A pessoa que somos

481 A pessoa que somos, e que parece evidente, aprende-se devagar.

Também é matéria difícil. Mas tudo o que é essencial na vida é difícil. (…)

(Vergílio Ferreira, Pensar)

Um dia… Um dia, alguém irá conseguir que A Minha Pessoa seja matéria a estudar nas escolas! Ideia maluca? Eu não sei…

Um professor de espantos

Tenho andado a descobrir o escritor e professor brasileiro Rubem Alves aos poucos. Com quase 80 anos só pode ter muito que ensinar. Hoje conheci a sua posição relativamente à missão ou ao papel do professor. Ele diz coisas simples como estas:

há muito tempo que procuro propor o novo tipo de professor. É um professor que não ensina nada, não é professor de matemática, não é professor de História, de geografia…É um professor de espantos.

O objectivo da educação não é ensinar coisas, porque elas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. É ensinar a pensar. Criar na criança essa curiosidade. (…) criar a alegria de pensar. (…) a relação com a leitura é uma relação amorosa. (…) Quando o professor manda, já estragou. (…) Não mandando ler, mas lendo.

A missão do professor não é dar as respostas prontas. (…) é provocar a inteligência, provocar o espanto, provocar a curiosidade.”

Dar o exemplo.

Clube dos Pensadores com Maria de Belém Roseira

O Clube dos Pensadores é uma boa ideia.

Ou antes foi uma boa ideia. Hoje é uma EXCELENTE realidade. A norte, do lado sul do Rio Douro há gente que teima em fazer o que nunca foi feito, há gente que desafia outra gente a pensar.

O Mário Nogueira foi o Senhor da última edição. Maria de Belém é o Senhor que se segue. Na próxima 2ª feira, dia 22 às 21h30 no hotel Holiday Inn, em Gaia.

Vou lá estar porque gostaria de perguntar a Maria de Belém o que ela pensa sobre o quando ou o quê.

A grave doença de estar sempre a pensar

Este é o nome de um dos capítulos de O Papalagui (1920), um livro que resume os discursos de um chefe de tribo numa ilha nos mares do Sul (Samoa).

Tenho esta «jóia» há 21 anos e «achei-a» na Rua de Cedofeita, 355, Porto (livraria S. Paulo) por mil e duzentos escudos! Hoje é muito fácil encontrá-lo. Penso que não há ano nenhum em que não abra este «documento». O Papalagui é o Branco, o Senhor, o homem europeu. Tuiavii faz-nos duras críticas depois do que viu numa viagem pela Europa. Vira-nos um «espelho» onde vemos reflectidos vícios e hábitos difíceis de largar, onde nos vemos como gente que desfruta pouco a vida. Para pensar, embora ele diga que seja uma doença grave!!

Transcrevo algumas passagens curiosas:

(…) O Papalagui não pára de pensar: «A minha cabana é mais pequena do que a palmeira; a palmeira verga-se por causa da tempestade; (…) Mas também ele próprio é objecto dos seus pensamentos: «Eu sou pequeno; o meu coração alegra-se sempre à vista de uma rapariga (…)». Mas o Papalagui pensa tanto, que o acto de pensar se tornou um hábito, uma necessidade, e até mesmo uma coacção. Vê-se obrigado a pensar continuamente. (…) Na maior parte do tempo vive apenas com a cabeça, enquanto os sentidos dormem um profundo sono. Muito embora isso não o impeça de andar normalmente, de falar e de rir (…).

Quando brilha um belo sol, logo ele pensa: «Que belo sol que está agora!» (…) é uma aberração. Qualquer Samoano sensato irá estender e aquecer o seu corpo ao sol, sem mais reflexões. E goza do sol não só com a cabeça, mas também com as mãos, com os pés, com as coxas, com o ventre, em resumo, com o corpo todo. Deixa a sua pele e os seus membros pensarem por si próprios (…).

Quando se pergunta a um Papalagui porque é que pensas assim tanto, ele responde: «Para não ficar estúpido!» (…) na verdade, se devia ter como sinal de inteligência encontrar alguém o seu caminho sem ter necessidade de pensar.

Enfio a carapuça…o que é que eu hei-de fazer??

Depois de terminar esta cópia, talvez vá aproveitar «este belo sol» com o corpo todo e imaginar aquela praia paradisíaca. Ups, lá estou eu a pensar outra vez…

A liberdade de pensar – Uma história

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Uma história

 A partir do Século XVI, começou a aparecer no Continente europeu uma forma de entender a vida, denominada liberdade de pensar. Quem começara com estas ideias, foi René Descartes- (La Haye en Touraine, 31 de Março de 1596Estocolmo, 11 de Fevereiro de 1650),  filósofo, físico e matemático francês. Foi corrigido por outros filósofos, mas persistiu, batendo com a teologia, ciência que imperava na forma de pensar ao longo desses tempos. Especialmente entre as crianças que deviam ser instruídas nas formas de pensar costumeiras, religiosas, para o seu bom comportamento conforme as crenças que professavam. A Igreja Católica, tinha sido reformada com as ideias de Martinho Lutero, Jean Calvin e John Knox, As crianças eram as mais cuidadas para aprenderem a doutrina que professavam, que incluía a catequeses.

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Miguel Santos Guerra – pensar a Educação

Via terrear, um vídeo do Miguel Santos Guerra. Um MESTRE Espanhol que diz tudo sobre educação! Obrigatório para os que não são Professores. Imprescindível para estes:

Saramago – Pensar (Deus)

Com a devida vénia transcrevo uma parte da carta de uma leitora do Público, Céu Mota de Santa Maria da Feira.

…Quero reter na minha memória estas palavras de Saramago :”Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar”. Quanto a mim é um dos melhores ensinamentos que nos podia deixar como herança. A sua obsessão por Deus, apesar de ateu, veio-lhe porque nunca parou de fazer perguntas, não parou de pensar.

Aliás, não foi o único. Vergílio Ferreira, outro escritor português, tambem ele ateu e candidato ao Nobel, escreveu uma obra que é intitulada precisamente, Pensar (1991)…” a grande obsessão do homem é dar um sentido  à vida”…este último pensamento remete novamente para Saramago, numa frase que o Público deixou ocupar toda uma página: ” A nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida”.

Deus está muito na cabeça dos escritores ateus, mas tambem na dos cientistas. Alguns querem conhecer a “música de Deus”…recriar o momento do BiG_BANG e, quem sabe, a partícula elementar, a partícula de Deus”. Por seu turno, ” há neurocientistas que se propõem encontrar o ponto de Deus, no cérebro…

” a necessidade de se ser homem, ou seja, Deus, pela sonho da definitividade. É o sonho mais obsessivo (…)

PS: está no Público em “cartas à directora”, página 42!

O problema do país é mesmo uma questão de capacidade

Os desafios existem, como sempre existiram. Tal como cada um de nós, também o país facilita quando as coisas vão bem, e confiam quando não vão. É normal, faz parte do nosso modo de ser.

Em mais de 800 anos de história, não nos faltam grandes momentos, para o melhor e para o pior, e continuamos aqui, portugueses.

Tal só se consegue quando, com todos os defeitos e virtudes, um país tem gente capaz: seja de liderar, seja de pensar, seja de se sacrificar. Tivemos de tudo, e chegamos até aqui. E daqui continuaremos.

Tivemos, e temos, gente com capacidades: de liderança, de pensamento, e de sacrifício. O número, obviamente, vai crescendo de um grupo para o outro: há poucos capazes de liderar, há mais com capacidade para pensar, e a esmagadora maioria consegue sacrificar-se.

O problema, está num grupo que se mede, também, pela sua capacidade: são que não são capazes de nada, e os que são capazes de tudo.

Este grupo composto de extremos, que trespassa as instuições da República, os partidos políticos, os grupos económicos de maior peso – banca, seguros, comunicação social, energia, etc. -, aparelho empresarial detido ou que conta com a participação do Estado -, conseguiu dominar a situação política, económica e social do país. Estamos reféns dos que não são capazes de nada e dos que são capazes de tudo, que na sua aparente luta de opostos  se complementam, e que, assim, jogam entre eles o futuro do país, enquanto exaltam a liderança, exortam ao pensamento, e demandam-nos sacrifícios.

Pensamentos V e VI

V

Faltam dois dias para depois de amanhã.

Se leres isto dentro de dois dias, faltarão ainda dois dias.


VI

Pensa duas vezes antes de pensar.

Pensar, sem pensar antes, pode revelar-se perigoso.

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Conheça o primeiro Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz