A discriminação dos professores contratados

Imagina que o teu horário de trabalho era de 40 horas semanais, mas o teu patrão só considerava 20 para efeitos de Segurança Social.
É precisamente o que se passa actualmente com os professores contratados. Têm horários incompletos e por isso mesmo as escolas só lhes fazem descontos pela componente lectiva, ou seja, pelas horas dadas efectivamente em sala de aula.
O Ministério da Educação paga essas horas e os professores trabalham-nas, mas no fim da carreira, quando chega a reforma, é como se essas horas não existissem. Os professores contratados não prepararam aulas, não estiveram presentes em reuniões, não fizeram nem corrigiram testes.
Definitivamente, estamos a falar de uma classe à parte. A mesma que, aqui há 20 anos, era a única em todo o país que não tinha direito a subsídio de desemprego.
Governo de Esquerda? Um Governo que discrimina assim uma classe profissional, atropelando os seus direitos mais básicos, devia ter vergonha quando diz que é Esquerda.
Os Partidos que o apoiam também.
Quanto aos sindicalistas, não os aborreçam muito, que ao fim de um ano de trabalho árduo sem dar aulas já devem estar à espera de ir de férias.
9 anos, 4 meses e 2 dias? 9 anos, 4 meses e 2 dias? 9 anos, 4 meses e 2 dias?
Esqueçam! Este país não é para professores contratados… até porque nenhum sindicalista o é.

Agarrem-me, Camaradas!

Camaradas, isto só lá vai com luta. Lutar contra a obsolescência do sindicalismo espingardante e aburguesado em Portugal e por um novo sindicalismo silencioso, trabalhador do lado da produtividade e da riqueza, como o sueco. Nesse país, todos se sentam à mesa negocial no sentido de todos ganharem com o trabalho de todos, assegurando que a galinha dos ovos de ouro comum permanece viva: os trabalhadores suecos ganham que é uma humilhação para um português. Porquê? Não se metem a destruir o seu sustento nem a demagojizar quedas de governos a braços com uma situação de calamidade e emergência. No Reino da Suécia, aliás, os trabalhadores nunca viram uma falência ou uma iminência de falência do Estado. Ninguém nas ruas de Estocolmo salivando, espumando, como os grandes traídos portugueses após anos com dinheiro fácil e dívida mais rápida que a própria sombra. Cá, primeiro estão os direitos, a impaciência dos velhos direitos, e depois, muito depois, a viabilidade da galinha dos ovos de ouro, aliás degolada e trocada pelo canto das sereias, as sereias que engendraram o actual buraco, as sereias que supõem que só à bruta e radicalizando muito se fará ressuscitar uma galinha em particular e a grande galinha-Estado. Lutemos, camaradas, mas para mudar esta mentalidade.  Quanto à luta contra Merkel, calma, camaradas! Obviamente a incumbente alemã rege-se pelo princípio de nos ensinar a pescar em vez de nos dar um peixe e isso pode representar a mudança milenar da nossa sorte pelintra da estatismodependência para a espontânea e solidária reunião dos mesmos esforços que limparam Silves grátis, após o último tornado. Com amor. Com ternura. Com união. [Read more…]

José Sócrates está no Congresso Democrático das Alternativas?

A minha desilusão com os políticos é tal que me tenho limitado a votar em qualquer coisa que considere um mal menor, mantendo uma inclinação para a esquerda.

Depois de ter desistido do PS, já há uns anos, tenho deixado o meu voto no Bloco de Esquerda, o que tem contribuído para tranquilizar a minha consciência, porque não foi à custa do meu voto que os meus concidadãos foram prejudicados por uma série quase infindável de medidas cuja qualificação mereceria não adjectivos mas uma catadupa de palavrões.

Como já tive oportunidade de escrever, goste ou não do estilo, concordando mais que discordando, o saldo que faço das várias intervenções de deputados do Bloco e do PCP é amplamente positivo. Entre outras afirmações, basta lembrar que foi deste lado que partiram avisos acerca das várias consequências da austeridade cega, como o aumento do défice e do desemprego. [Read more…]

Carnaval em pleno Verão: há um certo PS a disfarçar-se de esquerda

Nesse tratado literário e sociológico intitulado Os Maias, há um episódio em que acompanhamos João da Ega numa visita à redacção do jornal A Tarde, um pasquim com muito de partidário e muito pouco de jornalístico. A dada altura, nesse antro de maledicência, o conde de Gouvarinho, membro do partido a que o jornal estava ligado, é criticado por um correligionário que chama “carola” ao dito Gouvarinho, que teria criticado, no parlamento, uma proposta para introduzir a “ginástica nos colégios”. Neves, o director do jornal, resolve, então, puxar dos galões e dar uma lição de pragmatismo:

– Carola! Vem-nos agora o menino gordo com carola!… o Gouvarinho carola! Está claro que tem toda a orientação moral do século, é um racionalista, um positivista… Mas a questão aqui é a réplica, a táctica parlamentar! Desde que o tipo da maioria vem de lá com a descoberta do trapézio, Gouvarinho amigo, ainda que fosse tão ateu como Renan, zás!, atira-lhe logo para cima com a cruz!… Isto é que a estratégia parlamentar! [Read more…]

Marchais, esse precursor de Le Pen


Sabe-se o que aconteceu quando da reforma eleitoral promovida por Mitterrand. Visando enfraquecer a direita “clássica”, introduziu o sistema proporcional, aliás mais justo que esta ridícula ficção das duas voltas. O PCF, até então incontestado dono dos banlieu, caiu dos 20% para uns residuais 5%, passando-se o seu eleitorado com armas e bagagens para as hostes da Frente Nacional que atingiria perto de 15% dos votos.
O discurso de Le Pen, nada mais é senão a continuidade do posicionamento político do precursor PCF. Entretanto, o conhecido “barão” de Lavos já terá iniciado o processo de canonização da indefesa criança Mohamed.
* A pedido de um leitor, aqui segue uma tradução mais que imperfeita:
“Há que pôr fim à imigração oficial e clandestina. É inadmissível fazer entrar novos trabalhadores imigrados em França quando o nosso país conta com quase 2 milhões de desempregados franceses e imigrantes” (palmas seguidas da voz da locutora que informa ser o PCF contra a construção de um centro cultural islâmico). O porta-voz do PCF em Rennes, diz o seguinte:
“Verificamos que não se trata de um centro cultural que está em construção, mas de facto é uma mesquita e uma escola corânica. Nesse sentido o senhor Maire de Rennes (um socialista) apoiou a ideia (não estou a entender todo o discurso, lamento). “Nós não mudámos de opinião, somos pela separação da Igreja e do Estado e de forma alguma o dinheiro público deverá servir para construir”… (aqui também não consigo entender o que o homem diz, uma vez mais lamento).
E regressa Marchais, desta vez de dedo em riste pela moral:
“Colocamos o problema da imigração. Será para utilizar e favorecer o racismo. Procuraríamos acarinhar os mais baixos instintos. Assumimos a luta contra a droga e isto porque não queremos combater o alcoolismo que é apreciado e corrente na nossa clientela. Para a juventude, eu escolho, sim, eu escolho o estudo, o desporto, a luta e não a droga” (salva de palmas).
E Marchais passa então a atacar os socialistas, irmanando-os à direita nas questões relativas ao respeito pelos trabalhadores, etc, etc. O discurso parece um bocado desconexo, sem seguimento (há partes certamente recortadas do todo, claro). Enfim, uma espécie de Jerónimo de Sousa avant la lettre.

Partido Comunista, conservador e reaccionário

Ao votar contra as propostas do Bloco de Esquerda e de «Os Verdes», seu parceiro de coligação, o Partido Comunista mostrou ser, ao nível dos costumes, um Partido conservador e reaccionário que em nada se distingue do CDS ou do PSD.
Pior: existindo liberdade de voto em todas as Bancadas, 9 deputados do PSD votaram a favor dos projectos e até um deputado do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, o fez. O Partido Comunista foi o único que conseguiu o pleno – todos os Deputados votaram contra. Ou porque realmente concordam com o que votaram ou porque, no fundo, não houve liberdade de voto.
Não sei o que será pior. Mas sei que, no que toca a estas matérias, deixo de poder considerar o PCP um Partido de Esquerda, ao contrário dos deputados da Direita que votaram a favor. Acreditem que tenho pena.

Joaquim Gomes (1917 – 2010) e a fuga de Peniche

Joaquim Gomes dos Santos nasceu em 1917 na Marinha Grande.

Vidreiro de profissão, esteve ao lado de Álvaro Cunhal na célebre fuga de Peniche – foi uma das três vezes em que esteve preso. Funcionário do PCP, Partido ao qual aderiu na década de 30, pertenceu à Comissão Política do Comité Central do Partido. Depois do 25 de Abril, foi Deputado à Assembleia da República entre 1976 e 1987, tendo sido eleito nas 4 primeiras Legislaturas pelo PCP, círculo de Leiria.

Morreu hoje aos 93 anos.

Nenhum comunista no Conselho de Estado

O Conselho de Estado é um órgão político de consulta do Presidente da República. O Presidente da República é o Presidente de todos os portugueses. Não há nenhum comunista, nem sequer alguém à Esquerda do PS, no Conselho de Estado.
Há aqui alguma coisa que não bate certo. Se a função do Conselho de Estado é aconselhar o Presidente da República e ele é o Presidente de todos os portugueses, não deveria o Presidente da República querer ouvir todos os portugueses através dos Conselheiros de Estado?
É que, para além daqueles que têm lugar por inerência ou porque ocuparam cargos no passado, há «cinco cidadãos designados pelo Presidente da República». E sendo assim, repito a pergunta: Se a função do Conselho de Estado é aconselhar o Presidente da República e ele é o Presidente de todos os portugueses, não deveria o Presidente da República querer ouvir todos os portugueses através dos Conselheiros de Estado?
Se calhar não. Porque aquilo que um comunista ou um bloquista teriam para dizer não é conveniente para o poder instalado. Não é conveniente para o «centrão». Não interessa a quem desgoverna o país. Não interessa a Cavaco.

Dias Lourenço (1915 – 2010), o operário de Vila Franca

Dias Lourenço, o segundo a contar da esquerda, ao lado de Tito de Morais, Palma Inácio e Manuel Serra.

António Dias Lourenço da Silva nasceu em 1915 em Vila Franca de Xira. Morreu hoje.
Operário, aderiu ao PCP em 1931. Viveu na clandestinidade entre 1941 e 1949, situação interrompida pela primeira detenção. Torturado, encarecerado em Caxias e depois em Peniche, foi condenado a mais de 8 anos de prisão. Fugiu antes de cumprir metade da pena, passando de novo à clandestinidade. Participou na preparação da fuga de Álvaro Cunhal (v.), em 1961, mas no ano seguinte voltou a ser preso, sendo desta vez condenado a 23 anos. Preparava uma nova fuga quando se deu o 25 de Abril. No regime democrático, foi Deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República entre 1976 e 1987, tendo sido eleito nas 4 primeiras Legislaturas.

Descaramento barrosão


Uma das questões que sempre se colocou à economia portuguesa, consiste no papel desempenhado pelo Estado como uma das essenciais ferramentas que garante o funcionamento do país como comunidade autónoma. Critique-se a sua função motora ou procure-se com ela terminar, voltamos sempre a um beco sem saída. De facto, a iniciativa privada portuguesa sempre do Estado dependeu e nele se apoiou para incipientemente medrar. De secretaria em secretaria, de ministérios em ministério, de almoço em almoço, os empresários lá vão conseguindo os urgentes óbulos que garantam o seu estatuto, permitindo depois, a recompensa dos benfeitores com cargos pós-políticos que estabeleçam rendas e um relativo fare niente prazenteiro. Daí, a total subsidiariedade relativa aos poderes públicos e a permanente osmose entre agentes económicos, financeiros e políticos, ser uma das características basilares desta construção nacional, não se adivinhando nem remotamente, uma alteração substancial nesse pressuposto.

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Manuel Serra (1932 – 2010) e as batalhas campais no PS de 1974


Morreu no Domingo Manuel Serra, um histórico do PS. Nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril, foi protagonista, no Partido Socialista, de alguns dos momentos mais quentes, liderando uma ala que defendia a aproximação ao Partido Comunista. Foi eleito para o primeiro Secretariado Nacional do Partido em Dezembro de 1974, mas acabaria por abandoná-lo poucos dias depois.
Nos «Contos Proibidos», num episódio que já se publicou por aqui, Rui Mateus descreve esses momentos quentes do PS: ««Entretanto, o tempo se encarregaria de revelar novos episódios em matéria de financiamentos. Vinte anos após o 25 de Abril, ao ser preso por alegado desvio de fundos públicos, o ex-presidente da Venezuela, Carlos Andréz Perez, declararia que uma parte desses fundos teria sido entregue a Mário Soares. Foi a primeira vez que eu ouvi falar do assunto, que foi confirmado à Agência Lusa por uma fonte não identificada do Palácio de Belém («Público», 22/05/1004). (…)
Os trabalhos [do I Congresso do PS depois da Revolução] iniciaram-se com a leitura de um telegrama de saudações enviado por Mário Soares ao Presidente da República Costa Gomes. O mesmo, segundo os joranis da época, foi vibrantemente aplaudido de pé pelos congressistas.
Logo no início foi aprovada uma moção subscrita por Manuel Serra e Maria Barroso em que se afirmava que «o PS defenderá o modelo constitucional democrático que melhor consolide a aliança do Povo e das forças democráticas com o MFA. Depois, tendo em conta que a ratoeira comunista passava por sensibilizar o seu conhecido egocentrismo, Mário Soares foi reconduzido na Secretaria-Geral sem qualquer oposição, o que já não aconteceria com a orientação do Partido.
Para a Comissão Nacional, Manuel Serra não preconizou tal unanimidade e, depois de uma autêntica guerra campal, a lista da direcção histórica do Partido sairia vencedora pela escassa margem de 94 votos, tendo a lista de Manuel Serra obtido quase 44% dos votos dos congressistas. O nome de Mário Soares aparecera nas duas listas concorrentes, por ordem alfabética na lista da direcção histórica e à cabeça da lista que o PCP promovera por meio de Serra. Aliás, só por milagre Mário Soares não sairia daquele Congresso como secretário-geral de dirigentes afectos a Manuel Serra e ao Partido Comunista. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. Mário Soares e o 25 de Novembro.

continuação daqui

O antigo chefe de gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros e secretário-geral do PS, Vítor Cunha Rego, tivera contacto anteriores ao 25 de Abril com o chefe da CIA em Lisboa, John Morgan. Após o assalto ao «República» e quando Carlucci adquirira a certeza de que Soares entrara no «bom caminho», seriam designados Cunha Rego e Bernardino Gomes para veicular os futuros contactos e o apoio da CIA ao PS.

Com o caso «República» ainda fresco e tendo em conta que aquela organização considerava prioritárias as acções na imprensa e em editoras, como o senador Edward Boland de Massachusset apuraria no final dos anos 70, foi decidido combater a predominância do PC nestes sectores. Assim nasceria a editora «Perspectivas Realidades», ao mesmo tempo que era adquirido o edifício onde iria funcionar a CEIG, Cooperativa de Edições e Impressão Gráfica, com a finalidade de imprimir o diário «A luta» em substituição do «República». O contacto americano era um «operacional» das chamadas «covert operations», ou operações clandestinas, da CIA, a que chamarei apenas KC. (…)

Em entrevista à TVI e a Miguel Sousa Tavares na SIC [1994], o Presidente da República [Mário Soares], para além de se colocar no papel de principal líder da resistência à tentativa comunista de 25 de Novembro, adiuantaria que, de facto, «conspirara» com Callaghan e os serviços secretos ingleses, embora negasse qualquer apoio dos norte-americanos. (…) Mas o general Ramalho Eanes, um pouco esquecido pelos media, viria a contestar o paperl de Mário Soasres no 25 de Novembro, afirmando poder «garantir que a versão dos mesmos apresentada pelo Dr. Mário Soares contém algumas inverdades». Chegaria mesmo a acusar o seu sucessor de pretender adulterar a história, de não ter lido os documentos oficiais sobre o 25 de Novembro e de ter tendência para valorizar os seus contactos internacionais. Mas, segundo refere, «a verdade é que os militares trabalharam essencialmente com matéria-prima nacional». [Read more…]