Portugal euro-cruxificado

Como dizem aqui no Alentejo, Sócrates está de abalada. Saiu como e quando quis. Com o pretexto de não poder aplicar o PEC IV, envergou a  pele de vítima. O objectivo era sair queixoso desta batalha, colocando o ónus da crise política sobre os adversários políticos. 

Paradoxal ou não, da ordem de trabalhos da reunião da zona euro, de hoje, foram retiradas à última hora as decisões sobre o reforço do fundo de socorro; nas quais, lembre-se, se integravam as medidas do rejeitado PEC IV. Sócrates e Teixeira dos Santos sabiam-o ou souberam-o, provavelmente, antes ou durante o debate parlamentar. É uma das hipóteses para  explicar a saída prematura do PM e as temporárias ausências de Teixeira dos Santos e Silva Pereira da sala do plenário da AR. 

Vamos a eleições. Sócrates voltará à linha da frente, na disputa com Pedro Passos Coelho. Os dois, em coligação restrita ou alargada com Portas ou isoladamente, têm possibilidades de vir a governar os portugueses. São, diz-se a torto e a direito, os homens do arco do poder – a semântica da política está em enriquecimento constante. Todavia, nos momentos históricos que vivemos, não estamos sujeitos apenas a arcos. Há  também o enorme crucifixo com que  subimos ao calvário da ‘Zona Euro’, onde os nossos eleitos apenas relatam, ouvem e obedecem. Sim, não haja ilusões; quem comanda ou comandará será sempre a Sr.ª Merkel ou outro gauleiter que a substitua. 

Penitentes por erros acumulados, estamos condenados ao PEC IV, V, VI, VII …   e não sei até quantos os comandantes da Europa do Norte venham a impor. Os nossos governantes limitar-se-ão a cumprir, com zelo e respeito, as orientações para fazer navegar um Portugal euro-cruxificado. Prometam os nossos políticos o que prometerem, assim vamos continuar. Sofrendo.

Comments

  1. Artur says:

    Deixemo-nos de orgulhos nacionalistas. Se a Sr.ª Merkel nos conseguir obrigar a arrumar a casa, só temos é que lhe agradecer. Já está visto que sozinhos não nos conseguimos orientar. Pensemos como europeus.


  2. Subscrevo este post!

    Não tivemos que esperar muito para que o pessoal da Europa do norte mudasse o discurso. Já falam em contágio! Nenhuma novidade…

    A verdade é que o edifício da finança internacional está a desmoronar-se no ocidente desde 2007 e a única solução para isto é fazer um reset a todo o sistema. As políticas aplicadas têm falhado em toda a linha, tanto no Japão (há 20 anos!) como nos EUA e na Europa.

    • Carlos Fonseca says:

      Helder, como sabes, os políticos que temos não têm essa capacidade de visão. Fernando Pessoa, no ‘Livro do Desassosego’ diz mais ou menos isto, cito de cor: “A capacidade de visão de qualquer homem não é mensurável em função da sua estatura física, mas sim da aptidão para ver até ao ponto do horizonte mais longínquo e para além deste”. Infelizmente, para os portugueses, a classe política nacional não usufrui deste mérito. Por incapacidade e impreparação. Nem mais, nem menos.