O Mediterrâneo somos nós todos

A surpresa da Europa e seus governos perante os acontecimentos no Norte de África radica no preconceito, no desconhecimento e na ignorância.

Agora tenta-se surfar a onda, como se vê no caso Líbio, numa clara tentativa de sacudir o petróleo do capote.

Tropeçamos na ignorância e no preconceito a cada passo, nos postes dos blogues, nos comentários dos jornais, nas declarações dos programas interativos de rádio e televisão. O mouro, o muçulmano, o norte africano, é para parte da população europeia ainda inimigo histórico, ou novo inimigo, emigrante não integrado, terrorista potencial, manhoso, preguiçoso, atrasado, sub-desenvolvido, sub-espécie, raça inferior, etc.

O mesmo -ou algo semelhante- se passa com políticos e governantes. Exceptuando raríssimos casos (como será o do eurodeputado Miguel Portas) desses países pouco mais conhecem do que hotéis, salões governamentais, excursões de propaganda, escritórios de petrolíferas, investimentos aí feitos pelos seus próprios países, a dança do ventre para turistas e a temperatura da água do mar. [Read more…]

Isabel Alçada é toda a favor da democracia, desde que não a contrariem

A ministra da educação afirmou que extinguir a disciplina de Área de Projecto e do par pedagógico na disciplina de Educação Visual e Tecnológica, bem como limitar do estudo acompanhado a alunos com dificuldades são medidas “importantes para reduzir o orçamento e tornar o ensino “mais eficiente””. Dá-se a coincidência de se descobrir a urgência de todas estas medidas apenas quando a austeridade bate à porta. É a síndroma “Dantes já era mesmo a sério, mas agora é que vai ser mesmo mais a sério”.

A mesma ministra fez, entretanto, esta descoberta espantosa: as medidas foram chumbadas por “razões políticas”. Confesso que ficaria preocupado se a revogação tivesse origem em razões religiosas ou clubísticas ou tivesse servido para chamar a atenção para a importância da homeopatia. Afinal, foi uma questão política, como são todas as que são discutidas na Assembleia da República. É natural que a senhora não esteja habituada, porque, depois de quatro anos de ditadura de maioria absoluta, temos vindo a assistir à ditadura de uma maioria relativamente absoluta. A colaboração do PSD será retomada dentro de momentos.

Sempre de olhos bem abertos, Alçada mostra-se aborrecida com a democracia, porque dá nestas maçadas de os partidos da oposição poderem realizar essa actividade surpreendente que é oporem-se. Mesmo assim, decidida, afirma-se convicta de que a reorganização curricular há-de prosseguir. Seria engraçado, em democracia, assistir à aplicação de medidas revogadas, mas uma pessoa, quando vai ao circo, está sempre à espera de ver coisas espantosas.

Estação de Bragança

Esta fotografia tem pouco mais que um século.