Utopia

Em Utopia, o humanista Thomas More critica o quadro sociopolítico do seu país, a Inglaterra do século XVI, o despotismo das monarquias europeias, o servilismo, a venalidade dos altos funcionários, o luxo e a injustiça dos nobres e monges.

Pedi emprestado a uma amiga, ela que tem livros extraordinários no seu T1, uns atrás dos outros, raridades de se encontrar, escondidas umas atrás das outras, tesouros para se descobrir com ajuda de mapa!

Abro à sorte, curiosa, «talvez encontre uma frase inspiradora», entre tantas palavras escritas num tamanho de letra tão pequenino.

Escritas no Renascimento longínquo, elas são tão utópicas, tão impossíveis. Contudo, tão desejadas:

Nesta ilha [da Utopia] divide-se o dia e a noite em 24 horas exactas e destinam-se e destinam-se ao trabalho apenas 6 horas: 3 antes do meio-dia, com intervalo (…), duas de descanso, seguindo-se mais 3 horas de trabalho e a ceia. (…) O tempo livre entre o trabalho, as refeições e o sono é ocupado livremente por cada indivíduo, como melhor o entender. (…) libertos das suas ocupações, se ocupem e empreguem a sua actividade variadamente na arte ou na ciência que mais lhe agrade.”

6 horas de trabalho (fazemos muito mais que isso), 8 para dormir e 10 para nós.

6. 8.10 – uma boa relação para o dia-a-dia. Era bom, não era?

A Utopia tem outro nome: «férias». 15 dias por ano, para quem as pode ter, podemos sonhar com a Utopia.

Em certos sentidos, ainda vivemos na Idade Média…

P.S.: esse tempo de utopia será também a reforma? Ainda me falta tanto… Era agora que me queria cumprir! Tanto que quero fazer e não fazer e não há tempo.

Comments

  1. Eu diria mais: a maioria está, sob todos os aspectos, na Idade Média. Obviamente não estou a falar do avanço científico e tecnológico, mas sim da mentalidade que os não acompanhou.

    Tal como na Idade das Trevas, ainda hoje a maioria das pessoas considera benéfico e imprescindível enterrar-se no trabalho 12, 14, 16 horas por dia, e às vezes até mais. Lamentavelmente, é muito mais importante ganhar dinheiro, construir “impérios”, ser-se importante e famoso do que dedicar tempo a conhecer melhor e a orientar os filhos, a ouvir as pessoas do seu entorno, a conhecer-se melhor a si próprio e a aprender a posicionar-se de forma abrangente no universo.

    Tal como na Idade Média, somos escravos do trabalho, do tempo, da ganância, da ambição. E tal como na Idade Média, somos rudes de coração, toscos de pensamento, grosseiros nos valores, megalómanos na obra física e débeis de mente.

    Cara Céu, essa citação que faz da Utopia fez-me recordar o magnífico conto de Fiodor Dostoievski intitulado “O Sonho de Um Homem Ridículo”. Tem tudo a ver com o conteúdo do seu post. Se ainda não o leu, e se me permite a ousadia de um conselho, faça-o. Tenho a certeza de que vai gostar!

  2. Maria do Céu Mota says:

    Concordo consigo a 100%. Abraço.

  3. Sonia says:

    Concordo com as duas! Chego a sentir-me “mal” por perguntar o que alguém está a ler ou se já leram este ou aquele livro. A maior parte das vezes, recebo como resposta: “Ah! Gostava muito de ler, mas não tenho tempo…”; ” Ler um livro? e tempo? Eu não tenho!….”. E eu tenho pena de quem responde assim. Adoro ler! E de facto, hoje cada vez mais, há a preocupação de Ter e não de Ser. E penso que quando se gosta mesmo de ler, há sempre um cantinho, nem que seja de 5 minutos, para ler. Claro que o cansaço do dia-a-dia, é inimigo da leitura, mas…. se não foi um dia, é no outro, não? Ah!… E o “Utopia” foi um livro que gostei mesmo muito. Boa(s) leitura(s)!

  4. MAGRIÇO says:

    A mentalidade reinante lusa não tem apetência pela cultura e pelo conhecimento. Na sua pequenez de espírito dá prioridade ao que pode ostentar, como um carro, vestir caro ou passar férias em sítios de nome sonante (certa vez perguntei, muito inocentemente, a alguém que se exibia, contando as grandezas e deslumbramentos de Nova Iorque, se conhecia Marvão: olhou para mim muito admirada e confessou que nem sabia onde ficava). Há, ainda, quem dê 50,00€ ou mais por um ingresso para ver futebol, mas ache caro um livro de 15,00€. Fico a imaginar qual o resultado de um pequeno exercício que gostaria de fazer: perguntar ao cidadão comum se conheciam o Ronaldo e quem foi Agostinho da Silva. Mas é melhor não! Já basta de tristezas…

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