O Discurso e a Consequência:

“Aumentar a eficiência e a transparência do Estado e reduzir o peso da despesa pública são prioridades não apenas de natureza estrutural, mas também conjuntural.
Realismo, avaliação rigorosa das decisões, justiça na distribuição dos sacrifícios e melhoria do clima de confiança são exigências impostas pelo presente, mas que devemos também às gerações futuras. O caminho é possível, mas não será fácil nem rápido.
Reitero a minha convicção de que está em causa um esforço colectivo. É importante, por isso, que Governo, Assembleia da República e demais responsáveis políticos assumam uma atitude inclusiva e cooperante, que seja também factor de confiança e de motivação para os nossos cidadãos. A estabilidade política é uma condição que deve ser aproveitada para a resolução efectiva dos problemas do País. Seria desejável que o caminho a seguir fosse consubstanciado num programa estratégico de médio prazo, objecto de um alargado consenso político e social.

A nossa sociedade não pode continuar adormecida perante os desafios que o futuro lhe coloca. É necessário que um sobressalto cívico faça despertar os Portugueses para a necessidade de uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais autónoma perante os poderes públicos.
O País terá muito a ganhar se os Portugueses, associados das mais diversas formas, participarem mais activamente na vida colectiva, afirmando os seus direitos e deveres de cidadania e fazendo chegar a sua voz aos decisores políticos. Este novo civismo da exigência deve construir-se, acima de tudo, como um civismo de independência face ao Estado.

É altura dos Portugueses despertarem da letargia em que têm vivido e perceberem claramente que só uma grande mobilização da sociedade civil permitirá garantir um rumo de futuro para a legítima ambição de nos aproximarmos do nível de desenvolvimento dos países mais avançados da União Europeia.
Esta é uma tarefa de todos, cada um tem de assumir as suas próprias responsabilidades. É essencial que exista uma união de esforços, em que cada português se sinta parte de um todo mais vasto e realize o quinhão que lhe cabe.
Necessitamos de recentrar a nossa agenda de prioridades, colocando de novo as pessoas no fulcro das preocupações colectivas. Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático. Precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI. Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo. Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.

É fundamental que a sociedade portuguesa seja despertada para a necessidade de um novo modo de acção política que consiga atrair os jovens e os cidadãos mais qualificados. O afastamento dos jovens em relação à actividade política não significa desinteresse pelos destinos do País; o que acontece, isso sim, é que muitos jovens não se revêem na actual forma de fazer política nem confiam que, a manter-se o actual estado de coisas, Portugal seja um espaço capaz de realizar as suas legítimas ambições. Precisamos de gestos fortes que permitam recuperar a confiança dos jovens nos governantes e nas instituições.
Seria extremamente positivo que os jovens se assumissem como protagonistas da mudança, participando de forma construtiva, e que as instituições da nossa democracia manifestassem abertura para receber o seu contributo. A geração mais jovem deve ser vista como parte da solução dos nossos problemas.” – Discurso de Tomada de Posse do Presidente da República (Março 2011)

Depois deste discurso só podemos tirar uma conclusão: para o PR este governo é parte do problema e não da solução. E assim sendo…

 

Está iminente o despedimento da maioria dos professores

Tendo em conta o que se passou na Direcção Regional de Educação do Centro (DREC), é muito provável que uma grande parte dos professores venha a ser despedida. Tendo em conta as opiniões negativas que muitos docentes têm exprimido acerca de muitas das medidas impostas pelo Ministério da Educação, estará encontrada a justa causa para empurrar para fora da profissão milhares de professores.

Não deve ser original, mas costumo dizer que ninguém é democrata se não for obrigado a isso, o que é o mesmo que dizer que temos tendência para sermos ditadores, a não ser que no-lo impeçam. O portuguesinho tem dentro de si um salazar privativo que enlouquece suavemente sempre que lhe chega um odor de poder, tal como os cães farejam a agressividade e o medo ou os tubarões, ao que dizem, perdem o tino quando há sangue no mar.

Sócrates e seus seguidores amestrados sonham com um mundo em que não discutam as suas afirmações, em que as ordens sejam obedecidas cegamente. Os professores, apesar de tudo, têm sido um problema, porque insistem em pensar pela própria cabeça e em tomar posições (talvez não as suficientes ou as melhores).

É certo que um professor é um funcionário, devedor, portanto, de obediência aos superiores hierárquicos. Infelizmente para os democratas contrariados que nos governam, num país com dez milhões de habitantes, os professores são as 150.000 pessoas que mais sabem sobre os mais variados aspectos da Educação e, diante de tanto dislate governativo, embora tenham algumas dificuldades em falar, sentem ainda mais dificuldade em ficar calados.

Na DREC, um professor foi demitido por ter emitido uma opinião. A coerência obriga a que a maioria dos professores seja demitida.

Aí têm, republicanos

Gostaram do discurso? Pareceu-vos inclusivo? Ouviram os rosnares de mais de metade do Parlamento? Bem feito!

O presidente honorário do PSD, retomou posse do seu sonhado cargo de 1º ministro sombra. Nada de novo, confirma-se a falsidade do corriqueiro …”de todos os portugueses”, tratando-se apenas de mais um escabroso episódio da mesma luta intestina do regime. Em suma, o discurso consistiu na oportunista “deolindação” de Belém. A uns dias da tal manifestação, fez os possíveis para que o seu nome – também – não seja proferido na rua.

Eu teria de nascer duas vezes para ser tão hipócrita como ele

Influência dos pais no sucesso dos alunos: outra vez

No Aventar, por duas vezes (aqui e aqui), pelo menos, já foi abordada a questão da relação entre o sucesso escolar e o meio familiar.

Já há vários anos que o governo tenta, a todo o custo, colocar a maior fatia de responsabilidade pelo insucesso dos alunos em factores associados ao interior da Escola. Quanto a mim, nada disso é inocente: o objectivo é o de conter e, até, diminuir a afectação de recursos humanos às escolas, para além de isentar o Estado de melhorar as políticas sociais, tendo em conta que as condições familiares, afinal, não teriam influência no sucesso dos alunos.

Hoje, é divulgado um estudo do “Observatório dos Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário (OTES) e do Gabinete de Estatísticas e Planeamento da Educação (GEPE), do Ministério da Educação” que “conclui que quanto mais elevadas são as habilitações dos pais melhor é o desempenho dos filhos.”

É curioso que tenha sido um departamento do Ministério da Educação a chegar a esta conclusão, contrariando um estudo encomendado pelo mesmo Ministério em que se concluía que o meio socioeconómico de origem e a idade dos alunos têm um peso de 30% no sucesso escolar dos alunos, dependendo os restantes 70% do trabalho realizado nas escolas, estudo esse que mereceu no Público uma ampla e entusiástica divulgação com honras de editorial encomiástico, o que parece não acontecer agora

É importante reafirmar aquilo que muitos sabem, nem que seja empiricamente: o meio socioeconómico tem um peso enorme no rendimento dos alunos. A afirmação desta realidade não serve para consolar ou desresponsabilizar os professores. Deveria servir, isso sim, para reorientar as políticas educativas ou sociais. Teremos de esperar por um governo preocupado em resolver essas questões ou por uma comunicação social menos interessada em ser caixa de ressonância do poder. Até lá, o Carnaval continua, com as estatísticas de sucesso a servir de máscaras.

Avenida da França

Avenida da França em 1968; à esquerda, uma locomotiva a vapor da série 140 (a mais potente das vias estreitas portuguesas), fabricada pela Henschel (Alemanha) em 1931. À direita, uma automotora de fabrico holandês Allan. Este troço comum às antigas vias métricas da Póvoa-Famalicão e Guimarães é agora ocupado pelo Metro do Porto: estação Casa da Música.