Dar colo ao bebé

Ainda alguém me há-de explicar, com racionalidade e argumentos sólidos, por que razão é que o líder da extrema-direita tem direito a tanta exposição mediática nos órgãos de comunicação social deste país.

Afinal, não precisam de me explicar, a resposta é simples: dá audiências. Tanto os que gostam da besta como os que a detestam, são encantados com notícias e entrevistas visando o Chega e seu “querido líder” e nem todos podem ser como eu, que quando vê a cara do homem ou ouve a sua voz, corre para o comando da TV para mudar imediatamente de canal. É um sentimento tão visceral que sou incapaz de manter o “gajo de Alfama” no meu raio de visão ou de lhe dar a oportunidade, nem que seja por um segundo, de me rasgar os tímpanos com a sua voz.

Resumindo, porque já abordei este tema e explanei a minha opinião, o Chega não é um fenómeno político. O Chega é um fenómeno televisivo e, por conseguinte, é um fenómeno de audiências. E não, nem todos são pequeno-burgueses como eu e, como tal, a maioria do país ainda passa muitas horas em frente à televisão, o que faz com que este encantador de antas chegue a casa de muita gente. Portanto, o Chega cresce porque lhe dão palco de forma desmesurada face à sua real importância. Nasceu na televisão, mora na televisão e há-de continuar a ser alimentado pela televisão. É a consequência da mercantilização do jornalismo.

E não é aqui dito que um partido com representação parlamentar (e a sua fundação e existência é outra estória) não deva ter audiências. Mas numa altura em que anda tudo a falar do “crescimento do populismo” e do “combate contra a extrema-direita”, convinha, se calhar, por começar a não ser um veículo para as mensagens da extrema-direita que tanto dizemos querer combater. O aldrabão-mor conseguiu ter apenas cerca de 40 minutos a menos de exposição do que, imagine-se, o primeiro-ministro. Acima do presidente da República. E, pasme-se, o PCP é o único partido que nem sequer aparece no top 10. Se calhar, neste ponto, aqueles que tentam equiparar o Chega ao PCP (e até ao Bloco, que consegue um 8.o lugar), deviam começar por tentar dar mais audiências a BE e a PCP… pelo menos para tentarmos aferir se essa equivalência é, como é, estúpida.

Continuem, portanto, a alimentar o monstro. E ele continuará a crescer.

Ser ou não ser (um populista)?

Polígrafo entrevista André Ventura

Fotografia: Micaela Neto

O Polígrafo entrevistou André Ventura.

Quando soube disto, achei um absurdo um “fact-checker” estar a dar ainda mais palco à extrema-direita, sentimento reforçado quando me lembrei que, segundo o próprio Polígrafo, o líder do Chega foi o político que mais mentiras acumulou em 2022.

Depois deste impulso, fui ler a entrevista. E só tenho de dar os parabéns à Salomé Martins Leal pela condução da mesma, pois fez o jornalismo que já há muito era exigido que se fizesse ao wannabe Bolsonaro cá do burgo, o Bolsonaro da Wish, como uma vez lhe chamou o meu amigo João Mendes. Assertiva, fez perguntas directas e incómodas, encostou o pequeno proto-ditador à parede várias vezes, não o deixando fugir a algumas perguntas e deixando que este se emaranhasse na dualidade do seu próprio discurso. Um must.

Dir-me-ão: “sim, ó João, mas isto só dá mais palco à extrema-direita e pode ser um catalisador para os fazer crescer”; eu respondo-vos que não discordo da sentença, mas que entre deixá-los crescer sozinhos de qualquer forma (sim, a realidade é essa) ou fazer-lhes frente apresentando contraditório, eu preferirei sempre a segunda opção.

Quando alguém quiser voltar a entrevistar este moço de recados do capital reaccionário, recomendo que leia a entrevista e que aprenda alguma coisa com o trabalho que a jornalista Salomé Leal fez; terão muito a aprender. Fica um aperitivo: ao que parece, a IURD, esse antro de bons rapazes, financia o Chega.

Nota para a frase escolhida para ilustrar a primeira parte da entrevista, dita exactamente dessa maneira por André Ventura, que tropeçando nas próprias palavras admite, por mais do que uma vez, que sabe que mente em muitos assuntos.

Entrevista do Polígrafo a André Ventura: 

  • Parte 1: “Eu não minto para ganhar votos”

  • Parte 2:“Não gosto de coisas ilegais. Acha que devemos aceitar pessoas ilegais cá?”

Propor soluções fáceis para problemas difíceis: não é assim que funciona

Não, não é. A castração química não resolve um problema: não resolve a pedofilia. Porquê? Porque nem todos os pedófilos consumam o acto sexual em si, até porque quem pratica a pedofilia tem um problema do foro psicológico que se apresenta como um desvio sexual. Sem querer entrar em pormenores desnecessários, um pedófilo não usa, necessariamente, a penetração como forma de violar alguma criança, pois a pedofilia é mais do que o acto sexual consumado. A castração não retirará o impulso ao pedófilo, que sendo um doente mental, continuará a sê-lo mesmo que castrado. Ou seja: castrar pedófilos não impede pedófilos de o serem, nem tampouco acaba com a pedofilia.

Exemplo: nos países onde existe castração química de pedófilos, continuam a haver crimes de pedofilia.

A solução? Haver mais e melhores redes de captação destas práticas, aposta na prevenção, ensino da sexualidade para que tantos meninos e meninas se saibam defender quando expostas a este nojo, aposta na reabilitação através da aposta na saúde mental. Demora mais, custa mais dinheiro, mas tenho a certeza que será mais eficaz do que propostas avulsas vindas de populistas que, pasmem-se, passam a vida penetrados nas Igrejas (no pun intended).

Propor a castração química de pedófilos como solução mágica para acabar com a pedofilia, seria o mesmo que propor o corte de mãos a quem rouba (o que já foi, aliás, sugerido pelo líder da extrema-direita) ou a lobotomia a quem assassina. Tal como tudo o que rodeia a Igreja, a extrema-direita ainda vive na Idade Média.

Tenho outra ideia: castrar políticos que têm ideias estúpidas.

Para combater o populismo, usemos factos: “Pedofilia: estudos confirmam reincidência baixa”

Duplas personalidades

Ouvir Augusto Santos Silva (ASS) dizer que esteve sempre “empenhado na defesa da democracia e da liberdade”, quando o mesmo foi um dos maiores bastiões dos governos de José Sócrates e dos que mais tentou, desde sempre, impedir a esquerda parlamentar de ter poder de decisão, confesso, fez-me rir muito. Isto, claro, para lá do espectáculo de circo com fogo de artifício entre Partido Socialista e Chega na Assembleia da República, onde ASS tem sido dos maiores protagonistas e que vocês, ingénuos, tanto aplaudem.

Santos Silva é a cara chapada do PS neo-liberal, nunca o escondeu, nunca disso se envergonhou e não será agora, depois de se tornar numa estrela de Hollywood da Assembleia da República, que isso mudará. Ver-vos aplaudir alguém que sempre abominou a esquerda parlamentar e o socialismo dá-me gozo e náuseas ao mesmo tempo.

O Chega é o seguro de saúde do PS que, por entregar 40% do orçamento da saúde aos privados, depende agora da extrema-direita para alcançar o monopólio do eleitorado. Um não vive sem o outro e é por isso que andam de mãos dadas desde Janeiro.

E ainda dizem que o romantismo morreu!

Tortilha de direita

O CHEGA quer governar o país, mas depois não sabe a diferença entre o 25 de Novembro de ‘75 e o de ‘76 e ainda equipara a data dos reaccionários ao 25 de Abril.

A Iniciativa Liberal quer governar o país, mas depois diz que em 1949 Portugal pertencia ao “mundo livre” e ainda troca a bandeira da Polónia pela da Indonésia.

Direita muito torta, esta.

Fotografia: jornal Expresso

Corno-de-ferro: encontros inesperados ao fim-de-semana

Eu andava a pé. Era Sábado e a minha hora de almoço aproximava-se.

Decidi que almoçaria no snack-bar que fica na rua das traseiras do prédio onde vivo. Nessa rua, sem saída e mal amanhada, despontam uma dúzia de casas camarárias sem condições, onde vivem dezenas de pessoas, trabalhadoras, homens e mulheres com filhos e pais.

Tenho ouvido muito falar de bairros sociais e Mercedes à porta. Tenho pensado nisso e, sempre que passo por um/entro num bairro social, fico alerta: deixa cá ver onde estão todos os Mercedes de que fala aquele líder da extrema-direita… [Read more…]

“Deus, Pátria, Família… Trabalho”, segundo André Ventura

Deusaquela vez em que decidiu invadir um funeral para se deixar fotografar para os jornais. Muito católico, não haja dúvida.

Pátriaaquela vez que Ventura foi a um comício do Vox gritar “Viva a Espanha!, Viva a Espanha!”, num portunhol que, para portunhol, estava muito mal amanhado. Muito patriótico, sem dúvida.

Família – o líder do Chega, casado com uma catequista e sendo ele mesmo um ex-seminarista, não tendo sequer filhos (se descontarmos a coelha como herdeira) é, sem dúvida, o melhor porta-voz do ideal de família.

Trabalho – apologia feita pelo líder partidário que mais vezes faltou ao seu trabalho.

Era uma vez um maneta que dizia que o mal do Mundo estava em todos terem mãos.

As 1001 mentiras de André Coisinho e os Liberais a aproveitar o restolho

André Ventura foi ao Twitter dizer que, qual mártir da honestidade, abdicou do salário de deputado municipal “com enorme desapego”, cargo para o qual foi eleito nas últimas autárquicas.

Acontece que tal é impossível, pois o salário de deputado municipal…não existe. Pessoalmente, também não costumo ter apego por aquilo que não existe. Mas isso sou eu, um patego!

Não ter um pingo de vergonha na cara: lição 2348

Noutra notícia, nada relacionada: então parece que a Iniciativa Liberal quer pescar no Chega? Sabemos que a extrema-direita é o Plano B do Neo-liberalismo. Só não sabíamos que iria ser tão rápido.

João Cotrim Figueiredo, em declarações à LUSA, aqui citadas pelo pasquim da Manhã

Quando o Pai – que é como quem diz, o PSD – espirra, os filhos – que é como quem diz, o CH e a IL – constipam-se. E tudo isto com o primogénito – que é como quem diz, o CDS – em fase terminal num Hospital Privado. 

Calaça

“No fim da segunda sessão legislativa da XIV legislatura, o grupo parlamentar com mais faltas por deputado é o Chega, com 17 faltas. (…)” 

Uma pergunta retórica.

O reino do André ‘Sanguessuga’ Ventura

Imagem retirada do Instagram do O Polígrafo.

André Ventura, Imperador do CHEGA! e pau-para-toda-a-obra no que ao populismo da extrema-direita diz respeito, recebeu duzentas e vinte cinco vezes mais de subvenção estatal do que uma família de etnia cigana (dois adultos e uma criança) recebem de rendimento social de inserção. Repito, em números: 225 vezes mais! DUZENTAS E VINTE CINCO VEZES MAIS. [Read more…]

Se parece um pato, nada como um pato e grasna como um pato, então provavelmente é um pato

Agora, já não se escondem.

Podem dar as voltas que derem, dizerem-se anti-sistema quando são, há muito, a escória do sistema, mudarem programas políticos de ano em ano, mudarem o sentido de votação três vezes no mesmo dia; já não enganam ninguém.

A extrema-direita é isto. É ódio, é violência, é ignorância. A extrema-direita é igual em todo o lado e já esteve por todo o lado. A única coisa que surpreende, ainda, mesmo não surpreendendo, é a incapacidade do Ser Humano de aprender com os erros passados. Somos, sem dúvida, a única espécie que tropeça vinte vezes na mesma pedra.

Depois dos ataques à sede da SOS Racismo, depois das ameaças a deputados e deputadas da AR e a activistas sociais, depois de um programa, mais maltrapilho que programa, a defender a extinção do Estado Social e com tiques pidescos, das incitações à desordem, das “sugestões” de deportação de cidadãos portugueses, das máfias e dos dePaços desta vida, já não enganam ninguém. [Read more…]

Quem quer casar com a Venturinha?

“Atrás do mel correm as abelhas”

O liberalismo, agora, já é fascismo maquilhado?

Ou será que o Cotrim se vai maquilhando para seduzir o amigo saudosista achegado e, desta forma, convencer o homem dos derrames cerebrais que comanda o PSD a, futuramente, formar Governo? [Read more…]

O tribunal declara: arrependa-se!

«Eles apelam a um nacionalismo racial. E é um apelo quase velado, se é que é velado. Parece familiar?»