Conseguem imaginar o que será querer semear, mesmo que para subsistir, e as sementes da colheita de um ano serem estéreis no ano seguinte? E estar dependente da compra de sementes que grupos como a Monsanto controlam? E ser-lhe negada a venda dessas sementes?
E ter sede ao pé de um curso de água venenosa, apenas vos sobrando a alternativa de comprarem água para beber? Ou pior, existir uma enorme barragem de água potável ao vosso lado e não poderem aí matar a sede porque essa água pertence a um grupo privado?
Fica a faltar o controlo do ar, como em Total Recall. Ficção? Falassem sobre isto das sementes e da água a alguém do séc. XIX e veriam a resposta que teriam.
O que se passou nos EUA e o que se está a passar na Europa quanto a sementes, a par com a privatização da água, fará a actual guerra das dívidas parecer coisa de meninos. A fome e a sede caminham para ser a maior arma de controlo de massas que a humanidade alguma vez viu.
“Felizmente” há imbecis assim que também têm (ainda) o direito a respirar gratuitamente:
Pois.
Sempre que leio sobre este assunto lembro-me de um cartoon que li em miudo. O Lex Luthor aprisionou todo o ar de Metropolis numa campândula e queria obrigar os habitantes a comprá-lo. Felizmente havia o Super Homem.
Não estamos muito longe. E não temos ninguém de Kripton para nos salvar.
Quem detiver a comida e a água deterá o poder! É perigosíssimo o que se está a tentar fazer, mas infelizmente tudo aponta para que o rumo seja mesmo esse!
Penso que na madame Tussaud ainda existe um exemplar. Se precisarem de uma pedra de amolar para o fio da lâmina, eu cedo a que tenho. Depois é só preciso olear bem.
Também as há à venda em Madrid!
De todos os tamanhos!
Há que notar, porém, que não são umas sementes quaisquer, mas sim sementes “geneticamente modificadas para tornar a soja resistente a herbicidas”. Presumo que este processo de transformação genética não seja barato e a empresa queira proteger o seu investimento. No fundo, o produtor estaria a beneficiar duma planta mais resistente sem ter trabalhado para a tornar mais resistente (trabalho feito pela Monsanto). Além disso, há a questão do contrato assinado livremente por ambas as partes, pelo qual o produtor se comprometeu a não replantar rebentos de colheita anterior. Se os replantou, quebrou o contrato e será responsabilizado por isso à luz da lei americana. Quem não quiser aceitar estes termos, tem bom remédio: não compra sementes à Monsanto.
Quanto à questão da água, completamente de acordo. Não nego que possa haver espaço para a iniciativa privada no mercado da água, mas na maioria dos casos a água devia ser um bem público, como bem de primeiríssima necessidade.
Já agora, e como argumento meramente retórico (porque não acho relevante estar a discutir o realismo de filmes), no Total Recall o ar não era um bem que existia e que estava disponível naturalmente. Era preciso produzi-lo e disponibilizá-lo e nesse sentido faz todo o sentido que os cidadãos contribuíssem para a sua produção. Como acontece na Terra, na realidade, com a água, fornecida e taxada pelas câmaras.
Não são só as sementes de soja que a Monsanto modifica geneticamente,mas sim todas as sementes (cereais, milho, tomate, pepino, etc., etc.).
Quanto ao contrato ser assinado livremente, não é bem assim. Os agricultores são coagidos a assiná-lo sob pena de não poderem semear absolutamente nada!
Também conviria dizer que a modificação genética efectuada pela Monsanto tem originado doenças novas, algumas graves.
Resumindo, da Monsanto não sai nada de bom!
Tirando o segundo parágrafo, nada do que disse tem que ver com o caso em particular da Monsanto vs Bowman (embora eu não negue os perigos dos alimentos geneticamente transformados) e mesmo em relação ao segundo parágrafo tenho muitas dúvidas que assim seja.
Falo no geral, e não especificamente desse caso (infelizmente, muitos existiram antes desse e muitos existirão depois!).
Já agora, talvez queira ler os artigos sob o título Monsanto’s Crimes:
http://www.organicconsumers.org/monlink.cfm
São deveras elucidativos e não deixam margem para dúvidas!
Hugo
Informe-se primeiro e fale depois. Quanto às plantas mais resistentes, coma-as você e a sua família. Eu e a minha queremos ter o direito de escolher plantas naturais e biológicas.
http://gaia.org.pt/node/16487
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=57589&op=all
Muito bom post, Jorge, infelizmente quase ninguém quer saber que se hipoteca o futuro de gerações e que, em questões de princípio, já não se nasce cidadão com direito a viver num mundo em que a natureza é um bem comum.
Acham mais importantes as questões do tipo “Portas faz ou não faz teatro”, “o Relvas tem ou não tem curso”.
Tinha ideia que o post era sobre um caso em particular passado nos EUA e não sobre os meus hábitos alimentares, mas pronto, eu também prefiro alimentos 100% naturais. Quanto aos alimentos geneticamente manipulados, não ponho em causa que possam ser prejudiciais à saúde, mas pelos vistos nos EUA há gente que está disposta a investir para os produzir em massa e os vender também em massa. É bom? É mau? Não sei. O que eu quis dizer foi que, neste caso em particular, o “little guy” não tem razão, só por ser o “little guy” e do outro lado estar a “big corporation”. Independentemente da qualidade ou falta dela dos alimentos manipulados geneticamente, o produtor quebrou um contrato que assinou livremente e como tal deve ser responsabilizado. Se não concorda com a política da Monsanto, passa a utilizar sementes naturais ou muda de fornecedor. Em relação à lei das sementes, mais uma vez, nada tem que ver com o caso da Monsanto. Em todo o caso, só o li por alto e posso estar enganado, mas parece-me que nada tem que ver com manipulação genética de alimentos. É mais um meio de controlo burocrático da produção, mas mesmo assim ainda reserva uma área para a produção de sementes tradicionais (vendas abaixo de 2M €). Contudo, posso estar enganado e por isso não vou dizer se concordo ou discordo dessa lei ou se ela é boa ou má.
Hugo,
Terei sido um pouco “agressivo” nas primeiras frases do meu comentário, e retiro algum excesso, mas, segundo leio, o post tem um alcance um pouco mais vasto do que o caso do “little guy”, pois começa assim:
“Conseguem imaginar o que será querer semear, mesmo que para subsistir, e as sementes da colheita de um ano serem estéreis no ano seguinte ?”
Esta situação não tem apenas a ver com a Monsanto, tem a ver com a própria política europeia (para já, depois estender-se-á ao resto do mundo, como sempre acontece com estas coisas), basta ver os links que inseri no comentário anterior.
«Há que notar, porém, que não são umas sementes quaisquer, mas sim sementes “geneticamente modificadas para tornar a soja resistente a herbicidas”.»
De acordo. Mas será só isto o que está em causa? Não vou procurar mas recordo-me dum processo de há uns anos em que a Monsanto, novamente, processou um agricultor porque os seus campos de milho tinham sido polinizados por uma seara adjacente, na qual tinham sido usadas sementes híbridas da empresa. Ou seja, um agricultor viu o seu campo contaminado e a Monsanto processou-o. Não me recordo do desfecho mas acho a atitude da Monsanto chocante.
Depois há também a questão de pensarmos se queremos ir por aí. Sabe que neste momento começa a ser difícil encontrar sementes de soja e milho que não tenham sido sujeitas a patentes? E como podemos ter a certeza que mexer no ecossistema, com a manipulação genética, não alterará o equilíbrio? Há coisas onde devemos jogar pelo seguro. Se aqui fizermos asneira, vamos para onde?
Sobre o filme, uma ilustração do impensável, esse ar também podia ser produzido em quantidade suficiente para todos e não o era. Mas voltando ao impensável, pois era esse o ponto, um estado dos EUA lançou um imposto sobre a chuva para ajudar às limpezas. Sobre a chuva!
Sem dúvida nenhuma, mas isso já são contas de outro rosário. Não acho que a Monsanto seja composta só por santos e anjos papudos, nem que a manipulação genética de alimentos não esteja isenta de perigos, nem que existam taxas completamente idiotas (como essa da chuva). Eu limitei-me apenas a comentar a situação que relatou no seu post, na qual entendo que a razão assiste à Monsanto.
E a burocratização que está em curso na Europa para obrigar a um esquema kafkiano de registo de sementes? Inenarrável.