O dia em que o polvo autárquico tremeu

via Expresso

Durante a manhã de ontem, a PJ efectuou cerca de 70 buscas na zona de Lisboa, tendo por alvos a sede concelhia do PS, a sede nacional do PSD, a sede da comissão distrital do PSD, os serviços centrais de Urbanismo da CML e três freguesias governadas pelo PSD: Areeiro, Santo António e Estrela. Outras buscas, que se estenderam a outras geografias, visaram ainda instalações partidárias e escritórios de advogados.

Em causa estão suspeitas de crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, participação económica em negócio e financiamento proibido. Segundo o MP, citado pelo Expresso, “Um grupo de indivíduos ligados às estruturas de partido político, desenvolveram entre si influências destinadas a alcançar a celebração de contratos públicos, incluindo avenças com pessoas singulares e outras posições estratégicas”.

[Read more…]

Os cabecilhas do PàF

texto de Carlos Reis@A Estátua de Sal

Uma oportunidade perdida

O João José Cardoso já citou aquilo que o Carlos Reis, militante do PSD, escreveu na sua página de facebook (ver post anterior). Já aqui escrevi o meu espanto pela “marcha-atrás” do PSD nesta matéria e até recordei o que sobre o tema defendia o presidente do partido. Contudo, Carlos Reis comete um erro crasso: a orientação sexual de quem quer que seja não é para aqui chamada.

No resto, discordo em absoluto deste retrocesso do PSD. Foi uma oportunidade perdida.

Os donos da língua

Pinda Simão, que se reuniu hoje em Lisboa com o ministro da Educação português, Nuno Crato, afirmou que Angola quer “fazer incidir esforços” na qualidade do ensino, referindo que em três províncias, Namibe, Benguela e Cabinda, há professores portugueses que estão envolvidos na formação de professores, em Língua Portuguesa, Matemática e Educação Física.

nac3a7c3b5es-da-lusofonia1O texto é da Lusa, escrito, portanto, segundo o chamado acordo ortográfico. Por acaso, foi publicado no jornal i, que não adopta o chamado acordo ortográfico. Os professores portugueses, em Portugal, são forçados a aplicar, nas escolas portuguesas, o chamado acordo ortográfico.

Alguns professores portugueses estão em Angola, participando na formação de professores angolanos. Angola não aplica o chamado acordo ortográfico, continuando a utilizar a ortografia de 1945. Deduzo, portanto, que os professores portugueses não possam utilizar, em Angola, o chamado acordo ortográfico que são obrigados a utilizar em Portugal, pela simples razão de que não seria aceitável esses mesmos professores imporem uma ortografia portuguesa a uma escrita que é angolana. [Read more…]

Acordo ortográfico: Carlos Reis e os decibéis

NAO2cA Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) decidiu continuar a utilizar aquilo a que chama “norma ortográfica antiga” em toda a sua documentação escrita, “uma vez que o Conselho de Administração considera que este assunto não foi convenientemente resolvido e se encontra longe de estar esclarecido, sobretudo depois de o Brasil ter adiado para 2016 uma decisão final sobre o Acordo Ortográfico e de Angola ter assumido publicamente uma posição contra a entrada em vigor do Acordo.”

Chamado a comentar esta decisão, Carlos Reis, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e defensor feroz do chamado acordo ortográfico (AO90), começa por declarar que, ao contrário do que afirma o site da SPA, “o Brasil não adiou uma decisão final sobre o AO, o que fez foi prolongar por mais algum tempo o período de transição até à sua aplicação obrigatória”, o que é, pelo menos, uma verdade incompleta, porque há vida para além dos decretos e basta reler as declarações do senador Cyro Miranda e do Movimento Acordar Melhor para perceber que este adiamento poderá servir para introduzir alterações no AO90 conducentes a um aprofundamento da simplificação ortográfica. [Read more…]

O Acordo Ortográfico através do monóculo

Ega entalara vivamente o monóculo para examinar esse lendário tio do Dâmaso…

– Eça, Os Maias

A edição de Outubro da revista internacional Monocle foi amplamente divulgada pela comunicação social portuguesa. Segundo a Fugas, trata-se duma “publicação mensal de culto para muitos e a marcar tendências em todo o mundo desde 2007 “. Confesso que nunca tinha comprado esta revista e só o tema de capa me levaria a adquiri-la. Como esta edição estava à venda no quiosque do Parlamento Europeu, acabou por vir para casa.

Vejamos com atenção aquilo que nesta publicação a marcar tendências em todo o mundo desde 2007 se pensa sobre Portugal, no contexto da língua portuguesa e do Acordo Ortográfico de 1990.

Aguardemos igualmente por uma reacção de Carlos Reis, pois é evidente que o senhor Steve Bloomfield, além de  “uma concepção da Língua Portuguesa como património exclusivo dos portugueses”, tem “um complexo”, “traumas por resolver” e “o medo das ‘cedências’”. Obviamente que as leituras de artigos do Dr. Santana Lopes e de entrevistas do Dr. Pinto Ribeiro terão ajudado ao arranque em falso. O Dr. Carlos Reis que explique, quando reagir ao artigo.

Once upon a time, the Portuguese spelt the word “fact” F-A-C-T-O. The Brazilian spelt it F-A-T-O. It was one of many words that had changed in the journey across the Atlantic.
Yet the influence of Brazilian popular culture has become so pervasive from Porto to Lisbon that most young people use some form of Brazilian Portuguese – and now it has become formalized. An orthographic agreement between the two countries has seen Portugal accept a whole raft of Brazilian spellings.
There are many ways to highlight Portugal’s relative decline and the meteoric rise of Brazil and, to a certain extent, Angola. Hundreds of thousands of Portuguese have moved to to other Lusophone countries (see page 037); Angola is now investing billions of oil-fuelled dollars in Portugal. But few factors sum it up as perfectly as the language changes. Imagine the UK agreeing to spell “centre” the American way

– Steve Bloomfield, “Something in common”, Monocle, Issue 57 , volume 06 , October 2012, p. 33

Professores apoiam declarações sobre acordo ortográfico

O título deste texto é tão enganoso como o do Diário de Notícias de hoje, em que se pode ler “Professores lamentam declarações sobre acordo ortográfico”. Na verdade, desconhecemos, o DN e eu, o que sentem os professores, de uma maneira geral, acerca das declarações de Francisco José Viegas, pelo que seria da mais elementar honestidade termos escolhidos ambos títulos diferentes. É claro que a minha escolha é provocatória; a do DN é, apenas, incompetente. O título escolhido pelo Paulo Guinote no comentário que faz a esta mesma notícia corresponde, afinal, à pergunta que deve ser feita.

Edviges Ferreira, presidente da Associação de Professores de Português (APP), representando-se a si própria e falando, eventualmente, em nome dos associados da dita associação, lamenta as declarações de FJV e considera que se anda a “a brincar com os professores, alunos, pais, e toda uma comunidade”. Devo dizer que, em grande parte, concordo com muito daquilo que afirma a minha ilustre colega e, desde há vários anos, que vejo a APP participar em muitas dessas brincadeiras, tendo em conta a facilidade acrítica com que tem cavalgado várias ondas, incluindo a cobertura dada ao empobrecimento dos programas de Português do Secundário, passando pela aprovação dada à nova terminologia gramatical e terminando na aceitação deslumbrada do Acordo Ortográfico.

O DN quis também ouvir o professor Carlos Reis, um estudioso rigorosíssimo de matérias como a obra literária de Eça de Queirós ou a Teoria da Literatura. Na defesa do Acordo Ortográfico, no entanto, Carlos Reis tem revelado um entusiasmo inimigo do rigor e uma pobreza de argumentos que repete aqui, ao deixar implícito que só pode haver “política da língua” se houver um acordo ortográfico, como se a primeira implicasse necessariamente o segundo. Ao admitir “ajustamentos pontuais” coloca-se, no entanto, numa posição que se pode confundir com a de Francisco José Viegas.

Finalmente, aproveito para deixar aqui uma palavra de pesar para a displicência com que a comunidade docente aceita muitas imposições: é especialmente grave que continue a não existir uma reflexão sobre o Acordo Ortográfico. Como tem acontecido em muitas outras ocasiões, os professores limitam-se a encolher os ombros e a dizer, com um desencanto sofrido: “Agora é para fazer assim…”