Encarado nas estritas perspectivas histórica e cultural, não haverá muita argumentação em favor do Acordo Ortográfico.
Recordo o modo como há dezenas de anos que Jorge Amado é apreciado em Portugal e como este autor brasileiro afirmou que como escritor devia muito a Ferreira de Castro. Portanto, ao longo dos tempos a apreciação da literatura de ambos os países é mútua, sem necessidade de codificação comum, e isso parece-me inegável.
Eu não preciso do Acordo Ortográfico para ler autores de língua portuguesa, seja qual for a nacionalidade. Nem vejo qual o ganho com a uniformização. Aliás, em matéria cultural, a uniformização não é sinónimo de maior riqueza, bem pelo contrário.
Acredito, sim, que se trata de um acordo que facilita o mercado editorial/livreiro, que expande mercados, e que congrega e dá maior sentido à CPLP – porque a matéria anda a ser sempre debatida como se fosse uma questão Portugal/Brasil, mas há que lembrar que também há países africanos envolvidos, bem como Timor-Leste.
O Acordo Ortográfico, será, pois, apenas uma questão económica. Tanto mais face ao crescimento exponencial do Brasil que, sendo o único país de toda a América Latina a falar português, consegue, por exemplo, ser líder do Mercosul e a referência de crescimento económico daquele continente.
O Acordo Ortográfico parece-me ser um instrumento económico, ajustado à tendência da emergência de novas potências económicas (China, Índia, Brasil, etc.), e, eventualmente, dará maior congregação e significado á existência da CPLP . Se não for nesta perspectiva, não vislumbro qualquer interesse em tal Acordo, bem pelo contrário: na cultura a uniformização é redutora, logo incompatível com os pressupostos de pluralidade e de riqueza em que deve assentar a evolução cultural.
Por essa óptica, é certo que a uniformização será redutora, mas no aspecto principal, que é a manutenção de uma língua comum falada em vários países em vários continentes, por milhões de pessoas, é de uma enorme riqueza.
Penso que a Acordo, que conheço vagamente, pouco ou nada alterará, donde, preocupo-me pouco ou quase nada com a questão. Também não sou muito contra porque os inconvenientes que muitos adversários do mesmo lhe apontam já se verificaram em anteriores alterações à ortografia oficial sem que, então, houvesse qualquer acordo internacional, basta ler um jornal do princípio do sec XX, outro de 1948 e outro da actualidade. Quem se habitua a escrever de determinada forma aceita sempre mal qualquer alteração.
As vantagens de uma pequena (muito pequena afinal) normalização/unificação da grafia não me parece que traga nada de mal aos portugueses, ainda que muitos deles se achem “donos” da língua