Benghazi, crónica de um massacre anunciado

O ditador líbio cita Franco, comparando a entrada deste em Madrid à tomada de Benghazi. Sem capacidade militar para se defender da aviação, da artilharia e das tropas de elite de Gadafi, a população de Benghazi aguarda o massacre, enquanto muitos tentam a fuga. Gadafi ameaça:

“Estás son las últimas horas de esta tragedia, llegaremos esta noche y no tendremos compasión

Os resistentes preparam-se para morrer como os republicanos espanhóis, sabem que o gritar Não Passarão de pouco lhes servirá.

Entretanto o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma zona de exclusão aérea. Ver ingleses, franceses e americanos a intervir num país estrangeiro traz-me as piores recordações. Mas ver morrer os resistentes de Benghazi seria sem dúvida o pior dos pesadelos.

Neste conflito se decide a sorte das revoltas árabes que enfrentam ditaduras sanguinárias. A Arábia Saudita já invadiu o Bahrein. Esta é a última esperança de que evitando um banho de sangue os revoltosos de toda a região ganhem o alento necessário para a sua luta.

Votos, negócios e temores

A actual situação de guerra total e sem olhar a meios, exige a obliteração do regime do Sr. Kadhafi. Não pode haver qualquer ensejo de contemporização para com o déspota, ou pretender a reforma de um regime que durante quarenta anos, empilhou provas insofismáveis da sua marginalidade. Propor um “período de transição” com a gente que comanda em Trípoli, pode levar muitos a pensar que consiste numa tentativa de “salvar o que possa ser salvo”. Ali, pouco ou nada existe para aproveitar e este deve ser um capítulo definitivamente encerrado.

O ministro Luís Amado finalmente acedeu a esclarecer a posição portuguesa, que contudo permanece prisioneira ao estranho princípio de um compromisso que todos sabemos muito difícil. De qualquer forma, as suas declarações no Maputo representam já qualquer coisa, mesmo verificando-se a existência de algumas zonas cinzentas no discurso. De facto, qualquer apeasement é inaceitável. [Read more…]

el equívoco

Apresentação do PEC 100, na próxima semana

O Aventar apurou que José Sócrates irá apresentar, na próxima semana, o centésimo Pacote de Estabilidade e Crescimento. Perante a perplexidade da oposição por não terem sido apresentados os 96 pacotes em falta, após o PEV IV, Sócrates afirmou: “O Governo está a tentar surpreender os mercados, que, muito provavelmente, ficarão sem reacção face a esta decisão fulminante de um governo sério, responsável e ágil. Para além disso, não voltaremos a ser acusados de estar sempre a apresentar o penúltimo PEC, porque passaremos a numerar em ordem decrescente, o quer dizer que o próximo será sempre o anterior, o que é, evidentemente, porreiro, pá!”

NUCLEAR: há que debater, sim, mas de forma séria

Nos últimos dias escrevi dois postes denunciando o argumento de que o nuclear é absolutamente seguro e não poluidor, utilizado por muitos defensores -e promotores- dessa energia. É mentira, disse. Tal bastou para que fosse acusado de espalhar medos.

É verdade que a questão energética é das mais prementes do mundo actual e do futuro mais próximo. É igualmente verdade que faz parte de uma questão mais lata que poucos (os políticos, por exemplo, sabem que só conquistam o voto popular prometendo a ilusão do crescimento económico contínuo) estão interessados em discutir: a sustentabilidade do crescimento e a redistribuição dos recursos a nível planetário, como exige o redesenho de bem-estar anunciado pelas economias ditas emergentes.

A noção de sustentabibidade pesa, quer queiramos, quer não, como uma espada de Dâmocles sobre o futuro do planeta, os  recursos passíveis de utilização e consumo e a possibilidade de deles se usufruir ao longo de um prazo de tempo que ultrapasse as gerações mais imediatas. Sem essa discussão é impossível debater, de forma séria, as questões energéticas de modo a que não nos limitemos apenas a empurrar os problemas com a barriga segundo a máxima “quem vier a seguir que feche a porta”. [Read more…]

Netanyahu, o (in)justiceiro sem vergonha

Uma família de colonos israelitas (um casal e três filhos) foi assassinada no dia 11 de Março em Itamar, na Cisjordânia, alegadamente por um indivíduo palestiniano.

Um país normal trataria este assunto como um caso de justiça. Um país expansionista poderá tender a tratá-lo como um assunto de guerra. Um país ocupante sem vergonha poderia, até, afirmar tratar-se (ironia das ironias) de um caso de terrorismo.

Mas no país de Benjamin Netanyahu, ainda sem conhecer a identidade ou localização do homicida, a primeira preocupação é a retaliação, já anunciada pelo primeiro-ministro: como punição vão construir 500 novas casas no colonato.

Três dias depois o mesmo Netanyahu declarou que Israel vai construir um muro na fronteira com a Jordânia para impedir a imigração ilegal através do país vizinho. “Temos de travar as infiltrações para proteger o nosso futuro”, disse ele.

Se alguém lhe perguntar para que caixote do lixo atirou a vergonha, a coerência, a justiça e a decência, não se lembra, livrou-se delas há muito tempo, se é que alguma vez soube o que isso significa.

a lei foi criada pela burguesia para a burguesia

Há um ditado português que diz: quem pode, pode; quem não pode, arreia, sendo arreia uma palavra invulgar é, no entanto, muito usada, o dicionário define-a, entre outras, da seguinte maneira: largar pouco a pouco.

O conceito burguesia é para mim o mais vulgar dos conceitos, criado no século XIX por Kart Marx: classe social dominante no regime capitalista, porque os seus membros possuem os meios de produção. A classe trabalhadora, oposta à burguesia, possui apenas a sua força de trabalho para produzir, sendo designada de   proletariado.

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rasca à rasca

rasca à rasca

O discurso na íntegra de Marinho e Pinto

Entre outros documentos, o discurso de Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, na sessão de abertura do ano judicial, na sua versão integral, poder ser lido e escutado na sua página do facebook.

Patriotismo e guerra colonial

As recentes, e, na minha opinião, infelizes, declarações de Cavaco Silva sobre a generosidade com que muitos jovens portugueses foram obrigados a participar na Guerra Colonial e as reacções a essas mesmas declarações levam-me a pensar, mais uma vez, sobre o que é ser patriota.

Ao dar como exemplo de generosidade e dedicação à pátria os homens que participaram na Guerra Colonial, Cavaco terá proferido essas palavras, entre outras razões mal disfarçadas, para agradar a antigos combatentes. Resta saber quantos antigos combatentes se terão sentidos elogiados e quantos terá ofendido. É que falar com antigos combatentes não é, necessariamente, falar com pessoas que defendem a guerra colonial.

Por esse país fora, ao longo do ano, há homens que se reúnem aproximados pelos tempos que passaram em África, na guerra. Os antigos combatentes são homens todos diferentes uns dos outros, unidos sobretudo pelo sofrimento e pela camaradagem que o sofrimento tem o condão de originar. Não sei se nessas reuniões se defende, maioritariamente, as virtudes da guerra em que participaram, mas não é isso que está aqui em causa. [Read more…]

Entre o ser e o estar

Em 1994, Vicente Jorge Silva baptizou os estudantes universitários de então de “geração rasca”. Aconteceu num editorial do Público, em plena luta estudantil contra a Ministra da Educação Manuela Ferreira Leite, por causa das propinas.
Ironia do destino, a classificação da autoria do então director do jornal Público, serve agora, com a devida correcção, para avaliar o que se fez a este país e às novas gerações.
Tanto quanto se sabe, a geração que estudava em 1994 não dominou os partidos políticos, os órgãos do poder, a banca ou que fosse. Não foi ela a responsável pelo desgraçado ponto a que o país chegou.
A outrora geração rasca e as novas gerações, passaram a estar, sim, à rasca. E essa diferença entre ser e estar, resulta da constatação evidente que muita diferença há entre a presunção e a água benta. [Read more…]

Petição Basta

Para:Assembleia da República

O Partido Socialista hesita apresentar durante a próxima semana na Assembleia da República o denominado PEC IV, temendo a sua rejeição, ao contrário do que sucedeu em anos anteriores, em que submeteu sempre à votação do parlamento as medidas de austeridade que impôs aos portugueses. A presente petição visa solicitar aos deputados socialistas que não tenham medo da Democracia, nem se escondam atrás de habilidades políticas, que todos percebemos, se destinam a ganhar tempo, em lugar de clarificar a actual situação política.
Em segundo lugar, solicitam os autores da petição aos partidos na oposição, em especial aos seu líderes, que se deixem de ameaças e votem desfavoravelmente o PEC IV, retirando condições políticas ao actual executivo para continuar a governar com base num programa substancialmente diferente daquele que deu a vitória ao Partido Socialista, em Setembro de 2009. Esta é uma situação que urge clarificar e para tal, é fundamental devolver a palavra aos portugueses. Os autores da presente petição, não estão preocupados ou condicionados por jogos político-partidários, nem conotados exclusivamente à esquerda ou direita do actual espectro partidário, apenas entendem que esta é uma excelente oportunidade para todos os que estão fartos do estado a que isto chegou, dizerem BASTA!
Os signatários

 

http://www.peticaopublica.com/PeticaoAssinar.aspx?pi=P2011N7878