O lobby da estupidez

João Caupers, o novo presidente do Tribunal Constitucional (TC), ainda agora entrou e já se lhe indica a porta de saída.

Em 2010, aquando da aprovação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o agora novo presidente do TC afirmou, entre outras coisas, numa crónica afixada na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa que, e cito, “A minha tolerância para com os homossexuais não me faria aceitar, por exemplo, que a um filho meu adolescente fosse “ensinado” na escola que desejar raparigas ou rapazes era uma mera questão de gosto, assim como preferir jeans Wrangler aos Lewis [sic] ou a Sagres à Superbock”. Portanto, João Caupers acha comparável gostar de diferentes marcas de cerveja com gostar-se de pessoas do mesmo sexo. Quem nunca acordou de manhã a pensar “hoje apetecia-me mesmo uma Tagus”? Ou então “hoje apetecia-me mesmo fazer sexo oral a um camionista na EN14”? Se não fosse suficiente, Caupers posicionou-se “contra” o lobby gay (ter um presidente do TC com crenças em teorias da conspiração era tudo o que precisávamos neste momento), afirmando que os homossexuais gozam de um estatuto de protecção especial, ao contrário dos “vegetarianos” que, diz João Caupers, existem em maior escala em relação aos homossexuais.

O novo presidente do TC carece de inteligência emocional, é notório. Quantas vezes não fomos já atacados pelo “lobby gay”? Quantos de vocês nunca estiveram sossegados na vossa casa, no silêncio da noite, e o “lobby gay” sempre a chagar-vos a cabeça? Quantas vezes já não fomos, todos nós, assediados pelo “lobby gay”, que nos sussurrava interiormente: “dirige-te ao glory hole na estação de serviço de Pombal” ou “encontra-te com aquele senhor matulão em Monsanto” …? Quantas vezes? É a chatice do “lobby gay”. Muitas vezes estamos a descansar depois de um longo dia de trabalho e… zás!… lá está o “lobby gay” em cima de nós a pedir sexo anal ou que coloquemos o strap-on. [Read more…]

Felizmente, o Papa Francisco não lê o Diário da República

«Papa Francisco defende uniões de facto em casais homossexuais». Exactamente. Efectivamente.

Cavaco a cavacar até ao fim

Passo à frente do veto da adopção de crianças por casais do mesmo sexo. O principal culpado aqui é José Sócrates, que começou por vetar a aprovação de um projecto de lei do Bloco de Esquerda para, na Legislatura seguinte, aparecer como o grande defensor das minorias. Aprovando um casamento manco que discriminava as pessoas do mesmo sexo em relação às outras. O ainda presidente da República limitou-se a aplicar à nação a sua visão anquilosada e míope da sociedade, própria de um enquadramento ideológico que ganhou raízes (e nunca de lá saiu) desde os tempos em que andou a fazer fervorosas declarações de amor à PIDE.
Sobre o aborto, nem sei o que diga. Todos os actos médicos no SNS estão sujeitos a uma taxa moderadora, é verdade, inexplicável como o aborto tem de ser privilegiado em relação aos outros actos médicos, mas não passa de uma questão menor sem qualquer relevância. Sobre o mais importante, Cavaco acha que uma mulher que quer abortar devia ir primeiro a uma consulta psiquiátrica. Pois. Voltando ao princípio, nem sei o que diga. Há pessoas que com a máxima urgência deviam recorrer a uma consulta psiquiátrica, mas não seriam essas mulheres certamente.
Cavaco faz questão de terminar o seu mandato da mesma forma que sempre o conduziu. Um ser tão pequenino, tão pequenino…
Sorte tem Marcelo – pior do que o seu antecessor é impossível. Humanamente impossível.

Adopção e co-adopção por casais homossexuais

Queria só dizer-vos, deputados que hoje chumbaram estas propostas, que o futuro vos recordará como gente que teve oportunidade de corrigir uma desumanidade e escolheu perpetuá-la. É uma carga pesada para a maioria das costas, mas vocês merecem-na bem.

Partido Comunista, conservador e reaccionário

Ao votar contra as propostas do Bloco de Esquerda e de «Os Verdes», seu parceiro de coligação, o Partido Comunista mostrou ser, ao nível dos costumes, um Partido conservador e reaccionário que em nada se distingue do CDS ou do PSD.
Pior: existindo liberdade de voto em todas as Bancadas, 9 deputados do PSD votaram a favor dos projectos e até um deputado do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, o fez. O Partido Comunista foi o único que conseguiu o pleno – todos os Deputados votaram contra. Ou porque realmente concordam com o que votaram ou porque, no fundo, não houve liberdade de voto.
Não sei o que será pior. Mas sei que, no que toca a estas matérias, deixo de poder considerar o PCP um Partido de Esquerda, ao contrário dos deputados da Direita que votaram a favor. Acreditem que tenho pena.

Vale e Almeida chama ignorante, ofensivo e falso a Pedro da Silva Pereira

Na altura em que se dizia que os casais homossexuais iriam poder aceder à figura do apadrinhamento civil, o António Serzedelo, aqui no Aventar, mostrou-se satisfeito com a possibilidade. Logo na altura, fui de opinião contrária: o facto de a lei falar expressamente dos gays como «factor de ponderação» era por si só discriminatório. Mantenho, já que todos devem estar em igualdade de circunstâncias seja qual for a sua orientação sexual. E como todos sabem mas ninguém assume, neste país a fingir, a restrição da possibilidade de adopção de crianças a determinados casais é claramente inconstitucional. Cavaco é que deu uma mão ao não enviar esse artigo para análise no Palácio Ratton.
Mas agora nem «factor de ponderação» será. O ministro Pedro da Silva Pereira, no Parlamento, disse há uns dias, taxativamente, que os casais homossexuais estão impedidos de aceder ao apadrinhamento civil, contrariando a tal norma de que se falava.
Miguel Vale e Almeida, deputado do PS, já se insurgiu no seu blogue pessoal e chamou mesmo ignorante a Pedro da Silva Pereira. E ofensivo. E falso. Fez bem. E sou insuspeito para dizê-lo, visto que não me coibí de criticar a sua ida para o Parlamento.
Ainda teve sorte, o ministro. Se em vez de Vale e Almeida fosse João Galamba a insultá-lo, era de filho da puta para baixo.

Adenda: Como o que é mentira ontem pode ser verdade hoje, mesmo na blogosfera, afinal o Miguel Vale e Almeida não chamou nada ignorante a Pedro da Silva Pereira. Só disse que ele revelava ignorância. 🙂