Os zangados da literatura estão, na sua indignação, a promover Dylan a grande – ou mesmo genial! – músico, tentando, assim, diminuir-lhe a obra poética. “O que ele é é músico” – proclamam. Ora eu, que gosto de Dylan, não o considero um genial músico, um grande cantor e, muito menos um, sequer, razoável instrumentista. Na verdade, sendo um melodista de mérito, com algumas boas ideias musicais que se quedam na sua mais pura simplicidade, é um cantor de voz deveras limitada – para dizer o mínimo – e um ainda mais limitado instrumentista. Dylan é um bardo, um trovador, um poeta que canta as suas palavras. E é aí que se lhe vislumbra a grandeza. Tanta, que acabamos por lhe perdoar as limitações como interprete. E mais: fizemos da sua voz rouca e limitada, do seu estilo simples e básico, valores artístico por si mesmos. É pela palavra que Dylan se eleva aos grandes. E como a palavra é bela, todo o conjunto se ergue como excepcional.
Há muitos anos, encontrei entre os alfarrábios da loja do Ricardo, ali do Arco da Amedina, uma volumosa edição artesanal – e pirata…- das “lyrics” das canções do Bob Dylan. Estava a ler o meu achado na mesa do canto da Brasileira e não tardou a piada sobre se me ia pôr a cantar. Não ia. Mas confirmava esta evidência: há uma grande diferença entre um letrista e um poeta. E raramente se encontram na mesma pessoa. Dylan é uma das excepções. Por cá, José Afonso e Sérgio Godinho – entre os poetas-cantores – são bons exemplos, como Ary dos Santos, Alexandre O’Neill e David Mourão Ferreira o são entre os que têm o segredo de fazer poesia que (se) canta. O movimento que, nos últimos anos, tem trazido para a canção grandes poetas, deu belos resultados; e também disparates intragáveis.
Quem quiser que se entretenha na florentina discussão de saber se o que Dylan faz é literatura ou não. Se o seu nariz cabe no catálogo teutónico de judeus, se os seus genes lhe traem a origem russa. Quero lá saber. Como o Poeta, eu “canto o peito ilustre” Dylaniano.
Bob, o bardo
escritores chilenos – mi Gabriela Mistral

a poetisa a receber o Prémio Nobeldo Rei Sueco Gustavo Adolfo
Gabriela Mistral, 1954, ano em que a conheci, Valparaíso, Chile
O título tem razão de ser, porque a conheci quando eu era pequeno e, desde logo, a admirei. Conhecia a sua poesia, romântica e combativa. Gabriela Mistral[1] era a leitura obrigatória da minha mãe, que gostava mais de ler que de comer. Essa devoção levou-me em curto espaço de tempo a ler a poetisa. Mal se conhecia a sua obra no Chile, apenas os Sonetos da Morte, escritos em 1914, poema com que ganhara os Jogos Florais de Santiago. Não se apresentou a receber o prémio. Tinha escrito esses versos em memória do seu grande amor, Romélio Ureta, homem fino, com quem namorou, abandonando o seu prometido Alfredo Videla, ambos maestros na escola La Cantera, da cidade de Vicuña. Gabriela Mistral era maestra de crianças e foi sobre elas que começou a escrever. [Read more…]
escritores chilenos – Pablo Neruda
Foi um acaso, o que se diz normalmente, uma casualidade. Tinha eu quinze anos, el deve ter tido uma idade indefinida, mas eram já os tempos da sua idade indefinida. [1] Os poetas não têm idade vivem a vida a dar saltos entre a realidade transformada em realidade en verso. Éramos vizinhos de uma das sua três casas, a de Valparaíso o La Sebastiana. Conhecemos, na nossa lua-de-mel, a minha noiva, agora esposa, a primeira que fez no Chile: Isla Negra. Não era, de facto uma ilha, era uma quinta que ficava ao pé da casa dos nossos amores, em Algarrobo, praia balnear perto de Valparaiso. Neruda não conseguia viver sem ver o amor. Entrar na Sebastiana com a minha mãe, foi uma delícia: via-se, como era da nossa vizinha casa, toda a Baia do porto e, com essa fantasia contagiante, além-mar. Sua única habitação na cidade, era La
Saramago – está na hora de acabar!
1975 – Saramago é nomeado director adjunto do DN. “Quem não está com a revolução, é melhor não estar no DN.” diz para os atónitos jornalistas e colegas. Em tempo de opções radicalizadas, os editoriais vinham ao serviço da facção gonçalvista do MFA. O saneamento de 30 jornalistas colou ao seu nome um rasto de polémica que o acompanhou sempre” – Publico de hoje.
Foi preciso lutar para termos uma democracia em Portugal. Primeiro contra a tentativa totalitária da esquerda, depois contra a tentativa totalitária da direita. Foi preciso lutar e foi preciso vencer, há nomes e rostos que estiveram de um lado e outro da barricada e isso não se esquece passando uma esponja de elogios inflamados.
Saramago foi um homem de susceptibilidades à flor da pele, mal tratado por um alucinado medíocre que esteve sub-secretário de estado da cultura, não mais perdoou ao país o que considerou um agravo . País, esse, onde vendia os seus livros e utilizava a língua mãe para escrever, foi viver para longe porque o país não era digno dele. Eu estou do lado do meu país, mesmo que tenha burros como o sr. Sousa Lara .
Inchei de orgulho por lhe ter sido atribuído o Prémio Nobel da Literatura , admiro a sua obra e fiz do Memorial do Convento um dos livros da minha vida. Nunca gostei de Saramago tambem porque perfilhava uma ideologia contra a qual luto e continuarei a lutar.
Mas é tempo de enterrar velhos sentimentos, não ódios, porque eu não perfilho ódios, mas também não tenho “santinhos” a quem dedicar as minhas preces.
É pois tempo de acabar. Descansa em PAZ José Saramago!
Gabriela Mistral
Tinha eu, se bem me lembro, doze ou treze anos, quando a vi pela primeira vez. Ela tinha vários anos mais, sempre calada e silenciosa. Falava quando lhe parecia bem. A maior parte da sua vida, do seu dia, das suas noites, em silêncio. Exprimia os seus sentimentos por escrito. Vestia sempre uma roupa larga, tecida num tipo idêntico à serapilheira, que raramente mudava. Raramente também tomava banho, somente lavava o interior do seu corpo e as partes públicas. Não cheirava mal, apenas quando bebia a sua bebida preferida, a sangria, essa bebida que combinava um nadinha de vinho, muita água e açúcar, que bebia várias vezes ao dia. Tinha o mau hábito de arrotar após as refeições, costume que ninguém apreciava, era de um som e fedor repelente.
Gabriela foi o nome por si escolhido por puro prazer e Mistral, porque sentia ser o vento que soprava com força e tudo varria. Tal como ela com os seus versos e os prémios que vencia. Tanto quanto me lembro (escrevo exercitando as minhas memórias pessoais), nasceu na vila de Vicuña, no Vale de Elqui, situada no norte do Chile. Nasceu de mãe madura e assistida por uma parteira, que sofreu imenso a tirar a criatura do ventre materno, vinha mal posicionada e quase asfixiada, nesse 7 de Abril, dia do seu nascimento no ano de 1889. Viveu até 1957, relembro esse dia e o pranto que não cessava de cair dos meus românticos olhos e coração e do amor que sentia pela sua poesia e pela sua pessoa. Viveu apenas 68 anos, faleceu a 10 de Janeiro, dia da sua entrada na eternidade, poucos meses antes do seu próprio aniversário. [Read more…]
A máquina do tempo: montanha mágica
A mesma sala tem dimensões diversas consoante a apreciamos na infância ou na idade adulta – às crianças as coisas parecem sempre maiores, por razões óbvias de diferença de escala. Quantas desilusões temos ao regressar em adultos a locais «grandiosos» da nossa infância e os encontramos pequenos, acanhados, insignificantes… Tinha os meus dezasseis anos quando li «Montanha Mágica», de Thomas Mann. Li-o numas férias de Verão na Biblioteca Nacional que funcionava ainda no velho edifício do Largo da Biblioteca, junto à Rua Vítor Córdon, pegado com a Escola Superior de Belas Artes.
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