José Leite Pereira: a esquerda é sinistra e a democracia uma chatice

(…) o perigo que o país atravessa passa também por aqui: o de não se perceber ou não se aceitar a vantagem que temos em estar na Europa e com o Euro, e sermos atirados para uma deriva de esquerda que torne o país ingovernável e nos afaste dos padrões ocidentais que são os nossos. É bom recordar que a Europa apenas nos pede aquilo que lhe fomos pedindo emprestado.

José Leite Pereira, o director do JN, vive, por estes dias, inseguranças terríveis, à espera de saber para que lado penderá o poder, problema fundamental para quem tem como critério editorial ajoelhar-se. Diz o iluminado director que a Europa corre o risco de ser atirada para uma “deriva de esquerda”. Percebo que andar à deriva seja um problema, independentemente de o barco inclinar mais para estibordo ou para bombordo. A parte mais engraçada do texto do ajoelhado comunicador social surge quando afirma que, graças à possibilidade dessa deriva sinistra, se corra o risco de ficarmos com um “país ingovernável”, afastado dos “padrões ocidentais que são os nossos.” O genuflectido dirigente não se terá apercebido de que o país já está ingovernável? Tanta ajoelhação não terá permitido a esta admirável criatura verificar que essa mesma ingovernabilidade nasceu de anos de derivas, com o barco a inclinar muito ou muitíssimo para a direita? [Read more…]

“Prémio Nobel da Arquitectura” para Souto Moura

Eduardo Souto Moura é o vencedor deste ano do Prémio Pritzker, também conhecido como o prémio “Nobel” da arquitectura.

Souto Moura é, assim, o segundo português a ser galardoado com o prémio mais prestigiado de arquitectura do mundo (o outro é Siza Vieira, galardoado em 1992).

A arquitectura portuguesa, através de alguns dos seus melhores arquitectos, está de entre as que mais se distinguem qualitativamente. Desta vez, e merecidamente, parabéns, Souto Moura.

PS: Uma volta rápida por alguns blogues mostrou-me o que, na blogosfera, vai sendo óbvio: a substimação da obra de Souto Moura e a desvalorização do prémio. Não vou nessa, há muito que gosto sinceramente do trabalho de Souto Moura e do dos bons  arquitectos contemporâneos portugueses. Mas não estaríamos em Portugal se a invejinha e a depreciação não começassem a falar alto, não é?

Os nossos governantes

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Devia ter começado pela pergunta: quem nos governa, ou, por outras palavras, quem leva e conduz as redes do poder supremo dentro de um grupo social: o estado?

Há várias formas de impingir a lei ou os costumes entre os povos do mundo: por sucessão monárquica, na Europa; por sucessão real entre os oceânicos, como os Massim da Kiriwina, ou os Mapuche do Chile, comandados por um rei ou lonco, que na língua deles, mapudungum, se diz Toqui; ou por postos de chefia sem réplica no longínquo oriente como na China, no Tibete, no Paquistão, ou na Índia; ou por ditaduras no oriente próximo, como na Líbia, na Síria, no Iémen, ou no Egipto, entre outros. [Read more…]

Qual é a diferença entre Ditadura e Democracia?

Para os meus alunos do 9.º ano (15 anos de idade), nenhuma. Ou melhor, nem sabem do que estou a falar. Crise política em Portugal, demissão do primeiro-ministro, eleições em Junho? Não, nunca ouvimos falar.

Por vezes, questiono-me sobre o que ando aqui a fazer…

NADA DISSO ME INTERESSA

NÃO ME INTERESSAM PARA NADA AS ELEIÇÕES ANTECIPADAS

Esta coisa da demissão do senhor nosso Primeiro-ministro, provocada pelo próprio com as atitudes desonestas que são do domínio público, acrescidas das razões indecorosas e de cobiça que assistiram à oposição para tomarem as atitudes que o senhor nosso Primeiro esperava, e ainda, os ditos dos responsáveis máximos da dita oposição após o desfecho anunciado, fizeram-me pensar ainda mais que de costume.

Pelo que se entende da situação, iremos ter eleições antecipadas, o que, pensando bem, é coisa na qual não estou minimamente interessado. Nesta já pré-campanha eleitoral vejo o que a mesma virá a ser, e desde já me desinteresso dela. A campanha eleitoral que se aproxima não vai esclarecer ninguém, sendo que unicamente irá servir de pasto para alimentar troca de acusações e insultos pessoalizados. É certo que irei votar quando chegar a altura devida, mas, pelo andar da carruagem, dificilmente terei oportunidade de escolher em quem. [Read more…]

Cartilha

A estratégia é velha e foi já reescrita muitas vezes: chega-se ao poder, brada-se que afinal está tudo muito pior do que se supunha e põe-se em prática o que até então era inadmissível.

Sócrates e a fuga: guião de uma legislatura (III)

Preliminares
Perante a iminente derrocada, o nosso herói começa por lançar uma campanha onanística a louvar a governação, apenas com dados parciais e a prolongar-se durante semanas. Não sendo os dados conhecidos na totalidade, não há contraditório possível. As notícias triunfantes repetem-se e o espaço de manobra da oposição desapareceu.

Acto [Read more…]

Dicionário do futebolês – não podemos sofrer golos desta maneira

Os agentes do futebol passam, hoje em dia, mais tempo a dar entrevistas do que a treinar ou a jogar. Esperar-se-ia que a frequência com que o fazem permitisse melhorar a qualidade de comunicação, do mesmo modo que, em termos desportivos, a repetição é o caminho para a perfeição.

Ora, a verdade é que o futebolês corresponde a uma série de fórmulas que as sucessivas gerações se limitam a papaguear, ou seja, a repetir sem pensar. “Não podemos sofrer golos desta maneira” é uma dessas proposições que qualquer treinador insatisfeito com o resultado usa, compondo o ar desgostoso de um pai que sofre os desmandos dos filhos. Esta fórmula é usada para designar quase todos os tipos de golo, embora ocorra preferencialmente na referência ao já analisado “golo para lá da hora”, que é um golo que pode ser marcado, mas nunca sofrido. [Read more…]

Como foi possível fazer isto ao país? Os ajustes directos

Todos sabem o que nos tem caído em cima: mais impostos, menos benefícios fiscais, menos segurança social, menos saúde, enfim, menos serviços prestados pelo Estado, apesar de por eles pagarmos mais. E em paralelo ao apertar o cinto, o Estado, pela voz do primeiro-ministro, também prometeu reduzir os gastos.

Assistimos ao que foram os ajustes directos nas últimas legislativas. Nestas vai piorar, já que foi publicado no dia 22 de Março de 2011, nas vésperas do governo se demitir mas a tempo das eleições, um substancial aumento dos limites dos ajustes directos (imagens da reportagem RTP – ver após minuto 4:48):

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Mais 750%

Mais 600%, bastando considerar que é uma obra pública urgente

Mais 150%. 5.6 milhões de euros sem concurso… é uma festa!

Mais 150%. Mas porque é que o PM precisa de fazer ajustes directos até 11.2 M€?

E qual é a explicação dada pelo Ministério das Finanças? Que apenas se limitou a actualizar tectos que vinham de 1999 (no novo decreto conclui-se que se referem ao Decreto -Lei n.º 197/99, de 8 de Junho ) quando nem sequer existiam os ajustes directos introduzidos pelo governo de Sócrates em Dezembro de 2008! E que os ajustes directos não aumentam a despesa porque os limites orçamentais se mantêm. Como se fosse isto o que estivesse em causa (os ajustes directos não garantem que ganhe a melhor relação preço/qualidade).

Mas há mais.

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