Só não vê quem não quer ver

Impressiona-me a quantidade de carros de luxo a circular em Portugal: Jaguar, Porsche, Tesla, Mercedes, BMW, etc. Isto, além dos que enchem stands de automóveis, por todo o país. Os SUV`s de luxo, esses, então, parece que pululam.

O recurso ao crédito pode ajudar a explicar alguma coisa, mas está longe de explicar a substância. Tanto mais com o aumento das taxas de juro.

Há,sim, sinais exteriores de economia paralela em todo o lado, e só não vê quem não quer ver.

Se atendermos ao PIB per capita (7º mais baixo na UE em 2021 e em 2022), ao custo dos bens essenciais e dos combustíveis, à carga fiscal sobre o trabalho e as empresas, para além das altas taxas de IVA, ao custo do metro quadrado de construção, o aumento das taxas de juro, e à alta inflação, é fácil de perceber que tanto carro de luxo não bate certo com a nossa realidade económica e social espelhada nos dados oficiais.

Faz lembrar o tempo de Alves Reis, em que as pessoas questionavam-se como é que num país tão velho, havia tantas notas de quinhentos Escudos novas.

Qualquer pessoa que viva do seu salário, ou que tenha um negócio lícito, sabe o quanto custa ganhar a vida para cumprir compromissos básicos. Aliás, quem tenha um salário, por exemplo, de € 4.000,00 – que face à nossa realidade salarial, é um salário alto, topo de algumas carreiras -, entrega cerca de metade ao Estado.

Só a economia paralela pode explicar – ou, pelo menos, numa substancial parte -, que crescentes sinais exteriores de riqueza coabitem com o aumento da perda de poder de compra e do empobrecimento.

E essa realidade, que tem vindo a crescer a olhos vistos, foi recentemente exposta por um estudo da Faculdade de Economia do Porto. Estudo, esse, que passou ao lado da divulgação e da discussão públicas.

Segundo aquele estudo da FEP, a economia paralela tem vindo a crescer desde 1999 e já representa, em 2022, 82.232 milhões de Euros.

Um governo que se diz (pf. não se riam) socialista, e que invoca, rotineiramente, a equidade fiscal para justificar o que é menos popular -, desde reduzir a remuneração do aforro até à redução ilegal dos apoios às rendas -, deveria, há muito, ter abordado esta fonte de desigualdade social.

É possível que quem leia este texto, ainda se esteja a rir do Governo se dizer socialista. Sim, é cómico. Mas, o enraizamento da economia paralela, é uma das maiores tragédias de qualquer país.

Lavar mais Blanco

Este gajo não se cansa de passar vergonhas.

Os impostos não servem para financiar esses serviços. Antes servissem! Servem, fundamentalmente, para abater na dívida pública. Se os impostos servissem para financiar os serviços públicos, os mesmos não estariam na situação dramática em que se encontram.

Portugal é um dos apenas três países da Zona Euro que promete cumprir a regra da dívida até 2026” já diz tudo sobre para onde vai o dinheiro que os portugueses pagam em impostos.

Já agora, convém esclarecer o porquê da classe média pagar tantos impostos: a economia nacional foi quase toda privatizada desde a década de 80 até hoje. Ora, com a privatização da grande maioria das empresas-chave de sectores estratégicos, a única opção para encher os cofres ao Estado é sobrecarregando a população, neste caso a classe média, com impostos. Impostos esses que que quem controla os sectores estratégicos da economia, por norma, não paga (levando esse dinheiro para offshores, paraísos fiscais e fundos de investimento de origem duvidosa).

Liberais, parem de tentar iludir e enganar as pessoas. Infelizmente, o deputado Bernardo Blanco bloqueou-me nas várias plataformas e não lhe posso ensinar estas coisas directamente.

Amigos, a solução não é mais liberalismo, é exactamente o contrário, pois foi a liberalização da economia que nos trouxe a este Estado lastimável. A solução da Iniciativa Liberal, que quando fala em baixos salários nunca propõe subir os mesmos, mas sim diminuir a carga fiscal (aos que já têm salários acima da média), passa pela privatização destes serviços para os entregar a quem querem aliviar a carga fiscal, ou seja, aos donos disto tudo.

Chama-se a isto “lavar mais Blanco”. Mantenham-se alerta: um olho no facho, outro no liberal. Por fim, deixo-vos com gente séria:

O mérito dos CEO

Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins. Fotografia retirada do Jornal Económico.

Noticia o jornal Expresso:

“(…) presidentes executivos já ganham 36 vezes mais do que os trabalhadores.” 

Só se pode concluir uma coisa: continuam as campanhas anti-patrões e, agora, até o jornal Expresso já faz parte da entente socialista-comunista-vuvuzela-Cuba-do-Alentejo.

Faltará pouco para que vejamos Pinto Balsemão de boina e colete numa qualquer Festa do Avante, se este ódio aos grandes patrões continuar.

Mas alguém, no seu perfeito juízo, nos vem dizer que os CEOs das grandes empresas não trabalham trinta e seis vezes mais do que os plebeus que estão sentados nas caixas do hiper-mercado ou dos que lá fazem reposições? Balelas! Vão-me dizer que é mais fácil estar sentado no escritório 4h/dia a ver papéis e a beber um whiskey com gelo e, no resto do dia, frequentar os rooftops enquanto se fazem business e se criam networks de gin na mão a ver o sunset?! Seus invejosos!

Notícias como esta são um ataque directo ao direito que estes desgraçados têm de viver com dignidade nos seus palacetes de milhões. A verdade é que toda a gente tem inveja do sucesso inquestionável destes nunca pobres, mas coitados homens de bem.

Ps. Noutra notícia, na mesma senda: Pedro Soares dos Santos, da Jerónimo Martins, ganha cento e oitenta e seis (186!!!) vezes mais do que os trabalhadores do grupo. Em dez anos a remuneração dos gestores das grandes empresas subiu 47%, enquanto os salários dos seus trabalhadores caiu 0,7%. Já dizia o “outro”: não há almoços grátis.

Exploração infantil do bem

À falta de mão-de-obra nos EUA, os decisores políticos responderam com a flexibilização do trabalho infantil.

Migrantes que vêm para trabalhar?
Deusmelivreeguarde!
Construam um muro e deixem esses violadores do lado de lá, plamôrdeDeus!

Facilitar a contratação de crianças menores de 16 anos com salários miseráveis?
É o mercado livre, estúpido! [Read more…]

Conversas Vadias – Segunda temporada, episódio 2

Neste segundo episódio da segunda temporada, vadiaram José Mário Teixeira, Fernando Moreira de Sá, Francisco Miguel Valada e António Fernando Nabais. As conversas vadiaram pela Super Bowl, pelo Sporting-Porto, pela crise da habitação, pela luta dos professores, pelas claques de futebol e por sugestões das boas: [Read more…]

Conversas Vadias
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Conversas Vadias - Segunda temporada, episódio 2
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Ricardo Sá Fernandes e os autarcas corruptos

Para Ricardo Sá Fernandes, os baixos salários dos autarcas ajudam a explicar a corrupção nos municípios. O argumento poderá servir os interesses de alguns dos seus clientes, em particular os autarcas corruptos e/ou acusados de corrupção, mas é, recorrendo ao cancioneiro humorístico nacional, gozar com quem trabalha.

O salário mais baixo que um autarca pode auferir em Portugal ronda os 2900€. Só alguém que vive numa bolha de privilégio, totalmente alheio à realidade do país, poderá achar que este é um salário baixo. E não estou aqui a contabilizar ajudas de custo, viaturas de serviço, que dispensam inúmeros autarcas de terem carro próprio (e restantes despesas que daí decorrem), e outros benefícios como almoços – literalmente – grátis e viagens-passeio.

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Nunca desiludem

O Ventura e o seu Chega já se revoltou e exigiu aos seus deputados não aceitarem receber tanto? O Bloco e a Catarina já iniciaram os preparativos para a marcha da revolta?

Mónica Quintela e a pressinha

Em primeiro lugar, peço desculpa por usar palavrões no título de um texto. Efectivamente, “Mónica Quintela” é revelador da minha falta de educação. Espero que não volte a acontecer-me. Se repetir, lavarei a língua com sabão, que é para aprender numa pressinha.

O João Mendes resumiu, e muito bem, o significado deste discurso, chamando, ainda, a atenção para os aplausos dos restantes deputados do mesmo partido da senhora cujo nome não irei repetir, porque quero poupar sabão. São os aplausos de gentinha que acredita no mito passista (já conta como meio palavrão) de que vivemos (nós? mas nós quem?) acima das nossas (nossas?) possibilidades e que era preciso ir além da troika. 

Esta gentinha que aplaude o que escarrou a senhora deputada está muito bem integrada numa minoria parlamentar que cultiva, de modo populista, o ódio aos funcionários públicos, fazendo de conta que estes é que são o problema, quando, com todos os seus defeitos, são um pilar da sociedade, são aqueles que aguentam o sucessivo e frequente servilismo do poder executivo que trabalha para vender o Estado às postas, tornando difícil e frequentemente milagroso o trabalho da administração pública.

A deputada que quer dar lições aos funcionários públicos tem ela própria muitas dificuldades de aprendizagem: para além de ainda não ter percebido que o partido que integra contribuiu para a maioria absoluta do principal adversário, não aprendeu que é feio ganhar eleições à custa de promessas que depois não se cumprem. Era uma pressinha, senhora deputada, era uma pressinha.

 

 

 

Conversas Vadias 35

A trigésima quinta edição contou com a presença especial do Orlando Sousa, acompanhado pelos também aventadores António Fernando Nabais, António de Almeida, Francisco Miguel Valada, Carlos Araújo Alves, João Mendes, José Mário Teixeira e Fernando Moreira de Sá. Recorrendo à nossa vasta ignorância sobre agricultura, começámos por mostrar espanto face a estufas e túneis e a relação com o PAN e com Inês Sousa Real. Depois, voltámos a Rangel e a Rio, passámos pelo Chega, abordámos a possibilidade do novo confinamento e ainda tivemos tempo para falar da falta de professores nas escolas. Sugestões a fechar, mais abaixo. [Read more…]

Conversas Vadias
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Conversas Vadias 35







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Os saudosistas do tempo que não viveram

Existe uma faixa etária, dos 30 aos 45 anos, que anda pujante e frenética não só nas redes sociais, como, também, nas caixas de comentários um pouco por todo o lado, a defender tempos de outrora que nunca viveram.

Partilham e invocam frases de Salazar, textos de Marcelo Caetano, enaltecem a PIDE. Defendem, acerrimamente, o bom que seria se houvesse alguém a mandar nisto e que pusesse tudo na ordem. Sendo comum manifestarem-se com ódio – que os motiva -, desde o vocabulário até às soluções que preconizam.

Acontece que o ódio tem sempre uma razão para existir. Não nasce por capricho. E é um mercado altamente lucrativo. Porque arrecada seguidores que sofrem de um dos mais graves efeitos do ódio: a cegueira. O que permite o fim que se pretende: a manipulação.

É a cegueira que leva a partilhar tudo nas redes sociais, sem qualquer filtro crítico. Porque se certa frase satisfaz o ódio, não importa se é verdadeira ou falsa. Nem sequer o que ela realmente significa e qual o perigo que representa, até para o próprio.

Donde vem isto?

Das distorções de oportunidades e de méritos na sociedade. Da cultura da cunha e do frete que vem dos tempos da Monarquia. Dos “carreirismos” partidários, das influências, e das dificuldades criadas para suscitar facilidades compradas,  e que representam muito do lodaçal em que se têm afundado as diversas instituições da República.

Em cada adjudicação directa de escolha tribal; em cada obra faraónica rotulada de “desígnio nacional” e que endivida o país; em cada mega-processo inconsequente; em cada crime prescrito; em cada salário indigno contemporâneo com fortunas ganhas de forma ilícita e impune. Em cada qualquer uma destas traições, ou outras, está o descrédito da nossa Democracia.

A origem do ódio que leva à existência dos saudosistas do tempo que não viveram – fervorosos defensores do autoritarismo e do líder providencial -, não está nos mercadores de ódio que prometem o paraíso à custa da liberdade. Mas, sim, de quem traiu, e trai, a promessa de liberdade – económica, social, cultural, civil, etc. – em tempos de Democracia e se diz democrata.

Desigualdades, salários e globalização

 

João Vasco Gama

Um recente artigo de opinião da autoria de Paul Krugman, laureado com o prémio Nobel de Economia em 2008, explica porque é que no passado os possíveis impactos perversos da globalização sobre os salários tinham sido subestimados pelos economistas.

No dito artigo, Krugman admite que foi um erro minimizar estes impactos perversos, hoje reconhecidos, sobre o emprego, a distribuição do rendimento e os salários.

Krugman lembra que já desde 1941 se conheciam os mecanismos através dos quais o comércio internacional poderia, em princípio, conduzir a reduções salariais nos países com melhores condições laborais. No entanto, a importância real destes mecanismos deveria ser testada empiricamente, antes de ser dada como certa. [Read more…]

As promessas e as realidades escondidas

[Santana Castilho*]

Ponto prévio: estamos melhor ou pior do que estávamos em 2015? Genericamente melhor. Mas seria admissível outro cenário, depois de um governo PS ter levado o país à falência e um governo PSD/CDS ter infligido aos cidadãos sacrifícios e perdas nunca vistas?

O meu ponto é que a avaliação certa é a que resulta, não da comparação do que tínhamos com o que temos, mas do que temos com o que poderíamos ter, se as opções tivessem sido outras.

O programa com que o PS se apresentará às eleições legislativas de 6 de Outubro tem 141 páginas e muitas promessas (56% de aumento do investimento público, menos impostos para a classe média, aumentos para os funcionários públicos em 2021, vales para óculos e tratamentos dentários, combate feroz à corrupção, reforma eleitoral e muitos comboios). Na impossibilidade material de analisar o caudal de promessas em detalhe, no espaço limitado desta crónica, cinjo-me a dois comentários, a saber:

  1. O programa glosa os êxitos da governação de Costa e alimenta-se em permanência da chama milagreira de Centeno. Mas importa moderar a euforia, porque há outros ângulos de visão. Por exemplo, Mário Centeno e a imprensa em geral festejaram recentemente os números revelados pelo Instituto Nacional de Estatística: um excedente orçamental de 0,4% no fim do 1º trimestre do ano em curso. O ministro das Finanças invocou então muitos indicadores de sucesso e atribuiu o êxito à dinâmica da economia e do mercado de trabalho. Só que a alegoria do copo meio cheio ou meio vazio convoca os mais atentos para a outra realidade: o celebrado saldo orçamental consolidado das diferentes administrações públicas (cerca de 318 milhões) foi obtido por via do aumento (em cerca de 356 milhões) das dívidas ao sector privado! Por exemplo, no martirizado Serviço Nacional de Saúde, a dívida aumentou no período em apreço cerca de 150 milhões, cifrando-se na bonita soma redonda de mais de 650 milhões.

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Intoxicação: contra os professores

No Correio da Manhã de hoje, a manchete era aquilo que se vê mais acima. O valor do salário mensal indicado a vermelho é o ilíquido, ou seja, há uma parte daquele valor que não serve para ir às compras ou para pagar uma renda, entre outras actividades lícitas e necessárias. Não sou muito dado a teorias da conspiração, mas qual é o leitor incauto que não pensará que aquele é o valor líquido que 22 mil professores milionários irão receber já a partir de Dezembro de 2021.

O Expresso, citando o Correio da Manhã, anuncia que esse valor será alcançado graças à “contagem de 70% do tempo de serviço”. Os professores perderam quase cerca de 9 anos de tempo de serviço e recuperarão pouco mais do que dois anos. É só fazer as contas e, sobretudo, ler o Decreto-Lei.

O valor noticioso de algo que pode vir a acontecer daqui a dois anos é extraordinário e serve apenas para confirmar que os media estão ao serviço da manipulação da opinião pública. Retiro do facebook do Maurício Brito a análise que se segue. Lapidar. A hiperligação inserida no texto é da minha responsabilidade. [Read more…]

Ferraz da Costa com a barriga encostada ao balcão

Nos cafés e nas tascas, os amigos reúnem-se, bebem uns copos e, de uma penada, resolvem todos os problemas do mundo com base em nada. É a informação que não passa cá para fora, mas eu tenho um primo que, é o eu sei que os funcionários públicos são quase todos tarados sexuais porque conheço um que, é um estudo publicado no facebook que diz que, é o a mim não me enganam que eu não ando aqui a ver passar os navios.

Daqui virá pouco mal ao mundo, porque os disparates que dizemos entre amigos morrem no café ou na tasca e esfumam-se mal desencostamos a barriga do balcão, ficando a camisa cheia de nódoas e de falsos argumentos. Um pouco de alienação, no entanto, não faz mal a ninguém.

Ferraz da Costa deu uma entrevista. Mesmo perfumado e sentado num sofá dos mais caros, debitou um discurso tão vácuo como o dos nossos amigos ébrios que explicam tudo, que isto é muito simples.

Diz o alegre conviva o seguinte:

Não estou a dizer que os salários devem ser altos ou baixos. Acho que para muitas pessoas até são mais altos do que deviam, pois não deviam ser tão altos para os que apresentam maior absentismo ou para os que não se importam com o que se passa ou para os que ficaram em casa.

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A vida de um sapador-bombeiro vale 700 euros

Num mundo cujos mandantes odeiam o dia 1 de Maio de 1886 e todas as datas daí decorrentes, é natural que se queira pagar uma ninharia (738 euros de salário-base, o que inclui 120 euros de subsídio de risco e 140 de disponibilidade permanente) a quem corre riscos de vida para salvar a dos outros.

Num mundo em que o défice de um país é mais importante do que os cidadãos ou em que o Estado entrega dinheiros públicos a parasitas como as PPP ou os bancos, é absolutamente previsível que se queira passar para os 60 anos a idade de reforma de profissionais que têm de carregar com equipamento que pesa 30 quilos.

Entretanto, o portuguesinho, enganado por governantes e crescentemente explorado por patrões sem rédea, dedica-se à maledicência das profissões alheias e a defender, também votando, quem o suga. Tenho, ainda assim, alguma curiosidade em saber se aparecerá por aqui algum daqueles comentadores que poderá dizer que até conhece um sapador que não faz nenhum ou que os sapadores até têm sorte em ganhar mais do que o salário mínimo.

A retórica do IP3

[Santana Castilho*]

António Costa disse, no lançamento da empreitada de requalificação do troço entre Penacova e Lagoa Azul, que ao fazer obra no IP3 “estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos”. Deixou, assim, bem claro que o dinheiro para as estradas origina a falta de dinheiro para as carreiras e salários e que o não reconhecimento de todo o tempo de serviço prestado pelos professores não é uma questão de dinheiro mas, outrossim, uma questão de prioridades.

A adesão inicial dos professores de esquerda ao vazio do programa político do PS para a Educação ficou a dever-se às chagas que o “ajustamento” deixou e à habilidade de António Costa para se entender com o PCP e com o BE. Agora que esse entendimento abana (se não acabou já), António Costa reduziu o PS ao que sempre foram os figurões incompetentes que propôs para a educação. O significado político da retórica pelintra do IP3 ilustrou-o bem. Dizendo o que disse, António Costa deixou implícito que a negociação que hoje vai recomeçar não pode ser mais que a repetição da coreografia do costume, para tentar desmobilizar uma greve que dura há cinco semanas, com uma eficácia que surpreendeu. [Read more…]

Os bancos são uma parceria público-privada

Segundo parece, existe um arco da governação. Por vezes, chamam-lhe bloco central, que é uma maneira de dizer que a direita parece descaída, mesmo que nunca saia do sítio em que sempre esteve, um sítio em que se defendem privilégios e se atacam direitos. Com a interrupção dos primeiros tempos da revolução, aproveitando maiorias absolutas para dominar a democracia, a direita esteve muito pouco tempo fora do poder, mesmo que continue a fingir um complexo de calimero, queixando-se, por exemplo, de uma inexistente hegemonia da esquerda numa imprensa cujos donos têm nomes como Balsemão ou Luís Delgado.

O chamado arco da governação, desde que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta, tem-se dedicado, graças a uma alternância que só o é na distribuição de tachos, a meter a mão nos cofres públicos para ajudar os amigos e/ou os patrões, numa parceria público-privada que, mesmo sem o ser na letra, sempre o foi no espírito. Basta ver que o discurso dos governos sempre pôs à frente de tudo as empresas, os empresários, o empreendedorismo, deixando os cidadãos ou a administração pública para os discursos dos feriados e nunca para o exercício governativo. [Read more…]

Abriu a caça ao funcionário público!

O portuguesinho tem um odiozinho pelo funcionário público, mesmo que goste da ideia de ter uma administração pública com qualidade (de preferência, sem funcionários públicos, gente desprezível e vil). Esse odiozinho nasce da ideia de que o funcionário público trabalha pouco (tem um horário de trabalho), ganha acima da média (na administração pública, há uma enorme percentagem de trabalhadores com formação superior) e tem demasiados direitos (e o portuguesinho prefere que os outros percam direitos a lutar por ter os mesmos).

O liberaloidismo socrático-passista, descendente directo dos cavaquismos, conseguiu impor a ideia de que o salário de um funcionário público é crime de lesa-pátria, quanto mais a recuperação de congelamentos sobrepostos. A opinião pública, influenciada por muita publicada, revolta-se. Os padres do regime, estrategicamente colocados nas televisões, falam em “reformas estruturais”, eufemismo que corresponde ao despedimento de funcionários públicos, à privatização de recursos públicos e ao cultivo de baixos salários em nome de défices e em benefício do poder financeiro e empresarial. Hoje, tudo isso está entranhado em consciências e em inconsciências. [Read more…]

O Esgoto da Manhã

informa que os salários no sector privado descem em Janeiro. Como quase tudo o que vem neste pasquim reaccionário, é mentira.

Descongelamentos, aumentos, feira de Beja, olho do cu

No Público de hoje, está esta nota, que faz parte da rubrica “Orçamento de 2018 explicado em dois minutos”.

Vejamos: primeiro, o Público diz-nos que os funcionários públicos “terão direito a ser colocados no correspondente patamar remuneratório”. Convém lembrar que os funcionários públicos, há vários anos, tiveram direito a congelamentos de carreiras e a cortes salariais. Na realidade, graças a engenharias várias, foi possível fazer com que os mesmos funcionários públicos ficassem mais longe do topo da carreira e passassem a ganhar menos.

Vamos lá a uma parábola: o menino Joãozinho comia, todos os dias, quatro batatas. Um dia, os pais passaram dar-lhe só duas batatas. Passados dez anos, os pais anunciaram ao menino que iria ser aumentado, porque passaria a comer três batatas por dia. Estranhamente, o senhor João (Senhor João? Pois, passaram dez anos!), protestou:

– Chamam aumento a uma reposição? E as batatas todas que eu não comi durante estes dez anos e que vocês andaram a meter ao bolso, que aquilo está cheio de moscas? Nem sequer voltei às quatro batatas… Aumento?! Vocês andam mas é a confundir a feira de Beja com o olho do cu, pá!

Os pais, ofendidos com a linguagem, embatucaram. Realmente, o senhor João deveria ter muito mais cuidado com a linguagem: é que passar a ganhar mais do que se ganhava é, evidentemente, um aumento. Até os jornais de referência, como o Público, dizem que sim.

 

Saiba quanto ganha o seu presidente de câmara

seguindo este link. Luvas, “presentes” e sacos azuis não incluídos.

É por isso que gosto de futebol

O único sector em que os operários ganham mais do que os administradores

O fosso salarial

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Segundo dados revelados ontem pelo Eurostat, referentes a 2014, Portugal é o país da União Europeia onde o fosso entre os salários mais altos e a média é maior. Em sentido inverso, ocupamos o topo da lista no que diz respeito à diferença entre a média e os salários mais baixos, a par dos países escandinavos e de potencias como Itália e França. [Read more…]

Políticas de esquerda, salários de direita

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Se o critério que norteia o enquadramento dos salários dos gestores da CGD não permite reduzir a factura – ou pelo menos não a aumentar – do custo que o seu conselho de administração tem para o erário público, existe, a meu ver, uma solução: alterar o critério. Existem, inclusive, propostas do PCP e do BE para limitar os salários dos gestores públicos ao salário do primeiro-ministro ou do presidente da República. Se existem, aqui vai uma lapalissada: é porque pode ser mudado. [Read more…]

Festival Eurovisão da Sanção

100589474-Jeroen-Dijsselbloem-dumbfounded-gettyp.1910x1000Não faltará quem diga que o título é um trocadilho engraçadinho e que o autor tem a mania que tem piada. É tudo verdade e outras coisas piores que queiram pensar.

Contudo, a realidade também tem alguma culpa nesta facilidade em descobrir frases que parecem apenas louras burras, mas que, no fundo, são relativamente inteligentes e algumas nem sequer são louras, como se sabe.

Na distante Bruxelas, capital de um Árctico sentimental, há um coro que canta “sanções” e, pelo mundo fora, outros existem que vão na cantiga. Passos Coelho é, além de barítono de créditos firmados, autor (in)voluntário de sanções que ficam no ouvido dos mais distraídos. Curiosamente, ao contrário de outros compositores, Passos Coelho recusa a autoria, mesmo quando se sabe que foi ele que esteve sentado quatro anos a compor, ao lado de Maria Luís, grande artista do pimba financeiro (Maria Luís tem, aliás, uma versão do sucesso de Emanuel, em que o refrão é “E se eles querem um salário ou um direito, nós pimba, nós pimba!”). [Read more…]

Os invejosos e a ambição nacional

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Em artigo indignado, publicado no Correio da Manhã, o director da revista Sábado, Rui Hortelão, presenteou-nos com um daqueles clichés que não raras vezes é usado na defesa dos privilégios das nossas santas e imaculadas elites. Não há volta a dar: quem critica obscenidades salariais fá-lo por inveja, por hipocrisia e por falta de ambição nacional. Cambada de bandalhos.

A indignação de Hortelão surge na sequência de uma entrevista dada por António Mexia à Sábado, na qual o entrevistado falou sobre o seu salário de 6800€/dia. E, claro, num país à rasca, vários foram os que se indignaram com os valores, e isso aborreceu o director da Sábado, que fez questão de recordar a plebe que o senhor Mexia está à frente do maior pagador de impostos em Portugal. Porque, como todos sabemos, se uma empresa paga muitos impostos, os seus gestores devem ter um salário estratosférico a condizer. Não concordar com isto é ser invejoso, hipócrita e pouco ambicioso quanto à grandeza de um país que, obviamente, se mede também pelos salários dos gestores das suas maiores empresas. [Read more…]

Aumentos de 150% na direcção da ANAC? Eram as Legislativas, estúpido!

eleitoralismo

Anda por aí muita gente surpreendida e indignada com os aumentos salariais acima das possibilidades do país que o governo anterior proporcionou  a três elementos da direcção da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), um aumento superior a 150%. Junto-me a esse coro de indignação mas devo dizer que não estou minimamente surpreendido. Só quem não esteve atento aos últimos esforços eleitorais da coligação PSD/CDS-PP a poucos dias das Legislativas é que pode estar. Ou será que já ninguém se lembra dos vários aumentos salariais proporcionados pela equipa de Pedro Passos Coelho na semana das eleições? Só no ministério da Saúde foram 11 mil enfermeiros de uma assentada. E se esses aumentos não me causaram indignação pelo aumento em si mas pelo timing, no caso da direcção da ANAC estamos perante um verdadeiro insulto à população portuguesa. Pelo aumento estratosférico, pelo timing e por ter sido uma decisão dos mesmos que agora se indignam diariamente contra qualquer minúsculo aumento do salário mínimo. E a melhor desculpa desta direita moralista, até ao momento, é acusar o PS de ter participado na aprovação da lei que permitiu este abuso. Genial!

Do legado do governo PSD/CDS-PP

Serviços básicos subiram 25% desde 2011. Salários nem 2%.” [DN]

“Eu não gosto de pagar salários.

Pago o mínimo que puder”.
Patrick Drahi, presidente da Altice, proprietária da PT Portugal.
[Económico]

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“É preciso carro para dar aulas de Inglês.”

O Inglês passa a ser obrigatório a partir do terceiro ano do Primeiro Ciclo (terceira classe, para os mais desactualizados). Os professores de Inglês do Primeiro Ciclo, na maior parte dos casos, terão de dar aulas em várias escolas pertencentes ao mesmo agrupamento (essa entidade que Nuno Crato criticava antes de ser ministro).

Uma vez que essas escolas podem estar a quilómetros de distância umas das outras, é fácil imaginar que muitos destes professores de Inglês serão também motoristas de si próprios, sendo que terão de pagar do seu bolso todas as despesas decorrentes dessas deslocações, ao contrário de qualquer ministro ao serviço do governo ou de qualquer futebolista a caminho de um jogo.

Os professores, como muitos oficiais de outros ofícios públicos, são, na realidade, os grandes financiadores do próprio patrão. Aos dados que, preguiçosamente, reuni num texto de 2010, podemos, ainda, juntar pormenores como o congelamento das carreiras, os cortes salariais, os despedimentos ou a supressão de pagamento na classificação de exames.  Há quem lhe chame poupança, o que me leva a imaginar que, doravante, um ladrão, ao analisar o que roubou, possa dizer “Olha o que eu poupei hoje!”

Assim, pelas estradas de Portugal, a partir deste ano lectivo, andará mais um grupo de profissionais que, para benefício dos alunos, pagará para trabalhar.