Quem nos dera isto em Portugal

Ora imaginem isto em Portugal: um ministro da Economia que se disponibiliza para, durante uma hora, responder seriamente, num formato de webinar, a todas as perguntas que cidadãos lhe queiram colocar. Sem mídia, sem politiquice, falando abertamente e informando com conteúdo sólido e sem slogans políticos. E que termina o encontro com um amigável “voltarei de bom grado”.  E que, por acaso neste webinar foi tratado por você, mas noutros foi tratado por tu, sem que isso lhe tenha causado qualquer mossa.

Foi o que aconteceu mais uma vez na série de webinars “Europe Calling”, sob o tema: “Como pode a transformação na Europa ser bem sucedida?- Um diálogo de cidadãos europeus” com Robert Habeck, Vice-Chanceler e Ministro Federal da Economia e da Acção Climática da Alemanha, no qual participaram mais de 7.000 pessoas

E assim fica bem patente a diferença entre o que acontece em Portugal, onde a sociedade civil organizada é sistematicamente menosprezada pelos governantes, e a seriedade com que é encarada noutros países.

E isto é um indicador de muita, muita coisa.

Castelo Branco e a ilusão da descentralização

O governo rumou em força para Castelo Branco, para um Conselho de Ministros descentralizado e umas quantas cerimónias relacionadas com o PRR.

Para a tropa de choque do regime na comunicação social, como foi o caso de Inês de Medeiros na TSF, isto aproxima a política dos cidadãos.

Nada mais falso. [Read more…]

Ligação Famalicão – Cabul

Penso que a capa do jornal que entrevistou o cruzado Artur Mesquita Guimarães, bem como o meme que com ela fizeram, ilustra bem a novela que estamos a assistir, e que se resume a isto: um pai profundamente formatado pelo radicalismo da sua ideologia político-religiosa, que impõe autoritariamente aos filhos, pretende combater aquilo que considera ser uma imposição ideológica do sistema de ensino, instrumentalizando para tal os seus filhos e o seu bem-estar.

Seria cómico se não fosse tão triste. E não, não é muito diferente do pai muçulmano que retira a filha de uma escola ocidental, que alegadamente profanará a sua existência. Mas o que verdadeiramente assusta, no meio de tudo isto, é que a ascensão da extrema-direita abriu a porta do armário dos Talibans cristãos e isso terá profundas consequências para todos. Basta olhar para o que se passa do outro lado do Atlântico.

Liberdade para ignorar

Misael Martins*

A família Mesquita Guimarães, sinistras e anacrónicas figuras que também dão pelo nome
de “os pais de Famalicão”, deram uma entrevista exclusiva à SIC em que se encarregaram de
deixar bem claras as razões de fundo que os movem na sua batalha judicial contra o Estado
português que se arrasta há mais de quatro anos: fundamentalismo religioso e vontade de
controlar ao limite um direito que nenhum pai ou mãe pode negar aos seus filhos num
Estado de direito – o direito à educação.
Artur e Ana Paula Mesquita Guimarães alegam que o Estado não se pode sobrepor aos pais
na educação das crianças e agitam, até, um conceito estranho ao sistema de educação em
Portugal: a objeção de consciência, no sentido de impedir a frequência dos seus filhos de 14
e 22 anos das aulas de Educação para a Cidadania. A posição não é recente e o caso já se
arrasta há vários anos na justiça, com intervenções por parte do agrupamento de escolas de
Famalicão e da própria Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Também não são
recentes as invetivas destes pais, membros da Opus Dei, contra a “ideologia de género” e a
educação sexual, com reconhecidos méritos, desde a sua introdução nos currículos, na
disseminação da utilização de métodos contracetivos entre os jovens e na consequente
diminuição de gravidezes na adolescência e de doenças sexualmente transmissíveis. [Read more…]

E da união da Opus Dei com o Chega, nasceu… o pai de Famalicão

Num país livre e democrático, seitas secretas e que conspiram na sombra contra o Estado de Direito não deviam ter lugar. É o caso da Opus Dei (ou da Maçonaria).
Da mesma forma, um Partido racista, xenófobo, homofóbico, aporofobico, é um Partido que afronta a Constituição da República e, como tal, também não devia ter direito a existir.
Ora, no Portugal do primeiro quartel do sec. XXI, a Opus Dei uniu-se ao Chega e pariu um espécime máis conhecido por pai de Famalicão. Um amish à moda do Minho.
Tal como a Opus Dei que lhe deu forma, afronta o Estado de Direito e as instituições democráticas e sente-se no direito de ter leis próprias para si e para os seus filhos, diferentes das dos comuns dos mortais.
Nada a que o Clero não tivesse direito nos tempos do Antigo Regime. Mas na altura, não precisavam de recorrer a tribunais.
É uma chatice.

Algumas confusões (minhas) sobre Educação para a Cidadania

Faz-me confusão que faça tanta confusão a tanta gente a existência de uma disciplina ou de uma área disciplinar ligada à cidadania.

Faz-me confusão que seja considerado fundamental por tanta gente a existência de uma disciplina ou área disciplinar ligada à cidadania.

Faz-me confusão que haja tantas pontes queimadas entre quem se interessa por Educação e que as políticas educativas continuem a ser imposições erráticas e avulsas com origem em gabinetes ministeriais e/ou departamentos universitários carregados de gente que se julga dona da Educação, incluindo a que se refere ao ensino básico e ao ensino secundário.

Faz-me confusão que haja quem pense que é possível estar na Escola sem aprender, directa ou indirectamente, cidadania.

Faz-me confusão, a propósito dessa aprendizagem inevitável, que haja quem pense que é possível ensinar Humanidades, Ciências ou Artes sem fazer referências constantes a questões e problemas de cidadania.

Faz-me confusão que haja quem acredite que é possível viver numa escola asséptica e absolutamente imparcial, em que os professores não tenham opiniões ou preferências ideológicas, religiosas ou clubísticas. Aproveito este ponto para informar, para grande surpresa de uma larga maioria, que os professores são pessoas, sendo que alguns chegam a ser pais.

Faz-me confusão que haja quem acredite que os professores são, na sua larga maioria, pessoas sem o mínimo de ética, que aproveitam todos os momentos para catequizar os pobres alunos, arrastando-os para o seu partido, para a sua religião, para o seu clube ou para a sua associação recreativa. [Read more…]

“Aventar com” João Paulo Batalha

A rubrica de entrevistas “Aventar com”, será, desta vez, com João Paulo Batalha, hoje, pelas 18 horas.

João Paulo Batalha é um dos fundadores da Transparência e Integridade, capítulo português da Transparency International, rede global de ONG anti-corrupção presente em mais de 100 países. Entre 2017 e 2020 foi presidente da Direcção da associação. Actualmente, é consultor nas áreas da boa governança, transparência e políticas de combate à corrupção. Além de colunista e conferencista, tratando temas ligados à integridade pública e à participação cívica.

Aqui fica o último excerto:

“Aventar com” João Paulo Batalha

A rubrica de entrevistas “Aventar com”, será, desta vez, com João Paulo Batalha, amanhã, pelas 18 horas.

João Paulo Batalha é um dos fundadores da Transparência e Integridade, capítulo português da Transparency International, rede global de ONG anti-corrupção presente em mais de 100 países. Entre 2017 e 2020 foi presidente da Direcção da associação. Actualmente, é consultor nas áreas da boa governança, transparência e políticas de combate à corrupção. Além de colunista e conferencista, tratando temas ligados à integridade pública e à participação cívica.

Aqui fica o quinto excerto:

“Aventar com” João Paulo Batalha

A rubrica de entrevistas “Aventar com”, será, desta vez, com João Paulo Batalha, no próximo Sábado – 26/06/2021 -, pelas 18 horas.

João Paulo Batalha é um dos fundadores da Transparência e Integridade, capítulo português da Transparency International, rede global de ONG anti-corrupção presente em mais de 100 países. Entre 2017 e 2020 foi presidente da Direcção da associação. Actualmente, é consultor nas áreas da boa governança, transparência e políticas de combate à corrupção. Além de colunista e conferencista, tratando temas ligados à integridade pública e à participação cívica.

Aqui fica o quarto excerto:

“Aventar com” João Paulo Batalha

A rubrica de entrevistas “Aventar com”, será, desta vez, com João Paulo Batalha, no próximo Sábado – 26/06/2021 -, pelas 18 horas.

João Paulo Batalha é um dos fundadores da Transparência e Integridade, capítulo português da Transparency International, rede global de ONG anti-corrupção presente em mais de 100 países. Entre 2017 e 2020 foi presidente da Direcção da associação. Actualmente, é consultor nas áreas da boa governança, transparência e políticas de combate à corrupção. Além de colunista e conferencista, tratando temas ligados à integridade pública e à participação cívica.

Aqui fica o terceiro excerto:

“Aventar com” João Paulo Batalha

A rubrica de entrevistas “Aventar com”, será, desta vez, com João Paulo Batalha, no próximo Sábado – 26/06/2021 -, pelas 18 horas.

João Paulo Batalha é um dos fundadores da Transparência e Integridade, capítulo português da Transparency International, rede global de ONG anti-corrupção presente em mais de 100 países. Entre 2017 e 2020 foi presidente da Direcção da associação. Actualmente, é consultor nas áreas da boa governança, transparência e políticas de combate à corrupção. Além de colunista e conferencista, tratando temas ligados à integridade pública e à participação cívica.

Aqui fica o segundo excerto:

“Aventar com” João Paulo Batalha

A rubrica de entrevistas “Aventar com”, será, desta vez, com João Paulo Batalha, no próximo Sábado – 26/06/2021 -, pelas 18 horas.

João Paulo Batalha é um dos fundadores da Transparência e Integridade, capítulo português da Transparency International, rede global de ONG anti-corrupção presente em mais de 100 países. Entre 2017 e 2020 foi presidente da Direcção da associação. Actualmente, é consultor nas áreas da boa governança, transparência e políticas de combate à corrupção. Além de colunista e conferencista, tratando temas ligados à integridade pública e à participação cívica.

Aqui fica o primeiro excerto:

 

Ontem tivemos Cidadania

Começou ontem a disciplina de Cidadania, com a sua aula semanal de 50 minutos.
Procedemos à eleição do delegado de turma, ou seja, o representante dos alunos. Seguindo o princípio do voto secreto, ganhou o aluno que teve mais votos. A maioria, princípio basilar do sistema democrático.
No final, fizemos uma acta com o resultado e as incidências da votação.
Confirma-se. A disciplina de Cidadania é nociva para a juventude e subverte o papel dos agentes. Então não deviam ser os pais a explicar o que é uma acta e para que serve?
Atenção, muita atenção, o amish de Famalicão is watching you.
Cidadania. O drama, o horror…

Ultraconservadores que não deixam ninguém em paz. Nem as crianças

No limite, este poderá muito bem ser o resultado de ceder aos fundamentalistas, religiosos ou não, que defendem um sistema de ensino vinculado às suas próprias crenças, mesmo quando essas crenças se “fundamentam” em ficções, extremismos ou teorias da conspiração. Ensinar o criacionismo, por exemplo, não pode ser uma opção. Ensinar que a Terra é plana também não. Não numa democracia liberal. Combater esses lobbies obscurantistas, orquestrados por um ultraconservadorismo elitista que pretende estupidificar para reinar, é um imperativo ético para todos os que prezam a democracia, sejam de direita ou esquerda, conservadores ou liberais. Porque o choque que se avizinha, a grande batalha que nos espera, não será entre a esquerda e a direita. Será entre os que se levantarão pela democracia e os que agora saem do armário para a abater. E já começou.

Atrasadice

Este paranoico levantamento contra a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento é um vergonhoso indicador do obscurantismo de uma parte da sociedade portuguesa, digna dos princípios do século passado.

Não vale a pena escrever de outra maneira o que Maria João Marques claramente formulou aqui, salientando-se o seguinte excerto:

“O que os perturba? Não é, claro, o módulo da segurança rodoviária ou de empreendedorismo. O que transtorna as personalidades signatárias são os módulos da sexualidade – onde se enquadram a Educação Sexual e os temas da tolerância para com gays, lésbicas e transexuais – e da Igualdade de Género.

Incrível, não é? Um país com números aberrantes de violência doméstica, crimes sexuais que têm aumentado nos últimos anos, sentenças iníquas dos tribunais garantindo a impunidade a violadores e agressores domésticos, diferenças salariais de 17% a menos para as mulheres, num momento em que 90% dos desempregados com a crise da covid são mulheres – e há quem faça petições contra o ensino da igualdade de género. [Read more…]

A “desajuda” do fechamento ou “calem o bico, cidadãos”

É demasiado óbvio que o aumento do número de assinaturas de 4.000 para 10.000 para que uma petição pública seja debatida em plenário na “casa da democracia” é um “sinal de fechamento na Assembleia da República, na participação dos cidadãos e na vitalidade da própria democracia”. E é-o de facto, não pode apenas “ser visto” como tal, conforme relativiza Marcelo Rebelo de Sousa.

Desta vez, o veto de Marcelo é em favor dos cidadãos e oferece uma oportunidade de apagar aquele dia negro para a democracia portuguesa em que a arrogância do PSD (que queria até aumentar o número mínimo para 15.000) e do PS quiseram abafar a voz da cidadania. Aceitam-se apostas.

Tudo o que seja revelar desconforto perante a participação dos cidadãos não ajuda, ou melhor, desajuda a fortalecer a democracia” – Pois é. E “desconforto” é apenas um eufemismo para a falta de pachorra destes partidos em causa própria, que não valem um chavo porque os cidadãos só lhes interessam para enfiarem o voto na urna. Até a esfarrapada justificação para a alteração da lei foi desmascarada: “o número de petições desceu em 2018 e 2019, relativamente a 2017 – portanto não é válida a justificação do trabalho parlamentar”.

E depois admiram-se que o Chega suba.

Hoje é um dia negro para a democracia portuguesa

Hoje é um dia negro para a democracia portuguesa, escreve João Miguel Tavares e, por uma vez, dou-lhe toda, mas TODA a razão. Não apenas por deixar o primeiro-ministro de ir ao Parlamento de quinze em quinze dias para passar a ir de dois em dois meses; não apenas porque “Hoje é o dia em que um partido da oposição – custa a crer, mas a proposta nasceu do PSD – decide que o governo necessita de menos escrutínio e deve prestar menos contas ao Parlamento”;  não apenas porque “Hoje é o dia em que os dois maiores partidos portugueses atraiçoam os valores da liberdade, da representatividade, da réplica política e do confronto de ideias, em nome de uma visão autocrática da democracia que poderia ser subscrita por Viktor Orbán.“  Mas principalmente porque hoje é o dia em que esses dois maiores partidos portugueses espezinham a democracia amordaçando a cidadania, pois, “com origem numa iniciativa do PSD, sobe de 4.000 para 10.000 o número mínimo de assinaturas necessárias para que uma petição seja discutida em plenário.“ E  “na especialidade, foi também aprovado o alargamento de matérias que podem ser objeto de iniciativas legislativas de cidadãos, mas ‘chumbado’ outro dos objetivos do diploma original do PAN: reduzir de 20.000 para 15.000 o número mínimo de cidadãos que pode apresentar um projeto-lei à Assembleia da República.

Num abrir e fechar de olhos, estes dois partidos arrogantes e anti-democráticos matam assim, como se de moscas se tratasse, a possibilidade de levar a plenário tudo aquilo que importa a cidadãos empenhados, que exercem a cidadania no seu amplo sentido e se esforçam por intervir na configuração da sociedade, como é próprio de democracias vivas e fortes.

Esta é a expressão mais cabal daquilo que de nós querem estes partidos: que lhes demos o nosso voto para depois fazerem o que lhes dá na real gana; que lhes demos o nosso voto para depois nos mandarem calar; que lhes demos o nosso voto para depois nos comandarem.

Hoje é um dia negro para a democracia portuguesa.

Ensinar ou preparar para os exames?

João Costa é secretário de Estado da Educação desde 26 de Novembro de 2015. Está, portanto, prestes a perfazer uma legislatura.

A equipa de que faz parte acabou com os exames nacionais de quarto e de sexto ano, inventando umas provas de aferição inúteis no quinto e no oitavo. Os argumentos para acabar com os primeiros foram tão profundos como os de Nuno Crato para os manter ou impor; as razões para justificar a criação das provas de aferição são igualmente inexistentes.

João Costa, aliás, como muitos que passaram pelo Ministério da Educação, tem funções tão decorativas que acaba por se dedicar a inutilidades folclóricas. Sendo o ideólogo de serviço, limitou-se a impor ideias vagas acerca da flexibilidade e da inclusão, o ai-jesus de muitas sessões de formação, a fazer lembrar o entusiasmo dos pregadores e pastores de seitas religiosas.

Recentemente, João Costa declarou que “as escolas devem preocupar-se em ensinar em vez de se inquietarem com a preparação dos alunos para os exames nacionais, argumentando que desta forma os estudantes terão melhores resultados académicos.”

Em primeiro lugar, os exames existem e têm uma importância enorme no percurso que leva os alunos a entrar no Ensino Superior. Se um professor se preocupar com os alunos, deve, portanto, preocupar-se com a preparação para o exame, o que não é incompatível, imagine-se!, com ensinar. [Read more…]

Educação ou o campo de minas

No que se refere à Educação, esquerda e direita não têm pensamentos, têm tiques e reacções. O ideólogo de serviço, neste momento, é João Costa. Atacado por um vago esquerdismo que aparenta pensar nos mais desfavorecidos, já glosou a habitual treta da escola que deve preparar para a vida, apareceu, ainda, a combater a “acumulação de saberes” e inventou a Cidadania e Nova Inclusão.

A reflexão sobre a cidadania sempre foi inevitavelmente transversal, porque qualquer área do saber a implica. João Costa, no entanto, como todos os que desprezam os professores e as escolas, sentiu que era necessário impor uma disciplina, ao mesmo tempo que desvaloriza os saberes, especialmente os ligados às Humanidades. Por causa de mais uma criação desnecessária, as disciplinas de História e de Geografia estão a perder horas em algumas escolas. Não sei como é que a acumulação de ignorância e e o cultivo de generalidades formam cidadãos.

Cada vez mais, no entanto, dou por mim a pensar que a culpa, em parte, é dos professores e das escolas, que aderem entusiasmados às modas que equipas ministeriais vão impondo aos sabores das mudanças eleitorais, sempre de acordo com tiques e convencidos de que tiveram ideias brilhantes. Deus nos livre de quem se julga brilhante!

Crónica de um protesto cidadão vigoroso com desfecho vitorioso

Foto: dpa/Christophe Gateau

  • A empresa energética alemã RWE estava determinada a destruir, nos próximos meses, o pouco que resta (10%) da floresta milenar de Hambach, situada perto de Colónia, a fim de expandir a sua mina de extracção de lignito – contando para isso com o apoio dos governos federal e regional e baseando-se numa autorização legal para a exploração, atribuída há décadas.
  • Para bloquear essa destruição e expansão, há já seis anos que activistas ambientais ocuparam essa área, construindo 60 cabanas no alto das árvores.
  • Há cerca de três semanas, a polícia começou a desalojar à força os activistas, enquanto os protestos ganhavam cada vez mais força, com manifestações em que a luta contra a destruição da floresta se tornou um símbolo da resistência contra a extracção de lignito e por um melhor clima.
  • Tragicamente, há duas semanas um jornalista morreu, ao passar de uma das cabanas para a outra. As acções de evacuação foram interrompidas, mas recomeçaram poucos dias depois, com a RWE a alegar que o desmatamento era imperioso para garantir a produção de energia – isto, enquanto a recém-criada pelo governo “Comissão do Carvão” inicia os trabalhos para definir as linhas de uma estratégia energética para o país.
  • O movimento cidadão, porém, não baixou os braços e anunciou uma concentração com dezenas de milhares de pessoas para hoje, sábado.
  • Há dois dias, a polícia comunicou que a manifestação seria proibida por não poder garantir a segurança dos acessos.
  • Ontem, sexta-feira, as boas notícias:

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Se puder, vá mesmo!

Foto de Paulete Matos

É conhecida a enorme dificuldade da sociedade civil portuguesa em articular-se de forma organizada. Interpretações das causas há várias; ocorre-me a recomendação da Carla para a análise em “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos”, lembro-me da de José Gil, em “Portugal, hoje – o medo de existir”. Elementos úteis para perceber esta carência de cidadania; e outros haverá. Tenho para mim que uma das causas é a aversão intrínseca dos portugueses à organização; organizar-se é abdicar de um pedacinho de individualismo por mor de uma causa cívica – uma cedência inadmissível para grande parte dos portugueses (sendo-lhes mais fácil tratando-se de uma causa caritativa). Poderia sugerir várias outras razões que contribuem para essa letargia cívica, mas vou directa ao assunto que aqui me traz:

Incitei aqui à participação numa manifestação por uma justa causa – e foi tão justa que foi noticiada a nível internacional. Incitei à participação nesta, porque era esta que se ía realizar nesse dia, como já incitei à participação noutras. Pois não faltaram comentadores a perguntar: então e contra a “irresponsabilidade que permite que morram mais de cem pessoas em incêndios?“; então e contra a corrupção? Isto para já não falar no carimbo de “manifestações idiotas”. [Read more…]

Cidadania ao vivo

marianna

“O que posso eu, sozinho, fazer contra o TTIP/CETA? pergunta-se meio mundo a si próprio”,  lia-se no cartaz de uma manifestante, aquando dos protestos contra os tratados que no mês passado reuniram 90.000 pessoas em Hannover. E de facto, o argumento de que não adianta empenhar-se porque não se consegue nada, está amplamente difundido, roubando força à cidadania. É lamentável que, enquanto cidadãos de países como a Turquia ou Angola arriscam a vida pelo direito ao protesto, quem dele dispõe, tão levianamente abdique de o exercer.

Esse não é porém o caso de Marianne Grimmenstein, uma professora de música de 69 anos residente em Lüdenscheid, uma pequena cidade alemã de 80.000 habitantes.  [Read more…]

Concessões obscuras para esburacar e contaminar o Algarve

algarve petróleoAs negociatas para maximizar a entrada de receitas resultantes da venda de bens públicos nos cofres não se têm detido, já há vários anos, em detalhes como a transparência perante cidadãos e até mesmo perante autarcas municipais. Foi isso o que aconteceu no caso das concessões para prospecção de petróleo e gás natural. Segundo Elvira Martins do movimento Plataforma Algarve Livre de Petróleo (PALP) “estão assinados quinze contratos em todo o país e as áreas que estão ainda para concessionar são enormes, quatro ou cinco vezes a área de Portugal Continental“. [Read more…]

A política no ” grau zero “.

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Virgílio Macedo tomou hoje posse como secretário de estado da administração interna do novo governo. Talvez seja uma boa desculpa para mais um ” golpe palaciano ” na Distrital do PSD do Porto.

Há cerca de 10 anos que nenhum presidente da distrital do PSD do Porto completa o seu mandato. Foi assim com Agostinho Branquinho, Marco António Costa e Virgílio Macedo. Esta é sempre uma forma de apanhar desprevenidos os seus antagonistas, não permitindo que haja tempo necessário para que possa aparecer uma alternativa política com tempo efectivo para apresentar uma candidatura credível e para fazer uma campanha séria e verdadeira junto dos 30.000 militantes do PSD no distrito do Porto.

Defendo, por várias razões, que o financiamento dos partidos deve ser exclusivamente público. Este é um passo importante para o fim da corrupção. Até agora só ganha eleições internas quem tem recursos financeiros para pagar as quotas aos ” seus ” militantes. E este dinheiro para pagar quotas de militantes de onde vem? De alguma árvore das patacas ou aparece após um toque de midas? Está provado que não se ganham eleições internas por mérito, mas ganha quem tem dinheiro. Por isso os dirigentes políticos são aqueles que conhecemos. Não se discutem ideias ou projectos, apenas prometem-se e oferecem-se ” tachos “.

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E que tal enchermos as urnas?

O evento que faltava. Não vos parece uma boa ideia? As tropas do regime não irão vacilar.

O voto electrónico

resolvia o problema de quem quer votar e está emigrado. Tanto “choque tecnológico” e ainda andamos nisto. Lamento quem nada faz para alterar isto. [Público]

Aventar – uma nova viagem na blogosfera

Começo, em primeiro lugar, por cumprimentar tod@s os companheir@s e leitor@s do AVENTAR.

A partir de hoje início uma nova viagem na blogosfera. Despois de uma anterior experiência, agora regresso para escrever no AVENTAR um dos espaços de opinião de referência no universo dos mais importantes blogues portugueses.

É, pois, uma honra escrever  sobre o nosso País e o Mundo para um universo maior de leitores e ao lado dos mais importantes bloggers portugueses.

Entendo que escrever, partilhar e debater livremente com os nossos concidadãos é uma das mais importantes formas de cidadania. É, por isso, que aqui estou na busca constante de um Portugal e de um Mundo melhor, muito melhor.

Quando é que desistimos de ser idealistas?

André Serpa Soares

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Não sei se é fenómeno nacional ou global mas, pelo menos em Portugal, é certo que não temos cultura de exigência.
Tendemos a relativizar as falhas dos poderosos, assim como desvalorizamos as dos que nos são mais próximos, desde aqueles com quem convivemos na nossa actividade profissional, até aos nossos familiares e amigos. Provavelmente, até acabamos por ser mais exigentes com estes últimos do que com os outros.
Isto nota-se em quase tudo, desde a larga tolerância à falta de pontualidade – confesso que é algo que me encanita – até à forma como aceitamos, de forma mais ou menos passiva, os erros e omissões daqueles que pregam o rigor e têm a obrigação de ser um exemplo.
Na política, por exemplo, em nome de um putativo pragmatismo e defendendo a escolha do “mal menor”, deixámos de acreditar e pouco exigimos. São já clássicos da nossa cultura política frases como “rouba mas faz”, “é mau, mas os outros são piores” ou, ainda mais triste e habitual, “são todos uns ladrões mentirosos”. [Read more…]

AvançAR

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Ao contrário do que afirma Ana Drago nesta entrevista recente à SIC Notícias, a chamada plataforma cidadã Tempo de Avançar não é, infelizmente, uma coisa nova. E não é nova porque lhe falta massa cidadã, justamente, isto é, uma participação inequivocamente emanada dos cidadãos, e dos cidadãos indistintamente considerados, ou seja, cidadãos não-afectos ao Bloco de Esquerda, por exemplo sob a forma de simpatizantes (e basta consultar a lista de primeiros aderentes – entretanto organizados em Conselho de candidatos efectivos – para ver a que ponto ela está capturada por esses simpatizantes e amigos mais ou menos próximos do BE).

Não vejo nenhum problema em ser-se simpatizante ou amigo do BE, era o que mais faltava. Já votei no BE – ah pois foi. Mas já vejo um problema em verificar a que ponto se está disposto a lançar mão de exemplos bem sucedidos ocorridos noutros países (o Syriza, o Podemos) para tentar construir, com evidente artificialidade, o que em Portugal não há (ainda): a emergência de um movimento de cidadãos ou de uma coligação de pequenos partidos reunidos em torno de um programa anti-austeridade, de defesa dos interesses democráticos e nacionais, e aptos (i.e., prontos e preparados) para governar – o povo do País e junto da UE. E essa demagogia, enunciada ainda no adro, entristece quem, como eu, está atento à marcha da procissão dos aflitos e descontentes com os partidos, e muito especialmente os da Esquerda.

Levado pela mão de figuras todas elas emanadas do Bloco de Esquerda – dissidentes de dissidências várias, como são os casos de Rui Tavares, Ana Drago e Daniel Oliveira –, o movimento Tempo de Avançar não parece, assim, ser substantivamente diferente do que ainda há semanas foi tentado por uma outra dupla de também dissidentes do BE: Joana Amaral Dias e Nuno Ramos de Almeida, fundadores do Juntos Podemos, ao que se sabe entretanto já dissolvido por novas (ou renovadas) dissidências. [Read more…]

Um Marinho incomoda muito mais

Isto da análise política feita por militantes partidários, tem coisas engraçadas.
Muito se fala em cidadania, da participação de cidadãos na política livres de militâncias e coisa e tal.
Mas, do rescaldo das eleições europeias, conclui-se com facilidade: se um cidadão incomoda muita gente, um Marinho incomoda muito mais…