Mário Soares: «Cavaco não é de Direita e pode causar surpresas»

UMA ENTREVISTA HISTÓRICA AO «LA REPUBBLICA»*

«Como homem e como político, Cavaco Silva não é de direita e poderá reservar algumas surpresas», afirma Mário Soares, em entrevista publicada no jornal «La Repubblica», de Roma. A entrevista foi feita pelo enviado do jornal a Lisboa, Sandro Viola. (…)
Viola afirma ter achado Mário Soares «sereno e bastante optimista» e cita o presidente português como tendo negado que «a espectacular vitória do PSD e de Cavaco Silva constitua um perigo para a democracia, como vêm repetindo os comunistas e alguns expoentes do Partido Socialista.
«Trata-se de uma derrota das esquerdas, mas não me parece que tenha sido uma derrota da democracia», argumenta o presidente.
Na opinião de Viola, a atitude de Mário Soares em relação a Cavaco Silva «é de estima». [Read more…]

There’s no business like show business

Peter Lorre (1904-1964) foi um grande actor, embora nunca tenha conseguido dar o salto para os papéis principais.

Depois de uma longa carreira em Hollywood, que era, já por essa altura, o centro da indústria cinematográfica, ressentiu-se do facto de não lhe concederem mais protagonismo, e decidiu voltar à sua Alemanha natal, onde esperava que a indústria de cinema local, consideravelmente mais pequena mas também mais criteriosa, reconhecesse o seu valor.

Mas o filme que co-escreveu e realizou na Alemanha, e que pretendia fosse o trampolim para uma nova fase da sua carreira, foi considerado demasiado depressivo e ultrapassado pelo público alemão. E a Lorre não restou outra alternativa senão regressar ao star system de Hollywood, devorador e ingrato, do qual se queixara e quisera abandonar, mas o único que lhe permitia ganhar a vida. Isto é, cumprir a sua arte.

Hollywood castigou-o com papéis ainda menores, deixando claro que não lhe perdoava.

Os mecanismos da memória têm coisas do arco-da-velha, não é preciso ser neurocientista para saber isso. A que propósito me haveria eu de lembrar do Peter Lorre quando lia o anúncio da candidatura de Manuel Alegre, não me dirão?

Presidente da AMI quer ser Presidente da República

Fernando Nobre, presidente da AMI, anunciou a sua disponibilidade para se candidatar à Presidência da República. É, como se sabe, um candidato não político, com invejável obra feita um pouco por todo o mundo. Ao contrário do meu colega J. Mário Teixeira, não creio que Cavaco Silva durma tranquilo, ou esfregue as mãos de contente. Fernando Nobre, penso, poderá aparecer como um cadidato transversal, capaz de ganhar votos à esquerda e à direita. Entendo que transporta consigo um capital de seriedade, de capacidade e de interesse por causas humanitárias e “justas”, capaz de mobilizar pessoas de vários quadrantes. Seja como for, é de saudar esta iniciativa surgida da sociedade civil. Como dizia o outro, já é tempo de mudar as coisas.

Estranhas manobras

O surrealismo lusitano, canta e ri, corre e dança, inebriante, vicioso, contagiante. Num carrossel contínuo que mal permite repor o fôlego. Tudo é informação, tudo é actualidade, e no entanto nada parece verosímil.

Dois episódios de ontem, deste carrossel:

1 – A escova de Francisco Louçã sobre os ombros de José Sócrates, no plenário parlamentar, em híbrido gesto de solidariedade para com o Primeiro-Ministro, acerca das escutas.

Não bate certo, algo está por trás disso. Talvez as presidenciais. Talvez.

2 – O estranho avanço de Paulo Rangel, numa sôfrega candidatura à presidência do PSD, a dividir um eleitorado com Aguiar-Branco, e a solidificar um outro eleitorado, o de Pedro Passos Coelho.

É uma candidatura tardia, incoerente e desleal. Imprópria para quem assumiu o compromisso de que ficaria no Parlamento Europeu, e que as excepcionais razões do actual momento político por ele invocadas, só servem de injusto atestado de incompetência a Aguiar-Branco.

Parece que o Norte continua a assustar as ditas elites do PSD, desde os tempos de Francisco Sá Carneiro.

Pedro Passos Coelho agradece.

Num inebriante começo de mês, estas são apenas duas voltas de um carrossel de estranhas manobras. Tudo à roda, sem tino ou razão.