humberto são pouco mais que residuais. José Sócrates pode ter pago à personagem Miguel Abrantes para o elogiar e defender na blogosfera, mas a campanha eleitoral de Sérgio Humberto criou um jornal, que usou uma personagem fictícia para insultar a sua adversária, sendo que, posteriormente, o seu executivo distribuiu mais de 90 mil euros por ajuste directo a pessoas ligadas a esse mesmo jornal e, cereja no topo do bolo, esse jornal, feito por pessoas próximas do presidente, está, há largos meses, em situação que viola as boas práticas e a legislação que norteia a actividade da imprensa. Até os recursos da autarquia já foram usados para promover a imagem do autarca.

Lembram-se daquela grande figura do PSD, homem forte de Pedro Passos Coelho, que esteve desaparecido durante a maior parte da campanha para as Legislativas? O tal que é acusado de gerir uma complexa rede de tráfico de influências? Pois bem, a Trofa foi um dos poucos sítios onde deu o ar da sua graça e se deixou fotografar. A mesma Trofa que é hoje gerida pelo amigo Sérgio Humberto, apoiante de Virgílio Macedo nas corridas à liderança da distrital portuense do PSD, e que avençou Bolota Belchior, o advogado que é também visado na denúncia de Paulo Vieira da Silva, que originou um processo que ainda decorre, em segredo de justiça. Miguel Abrantes? Coitado do Miguel Abrantes, do Sócrates e dos bloggers da corda do Passos Coelho. Amadores.

Comments

  1. O que posso acrescentar?
    Casamento duradoiro da classe “política” com a Justiça.
    Porque não se trata de política. Trata-se de crimes, perfeitamente identificados no código penal.

  2. Manuel Rocha says:

    Estamos a falar do “Estado Laranja” ou não estamos ?

  3. Anti-pafioso vidente says:

    E ninguém vai preso ? onde pára a policia .

  4. apera says:

    Bota ppd.

Trackbacks

  1. […] final de Outubro, a propósito dos Miguéis Abrantes desta vida, trouxe até ao Aventar o caso da Trofa, governada por um executivo PSD/CDS-PP que, meses antes das Autárquicas de 2013, deu à luz um […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading