Assinalemos a chegada da Primavera através de algumas vozes privilegiadas. Picasso viu-a assim. Vejamos agora como Pablo Neruda saúda a mais poética das estações (Excerto do poema Oda a la Primavera, de «Odas Elementales»):
Primavera
temible,
rosa
loca,
llegarás
llegas
imperceptible,
apenas
un temblor de ala, un beso
de niebla con jazmines,
el sombrero
lo sabe,
los caballos,
el viento
trae una carta verde
que los árboles leen
y comienzan
las hojas
a mirar con un ojo,
a ver de nuevo el mundo,
se convencen,
todo está preparado,
el viejo sol supremo,
el agua que habla,
todo
y entonces
salen todas las faldas
del follaje,
la esmeraldina,
loca
primavera (…)
Escutemos agora na voz e pela música de Vicente Monera La primavera besaba do poeta sevilhano Antonio Machado:
E terminemos com um dos Poemas Inconjuntos de Alberto Caeiro. O «mestre ingénuo», como o caracterizava o Fernando, teria nascido na Primavera de 1889 (16 de Abril de 1889), em Lisboa, morrendo na mesma cidade em 1915. Poeta ligado à natureza, reprimindo toda a tentação de filosofice que lhe surgisse na escuma dos versos, opinava que «pensar é estar doente dos olhos». Simples “guardador de rebanhos”, do alto do seu diploma da instrução primária, afirma-nos que a sensação é a única realidade objectiva. E sobre a Primavera, diz:
Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre vivo no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.
E, por hoje, ficamos assim.
As árvores a florir
vejo-as da minha janela
todos os dias,descubro-lhes
a vida a brotar
em pequenos pontos de cor
que mudam o cinzento dos dias
é o elo perdido com a primavera encontrado
a juventude chorada
o inverno sofrido
tenho o tempo da flor de meio dia
nascer, sonhar e morrer !
Nascido há exactamente nesta hora, para as aventadoras (Carla, Maria,Ana Paula, Daniela)
22/3/2010, às 11.39h,
Há aí na dedicatória um “há” a despropósito.
Devíamos mudar o título para Cinco breves discursos… Bonitos versos, Luís.
Tenho para aí uma colecção e em livro de versos(não lhes posso chamar poesia).Se a descobrir vou correr o risco…
Se é poesia ou não, só depois de publicado se saberá. Ficamos todos à espera.
Ouvi dizer
que no cimo dos pinheiros
ainda é primavera
mas tão alto não chego.
A mulher do ano passado
não voltou.
Mais à mão
procuro-a na água do regato
onde molho as mangas
da minha camisa primaveril.
Belo poema, Adão. O título muda para “Seis breves discursos”… E quadros sobre a Primavera?
Belos poemas, e obrigada pela dedicatória, Luís
Bonita primavera em forma de poesia… Obrigada Luís pelo poema nascido para nós
O meu dia da poesia, hoje que já foi ontem, foi celebrado por entre arte… almoçamos (tosta e galão) no café remodelado do cinema King depois passámos à sala dos livros onde, com musiquinha ambiente, uns agradáveis sofás nos convidavam a sentar e descansar o olhar em títulos, autores, conteúdos … não havia mais ninguém a não ser nós por isso vieram-nos chamar para darem inicio à sessão das 14h. Assim começamos por ser dois mas a sala foi-se compondo com a entrada de mais um e já com o filme começado mais uma outra pessoa – ao todo 4 a assistir a um filme premiado estou a falar de Estado de Guerra /The Hurt Locker … não é nem pró nem contra a guerra é “simplesmente” o dia-a-dia de militares que desactivam bombas… excelente filme, excelente realização
O filme é para maiores de 16anos e posso dizer que uma criança “recheada” com explosivos ou um homem “vestido” de explosivos são imagens que nunca mais esquecerei … a chegada da Primavera devia fazer o milagre de abrir todos os cadeados
Desactivar bombas é, por assim dizer, um acto poético por natureza – no sentido literal e no simbólico, despoletar (que significa desactivar e não desencadear) granadas e tensões que se acumulam é uma das funções da poesia – tem outras. Espero que tenha sido um dia bem passado, Maria Monteiro. Um grande abraço.
Carlos, falo em cadeados porque foram eles que fizeram falhar o acto poético de ajudar a despir uma vestimenta de explosivos… a poesia fez-se de dor, de mágoa …mas o poeta não desiste e volta para mais 365dias de… obra poética
Sim foi um dia bem passado
abraço maria