Morreu o Manuel António Pina

Caramba…

O que se escreve nestas alturas? Lembra-se o Homem, o escritor, o criativo, o cidadão.

A primeira coisa que me ocorreu foi um dos últimos trabalhos que fiz com os meus alunos em torno do livro “O tesouro.”

Estamos de volta ao país das pessoas tristes, hoje ainda mais triste pela partida do Pina.

Um ladrão não deixa de ser ladrão por declamar poesia

A frase, em si, é deliciosa.

Esqueçamos quem a usou e em que circunstâncias. Esqueçamos, aliás, as circunstâncias. Mais, esqueçamos mesmo as circunstâncias que deram origem às circunstâncias em que a frase foi usada. Como bónus, até podemos esquecer que a frase foi proferida com razão  e adequada às circunstâncias.

A frase, em si, é deliciosa.

Quase tão deliciosa como esta: um poeta não deixa de ser poeta por ser ladrão.

(Ou pior)

Já fui poeta da luz

adão cruz

(Poemas de mãos dadas)

 Já fui poeta da luz quando a palavra alumiava o infinito e o sol nascia dentro de mim.

Quando a vida alumiava o infinito eu nasci na erva e dormi no feno e acordei com melros e rouxinóis e saltitei com os pardais.

Quando me vesti de sol e me despi de luar e estreei o mundo no abraço das árvores e no beijo dos rios.

Quando meus olhos dormidos casavam a noite e o dia no mesmo silêncio de sonho-menino. [Read more…]

Luiz Vaz de Camões, de mistério em mistério

o poeta dos poetas portuguezes, historiador, feitos de armas

Referir a vida da Luiz Vaz de Camões, é reiterar o que em Portugal e vários outros sítios do mundo, é já conhecido. Quer na Europa, nas antigas possessões portuguesas na África, na hoje América Latina, na Índia, especialmente Goa, sítio importante da Índia, passando por Macau e por Ceuta. Não era apenas um poeta, que descobrira outras terras que inspiraram os seus textos e exaltaram a sua imaginação; não era apenas um soldado que entendeu ao ser humano após ter conhecido tantos e de tão diversas espécies, era, antes de nada, quem inventara, como descoberta, aos portugueses, denominados lusitanos na sua época. Época final do romantismo europeu.

A Península Ibérica era a sua Pátria, não apenas Lusitânia, como era denominado Portugal no Século XVI e que ele, como sabemos, imortalizara na sua grande obra, escrita em 1571 e publicada em 1572 com o apoio do seu mentor desse

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escritores chilenos – Pablo Neruda

Foi um acaso, o que se diz normalmente, uma casualidade. Tinha eu quinze anos, el deve ter tido uma idade indefinida, mas eram já os tempos da sua idade indefinida. [1] Os poetas não têm idade vivem a vida a dar saltos entre a realidade transformada em realidade en verso. Éramos vizinhos de uma das sua três casas, a de Valparaíso o La Sebastiana. Conhecemos, na nossa lua-de-mel, a minha noiva, agora esposa, a primeira que fez no Chile: Isla Negra. Não era, de facto uma ilha, era uma quinta que ficava ao pé da casa dos nossos amores, em Algarrobo, praia balnear perto de Valparaiso. Neruda não conseguia viver sem ver o amor. Entrar na Sebastiana com a minha mãe, foi uma delícia: via-se, como era da nossa vizinha casa, toda a Baia do porto e, com essa fantasia contagiante, além-mar. Sua única habitação na cidade, era La

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Poetas

 Numa altura em que o pensamento único tende a fazer deste planeta um mundo irracional e idiota, nestes tempos de profunda hipocrisia e escassa poesia, tentar a poesia é, ainda, tentar voar.

Sobre a poesia e os que a tentam descobrir, os chamados poetas, recai muitas vezes um julgamento pejorativo.

 A poesia é assim uma coisa…e os poetas uma espécie de lunáticos que não têm os pés assentes na terra.

Eles têm os pés assentes na terra. O que acontece é que a terra nem sempre é terra, e eles erguem os pés porque a terra é merda mal cheirosa.

 A poesia está para além das letras, das sílabas e dos versos. É uma espécie de ascese que envolve o Homem e o aproxima da sublimação da vida. Estou convencido de que há muitas pessoas que não conseguem ultrapassar a fronteira para além da qual a razão do mundo não é a sua ou a visão do mundo não é a que diariamente nos impingem. E penso, é apenas uma opinião, que a causa está na ausência intrínseca de sentimento poético. [Read more…]

Um Poeta Sem Juízo e Um Presidente Ditador

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BELMIRO DE AZEVEDO SEM PAPAS NA LÍNGUA
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Numa entrevista à revista Visão, a sair hoje, quinta-feira, Belmiro de Azevedo ataca tudo e todos. Para ele, o poeta Alegre deveria ter juízo, coisa que se sabe que não tem, e o Presidente Cavaco é um ditador, coisa que alguns saberão melhor que outros.
Depois, é a descascar por aí fora. A ler.

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Poemas do ser e não ser

(adão cruz)

Já poeta não sou

já não sou quem era

não sinto as noites de prata

nem mexe comigo a ventania

que varre as faldas da serra

não me doem as videiras

espetadas no céu

nem os castelos de fantasia

caídos por terra.

Cada erva

cada semente

é resto de uma canção

que já não sei cantar.

Fugiu do peito o coração

foi-se embora o luar

e o rio que eu era

nem sequer chegou ao mar.

Sou pirilampo das sombras

voando pelos regatos secos

não sei se vou longe se vou perto

se ao cimo se ao fundo

não sei se giro por dentro

ou por fora do mundo.

Poemas do ser e não ser

Magnífica surpresa nesta saga de poetas

para o silêncio das cinzas nocturnas!

Um labirinto de ismos que se entrecruzam

de pontes sobre o rio seco

que corre dentro de mim

para um lago de silêncio com a cidade ao longe.

Sei que há no fundo de mim mesmo

Onde não enxergo qualquer fundo

Qualquer coisa que eu sinto.

Sei que há um correr de ruas mortas

E um vento de silêncio

calando as mil janelas da cidade virtual

Onde morre quem vive e vive quem morre

Em serena ode à quietude universal.