O caso Expresso/ censura dos telegramas: explicações do jornal

Sobre o caso Expresso/Wikileaks, Ricardo Costa, director desse semanário, esteve ontem, das 16h00 às 18h00, disponível para um debate/chat com os leitores do Expresso. A sessão está disponível aqui (link para o respectivo feed).

Entre as diversas questões colocadas, algumas incidiram no facto de os telegramas em causa estarem rasurados, sendo as respostas de Ricardo Costa as seguintes:

No site vamos publicar na integra todos os telegramas. Quem quiser pode ler tudo. No jornal, enquadramos, editamos e corrigimos.
Achamos que temos, neste caso, uma dupla obrigação:
– divulgar a informação relevante, apenas e só depois de a termos trabalhado
– disponibilizar aos leitores os telegramas que utilizámos.
Com este processo estamos a ser transparente e podemos ser facilmente escrutinados

as partes apagadas eram informações que ainda estamos a trabalhar sobre o caso FLAD. Serão “destapadas” assim que concluirmos o trabalho, provavelmente na próxima segunda-feira [7 de Março]

Mas vamos divulgar alguns documentos no site a partir de amanhã. Sobretudo de casos que não precisam de muito trabalho jornalístico da nossa parte

Os critérios do Expresso foram explicados no jornal e no site. Vamos usar os documentos à medida que os formos trabalhando. Divulgaremos na íntegra (no site) todos os que considerarmos relevantes. É a mesma prática que já foi seguida  pelos outros jornais. Se for ao site do El Pais, por exemplo, ainda lá estão os documentos já citados pelo jornal

Seguem-se mais algumas partes dessa conversa, numa selecção minha e usando apenas as respostas de Ricardo Costa.

O Expresso conseguiu os documentos numa parceria com o Politiken da Dinamarca e Aftenposten da Noruega. Quem conseguiu os documentos (os 251 mil telegramas) foi o Aftenposten

Todos os documentos serão enquadrados e,s e necessários, discutidos previamente com as autoridades. O critério de publicação é nosso mas protegeremos identidades de pessoas ou organizações sempre que isso for necessário.

Não acho que a Wikileaks seja um meio de informação. É um meio de divulgação de informação em bruto. Para nós é uma fonte de informação

A verificação [do que é referido nos telegramas] é feita como em qualquer artigo. Confrontando com as opiniões dos visados e verificando os factos. A grande diferença deste caso é que, pelo tipo de documentos, tudo tem que ser feito com maior antecedência e, sobretudo, em alguns casos mostramos na íntegra os documentos às entidades oficiais para se pronunciarem

A Wikileaks veio mostrar que os jornais tinham deixado de fazer boa parte do seu trabalho. Muita desta informação era impossível de obter numa investigação jornalística, mas outra estava ao nosso alcance.
Acho que a Wikileaks pode ser ajudar a melhorar o jornalismo. Em alguns jornais reavivou a capacidade de investigação

O Expresso é o único jornal que tem os documentos em Portugal porque foi quem estabeleceu um acordo com dois dos jornais que os tinham na sua posse. Neste caso, o Politiken e o Aftenposten.
Os 722 telegramas portugueses já estavam na posse dos cinco jornais originais do caso Wikileaks

A FLAD será um dos temas a abordar esta semana, sobretudo pela enorme divergência diplomática entre os dois estados[em resposta a uma pergunta sobre jornalismo de investigação] a decisão de promover investigações é da inteira responsabilidade das autoridades judiciais que têm total autonomia do governo. Mas os responsáveis políticos têm direito de tomar decisões. Têm, também, a obrigação de saber explicar as suas decisões. E esse é o maior problema que temos tido

a maioria dos telegramas sobre alguns casos mediáticos [BPS, Freeport, etc] são mais ou menos colagens de recortes de imprensa. As revelações mais curiosas ou importantes têm a ver com quaestões diplomáticas

ainda não tomámos essa decisão [de disponibilizar a totalidade da informação]. Vamos divulgar tudo o que publicarmos e acharmos relevante. Teremos, entretanto, de decidir se disponibilizamos todos os documentos que temos em nossa posse. Tenhoq ue perceber primeiro qual é a política que está a ser seguida pelos jornais com que estamos a trabalhar

Trackbacks


  1. […] Costa, director deste semanário, esteve presente num debate/chat com os leitores do Expresso onde afirmou categoricamente: «No site vamos publicar na integra todos os telegramas. Quem quiser pode ler […]


  2. […] Muito se tem recordado, e bem, o caso Panama Papers. Mas é de lembrar  que há precedente, no Expresso também, nomeadamente quanto à divulgação dos textos WikiLeaks. Onde está a publicação integral dos cables que o Expresso censurou? Não existe, apesar da promessa de Ricardo Costa: […]