O Acordo Ortográfico através do monóculo

Ega entalara vivamente o monóculo para examinar esse lendário tio do Dâmaso…

– Eça, Os Maias

A edição de Outubro da revista internacional Monocle foi amplamente divulgada pela comunicação social portuguesa. Segundo a Fugas, trata-se duma “publicação mensal de culto para muitos e a marcar tendências em todo o mundo desde 2007 “. Confesso que nunca tinha comprado esta revista e só o tema de capa me levaria a adquiri-la. Como esta edição estava à venda no quiosque do Parlamento Europeu, acabou por vir para casa.

Vejamos com atenção aquilo que nesta publicação a marcar tendências em todo o mundo desde 2007 se pensa sobre Portugal, no contexto da língua portuguesa e do Acordo Ortográfico de 1990.

Aguardemos igualmente por uma reacção de Carlos Reis, pois é evidente que o senhor Steve Bloomfield, além de  “uma concepção da Língua Portuguesa como património exclusivo dos portugueses”, tem “um complexo”, “traumas por resolver” e “o medo das ‘cedências’”. Obviamente que as leituras de artigos do Dr. Santana Lopes e de entrevistas do Dr. Pinto Ribeiro terão ajudado ao arranque em falso. O Dr. Carlos Reis que explique, quando reagir ao artigo.

Once upon a time, the Portuguese spelt the word “fact” F-A-C-T-O. The Brazilian spelt it F-A-T-O. It was one of many words that had changed in the journey across the Atlantic.
Yet the influence of Brazilian popular culture has become so pervasive from Porto to Lisbon that most young people use some form of Brazilian Portuguese – and now it has become formalized. An orthographic agreement between the two countries has seen Portugal accept a whole raft of Brazilian spellings.
There are many ways to highlight Portugal’s relative decline and the meteoric rise of Brazil and, to a certain extent, Angola. Hundreds of thousands of Portuguese have moved to to other Lusophone countries (see page 037); Angola is now investing billions of oil-fuelled dollars in Portugal. But few factors sum it up as perfectly as the language changes. Imagine the UK agreeing to spell “centre” the American way

– Steve Bloomfield, “Something in common”, Monocle, Issue 57 , volume 06 , October 2012, p. 33

Comments

  1. Mas é preciso ser completamente despistado para escrever uma asneira destas…

  2. Caro Francisco Miguel Valada, as afirmações de Reis são slogans de pura desinformação. O único interesse do «argumentário» do acordismo é verificar como é reproduzido, por vezes palavra por palavra por pessoas com interesses no ou do Brasil ou próximos da maçonaria. Do Reis ao Relvas, a coisa não difere muito.

    • Ah, quer dizer que então, por trás da mixórdia incompetente do AO90 estão “pessoas com interesses no ou do Brasil ou próximos da maçonaria”?

      É sempre bom saber as causas ocultas de uma desgraça, mas fiquei com uma dúvida: os judeus não fazem parte dessa conspiração também?

  3. P.S. O que diria Steve Bloomfield se visse “união de fato” publicado no jornal oficial, num decreto-lei?
    A que corresponderia isso na Grã-Bretanha?

    • Maquiavel says:

      “Uniäo de fato”…
      deve ser casamento…
      pelo menos o noivo apresenta-se a essa união… de fato!

  4. Maria Manuela Lopes Félix Costa says:

    Estou completamente contra o acordo ortográfico AO90.

    O governo do P.Coelho não serve, os do PS também não servem, o que faremos? Serão os comunistas os candidatos? É pena que não tenham actualizado as suas políticas e teriam os portugueses todos a votar! – Não podemos continuar a governar a casa como crianças, há coisas em que temos que impôr regras à C.Europeia, Ex: não podemos continuar a meter emigrantes de espécie nenhuma, o país está de rastos, já chega! Há muitos anos que têm obrigado os portugueses a trabalhar como escravos para que pessoas vindas dos cornos do mundo estejam de perna estendida, a drogar-se, a assaltar, a matar, etc. recebendo subsídios, ajudas de instituições e até algumas casas. Imperdoável! – Quem tem tido conduta irrepreensível neste país é que está a levar com a merda das sobras das más administrações dos governos que temos tido.
    Muito tenho para escrever, mas não quero alongar a escrita.

  5. Citando o professor Carlos Reis:

    “Se olharmos estas questões com honesta serenidade e não com demagógico impulso catastrófico, não seremos ludibriados por “exercícios” como aquele que agora nos foi facultado, pomposamente chamado “estudo”. Comparam-se traduções, feitas respectivamente no Brasil e em Portugal, de duas obras originalmente em língua inglesa, com o intuito de provar quão diferentes são as duas variantes do Português, a portuguesa e a brasileira. E comparou-se a versão original de um livro de Paulo Coelho (O Diário de um Mago) com uma versão adaptada do mesmo livro, em Portugal. O que se provou? O que já se sabia: que duas traduções do mesmo texto são sempre inevitavelmente diferentes; que um escritor que assim se deixa adaptar não é escritor que se preze (isto até já se sabia, antes do tal exercício); por fim, que o léxico e a sintaxe do Português de Portugal e do Português do Brasil revelam singularidades próprias. Quanto à questão ortográfica — nada.

    […] a questão dos brasileiros, questão que inclui traumas por resolver e o medo das “cedências”. Isto para já não falar num outro “argumento” que de vez em quando ainda assoma: o de que por causa do Acordo Ortográfico passaríamos a “falar como os brasileiros”. “Como os brasileiros” fala-se nas telenovelas da Globo, sem escândalo público e até com notórias consequências lexicais, se olharmos com atenção para o Português que se fala em Portugal. Vale a pena repetir o óbvio: um acordo ortográfico não implica que se fale como os brasileiros; as suas consequências, no plano fonológico (no do sotaque, para nos entendermos), são praticamente nulas e inexistentes, no domínio da sintaxe. Ou seja: naqueles âmbitos em que os brasileiros “falam como brasileiros”.
    Há um complexo que, no fundo, persiste entre nós: o de uma concepção da Língua Portuguesa como património exclusivo dos portugueses. Ora não só o idioma não é propriedade exclusiva dos portugueses como o seu futuro depende (e muito) da capacidade de afirmação internacional de um país com o potencial económico e geopolítico do Brasil. Por isso mesmo, bom seria que uníssemos esforços (que nos puséssemos de acordo), em vez de cavarmos discrepâncias baseadas em traumas por superar.

    Os traumas antibrasileiros são intoleráveis e absurdos, sobretudo quando temos presente o notável exemplo de cooperação de dois eminentes linguistas, um português e um brasileiro, Celso Cunha e Lindley Cintra, que escreveram a modelar Nova Gramática do Português Contemporâneo. E quem tiver dúvidas acerca da dimensão científica e cultural do Brasil, faça o favor de consultar World Ranking of Universities (em http://www.webometrics.info/); aí verá que a primeira universidade de língua portuguesa é a Universidade de São Paulo, no lugar 114; a segunda é a Universidade de Campinas (Unicamp), no lugar 197; e a primeira universidade portuguesa (a Universidade Técnica de Lisboa), surge num honroso 300.º lugar, um pouco antes da minha alma mater, a Universidade de Coimbra, no 375.º lugar. É preciso dizer mais?”

    Tudo mais é inveja e racismo, a verdadeira essência da oposição ao AO em Portugal.

    • « Ora […] o idioma não é propriedade exclusiva dos portugueses […]»

      Pois o idioma dos portugueses não é propriedade exclusiva dos portugueses?! Há-de ser propriedade de quem, dos brasileiros que forjaram forjaram um idioma português só seu quando romperam o Acordo de 45?…
      Ora!…

  6. O Reis parece considerar que Portugal e Brasil são os exclusivos proprietários da língua portuguesa e não lhe fazia confusão que, por causa do nacionalismo linguistico brasileiro, dezenas de milhões de pessoas tivessem de mudar o modo como escrevem! Que motivos tem Angola para deixar de escrever “recepção” para passar a escrever “receção”? O autoritarimo e e arrogância de Reis e comparsas é intolerável em qualquer democracia moderna. Para já, não seria mau que Brasil e Portugal tentassem descer o analfabetismo para níveis menos vergonhosos. Não lhes ficaria mal um pouco de honesta ambição nesse sentido, ao invés de delírios de governo mundial (sic, vd. Pinto Ribeiro) e outros dislates avinhados de regedores de aldeia.
    O sr.J.Silva pode ir lendo um prof dessas universidades que cita para não pensar somos todos tontinhos http://www.filologia.org.br/revista/artigo/5(15)58-67.html

  7. Siri, o assistente do IPhone 5 ” is designed to recognize the specific accents and dialects of the supported countries listed above. Since every language has its own accents and dialects, the accuracy rate will be higher for native speakers.”
    Como não tiveram a dita de lerem Reis, os responsáveis da Apple não sabem do potencial da “potência lusófona” ( como diz o maçon Relvas, colega de Reis na defesa do acordês) e, o português não faz parte das línguas reconhecidas. Nem mesmo o do Brasil.

  8. Maquiavel says:

    Se bem que mais que o AO90, o verdadeiro perigo para a língua portuguesa é a bastardizaçäo por influência cultural anglo-saxónica (que no Brasil ainda é mais antiga):
    Exemplos que se espalham como fogo em mato seco em Portugal: escrever
    – “tributo” em vez de homenagem(=tribute em inglês)
    – “taxa” em vez de imposto(=tax em inglês)
    – “rumor” em vez de boato(=rumour em inglês)
    – “pretender” em vez de fingir(=pretend em inglês)
    – separar decimais com pontos em vez de vírgulas

    Lembram-se dos tempos da escola em que nos alertavam para os “falsos amigos”? Qualquer dia deixam de o ser… falaremos inglês com sotaque português em vez de português!

    • Não confunda léxico com ortografia.
      De resto, todos os países europeus incorporam palavras das outras línguas. Sempre asism foi e assim será.
      Eça de Queiroz, que revolucionou a língia portuguesa usava francesismos.

      • Maquiavel says:

        Primeiro, näo säo “francesismos”, säo galicismos.
        Näo admira o erro, que você näo entendeu uma vírgula.
        Näo estou a falar de estrangeirismos, estou a falar de uso errado de cognatos, que já existem na língua, mas com significado diferente.
        Se não sabe o que é, procure.

        Ou para V. Exa. uma constipaçäo é quando näo consegue fazer?

        • E esse é “o verdadeiro perigo para a língua portuguesa” bem mais do acordo ortográfico? Eheh, tem a sua graça.
          Galicismo ou francesismo é a mesmíssima coisa.
          E sim, percebi-o muiito bem: escrever rumor por boato é uma ameaça à lingua portuguesa. Escrever “receção” por recepção, “perentório” por peremptório ou “semirreta” por semi-recta não é.
          Acho que percebemos todos.

  9. Como se percebe que gostaram, aqui fica outra citação de 2008 do prof.Carlos Reis, :

    “deve Portugal manter-se agarrado a uma concepção conservadora da ortografia, como se ela fosse o derradeiro baluarte da identidade portuguesa?
    Serão os interesses das editoras, por muito respeito que me mereçam (e merecem), absolutamente determinantes para condicionarem decisões de amplo alcance e alargado espectro cultural?
    E podem alguns portugueses persistir em encarar o Brasil como um parceiro menor neste processo ou até como um inimigo?
    É curial ou inteligente ignorar o muito que o Brasil faz, por muitas vias, para a afirmação internacional da Língua Portuguesa?
    É politicamente acertado ignorarmos a crescente aproximação, em vários domínios e também no do idioma, dos países africanos de língua oficial portuguesa em relação ao Brasil?
    Mais uma pergunta: se no futuro os países africanos de língua oficial portuguesa e também o Brasil, se entenderem quanto à adopção de uma ortografia comum, em que posição fica Portugal?
    E por fim: tem Portugal o direito de colocar obstáculos, as mais das vezes artificiais ou fundados em interesses económicos, a um entendimento que não afecta identidades nem legítimas singularidades linguísticas?”

    Inveja do Brasil, complexos de inferioridade, e racismo; este é o “caldo”; este é o caroço da oposição ao AO em Portugal.

    • Este Reis e acólitos andam cegos com o racismo. Ou de si não entendem argumentos.
      Cumpts.

      • Não andam nada cegos… é pura táctica. Podiam chamar qualquer coisa que julguem capaz de desqualificar quem se lhes opõe. A relação com a cverdade é irrelevante. O negociante viegas, que agora tem a alcunha paga de “secretário de estado da cultura” – chama racista ao Eça!
        Já dizia o Lenine: acusa-os daquilo que fazes…
        Na ralidade, o que os acorditas querem é algo de inédito na história da humanidade! Nunca se viu um país mudar a sua língua para comodidade política de outro! É um crime e grave, contra os direitos humanos e eles sabem-no! Por isso, não hesitam em recorrer aos métodos mais baixos e com o apoio estatal – que dominam (também por isso é que estamos como estamos!)

  10. A coisa é muito simples: a ortografia é, acima de tudo “pertença” da Língua, não está à disposição do poder político, a não ser em regimes totalitários – e mesmo nesses regimes, nunca foi experimentado algo tão violento como em Portugal.
    A ortografia tem contigências próprias, oriundas da cultura, da história, do modo como cada povo usa a língua: tratar a ortografia como se fosse um bem transaccionável à disposição dos políticos é uma das falácias acordistas, apenas possível pelo baixo nível cultural dos intervenientes e, acima de tudo, pela concepção autoritária e anti-democrática do poder.
    E o acordo ortográfico não, de facto não é, sobre linguística: é sobre política, como confessou o Malaca “É que isto não é uma questão linguística, é uma questão política, uma questão muito importante do ponto de vista da política […]”
    Ler mais: http://expresso.sapo.pt/acordo-ortografico-falta-vontade-politica-para-ratificacao-malaca-casteleiro-cfoto=f254931#ixzz27mHZQUfk

    Notas:
    a) Seria interessante que Reis (ou o Relvas, um deles) definisse o que é uma “concepção conservadora da ortografia”. Podia, desde logo, dizer e explicar o que é uma concepção hodierna, modernaça de ortografia e ilustrar com reformas ortográficas de paises cultos… É que, se há alguém com concepções mais do que ultrapassadas sobre ortografia é Reis (ou o Relvas): a “ortografia nacional” brasileira muito acarinhada pelo governo proto-fascita de Vargas, é tributária de concepções do positivismo francês de há 150 anos (sic).
    Não se lobriga o que pode haver de “moderno” em deixar de escrever o português do séc. XXI para passar a escrever à moda do Brasil de 1930s – que, segundo os próprios brasileiros é uma ortografia adaptada à fonética… brasileira…
    b) Tudo o mais é um acervo de disparates para tentar esconder um facto simples: este «acordo» constitui um crime de aculturação, sem precedente em qualquer país do mundo, uma loucura nazi ou stalinista.
    Para se ter a noção, o muito falado acordo sobre o Castelhano, celebrado entre 19 Academias (e não estados, claro…) apenas mudou 9 (nove) palavras e tem carácter meramente indicativo, por…. respeito para com os utilizadores.

    E sobre “o futuro”?
    c) Ora vejamos, “e no futuro os países africanos de língua oficial portuguesa e também o Brasil, se entenderem quanto à adopção de uma ortografia comum, em que posição fica Portugal?”
    Bem, nesse cenário de ficção científica-poltico totalitária, Portugal ficaria com a sua ortografia – e se possível com uma população com zero de analfabetismo (com isto ninguém se parece importar muito!). Uma situação igual à da Bélgica, Holanda, Noruega…
    d) Mas, se estamos a falar de futuro, não sejamos tímidos: nada impede que o Brasil deixe de existir como país, ou que o número de analfabetos chegue aos 100%.
    Em que situação ficaria Portugal, neste caso? Na mesma…
    No entanto, e para já:
    e) há 6 países que escrevem todos do mesmíssimo modo, sem qualquer variante, sem qualquer incómodo, e um outro que tem uma “ortografia nacional”: o Brasil.
    E não há qualquer motivo para esses países obedecerem aos ditames da política externa brasileira e deixarem de escrever como escrevem actualmente para usarem uma ortografia com 80 anos que o Brasil quer falar uma língua inernacional (que o brasileiro – de que vai falando – não seria) e julga que isso, poderá facilitar o que persegue há decénios, com um esforço e motivações difíceis de explicar: um lugar no conselho de segurança da ONU…
    Eis o que escreve um escritor brasileiro (Carlos Kiefer)
    “Após o acordo, toda a documentação será exarada num mesmo sistema ortográfico. Isto, para efeitos práticos e legais, significará que o português unificado representará mais de 250 milhões. Como o Brasil é o país económica e populacionalmente mais poderoso do conjunto da CPLP, nossas chances de ingressar no CS aumentam exponencialmente. Se algum brasileiro supõe que ombrear com EUA, Rússia, França e Inglaterra não tem importância política, económica, social e histórica deveria fazer, urgentemente, um cursinho de Direito Internacional. Fazer parte do Conselho Permanente da ONU ajudará até ao vendedor de pipocas da esquina, ao plantador de laranjas, ao professor universitário, à empregada doméstica. Até os grevistas do Cpergs terão melhores argumentos ao defenderem melhorias salariais aos que professores que ensinam uma das mais importantes línguas do planeta.A segunda vantagem estratégica do Acordo Ortográfico é que ele torna o Brasil o maior fornecedor de bens e serviços ligados aos setores de comunicação, educação e informática dos oitos países. Dados preliminares anunciam algo em torno de 400 milhões de dólares por ano em ganhos diretos para o avançado parque editorial brasileiro, por exemplo. Dos oito países, o Brasil tem as editoras mais poderosas, as maiores e mais avançadas gráficas, o melhor e mais competente parque industrial na área dos produtos informatizados.Se eu fosse um escritor moçambicano ou português, faria passeata contra o acordo! Mas sou brasileiro e por isso não me filio ao partido dos descontentes, dos críticos e de todos que acreditam que língua e poder não são coisas que se conjugam”.

    Sobre racismos:
    O racismo é um gravíssimo problema DENTRO do Brasil, que deveria ser resolvido.
    Assim como a fome (32 000 000 de famintos) e o analfabetismo (75% da população é analfabeta e analfabeta funcional e o analfabetismo aumentou entre os estudantes universitarios: 38% não sabem escrever e ler plenamente (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-universidade-da-era-apedeuta-no-ensino-superior-38-dos-alunos-nao-sabem-ler-e-escrever-plenamente/)
    Uma situação de uma modernidade fascinante para os partidários do “grande governo universal”

  11. Caro Francisco, não tem às vezes a impressão de que certos anti-acordistas são a confirmação cabal de tudo o que de mau se diz sobre os anti-acordistas?

    Que são preconceituosos, reacionários? Que têm um problema mal resolvido com o Brasil?

    Não há nada de “brasileiro” no AO90. O acordo é tão incompetente e nocivo no Brasil quanto em Portugal. Se proporcionalmente não é tão combatido no Brasil é porque não temos, para juntar-se á multidão de argumentos técnicos bem-fundamentados, as hordas de pseudo-patriotas mal-amanhados a gritarem para os quatro cantos que a alma lusa está no pê da recepção e que o Acordo é uma conspiração brasileira para exterminar Portugal.

    Essas gentes prestam um imenso desserviço à luta contra o acordo. É para elas que os acordistas apontam, convicentemente, quando acusam a oposição ao amontoado de asneiras que é o AO90 de ser coisa de sebastianistas da língua.

    Traçar uma clara e inequívoca linha entre essa histeria patrioteira e a verdadeira oposição ao acordo é indispensável para garantir, se não o apoio, pelo menos a neutralidade do público geral em relação a essa oposição. Mas, enquanto a face visível dos anti-acordistas for a dos pátrioteiros, não haverá a menor possibilidade de sermos tratados com seriedade.

  12. Escapou-me um acento selvagem aí em cima.

  13. Talvez eu devesse dizer, em vez de “não é tão combatido no Brasil”, “a luta contra o acordo não é tão ruidosa no Brasil”. Porque há no senado brasileiro uma comissão, formada por senadores minimamente versados no assunto, que vem há mais de três anos ouvindo uma imensa maioria de opiniões técnicas e linguísticas contra o acordo, e deverá produzir em tempo um relatório recomendando a sua revisão. Em Portugal, ao contrário, que eu saiba, há muitas bandeiras desfraldadas, muito entrechoque de alabardas, mas poucos resultados concretos.

  14. E não aguento mais ouvir falar do imbecil do Carlos Kiefer. Se “unificação ortográfica” servisse para vender mais livros brasileiros em Portugal e Moçambique, também serviria para vender mais livros portugueses e moçambicanos no Brasil — afinal de contas, a única coisa que impede o Brasil e inundar os mercados português e moçambicano é a ortografia, não é? Logo, se eu fosse um escritor português, ou moçambicano, estaria dando hurras de felicidade pela boa sorte do acordo.

    Em português (e, a pedido do autor, com a ortografia de Portugal, não do Brasil), o Saramago vendeu dez vezes mais livros no Brasil do que em Portugal. Um autor moçambicano como o Mia Couto vende mais livros no Brasil do que em Moçambique e Portugal juntos. Até o imbecil do Lobo Antunes vende nem no Brasil. O que é que a ortografia vai mudar neste mercado?

    Absolutamente nada.

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  1. […] de Pinto Ribeiro, do fato de Octávio Ribeiro, dos fatos e afins do Diário da República, do fato daquela revista e da prova de fatos, temos o fato de Pedro Emanuel (sim, também temos um […]

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