O «Sinais», do Fernando Alves, na TSF, se antes era uma companhia diária, é agora a minha vitamina. A crónica de hoje foi uma saudação especial aos caminhantes. Confinados em casa, ou quando muito reduzidos a uma escapadela em horários pouco concorridos (porque até o nosso passeio higiénico tem algo de traição a todos os que aguentam encerrados), sentimos a falta das nossas caminhadas. Ontem mesmo levei para a varanda o mini-stepper, aquele aparelhinho ridículo para andar a pé sem sair do sítio, e lá fiquei um bom bocado, num caminhar fingido que faz lembrar o correr fingido do hamster na sua roda, mas com a vista posta bem longe, naquela nesga da Torre dos Clérigos que avisto da proa da varanda. [Read more…]
O rapaz esquecido
Lá fui para mais um dia de uma primavera que teima em se esconder atrás do cinzentismo coerente com os nossos governantes. Percorri, como sempre, os segundos que separam o mais novo de casa. “Até logo pai“, ouvi eu lá ao longe, depois de um beijo que não quero perder. Mas hoje, perdi. Perdi porque o Fernando Alves roubou-me o exercício da paternidade quando me levou para a noite, longa, de quase 40 anos, do esquecimento do José Alves Costa.
Ele que, bem vistas as coisas, FEZ o 25 de abril.
Em lágrimas pensei no meu Pai.
Também nunca mais voltou a Lisboa e nunca mais voltará. Temo, pois, o que irá sentir José Alves Costa quando voltar a Lisboa – olhar para o Tejo e perguntar: valeu a pena? Foi por isto? Para isto?
Para ler hoje no Público.
O devir histórico (5)
Ao longo da nossa história, a preocupação da posse e exibição de um título, de um sinal distintivo em relação aos demais, ou pelo menos à maioria, tornou-se um culto. Uma obsessão. Começou pelos títulos nobiliárquicos e desaguou-se nos académicos. De Terratenente, a Conde, até Doutor ou Engenheiro. Um fio condutor ao longo de séculos: destaque social. E se após a Revolução de Abril, a disseminação de licenciaturas fez perder o valor social dos títulos académicos, tal não foi o suficiente para não se fazer de tudo para se ter o “almejado” canudo: fosse a obter licenciaturas ao domingo ou por equivalências. Porque tal título continua a investir o portador numa espécie de distinção social. Aliás, somos, em bom rigor, o único país da Europa onde se trata as pessoas pelo título académico. Não importa o mérito das pessoas, a sua acção ou papel social. Aliás, nem o nome. Pois que é corrente tratar-se alguém por “senhor doutor” que nos foi apresentado como sendo o “senhor doutor”, e nem se chegar a saber qual o nome da pessoa em causa. Tal lusa excentricidade, só tem paralelo essa outra lusa tradição parola de se tratar pelo primeiro nome precedido do título: “o doutor Carlos”, o “engenheiro Manuel” ou o “arquitecto Francisco”. Também, infeliz caso único na Europa. Neste país o nome de família não vale nada. Vale, sim, o primeiro nome. Principalmente se precedido de um título académico. Mesmo que falso, pois trata-se por “doutor” quem é apenas licenciado. Saltando-se, até, por cima do mestrado, aliás banalizado com o Processo de Bolonha. Como banalizado está o ensino em geral, onde se perde mais tempo com a avaliação dos professores do que com a avaliação dos alunos. Onde o mérito parece extinto. E é neste país, obcecado com títulos académicos, que, agora, se aponta a fronteira, como caminho a quem gastou recursos ao Estado e à família para se formar. Corolário da falência mental a que se chegou, que é a razão primeira da nossa crise.
Sinais
Neste corrupio de acontecimentos, desde as revelações do semanário “Sol”, – revelações que o semanário aumentou o ritmo – passando pelas primeiras providências cautelares de censura prévia em mais de 30 anos de democracia, uma pequena nota não para o que se diz e para o que se escreve,ou para o que é lembrado, mas antes para o silêncio.
Neste momento ninguém, a não ser do núcleo duro do Governo e da direcção do PS, parece querer aproximar-se de José Sócrates. A dita ala Esquerda mantem-se quieta e dos “históricos” nem uma palavra. A consciência da gravidade do assunto, legalidades à parte, existe. Por mais que se queira esconder a situação por trás de elogios de levar às lágrimas.
À medida que o tempo for passando e a informação se for espalhando, infiltrando, estes silêncios terão cada vez mais peso, e ou são quebrados ou irão esmagar aqueles sobre os quais pairam.
Os sinais mais marcantes começam a ser, e serão cada vez mais, os silêncios, as omissões. Mais do que as palavras e as reacções. Porque neles se irá sustentar a desagregação do Governo.
Entretanto, o que se tem escrito, editado, revelado e contradito, são os piores sinais que se transmitem lá para fora, para os nossos credores, para os investidores que queremos cativar, para os analistas financeiros que queremos convencer acerca da nossa economia.
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