Fugiu-lhe a língua para a verdade

Há quem tenha ficado surpreendido com o momento “ui que se me escapou uma pedofiliazita” do Dalai Lama. Eu não fiquei.

Quer dizer, fiquei surpreendido com o grau de obscenidade sem pingo de vergonha na cara. Alguém que pede a uma criança que lhe chupe a língua, com aquele à vontade, parece confortável com a perversão. E não parece estar a fazê-lo pela primeira vez.

Mas aquela surpresa-choque, sendo que falamos de um líder religioso, não senti. Se as instituições do Cristianismo e do Islão têm o historial que têm a abusar de crianças, com e sem pedofilia, porque é que haveria de ser diferente com o budismo tibetano?

Já para não falar nas companhias, e no facto da luta pela qual dá a cara ser frequentemente alvo de instrumentalização no âmbito da política externa de Estados pouco recomendáveis. E preparem-se: qualquer dia descobrimos que também andou pela ilha do Epstein.

O Dalai Lama, o príncipe Andrew e o Donald Trump entram num bar

na ilha do Epstein.

Leitura de Domingo, 1 de Dezembro de 2013

As Cartas a Marina por causa do galego, do Fernando Venâncio ou os séculos de castelhanização contados pela língua.

Clarice Falcão, uma cachopa que sabe a chocolate

Não sei de cantora que tão bem o amor trate, na minha língua.

(lista de reprodução para ouvir até ao fim ou fugir já)

Remontada

Palavra castelhana usada várias vezes pelo comentador português do jogo da selecção. Deve ser prima das “rebaixas”.

Pormenores…

A família, inglesa, vive em Portugal há mais de dez anos, dizia o jornal.

O marido acabara de sair para ir trabalhar, bateram à porta e a senhora foi abrir. Eram três indivíduos fardados, ela pensou que fossem do exército.

Não demorou muito a perceber que se tratava de um assalto e, aqui, poupo ao leitor os pormenores tal como a lista de bens subtraídos.

Chegada a polícia a senhora declarou que falavam uma língua desconhecida que não lhe pareceu ser a portuguesa.

Quando se vive num país estrangeiro é conveniente atender a algumas minudências.  Não falo de reconhecer as fardas militares, mas saber identificar a língua local é capaz de ser um pormenor que pode, uma vez ou outra, vir a dar jeito.

O (Des)acordo Ortográfico

Encarado nas estritas perspectivas histórica e cultural, não haverá muita argumentação em favor do Acordo Ortográfico.

Recordo o modo como há dezenas de anos que Jorge Amado é apreciado em Portugal e como este autor brasileiro afirmou que como escritor devia muito a Ferreira de Castro. Portanto, ao longo dos tempos a apreciação da literatura de ambos os países é mútua, sem necessidade de codificação comum, e isso parece-me inegável.

Eu não preciso do Acordo Ortográfico para ler autores de língua portuguesa, seja qual for a nacionalidade. Nem vejo qual o ganho com a uniformização. Aliás, em matéria cultural, a uniformização não é sinónimo de maior riqueza, bem pelo contrário.

Acredito, sim, que se trata de um acordo que facilita o mercado editorial/livreiro, que expande mercados, e que congrega e dá maior sentido à CPLP – porque a matéria anda a ser sempre debatida como se fosse uma questão Portugal/Brasil, mas há que lembrar que também há países africanos envolvidos, bem como Timor-Leste.

O Acordo Ortográfico, será, pois, apenas uma questão económica. Tanto mais face ao crescimento exponencial do Brasil que, sendo o único país de toda a América Latina a falar português, consegue, por exemplo, ser líder do Mercosul e a referência de crescimento económico daquele continente.

O Acordo Ortográfico parece-me ser um instrumento económico, ajustado à tendência da emergência de novas potências económicas (China, Índia, Brasil, etc.), e, eventualmente, dará maior congregação e significado á existência da CPLP . Se não for nesta perspectiva, não vislumbro qualquer interesse em tal Acordo, bem pelo contrário: na cultura a uniformização é redutora, logo incompatível com os pressupostos de pluralidade e de riqueza em que deve assentar a evolução cultural.

Língua

A contribuição de Caetano Veloso para o debate.

Língua

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala! [Read more…]

Como Se Fora Um Conto – Uma Língua Falada… Uma Nação com… Um País Subdesenvolvido

UMA LÍNGUA FALADA POR DUZENTOS MILHÕES DE PESSOAS.

UMA NAÇÃO COM QUINZE MILHÕES DE GENTE AMBICIOSA E TRABALHADORA.

UM PAÍS SUBDESENVOLVIDO

Estão na moda os jogos de computadores. Há-os de todos os géneros.

Em alguns, é até possível construir uma vila, uma cidade, um país ou uma vida, virtuais e paralelos aos existentes.

Assim, comecei a imaginar, sem jogo nem computador, o meu país de sonho, com as minhas cidades de sonho, e que vida aí poderia ter.

Comecei devagar, delineando a situação geográfica e climática. Poderia ficar situado no hemisfério norte e com um clima temperado. Isto do clima é importante porque ninguém gosta de extremos e eu muito menos. Temperaturas nem altas de mais, nem baixas de mais, nem muita chuva nem chuva a menos. Temperaturas negativas só mesmo nas terras mais altas, que eu queria que tivesse, onde a neve caísse e eu pudesse brincar com ela. Temperaturas altas também, mas sem passar os trinta e poucos no pico do verão para poder ir a banhos, à praia ou à piscina. Para isso seria preciso, ter montanha, uma serra pelo menos, ou duas, razoavelmente altas para ter neve, e outras mais baixas para fazer montanhismo que é coisa que gosto muito, e mar, muito mar com praias de areia. Não queria ter a temperatura da água do mar muito baixa, mínimo de quinze ou dezasseis graus, nem muito alta, aí até aos vinte e dois, que tomar banho em sopa não gosto muito. Já agora colocava de onde a onde, rios, riachos, ribeiros, lagoas, albufeiras, rias, e mais que fosse com água, nas mais diversas situações de terreno, desde planícies até gargantas fundas entre montanhas. Colocava serras e montes das mais variadas configurações, com vertentes viradas para todos os pontos cardeais, grandes planícies e planaltos diversos. Fazia com que o meu país, fosse diminuindo de altitude até acabar à altura do mar, com alguns pontos altos, promontórios, com o mar a bater lá em baixo para que a costa fosse menos monótona e ganhasse encanto. Não queria um país muito grande, aí uma coisa com cerca de cem mil metros quadrados e com menos de dois mil quilómetros de costa marítima. Aproveitava também para colocar umas quantas ilhas, de diversos tamanhos e características, onde as pessoas pudessem viver de forma diferente umas das outras, e até melhor, se assim o entendessem.

Acabado de construir a parte física do meu país, colocava-lhe gente afável, acolhedora, algo ambiciosa, com um bom ambiente social, com um nível de segurança elevado, não esqueçamos que seja onde for a criminalidade aparece, por todo o lado gente inteligente, trabalhadora e competente. Para aí uns quinze milhões de pessoas, sendo que um terço delas trabalharia e viveria fora do país, para que de uma maneira ou de outra, ajudassem os que aqui ficam, com dinheiro, conhecimentos externos, novas vivências etc.. Para completar, fazia-os falar uma língua que mais uns duzentos milhões de pessoas também falassem no mundo inteiro, para que pudessem estar bem acompanhados nas relações internacionais.

Como o país tem um clima maravilhoso de contrastes temperados, a agricultura seria pujante. Seríamos auto-suficientes na carne, nos legumes, no vinho, na água, no leite, no azeite, e em todos os outros arigos necessários à sobrevivência. Com uma costa tão grande seria impensável que não tivéssemos uma frota pesqueira à altura, pelo que também de peixe e seus derivados, estaríamos bem servidos.

A nossa economia seria florescente, pois que com esta capacidade produtiva o comércio e a industria estariam em alta, com uma estrutura productiva de primeira água. As exportações para outros países seriam uma constante. Como temos uma costa marítima tão grande, a nossa frota mercantil seria uma das maiores, sendo os nossos portos centros nevrálgicos de saída e entrada de mercadorias de e para todo o mundo. Por via disso, os transportes e comunicações ferroviários e terrestres, seriam rápidos, seguros, modernos e eficazes.

Já agora que estou nesta construção virtual, dava ao meu país uma história cultural com muitos séculos, e um património em conformidade com esse tempo todo.

As cidades, as vilas e as aldeias, seriam bonitas, arejadas, com um nível de qualidade de vida superior, e governadas por pessoas dedicadas à coisa pública. A vontade de bem servir seria apanágio de todos os dirigentes e governantes. A seriedade nas relações, a educação esmerada, e as poucas diferenças sociais, fariam com que a corrupção não existisse. O governo geral, trabalharia para o bem do país, no seu todo, e não para só para o bem de alguns.

As pessoas viveriam felizes …

Aqui parei. Afinal estava a falar do meu País, já construído, já feito, já existente.

A grande diferença para o que eu construí, estava só nas pessoas que dirigem e governam, o resto era tudo igual.

As pessoas do meu País real, são da mesma forma trabalhadeiras, acolhedoras, inteligentes, ambiciosas e pacíficas. Mas as pessoas que nos governam e nos dirigem, e mandam, são incultas, incapazes e com características autistas, asfixiam a economia, destruíram a agricultura salvando-se por pouco a vitivinicultura, acabaram com as pescas o que é uma vergonha para um País que com a costa que tem deveria estar virado para o mar, não têm objectivos estratégicos, deixaram que a estrutura productiva ficasse velha e caduca, permitiram que o turismo, continuasse sazonal e fraco apesar das enormes potencialidades do nosso território. As pessoas que nos governam e nos dirigem tentam transformar-nos em cidadãos quase medíocres, e nós vamos deixando.

Poderíamos ser um dos países mais ricos do mundo, aproveitar a força trabalhadora dos quinze milhões da nossa nação, e a classe dirigente transformou-nos em subsídio dependentes e nos coitadinhos da Europa. Somos um País sub-desenvolvido, onde os interesses, a corrupção e o compadrio fazem parte do dia-a-dia. Os nossos emigrantes, um terço da nação, quase esqueceram o seu país de origem, e são altamente produtivos e bem considerados nos seus países de acolhimento, e as segundas gerações quase não sabem quem nós somos. O País abandonou-os.

Podíamos ser um dos países mais ricos e evoluídos do mundo, como no meu sonho virtual, mas não somos, e a culpa é só nossa, que nos deixamos levar e governar assim.