Elon Musk, o Twitter e os outros

A tentativa “hostil” de Elon Musk tomar conta do Twitter tem sido tópico de discussões acesas. Podemos confiar tão poderoso instrumento de geração e partilha de informação a um homem só, ainda por cima tresloucado? Que ameaça poderá representar este homem, tão poderoso, com ainda mais poder?

É interessante assistir a esta discussão, quando o próprio Twitter tem, entre os seus accionistas, um príncipe Saudita e vários fundos abutres. Quando Bezos é dono do Washington Post e a grande maioria da imprensa mundial está nas mãos de oligarcas do bem. E mesmo que Musk tomasse conta do Twitter, que é uma empresa privada como outra qualquer, ainda ficaria a anos-luz de Mark Zuckerberg.

Qual será, então, a nova ameaça que o dono da Tesla representa?

Suspeito que nenhuma. Suspeito, aliás, que terá incomodado alguém com poder, para estar agora debaixo de fogo. Ou então é circo para entreter o povo, que se vai esquecendo que o essencial não é quem manda nas redes, mas a ausência de regulação sobre o imenso poder das tecnológicas.

Isto já não é o que era

Portugal, pátria do fado e da saudade, da nostalgia e do sebastianismo, da tristeza e da melancolia, de repente passou a ser optimista.

E, assim, começou a nossa desgraça.

Segundo a SIC Notícias, tal fenómeno é a primeira das duas razões para o Governo britânico ter retirado Portugal da famosa “Lista verde”: “a quantidade de optimismo aumentou muito”.

Já corriam uns rumores que os britânicos andavam desagradados com os portugueses que exibiam um optimismo e uma esperança irritantes. Até as letras dos fados que escutavam em Alfama, soavam a felicidade e alegrias insuportáveis.

Se Portugal quiser ter os turistas ingleses de volta, que arrepiem caminho: lamentem, chorem, entristeçam.

E para quem quiser perceber melhor este magnífico contributo de serviço público de informação prestado pela SIC Notícias, assente em tão criativa tradução das declarações do governante inglês, é só escutar o nosso podcast “Conversas vadias” que vai para o ar na próxima Segunda-feira (07/06/2021) às 22 horas.

Até lá, por via das dúvidas, chorem e lamentem-se, se quiserem os “bifes” de volta.

Da hiper-simplificação da realidade

 

@florencejimenezotto

Parece-me mais ou menos claro de que vivemos, actualmente, numa era de obscurantismo. Algo que a pandemia da covid-19 apenas veio agudizar. Esse obscurantismo nasce da forma como recebemos, tratamos e processamos a informação que nos chega sobre o mundo. Ou seja, esse obscurantismo nasce daquilo que é ser humano. A experiência do humano. Não sendo eu filósofo, antropólogo ou sociólogo, em princípio sou um humano, o que me permite dizer uma ou duas coisas sobre o assunto.

A experiência do ser (verbo) humano mudou radicalmente nos últimos anos com a introdução e massificação do mundo digital, nomeadamente das redes sociais. Como o próprio nome indica, a experiência social entre as pessoas alterou-se. Uma das diferenças que me parece mais clara foi o imediatismo que se gerou. Nasci em 1996. Se eu já achava que a minha geração e as suas “irmãs” eram pessoas de gratificações instantâneas, de pouco tempo de espera para alcançar um objectivo, o advento das redes sociais apenas veio intensificar essa situação.

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Informação versus Democracia

Não sou muito dado a teorias da conspiração, embora algumas façam pensar e outras sejam de uma criatividade digna de apreço.

Todavia, é interessante o facto da notícia da vacina da Pfizer, ter surgido logo após a confirmação de Biden como vencedor das eleições presidenciais dos EUA.

A tal vacina que Trump garantiu que iria surgir em breve, e que muita gente, na qual me incluo, gozou e zombou. E isso, não porque não se queria a vacina o quanto antes. Mas, pelo facto de que a palavra de Trump, por inegável mérito próprio, tinha o mesmo crédito do Pastorinho Pedro da fábula atribuída a Esopo.

É razoável pensar que se esta notícia tivesse surgido ainda durante a campanha eleitoral, Trump teria ganho uma credibilidade potenciadora de uma vitória, face à importância que teve na decisão dos eleitores, a gestão que a Casa Branca fez da pandemia.

Trump iria conseguir algo inaudito: credibilidade científica.

O mesmo Trump que zombou da ciência quanto lhe apeteceu, desde as alterações climáticas até ao uso da máscara.

Não seria de espantar, que a indústria farmacêutica tivesse decidido dar uma mãozita, ao derrube de um presidente que passou grande tempo do seu mandato num exercício de escárnio e mal-dizer, em relação à ciência e à comunidade científica. Num contínuo e execrável esforço de descredibilização, como foi seu apanágio.

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Os tempos e a percepção

Um dos mais dramáticos equívocos que circulam sobre alguns dos temas mais delicados que apelam, actualmente, à sensibilidade dos cidadãos, é o da convicção, que parece frequente, de “dantes é que era bom”, “noutros tempos não havia nada disto”. É, geralmente, falso e, muitas vezes, é criminosa e perversamente aproveitada essa falsidade. O problema da violência doméstica é um desses temas. Como se pode ser tão ignorante que se pense que há 20, 30, 40 anos ou mais tudo era melhor? Que raio de cegueira é esta? A quem aproveita? Na verdade, apesar da visibilidade mediática dos casos dos últimos anos, o que há de novo é a informação e, desde há pouco mais de dez anos, estatísticas razoavelmente fiáveis. [Read more…]

Podcasts – Informação (In)útil

“Num minuto, coisas que não interessam a ninguém, mas vai gostar de saber. Curioso, Nuno Miguel Martins procura histórias que fogem à rede das notícias.” Assim é descrito o podcast Informação (In)útil (RSS; sítio).

Neste episódio disserta-se sobre a identidade de Banksy. Noutro, o assunto é o “autor que ninguém conhece do quadro que todos conhecem.” De segunda a sexta na TSF, num formato agradável sobre pequenas coisas embaladas num tema musical.

O Ministério da Verdade informa

lm

É melhor que obtenham as vossas notícias diretamente do Presidente. Na realidade, pode ser a única maneira de terem a verdade nua e crua.

Por Lamar Smith, congressista republicano e presidente da Comissão da Câmara dos Representantes para a Ciência. Longa vida aos factos alternativos!

Good morning, God bless you and may Trump grab them by the pussy!

A minha está em baixo

… a bateria.

A prova não se vai realizar no dia 18

Outra vez a prova. Não é nem o Alfa, nem o Crato do nosso sistema educativo, mas é algo que está a mexer com a dignidade profissional, quer dos candidatos ao desemprego, quer dos professores dos quadros que olham para esta medida como uma enorme falta de respeito para com os professores, muitos dos quais com anos e anos de serviço.

Há muitas dúvidas sobre o enquadramento legal que a sustenta e por isso faz todo o sentido a dimensão jurídica que os sindicatos  decidiram desenvolver. Provavelmente, o recurso aos tribunais e as providências já aceites, irão impedir a realização da prova no dia 18. A não ser que hoje aconteça uma surpresa.

Parece-me também que a luta não se fará, no dia 18, através da falta dos avaliados. Esses, na minha opinião, têm mesmo que ir realizar a prova porque não acredito em lutas globais. Quem, no dia 18 (ou num outro qualquer dia), tem que se chegar à frente são os docentes dos quadros.

Obviamente, a GREVE anunciada pela FENPROF pode também ser um instrumento eficaz de combate a mais esta imbecilidade, mas a questão é mais complicada que isso. É que vigiar este tipo de acontecimento não faz parte do conteúdo funcional da profissão (artigo 35º). E, isto, é mais um exemplo da forma incompetente como estas coisas (não) são preparadas pelo Governo.

Pelo sim, pelo não, talvez seja bom estar atento, porque a humilhação não pode fazer parte do nosso dicionário profissional!

No entanto, a minha aposta é esta: dia 18 ninguém vai realizar a prova!

De Eduardo Cintra Torres

A cilada dos relvistas para controlar a informação.

A Internet entrou na nossa vida

Na revista 2 do PÚBLICO de hoje, um artigo sobre como a Internet entrou na nossa vida e como poderá ser daqui a dez anos: a Internet tornou-se num “meio privilegiado de troca de mensagens, partilha pública da vida privada, meio de organização colectiva, instrumento de ajuda à democracia e às ditaduras. Daqui a outros dez anos, ninguém arrisca dizer como será um meio que todos os anos se transforma de forma avassaladora.”

Uma das constatações de especialistas entrevistados pelo PÚBLICO, é que “perdemos a capacidade de afastar as distracções e de sermos pensadores atentos, de nos concentrarmos no nosso raciocínio” ou, dito de outra forma, “está a fazer-nos perder a capacidade de concentração e a tornar-nos menos reflexivos”.

Usamos a Internet para trocar mensagens e para namorar, repara a jornalista em conclusão.

Não é perda de tempo pensarmos nas vantagens e desvantagens da Internet. Eu, por mim, vejo mais prós que contras. A Internet permite, só para dar um exemplo, esta troca de ideias concordantes e discordantes entre os leitores e os autores dos artigos no Aventar. Entre gente que não se conhece pessoalmente mas que, há medida que o tempo passa, ganha o título de «familiar». Sem nos conhecermos, escrevemos «caro»; «cara»; «abraço». Por que fazemos isto?

Os leitores poderão ajudar nesta reflexão!

Sem notícias

Mais uma ideia maluca, à Céu Mota. E se, de um dia para o outro, optar por não ouvir, ler ou querer saber o que se passa no meu país e no mundo? Não comprar o jornal, mudar de emissora de rádio quando viajo de carro, não ver as notícias na TV, etc.?

Nas férias não é difícil, mas prolongar essa escolha para o resto do ano?

Será alienação? Indiferença? Como será viver sem tanta informação?

Por todos os lados ela nos chega. Tanta, que ficamos imobilizados… sem saber para onde nos virar, sem conseguir filtrar e assimilar. Ficamos loucos. Não agimos.

Provavelmente, escreveria menos no Aventar…

Não há como experimentar!

Pestilência

Este meu regresso às publicações, à bica de ir parar à lista de ex-autores, não acontece pelas melhores razões. Porquanto se reconduz a uma necessidade premente que os últimos dias criaram em mim. Em mim enquanto cidadão e em mim enquanto homem do Direito. De ver este país, afundar-se dia-a-dia na pestilenta insalubridade. E um claro exemplo desse afundanço é a constante, selectiva e cancerosa praxe da manipulação da investigação criminal. Que ainda agora se manifestou com toda a sua desfaçatez e impunidade, como tradição se tornou. Após dias de cerco ao ministro Miguel Relvas, eis que da investigação criminal, surge, mais ladino que um coelho em fuga de uma qualquer cartola, um relatório mandado fazer e feito não se sabe por quem, em que António Costa e Ricardo Costa são dados em esquemas de obtenção e aproveitamento de informação altamente classificada. Em plena pressão sobre o PSD, um estouro para os lados do PS para compensar as coisas. É que não há qualquer falta de vergonha no modo em que nas ditas grandes investigações, se sucedem as cirúrgicas fugas de informação para a comunicação social. Nenhum agente de investigação criminal é responsabilizado, nenhum responsável pela investigação tem de prestar contas. Tudo acontece no mais impune, abjeto e protector anonimato. Acontece de modo inexorável, não importa quem manda. Porque só as moscas vão mudando. Até ao dia em que o país perceber, de vez, que o que é preciso é mesmo livrarmo-nos da peste.

Entrevista de Umberto Eco – 80 anos de futuro

Nos últimos dias do ano passado, a revista Brasileira Época, do Universo da Globo, publicou uma Entrevista com Umberto Eco, onde, entre outras coisas, o autor e pensador reflecte sobre a Internet e o seu papel como instrumento pedagógico:

PROFESSOR O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual (Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis

PROFESSOR O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual (Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis

“A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes. “

Leitura obrigatória.

Informação? Não queriam mais nada…

O pior governo de que há memória na democracia portuguesa, dirigido pelo primeiro-ministro mais irresponsável e manipulador de sempre, não podia ir-se embora sem causar mais prejuízos ao país do que aqueles que, por inépcia, arrogância e falta de sentido de realidade, havia já causado, justificando a presença da troika em Portugal .

O apagamento de informação dos computadores dos ministérios das Finanças e da Economia é, no mínimo, pura má-fé e presta-se a todo o tipo de especulações. O que haveria, afinal, de tão importante cujas pistas tivessem de ser apagadas? O que se pretendeu ocultar?

Isto, claro, para além do óbvio: mais um prejuízo gratuito, mais gasto público, mais trabalho desbaratado, menos eficácia e transparência. Iguaizinhos a si próprios até ao fim.

Consumir… jornalismo?

Nos últimos dias e a propósito de uma capa do Jornal “A Bola” corre uma histeria mais ou menos generalizada pela blogosfera, seja lá o que isso for.
Assinalo com surpresa alguns dos argumentos porque servem apenas quando dá jeito.
Não vou defender o jornal. Nada disso! Sou sócio do Sport Lisboa e Benfica e não compro aquilo há anos.
Parece-me que as coisas são, nos tempos que correm, muito simples – vivemos numa sociedade de consumo e há empresas que colocam um produto no mercado. Iogurtes, bananas, telemóveis, calças, jornais, informação, filmes…
Eu, consumidor, escolho – consumir ou não consumir é a nossa opção. Não vou começar a escrever um post de cada vez que um produto é mau. Teria certamente muito que escrever…
Já viram as páginas, muitas vezes a primeira, que o JN ou o DN fizeram com o governo nos últimos anos? Ou as primeiras páginas do Expresso? Ou…
Podemos, devemos, temos que analisar criticamente tudo o que acontecer, mas será que nos tempos que correm a liberdade não é também isto?
As empresas de jornais (comunicação social?) existem para dar lucro ou não?
Porque é que há jornais que fazem uma capa para Lisboa e outra para o Porto?
Porque é que há jornalistas impedidos de ir aqui ou acolá?
Porque há quem pense ser possível limitar a liberdade de imprensa. Não é. E ainda bem, até para que possam surgir maus exemplos como é o caso da capa de que se fala.
A liberdade de opinião e os tempos modernos são isto mesmo. Cada um come o que quer.
Uns, com espírito crítico afinado, preferem comer apenas aquilo que cai no prato…

Big Brother da mina: E depois da saída?

O ‘big brother’ global em que se transformou a operação de salvamento dos 33 mineiros chilenos soa a um tradicional ‘dejá vu’. O uso do pleonasmo é aqui propositado. Só assim se pode comparar à mega transmissão do que se passa na mina de San José.

A chegada à superfície de cada um dos estafados homens foi relatada em detalhe. Um a um, com todos os detalhes. Nome, idade, estado civil, número de filhos, doenças existentes, as funções e a biografia. São heróis, claro. Merecem todo o destaque. Quantos dos heróis de pacotilha do mundo em que vivemos seriam capazes de superar o que eles superaram? Com aquele sacrifício…

Sejamos honestos. A cobertura informativa foi feita desta forma porque prometia ser um espectáculo. Cheio de emoção, que, no fundo, é aquilo que anima as nossas vidas. Eles merecem.

A dúvida reside no depois. Depois da saída, depois dos primeiros dias, depois de contadas as histórias, depois de feitas as reportagens, os documentários. O que será depois?

Na televisão ouço falar em milagre, em homens que nunca mais serão esquecidos. Será assim?

Excesso de informação ou quando o trigo é ainda demasiado para se consumir tudo

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O problema não é novo mas ameaça agudizar-se. Somos cada vez mais vítimas do excesso de informação. Vítimas mas também criminosos, quando nos colocamos na situação de produtores de conteúdos.

Todos os dias consumimos e produzimos muita informação. Sejam notícias lidas em jornais e revistas, de papel ou online, publicações de episódios da vida de ‘amigos’ no Facebook ou outras redes sociais, além de comentários a fotografias, dos vídeos que partilharam e demais informações, tweets da comunidade que ‘seguimos’, post em vários blogues, sejam dos informativos ou opinativos.

Todos os dias, a todas as horas, produzem-se milhões de conteúdos novos. Acompanhar tudo é impossível. Claro que a primeira tarefa é separar o trigo do joio. O problema está em quando mesmo o trigo que resta é demasiado para ser consumido.

Jornal de quê?

Capa do JN (07-07-2010)

Parece que se chama “Jornal de Notícias“.

E parece que ninguém duvida da sua história, grandiosidade, rigor e influência no panorama da imprensa nacional.

Eu, pelo menos, não duvido. Ou melhor, não duvidava. É que a ver pela capa da edição de hoje, pergunto-me quais os critérios de selecção das ditas “notícias”.

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O vício da actualidade

Da comunicação social às conversas de família, da blogoesfera às redes sociais, a actualidade domina. E o seu domínio, ao ritmo avassalador a que se tem acesso à informação, mal permite reflectir.

Até hoje não fui capaz, em consciência, de escrever sobre o PEC por uma razão muito simples: não o li.

Obviamente que o facto de não se conhecer algo de forma directa não é, hoje em dia, impeditivo de se ter opinião. Mais: de se expressar opinião. Lemos algo aqui, algo ali, algo acolá, e pronto: segundo linhas escritas por diversos punhos, aí estamos, também, nós a escrever umas linhas sobre a matéria. Não importa qual.

Com tanta informação com que somos bombardeados dia-a-dia, hora-a-hora, acabamos por começar a ficar como que imunes, a apesar das tragédias, das catástrofes, dos escândalos. Ora carpimos mágoas ora vociferamos. Tal como aquele que insulta repetidamente um árbitro durante um jogo de futebol porque não pode fazer o mesmo ao patrão ou a um qualquer político. Porque na prática, a saturação de informação leva à banalização da opinião e, pior, das razões. Protesta-se, denuncia-se e acusa-se, mas o que resta é o sabor desconcertante de que nada muda. E ninguém pode dizer que é por falta de informação. Pois não é.

Já há algum tempo que tenho vindo a afastar a minha escrita da actualidade. Pelo menos daquela que é tão efémera quando as circunstâncias ou as conjunturas que a produz.

A actualidade vicia, ao ponto de não passarmos sem ela. Duvido seriamente se boa parte da blogoesfera fosse capaz de escrever sem ler, de publicar sem se “actualizar”. Duvido.

A verdade a que temos direito

O boneco que se vê aqui por cima, é o outrora famoso “Zé Ferrugem”, figura de banda desenhada que animava o jornal “O Diário”, afecto ao PCP. E naquela figura  – que no seu original se trata de um autocolante de colecção que guardo entre muitos outros – ali vemos a expressão clara e inequívoca da ostentação da verdade como sinal distintivo em relação à concrrência.

Ironicamente, o jornal acabria por fechar, forçando o PCP a recorrer àquilo que combatera desde o início na legislação laboral: o despedimento colectivo.

Desde os primórdios da Revolução dos Cravos, até à presente data, a propalada comunicação social livre, isenta, está ao nível da teorização da verdade.

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Novo ecosistema mediático prejudica jornalismo

Neste momento Portugal  está a abdicar da exigência democrática,diz o filósofo Jose Gil numa entrevista ao  Diário de Noticias.Na verdade   numa  conjuntura em que aqueles  que  têm alta responsabilidade em  defender a democracia se demitem da sua funçao  critica,  o sistema democrático perde,e  entra em crise.Refiro-me aos jornalistas .
Isto acontece por várias razões.
Tentarei  referir  algumas  que alteraram o ecosistema  mediático,e que se interpõem entre a informação e o cidadão,perturbando-o .
Como  actualmente tudo o que acontece  só existe  se fôr noticia, o que não é noticia ,não acontece.
A partir daí ,Governos,partidos,corporações, multinacionais , instituições, clubes,  empresas,universidades,hospitais,etc  começaram a perceber que em vez de serem os jornalistas a controlar a agenda mediática/política  , deviam  ser eles,  munindo-se de  gabinetes  que alegadamente  facilitassem a compreensão da notícia ,para comunicar com o exterior,mas  na verdade  serviam   para  controlar a realidade mediática  .
 
De facto ,o  grande objectivo destes gabinetes de imprensa  é condicionar e controlar a  informaçao, de forma que só chegue ao cidadão o que lhes interessa que saiba .
Eles sao a “Fonte”,e a partir daí, o jornalismo está condicionado a ela.
A fonte só lhe fornece  os conteúdos  que filtra mas de que ele precisa para exercer o seu labor. 
Assim, o que  devia ter nascido como um serviço público para melhor informar, transformou-se num travão à informação,porque não  se pode ultrapassar essa “fonte” que conhece os factos e os dados,a única autorizada a divulga-los,tornando verdade  aquilo  que ´é uma   mera convicção .
Inclusivé, os próprios funcionários e técnicos  das diversas corporações estão proibidos de emitir opinões para fora.Tudo tem de  passar pelo gabinete de imprensa.
A  derrapagem começa a  acontecer quando  o que há a informar não é positivo.Então, há que manipular a informação, maquilha- la ,quiçá, transforma- la em  propaganda,segundo directivas superiores.
É neste momento  que o jornalismo deveria saber dar o salto para tornear estas dificuldades que  a fonte lhe pretende o pôr.
Pois é nesta fase que  o sistema pretende controlar a informação, sonegando ao jornalista aquilo que nao deseja que o cidadão saiba,mas que é de interesse publico.
Fica- se face a um muro informativo,em que não se sabem por ex. os números dos implicados na corrupção,  quantos  aderiram, ou não, a uma greve, quantas pessoas há em listas de espera, como estão funcionando as escolas, se a criminalidade violenta está a aumentar, ou   a situação verdadeira do emprego.
Invertida a correlação de forças  caímos em duas posições.Ou o jornalista se torna subserviente,  para não perder o posto de trabalho,ou  faz um jornalismo partidário.
Neste caso, começa a ser privilegiado  pelo gabinete de imprensa  que lhe fornece dados que a outros nao são  fornecidos ,e passamos assim a ter um jornalismo   acomadaticío, ou de trincheira.
Alguns jornalisas para fugirem a este  circulo vicioso socorrem-se das chamadas fontes anónimas,   muitas vezes peritos que não podem falar em seu próprio nome por receio de represálias,mas a fonte anónima descredibiliza o jornalismo, e  o jornal , retira ao cidadão um direito de  saber quem  responde pelo que disse, e  pode servir para manipular a informaçao de acordo com criterios subjectivos do autor da peça,ou do editor ,sem que ninguem posso vir desmenti-lo
Por isso é que quando cai um governo ou uma câmara , os gabinetes de imprensa mudam imediatamente ,pois são lugares de confiança politica .
Por isso em Portugal  há, cada vez mais,  um deficit democrático,como refere, e bem, o   filósofo  José Gil.
Precisamos urgentemente  de um jornalismo independente, que venha ao encontro das necessidades do cidadão,e lhe forneça os dados que precisa para ajuizar em consciência ,não dos governos,  dos partidos ,das empresas ou das câmaras  municipais.

AS

Estranhas manobras

O surrealismo lusitano, canta e ri, corre e dança, inebriante, vicioso, contagiante. Num carrossel contínuo que mal permite repor o fôlego. Tudo é informação, tudo é actualidade, e no entanto nada parece verosímil.

Dois episódios de ontem, deste carrossel:

1 – A escova de Francisco Louçã sobre os ombros de José Sócrates, no plenário parlamentar, em híbrido gesto de solidariedade para com o Primeiro-Ministro, acerca das escutas.

Não bate certo, algo está por trás disso. Talvez as presidenciais. Talvez.

2 – O estranho avanço de Paulo Rangel, numa sôfrega candidatura à presidência do PSD, a dividir um eleitorado com Aguiar-Branco, e a solidificar um outro eleitorado, o de Pedro Passos Coelho.

É uma candidatura tardia, incoerente e desleal. Imprópria para quem assumiu o compromisso de que ficaria no Parlamento Europeu, e que as excepcionais razões do actual momento político por ele invocadas, só servem de injusto atestado de incompetência a Aguiar-Branco.

Parece que o Norte continua a assustar as ditas elites do PSD, desde os tempos de Francisco Sá Carneiro.

Pedro Passos Coelho agradece.

Num inebriante começo de mês, estas são apenas duas voltas de um carrossel de estranhas manobras. Tudo à roda, sem tino ou razão.

Moura Guedes, Eduardo Moniz, José M. Fernandes têm razão!

Nestes casos a razão está, sem qualquer dúvida, do lado de quem foi calado, perdeu o seu emprego, foi censurado pelo governo.

E nestes casos, que são gravíssimos, as vítimas deveriam levar os casos a tribunal. Bem sei que todos eles saíram com grandes indemnizações e isso acalma os ânimos, mas estamos perante a prepotência do governo, misturando-se com as empresas de comunicação social e influenciando a sua linha editorial.

Foram calados porque o governo não gosta que as notícias informem devidamente os cidadãos, utiliza a informação em proveito próprio, mente descaradamente e não quer ser contraditado. A democracia está em perigo quando as empresas do Estado são utilizadas para silenciar adversários políticos, para esconder os resultados da governação ou para calar as suspeitas várias que recaem sobre o caracter de José Sócrates!

Antigamente era a censura oficial do Estado Novo que utilizava estes métodos, o célebre lápis azul, agora é mais subtil, fazem-se negócios, a propriedade das empresas de comunicação mudam de mãos, e com os seus apaniguados nos lugares centrais filtram-se as notícias, entorce-se a verdade.

Tudo isto é tambem o maior labéu contra Sócrates, porque quem, como ele, está sujeito a tantas notícias que põem o seu bom nome pelas ruas da amargura, deveria pugnar mais do que ninguem pela liberdade de expressão, a melhor forma de mostrar a sua inocência.

Depois da queda do fascismo não esperava ter, novamente, que olhar por cima do ombro quando ouço determinada estação televisiva ou leio determinado jornal.

Antes era a PIDE e agora são os boys que pululam por tudo quanto é empresa pública?

Óculos para OUVIR melhor

Ideais para escutas.