Comunicação Social: Esquerda? Direita? Volver…

se o twitter fosse uma mesa de voto em legislativas, a discussão pelo primeiro lugar seria renhida entre o Bloco e a IL mas se fosse colocada uma mesa de voto só para as redações, a disputa pelo lugar cimeiro seria entre o PCP e o Bloco? Mas é mesmo assim?

 

Nas redes muito se discute quem é que domina a comunicação social. Para uns, com o nosso João Mendes à cabeça, é a direita. Para outros, não senhor, é a esquerda até porque domina as redações – se o twitter fosse uma mesa de voto em legislativas, a discussão pelo primeiro lugar seria renhida entre o Bloco e a IL mas se fosse colocada uma mesa de voto só para as redações, a disputa pelo lugar cimeiro seria entre o PCP e o Bloco? Mas é mesmo assim?

Recentemente, Pedro Guerreiro (jornalista do Público) e João Zamith discutiam esta dicotomia “esquerda VS direita” sobre os artigos de opinião do Público. Zamith atirava que a opinião no Público estava dominada pela direita (João Miguel Tavares, F. Bonifácio, MJMarques, Paula Teixeira da Cruz, Francisco Mendes da Silva, etc) ao que Pedro Guerreiro recorda outros opinadores de esquerda (Mamadou Ba, Domingos Lopes, RT, JPP, Loff, etc). Estou a resumir o “bate papo” entre eles e não a transcrever ipsis verbis, só para avisar.

Já João Mendes tanto nos seus escritos no Aventar como nas suas intervenções nas Conversas Vadias como em tweets na sua página do Twitter, segue a opinião de que a comunicação social em Portugal é dominada pela direita e, mais recentemente, que o PCP está em desvantagem total nesta matéria por falta de comentadores nas televisões e jornais. Será que é mesmo assim?

Não é alheia a esta choradeira da direita e da esquerda sobre a comunicação social o mais recente deboche com o Chega. Ou seja, desde a noite eleitoral das legislativas temos assistido a um corrupio de eleitos do Chega nas televisões a opinar. A coisa dá audiências e as televisões não se fazem rogadas. 

Posto isto, a direita domina a comunicação social? Ou é a esquerda que interpreta esse papel na perfeição?

Se formos olhar apenas e só para os detentores das empresas de comunicação social, até podia ser verdade que é a direita que manda. Só que não é bem assim. Não me vou socorrer do exemplo de Pinto Balsemão, é demasiado óbvio. Mesmo sendo o proprietário do grupo Impresa, fundador e militante do PSD (militante nº1, por sinal) não me parece que o PS ou o Bloco ou o PCP tenham grandes razões de queixa. Se formos olhar para o grupo Media Capital e em especial para o seu acionista principal por estes dias, Mário Ferreira, não estou a ver qualquer relação de causa/efeito para que se afirme que a Media Capital seja “de direita” no seu alinhamento informativo. E o mesmo se diga quando no tempo em que a empresa era detida pelo mesmo grupo do “El Pais”, cujas afinidades ideológicas com o centro esquerda espanhol eram bem conhecidas e assumidas, em relação a qualquer tipo de “tendência” esquerdista dos seus meios de comunicação social. E nos jornais diários? A mesma coisa. 

Depois temos as redações e os jornalistas. Aqui, a percepção que existe é de um domínio da esquerda. Será assim? Será que depende dos casos? A esta altura a “esquerda aventar” já está a gritar a plenos pulmões “OBSERVADOR, OBSERVADOR”. E a “direita aventadora” já esperneia com “PÚBLICO, PÚBLICO, DN, DN, JN, JN, TSF, TSF”. Haja calma.

Esta discussão interminável estilo Porto VS Benfica no tocante aos árbitros e aos poderes do mundo da bola é em tudo similar. Sim, a discussão sobre quem é mais beneficiado ou prejudicado, se a direita ou a esquerda nos meios de comunicação social é a mesma das discussões do pontapé na bola. A mesma. Aos olhos da direita as redações são dominadas pelo Bloco e pelo PS. Aos olhos da esquerda os meios de comunicação social são dominados pela direita. Afinal, em que ficámos?

A razão para tanto ruído é simples. Depende dos olhos de cada um. Vamos ser justos. Se analisarmos com muita atenção e ao pormenor as coincidências entre militância no Bloco e no PCP e alguns jornalistas das diferentes redações e compararmos de igual forma com os partidos de direita, a coisa fica inclinada para a esquerda. Se esse exercício for executado no tocante aos detentores dos órgãos de comunicação social, já a balança inclina para a direita. Mas esse exercício é correcto? Na minha opinião é desnecessário e pura perda de tempo. Será sempre uma discussão interminável ao nível da da galinha e do ovo. O mesmo se diga quanto ao painel de comentadores dos diferentes órgãos de comunicação social. Temos de tudo. Sendo que cada um deles terá a sua agenda, uma agenda que nem sempre é coincidente com a do seu partido ou da sua ideologia. O PSD é disso um excelente exemplo: Marcelo ontem e Marques Mendes hoje são mais demolidores para as lideranças do PSD do que quaisquer outros comentadores. E o mesmo se diga, por exemplo, de Sérgio Sousa Pinto para o PS. Já para nem falar de Pacheco Pereira cuja sua agenda anda quase sempre às avessas com a do seu partido. De qualquer forma, a “esquerda aventadora” continua ali a gritar a plenos pulmões “OBSERVADOR” e até podia estar carregadinha de razão. Mas não está. O Observador sempre disse ao que vinha. Nunca escondeu. Só os desatentos é que não sabem que o Observador é de direita. É o Avante do centro direita e da direita ocupando o espaço anteriormente do jornal “O Diabo” mas em versão light. Modernaça. 

Mas, e a eventual falta de comentadores do PCP? É uma falsa questão. Em primeiro lugar é necessário saber quem o directório do partido aprova para o papel de comentador. Sim, o PCP rege-se por regras internas muito próprias. Depois, é necessário saber se essas imposições são aceites pelos OCS. Quantos convites são feitos e quantos deles são negados? Quantos já foram às televisões e não conseguiram convencer os responsáveis nas respectivas redações? É que o PCP é um caso bem mais complexo do que os guerrilheiros do twitter imaginam. Além disso, não me parece que o PCP se queixe muito dessa pretensa falta de “comentadores” nos meios de OCS. Aliás, a esquerda não comunista lembrou-se agora dessa suposta falta. Seria melhor, porventura, começarem por perguntar ao PCP antes de começarem a disparar a tudo o que mexe. Provavelmente teriam uma surpresa. 

Agora, não me peçam para entrar na batalha das listas. Não vou estar aqui num exercício de colecionador de cromos procurando provar que existe equilíbrio ou não. Em primeiro lugar porque seria indelicado para qualquer dos “cromos” em causa e em segundo lugar porque seria inútil, parafraseando o nosso Fernando Nabais, temos sempre calimeros em qualquer dos lados da barricada. 

Para finalizar, temos a questão do Chega. O deboche televisivo dos últimos dias é disso um bom exemplo. Aqui estamos a falar de coisa diferente. O Chega, que se saiba, não domina as redações, bem pelo contrário. Nem os conselhos de administração dos OCS. Então, que raio se passa? É a percepção do mercado. Existe a ideia, não sei se correcta ou não, que a coisa dá audiências. Já votos sabemos que deu qualquer coisa na ordem dos 7% e 300 e tal mil almas. Mas parece que dá audiências televisivas. Ok, vamos então entrar na bolha. A bolha olha para o seu grupo de amigos, para as conversas dos seus grupos nas redes e “bota” logo sentença: o Chega dá audiências porque está tudo a falar do Chega. Ora, o Pornhub também tem umas audiências do caraças e não é por isso que as televisões vão desatar a transmitir os filmes da Paris Hilton. Mas na bolha….Só que é preciso olhar bem para as audiências dos canais de notícias da Cabo. Se olharem com atenção vão ter a mesma surpresa que eu ao olhar para as vendas mirradas do Público ou do Jornal de Notícias. É verdade. E se dentro destas audiências forem ao pormenor do que lidera dentro de cada um deles, vão descobrir que nada bate a PornBola, sim, os programas de discussão do pénalti e do VAR. Com algum trabalho os comentadores ainda ficam a saber que as suas audiências no twitter ou no facebook são bem mais robustas que aquelas da Cabo. O Chega é a nova moda, uma espécie de freak show do momento. A reação das redações à coisa faz lembrar o sucesso repentino dos primeiros cinemas de pornografia no Portugal pós 25 de Abril. Só que, como tudo deste género, é coisa que dura pouco. Mas enquanto durar, vão espremer a teta da vaca até ao fim. Para desespero dos democratas e excitação dos directores de informação. 

Comments

  1. Joana Quelhas says:

    Em Portugal não existe nenhum partido de estrema direita.
    BE + PCP + JMendes e outros opinadores aqui do blog , estão tão à esquerda que qualquer outro lhes parece extrema-direita.

    Joana

    • Paulo Marques says:

      Um partido em que um terço dos deputados tem problemas com a justiça é o quê?

  2. Paulo Marques says:

    Invés da contagem de cromos, ou do clube com mais comentadores, o que interessa é quantas vezes passa sem contraditório, e para que público-alvo, coisas como “direito à greve, mas”, “direito ao trabalho, mas”, “reformas modernas é privatizar e subsidiar”, “gestor do mês que daí a 10 anos vamos pagar os cacos”, “ai, quem podia ter previsto que a privatização da água daria em desperdício e contas altas” e por aí fora. Ah, bom e os tais 100 quintiliões de mortos pelo comunismo e o paraíso na terra que podiam ser Cuba, Afeganistão, ou qualquer outro país que diga não ao sistema; com a excepção da China, parceiro demasiado importante e exemplo demasiado grande de que a história não acabou.
    O resto é fait-divers a fazer de pluralidade, em que a esquerda cai a discutir o acessório, ou, pelo menos, a manter-se pelo assunto do dia.

  3. Rui Naldinho says:

    Um bom artigo sem ser pretensioso. Contudo eu alinho com a teoria do João Mendes.
    Não basta fazer a contabilidade entre comentadores de um lado ou de outro. Seja nas televisões, seja nas rádios, seja nos jornais. É necessário enquadrá-los no programa onde se inserem. A hora, por exemplo, e já agora, o canal.
    Marques Mendes e Paulo Portas estão ambos em dois canais generalistas, de sinal aberto, ao domingo à noite, depois do Telejornal, na sua preleção. Sendo canais generalistas com difusão nacional gratuita, abrangem um leque de audiências muito superior, por exemplo, a Francisco Louçã, na sexta feira à noite, que está na SIC Notícias, um canal por cabo com difusão mais limitada. Ainda por cima num dia onde o pessoal quer é a movida da noite.
    Aliás o actual PR é o melhor exemplo disso. Se ele fosse comentador na TSF, já o foi em tempos, não tinha nem de perto nem de longe o élan que teve aquando da sua candidatura a presidente. Com a vantagem do seu antecessor fazer sobressair algumas das suas qualidades, a inteligência. A TVI foi a sua tampa de lançamento.
    Se eu escrever um artigo no Expresso, o semanário de maior tiragem nacional, tenho muito mais impacto em termos de difusão, do que fazê-lo só no DN, lido em Lisboa, ou no JN, lido a Norte. Mais, apesar do grupo de Comunicação ser o mesmo, se o meu artigo escrito, semanal, for no JN, tem quase de certeza mais leitores, do que no DN, uma vez que o matutino de Lisboa concorre com o Correio da Manhã e o Público. Já o do Porto só concorre com o jornal do grupo Sonae.
    Não é só o Observador que é direita. O Correio da Manhã, o “I”, o SOL, o Diabo, a Sábado, são tudo revistas de tendência liberal e conservadora. Não é pelo facto do Pacheco Pereira escrever na Sábado, que a revista passa a ser de esquerda. Nem é pelo facto da Joana Mortágua escrever no “I”, que o jornal passa a ser equidistante em termos políticos do poder.
    Muito haveria de se escrever sobre este assunto, incluindo sobre os directores de jornais. Partiríamos muito pedra, e mesmo assim esgrimir-se-iam argumentos de um lado e de outro.
    A mim só me satisfaz uma coisa. As redes sociais com todos os seus defeitos, com toda a sua selva, acabaram por tornar os jornais, não todos, mas uma as boa parte deles, irrelevantes.
    E estas eleições demonstraram essa evidência.

  4. JgMenos says:

    A questão tem um outro fundamento crítico.
    Para esquerdalhada a via informativa Big Brother é a única que a satisfaz:
    – Chavões inexplicados ou inexplicáveis: igualdade, dignidade, direitos, exploração, 1%/?%, democracia ‘avançada’, cerca sanitária…
    – Rótulos para quem não se contenta com semelhante dose e expões razões e críticas: nazis, fascistas, dependentes do Estado (se produzem alguma coisa), exploradores, vendidos ao capital, rentistas,…

    Ora os jornais precisam de preencher páginas e as televisões tempo de emissão.
    Ora, uma mentalidade vocacionada para cartazes e gritaria, dificilmente cumpre os objectivos dos mídia e os leitores e espectadores, às primeiras linhas e aos primeiros acordes logo advinham o que se segue.

    O resultado é que a precepção é a de que a realidade se faz pela operação de valores de direita, e a esquerdalhada acena para algo de que o único vestígio é a voracidade do estado e a sua imensa máquina de serviços que em grande parte existem porque cria as condições de que se tornem ou se digam necessários.

    • POIS! says:

      Pois ficamos a saber que, para JgMenos…

      “dignidade” é um “chavão” inexplicável.

      Pelo que a falta de dignidade alarvemente exibida pelo dito está perfeitamente explicada!

      • JgMenos says:

        « Chavões inexplicados ou inexplicáveis»
        Ficamos a saber que és o bardino do costume.

  5. Ana Moreno says:

    Concordo com o João Mendes e não ando a ver de que partido são os comentadores. Aliás, é difícil aguentar os programas, com os quilos de publicidade que passam. A qualidade das análises e as ideias subjacentes ao que se comunica é, no grosso dos casos, rasteira. Falam de seca, mas rarissimamente a relacionam ou enquadram no brutal aumento da agricultura de regadio que está a contribuir para agravar a seca – além de dar cabo da biodiversidade, minar os solos… As notícias são dadas, por vezes, sem sequer dizer do que afinal se trata. E isso, sim, serve a direita – que se alimenta de ideias e frases feitas sem substância, tão plausíveis quanto carentes de prova.

    • JgMenos says:

      Assegura-te Aninhas que não tragas ao dependuro das orelhas, dos pulsos ou a enfeitar dedos e pescoço, nada que tenha por origem o minerar dos solos, essa prática de direita extrema, que aqueceu os pés à tua avó!

      • Joana Quelhas says:

        JgMenos,
        As “Aninhas” sofrem de Paralaxe Cognitiva, na sua forma aguda.
        Analisam a realidade como se não fizessem parte dela.
        Isso permite-lhes ascender à superioridade moral para tudo criticar “os outros”.
        O problema é sempre os outros…
        Que nunca chegue o dia em que falta o produto “biológico”.

        Joana Quelhas

        • Menos&Quelhas SA says:

          Que rico casalinho.
          Com que então, hoje resolveram vir à parelha?

        • POIS! says:

          Que espectáculo magnífico! Venham todos ver, malta!

          Uma vesga cognitiva a falar de paralaxe cognitiva a um amblíope cognitivo!

          Colossal!