Royale with cheese

La langue, un français écorché, mêlé de patois, était indissociable des voix puissantes et vigoureuses, des corps serrés dans les blouses et les bleus de travail, des maisons basses avec jardinet, de l’aboiement des chiens l’après midi et du silence qui précède les disputes, de même que les règles de grammaire et le français correct étaient liés aux intonations neutres et aux mains blanches de la maîtresse d’école.
Annie Ernaux (efectivamente)

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Por causa da Mary Royall /rɔɪəl/, lembrei-me do royale /rɔiˈæl/ (with cheese). Trata-se sobretudo de tonicidade, sim, por isso, muito mais do que da velha história da selecção e da *selessão, perdão, da *seleção, lembrei-me da facção e do façam. É exactamente por isto que a linearidade não pode — não deve, OK — servir nem como forma de orientação nem como princípio norteador. Por falar em nortear e orientar (todavia, go west, porque the west is the best), há álbum novo dos The Cult e, na segunda, tereis os GNR de há 30 anos na rtp memória.

No sítio do costume? O costume.

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

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E, já agora

José Saramago, 1990. Foto: Juan Guamy.


«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

José Saramago, ‘Cadernos de Lanzarote’, – Diário III – pág. 148, 1995

Efectivamente

#RuiReininho2017

Tradução para português europeu, sff

farturas

Foto: Família Sequeira (http://bit.ly/2easZOl)

Και τώρα τι θα γένουμε χωρίς βαρβάρους.
Οι άνθρωποι αυτοί ήσαν μια κάποια λύσις.
Κωνσταντίνος Π. Καβάφης

(E agora que vai ser de nós sem bárbaros/ Esta gente era alguma solução)

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Não se percebe: «já tem uma das mais elevadas faturas de pensões no orçamento»? Em português europeu, sff: «já tem uma das mais elevadas facturas de pensões no orçamento». Exactamente, um pouco mais de rigor, sff. Obrigado, Público.

Quanto ao sítio do costume, não há novidades:

dre13102016

Ao contrário daquilo que o Nobel da Literatura nos diz/canta/escreve, things haven’t changed.

Nótula: Texto revisto e muito ampliado, cerca de uma hora depois da publicação.

¿Y en lengua portuguesa?

lobo antunes

dpa / Erwin Elsne (http://bit.ly/lobo-antunes)

Expresso decidiu adaptar para português este pequeno excerto do testamento de Alfred Nobel:

en del den som inom litteraturen har producerat det utmärktaste i idealisk rigtning.

Aquele ‘idealisk’ é objecto de luminosa interpretação, neste comentário de Sture Allén.

O mote para a adaptação do Expresso foi uma entrevista de Horace Engdahl ao jornal La Croix, com a jornalista Sabine Audrerie a citar uma já conhecida tradução francesa (cf. Le Figaro e Le Point):

l’auteur de l’œuvre littéraire la plus remarquable d’inspiration idéaliste.

Aparentemente, a tradução inglesa consagrada

the person who shall have produced in the field of literature the most outstanding work in an ideal direction

terá servido de base à versão portuguesa do Expresso, pois

 

direcção

Efectivamente, denunciado o papel da letra consonântica c em ‘direcção’, era perfeitamente escusado, logo a seguir, dar-se cabo da qualidade grafémica do texto:

direção

Como sabemos, a excelência ortográfica está viva e recomenda-se.

Post scriptum:  “¿Y en lengua portuguesa?”, perguntava Winston Manrique Sabogal, há um ano. No dia 14 de Novembro, “le plus grand écrivain portugais vivant” andará por estas bandas. E amanhã? Amanhã, era um Nobel, sff. O Jerusalém, o Nonino e o Duke of Cocodrilos não chegam (a propósito de Duke of Cocodrilos, convém sempre regressar aos excelentes textos da Carla Romualdo).

Ser ateu é que é bom

O mundo seria muito mais pacífico se todos fôssemos ateus.

O DN apresenta hoje esta frase de José Saramago na primeira página da edição em papel, onde também se dá a notícia da abertura, amanhã, da Fundação Saramago (Lisboa).

Não me parece muito inteligente e reveladora de tolerância religiosa esta afirmação do Nobel da Literatura, que mais parece um convite ao ateísmo como o melhor caminho a seguir. Revela, na minha humilde opinião, egocentrismo: «eu é que estou certo». Está a pedir que sejamos todos iguais, que escolhamos todos do mesmo («se todos fôssemos»). E isso não é possível.

Assim como também não é de bom tom tentar convencer os ateus a converter-se a uma qualquer religião.

A fé em Deus ou a sua ausência é algo muito pessoal. Não se escolhe ser isto ou aquilo, acreditar ou não, sentir ou não a transcendência. Aceitar Deus na nossa vida é uma descoberta que acontece ou não a cada um, num dado momento, mais cedo ou mais tarde. Ou nem sequer acontece. OK! Não dá para ser crente ou ateu à força, penso eu.

Mas podemos aprender uns com os outros, mantendo-nos o que somos com autenticidade e verdade.

Prémio Nobel da Literatura para o poeta Tomas Transtromer

A Academia Nobel decidiu premiar o poeta Tomas Transtromer com o prémio Nobel da Literatura 2011. Praticamente desconhecido em Portugal, com apenas alguns poemas traduzidos e dispersos (alguns a partir do castelhano), Tomas Transtromer é, curiosamente, um conhecedor de Portugal, como descobri aqui. Com a devida vénia a Sylvia Beirute e ao poeta e tradutor Luis Costa, eis um poema significativamente intitulado “Lisboa”

LISBOA
No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas
subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!
“Mas aqui”, dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,
“aqui sentam-se os políticos”. Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.
A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei?

Mais um Nobel para um fascista, ou quase

Têm alguns dos meus escritores favoritos a mania de serem reaccionários, alguns ultrapassando todos os limites. Mario Vargas Llosa só se chega perto, mas o suficiente para me deixar a tranquilidade de não confundir a vida dos escritores com a sua obra, regra aplicável de resto a todas as artes.

Apaixonei-me à primeira vista com uma cidade e seus cachorros, e não tenho sido traído ao longo de uma Guerra do Fim do Mundo, nunca esquecendo Pantaleão ou o Elogio de uma Madrasta de fazer inveja a qualquer adolescente.

Às vezes a academia sueca acerta com o meu mau gosto, poucas vezes, este ano lá calhou ser uma delas. Parabéns Mario Vargas Llosa, e parabéns América Latina e falantes do castelhano (uma bela língua embora por estes lados nunca se dê por isso).