Consumir… jornalismo?

Nos últimos dias e a propósito de uma capa do Jornal “A Bola” corre uma histeria mais ou menos generalizada pela blogosfera, seja lá o que isso for.
Assinalo com surpresa alguns dos argumentos porque servem apenas quando dá jeito.
Não vou defender o jornal. Nada disso! Sou sócio do Sport Lisboa e Benfica e não compro aquilo há anos.
Parece-me que as coisas são, nos tempos que correm, muito simples – vivemos numa sociedade de consumo e há empresas que colocam um produto no mercado. Iogurtes, bananas, telemóveis, calças, jornais, informação, filmes…
Eu, consumidor, escolho – consumir ou não consumir é a nossa opção. Não vou começar a escrever um post de cada vez que um produto é mau. Teria certamente muito que escrever…
Já viram as páginas, muitas vezes a primeira, que o JN ou o DN fizeram com o governo nos últimos anos? Ou as primeiras páginas do Expresso? Ou…
Podemos, devemos, temos que analisar criticamente tudo o que acontecer, mas será que nos tempos que correm a liberdade não é também isto?
As empresas de jornais (comunicação social?) existem para dar lucro ou não?
Porque é que há jornais que fazem uma capa para Lisboa e outra para o Porto?
Porque é que há jornalistas impedidos de ir aqui ou acolá?
Porque há quem pense ser possível limitar a liberdade de imprensa. Não é. E ainda bem, até para que possam surgir maus exemplos como é o caso da capa de que se fala.
A liberdade de opinião e os tempos modernos são isto mesmo. Cada um come o que quer.
Uns, com espírito crítico afinado, preferem comer apenas aquilo que cai no prato…

Comments

  1. António Fernando Nabais says:

    Parece que é muito mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa, até porque também sou benfiquista e custa-me horrores estar a assistir a outro campeonato que vai ser ganho pelo FCP. Penso, no entanto, que é importante chamar a atenção para o que está mal. É evidente que esta primeira página de “A Bola” não é caso único e que o jornalismo está inquinado pelo mercantilismo, o que me leva a comprar poucos jornais e nunca desportivos, onde, presentemente, se pratica o pior jornalismo (?) de todos. Assim, penso que é importante usar o espírito crítico para comer o que for melhor, mas também para ajudar a que outros não fiquem intoxicados. Parece paternalismo? Provavelmente, mas será possível dar opiniões sem paternalismo? Abraços benfiquisto-aventadores.

  2. Meu caro, welcome a este blog infestado eehehehhe Mais a sério, eu já desisti de me preocupar com este tipo de questões. A sério, acho MESMO que é uma questão de mercado. Vamos ao exemplo do que está a acontecer com o Sporting – financeiramente, economicamente, seja lá o que for… Não há caminho para o Sporting continuar porque o mercado está asfixiado e esgotado pelo Porto e pelo Benfica. Mais ninguém consegue vender e essa é a realidade. Os jornais vão atrás – agradam a quem compra: por isso o Correio da manhã arranja sempre umas capas com umas miúdas ou com o Cristiano Ronaldo. São mesmo os tempos que correm. Será que conseguimos alertar “outros” para isto? Eu prefiro deixar de dar troco a argumentos do tipo mouros, controlam tudo, são donos disto e daquilo… Sobre a bolinha, lá dentro, na relva, vamos a isso.
    Aí o Porto, este ano, no campeonato está melhor. Tal como o BENFICA esteve melhor o ano passado. Por isso, não alinho no discurso oficial e oficioso do BENFICA pós-braga. Porque seria fazer o mesmo que outros fizeram o ano passado quando desvalorizaram o título do Benfica.
    Se o Porto ganhar o campeonato é um excelente campeão e ponto.
    JP

    • António Fernando Nabais says:

      Podias ter deixado uma aberta para discordar, mas nada. Ponto para ti também.

  3. Rodrigo Costa says:

    Caro João Paulo,

    … A liberdade não prescinde do senso. Do mesmo modo que o senso não deixa de templar os contextos; e o mesmo senso, ainda, dita que as pessoas assumam a realidade; e que assumam que, para sobreviver, é, muitas vezes, contraproducente ser-se isento, ter-se análises e expressões equilibradas —basta ver como se formam os impérios, e como são constituídas as fortunas. O que falta, então?… Assumido o conselho do Instinto, falta assumir a realidade.

    Não deve, um qualquer malformado, fundar ou dirigir um jornal —que se debruce sobre o desporto ou sobre a política ou sobre qualquer outra área—, escrever o que lhe apetece, distorcer factos, e, depois, querer comemorar o aniversário do pasquim, sob a bandeira da seriedade e da isenção.

    Se pudesse ser sério, ser isento, logo à partida, A Bola, neste caso, debruçar-se-ia apenas sobre o Benfica; do mesmo modo que, há anos, o Norte Desportivo se debruçaria, unicamente, sobre os assuntos do F C do Porto. Mas não podem, porque a realidade os obriga ao parasitismo —é esta a palavra. Para poderem dissertar sobre o que mais gostam, vêem-se obrigados a engulir o que não digerem.

    Então, se é essa a realidade a que têm que se submeter, percebam que, como jornalistas, têm responsabilidade social e pedagógica acrescida; compete-lhes, também, impedir que, no desporto, o número de fanáticos aumente, por suportados em análises facciosas. Análises que, inclusive, podem fomentar reacções violentas, perpetradas por indivíduos cuja vida depende dos resultados da sua equipa; cuja felicidade é dependente das glórias do clube que seguem.

    Quero eu dizer, então, que, antes da censura imposta do exterior, as pessoas avisadas e com visão periférica devem comedir-se, elas próprias, sob pena de que a liberdade acabe manchada por indivíduos que aproveitam todo e qualquer meio para atingir os fins… ficando sem base a procura da “verdade desportiva” e o apêlo à utilização das novas tecnologias, se os que já delas dispõem, os que escrevem, os que analisam, apenas as usam para mentir, para que o negócio vingue.

    Por que havemos, então, de querer que o árbitro seja isento e sério?!… Ele, dentro do tal espaço de liberdade e dos “tempos modernos”, também há-de ter os seus interesses. Será normal que, para salvaguardar o seu “negócio”, ele veja o que ninguém vê, o que o jornalista, mentido, desmente; e ficaremos, assim, à mercê da unica verdade, a de que o mais importante é sobreviver; e à liberdade de tudo poder ser feito para que se sobreviva… Não há, nisto, algo de psicótico?… Terão, os “tempos modernos”, que ser preenchido, totalmente, pelos desequilíbrios, pelo antitético, pelas visões vesgas?… Por que razão se há-de exigir à Sociedade que seja justa, e, ao Desporto, admitir os “jogos de cintura”?…

    Quando um jornal usa capas diferentes, de acordo com as regiãos em que é publicado… será necessário perceber-se o critério. Se for para se debruçar, essencialmente, sobre temas que refiram a região em que se publica, não vejo problema. O problema seria, por exemplo, duas capas, do mesmo jornal, do género: capa para Lisboa, “Benfica cilindra o Braga e perde sem se saber por quê!”; “o F C do Porto foi dominado pelo Guimarães e acabou bafejado pela sorte”. Capa para o Porto, “O Benfica teve sorte, podia ser pior!”; “o F C do Porto teve sempre o jogo sob controlo…”

    Aqui, sim, haveria manuseamento da realidade, conforme o agrado que se queria provocar. Agora, se O Jogo —penso ser o jornal a que se refere— devotar mais espaço, em Lisboa, às notícias sobre o Benfica e o Sporting; e, no Porto, dedicar mais espaço ao F C do Porto… entendo como atitude marketing, desde que não distorça a verdade dos factos.

    No fundo, e para rematar, já bastam os orgãos de comunicação dos clubes. Lá é que, defeituosamente, as pessoas são pagas para, por moto próprio ou por imposição, serem ridículas: nem penso, inclusive, que algum jornalista que se preze tenha, como ambição, fazer carreira numa coisa do tipo.

  4. Rodrigo Costa says:

    1-“Do mesmo modo que o senso não deixa de contemplar os contextos”. 2-“vêem-se obrigados a engolir o que não digerem”.

    Peço desculpa, é assim que deve ser lido.

  5. Meu caro Rodrigo, acho que ambos estamos a dizer o mesmo… mas sobre coisas diferentes. O que eu digo é que há jornais e jornais, jornalistas e jornalistas. Um exemplo: o Público está longe de ser um projecto financeiro brilhante, mas cumpre um papel, goste-se ou não de jornalismo. Eu compro o público porque quero ler um jornal. Se comprar o Correio-da-manhã ou o JN é à procura de outra coisa.
    Se algum dia fosse comprar “A Bola”, o “Record” ou outras coisas ainda piores, estaria a fazer tal compra sabendo que estava a comprar um produto que responde a uma necessidade. Isto é, falo de um produto que é aquilo e nada mais. Não falo de jornalismo. Nada disso.
    Quanto às capas diferentes, o que “vareia”, como por aqui se diz, é apenas a capa. À segunda-feira, depois de vitórias do SLB e do Porto, o jogo mostra uma capa em Lisboa e outra no Porto apenas e só porque isso vai fazer aumentar as vendas. Não há nada de mal nisso. É o mercado!

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